Se você quiser escrever para o 1999 sobre QUALQUER coisa que tenha a ver com música (um show legal que você viu, um carinha que você conseguiu entrevistar, um disco que você queria mostrar pras outras pessoas, qualquer tipo de teoria, contar qualquer parte da história do rock), basta escrever para a gente. 14.SET.1999 INFORMAÇÃO Depois de navegar muito tempo pelo "Mar do Obscurantismo", o Submarino Amarelo zarpa de novo em direção ao olimpo do mundo pop. Trinta e um anos depois, o projeto solemente desprezado pelos Beatles ganha todo o fôlego e pompa que nunca tivera antes. A data para a invasão de todo o planeta já está certa. Hoje é o dia da volta do Yellow Submarine. Tem para todos os gostos. O longa-metragem em animação, restaurado digitalmente, será relançado em homevídeo e DVD. A trilha sonora ganha nova edição e conta com a presença de todas as canções incluídas no filme, inclusive as músicas extraídas dos discos anteriores Revolver e Sgt Pepper's Lonely Hearts Club Band. A boataria está à solta na Internet. Muito se especula sobre o evento. Fala-se que os três músicos remanescentes voltariam a tocar juntos em um palco flutuante, devidamente pintado de Submarino Amarelo, no Rio Mersey e que o trem Eurostar, que trafega sob o mar entre Londres e Paris, seria pintado com imagens psicodélicas. Se Paul McCartney, Ringo Starr e George Harrison estarão mesmo envolvidos em algum evento, isto ainda é segredo. Certo mesmo é que Liverpool está comemorando o Beatlennium, uma supercelebração dos fãs do grupo, com 180 bandas covers tocando para mais de 150 mil pessoas na cidade. O filme marcou época. Não pela qualidade, já que a trama é completamente boba e ingênua. Muito menos pelo envolvimento dos Beatles (apesar de bancado pela própria produtora dos músicos e do projeto ter o produtor e "quinto beatle" George Martin como maior incentivador, Paul, George, Ringo e John Lennon estavam mais interessados em tocar projetos pessoais na época e não aceitaram sequer compor músicas originais para a trilha sonora e participar a dublagem do desenho). Yellow Submarine ficou no inconsciente coletivo do rock'n'roll como o grande marco da fase psicodélica da banda. Uma história aparentemente sem sentido e ligada apenas por versos e referências a canções compostas anteriormente pelo grupo é o leitmotiv para fazer o espectador embarcar em uma grande viagem filosófica e visual, mesmo sem a companhia dos ácidos. A obra é um grande caleidoscópio que exprime ao infinito as incursões da mais livre - e torturada - fantasia pelas comarcas do irracional. É um tesouro inesgotável de cenas, como se todos os teatros fantásticos do mundo fossem reunidos em um só mundo. A fonte de referências absorvidas pelo desenho é muito grande. Pela história flutuam art nouveau (corrente à qual, aliás, o psicodelismo deve os olhos da cara), o cinema pioneiro de Georges Méiliès, o surrealismo e os deliciosos absurdos medievais do belga Hieronymus Bosch - que no final do século XV já pintava sereias terminando em árvore; peixes-navio com couraça metálica; orelhas gigantes flechadas; pernas humanas saindo de ostras, conchas e globos oculares; mais todo um inesgotável imaginário de possibilidades muito exploradas também pelos artistas das capas de discos progressivos e nas aberturas dos filmes do grupo cômico britânico Monty Python. No roteiro também são perceptíveis as influências de Lewis Carroll - neste Alice No País das Maravilhas psicodélico, os Beatles saem do mundo real para embarcam em uma viagem cheia de simbolismos e onde tudo é possível - e do Barão de Munchausen, personagem mítico que contava histórias e só sobrevivia enquanto houvesse alguém que acreditasse nelas. Muitas questões filosóficas regam estas comparações, como a relação entre tempo e espaço; o nada e o ninguém; a grande quantidade de mares (os principais são o Mar dos Buracos e os Mares Verdes). Na galeria dos personagens estranhos desfilam Luva Voadora, o Monstro do Vácuo, o Prefeito-maestro, o Frankenstein que se transforma em John Lennon, os Turcos Devoradores, os Jogadores de Maçãs Verdes com metros e metros de altura e o brilhante físico, botânico, sátiro, artista e ensaísta Dr. Jeremy Hilary Boob. Os Beatles são os super-heróis sem poderes que são chamados às pressas pelo Capitão Fred para ajudar o reino mágico de Pepperland. Atacada pelos malvados Blue Meanies, o povo azul que odeia a música, essa terra pertencente à outra dimensão perdeu toda a felicidade e alegria. Seu povo se encontra sem cor e sem movimento. A única salvação são os quatro músicos ingleses, que se infiltram no recinto musical vestindo os uniformes da Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, o maior nome das notas musicais do local. Acontece então uma grande batalha entre os Beatles e os Meanies ao som de"All You Need Is Love". Renegado pelos Beatles, o submarino bastardo tem a grande chance de zarpar novamente e ter enfim seu reconhecimento histórico. DISCO REPARA INJUSTIÇA Este novo álbum recompõe de forma digna a trama musical que costura a animação psicodélica. Nove composições extraídas de álbuns anteriores finalmente aparecem incluídas na trilha sonora oficial ("Eleanor Rigby", "Love You To", "Lucy In The Sky With Diamonds", "Think For Yourself", "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band", "With A Little Help From My Friends", "Baby You're A Rich Man", "When I'm 64" e "Nowhere Man"). Algumas destas, inclusive, têm grande função de inspiração para personagens e situações do filme. Do disco original permanecem apenas as seis faixas com a presença de John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr. Todas as quinze canções, que aparecem reunidas pela primeira vez em um só disco, foram remasterizadas e remixadas por Martin nos estúdios Abbey Road. George, Ringo e Paul fizeram a supervisão do trabalho. O único senão do novo álbum fica para a mudança da capa. O novo design, com a metade do Submarino Amarelo sobre um fundo de azul quase chapado não substitui o charme da edição original, que trazia os quatro músicos transformados em heróis de desenho animado e toda a extensa a grande galeria de personagens coadjuvantes. Em tempos de arquelogia comercialóide, pelo menos os fãs completistas dos Beatles não serão torturados, sacrificados e levados a comprar takes incompletos de estúdios e performances ao vivo, rascunhos mais-que-alternativos de canções famosas e gravações que parecem ter feito baixar fantasmas (Nota do outro editor: Se saísse um Anthology do Cure você com certeza não se sentiria "torturado", né? :)). Estas são os registros originais de fantásticas músicas que representam a fase mais marcante da maior banda de rock de todos os tempos. Punk Rock
em Curitiba 1999 é feito por Alexandre Matias e Abonico Smith e quem quer que queira estar do lado deles. Os textos só
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