Se você quiser escrever para o 1999 sobre QUALQUER coisa que tenha a ver com música (um show legal que você viu, um carinha que você conseguiu entrevistar, um disco que você queria mostrar pras outras pessoas, qualquer tipo de teoria, contar qualquer parte da história do rock), basta escrever para a gente. 08.SET.1999 BR-116 Depois de longa ausência, nossa coluna está de volta informando o que rola em Brasília e saudando o novo formato do 1999. Peço desculpas pelo sumiço e prometo que, daqui por diante, estarei presente com mais freqüência. Não dá para começar sem falar do Festival Porão do Rock. Passado mais de um mês, o evento, realizado nos dias 31 de julho e 1º de agosto na Concha Acústica, ainda está na cabeça da galera candanga. Afinal, não é em todo final de semana que você reúne quase 40 mil pessoas, chama a atenção da mídia de boa parte do país e assiste, entre 22 atrações, com entrada franca, a volta da Plebe Rude com a formação completa e tocando clássicos que ficaram na memória do rock nacional. O Porão foi um dos raros momentos em Brasília em que a gente pôde bater no peito e dizer: "Essa cidade é do caralho!" Mais orgulho ainda é o fato do festival ter sido apontado, já em sua segunda edição, como o maior do país, ao lado do Abril Pro Rock, de Recife, que existe há sete anos. Palavras de jornalistas de grandes veículos do Rio e de São Paulo, para não dizerem que é "patriotada" minha! Claro que nem tudo foram flores. Embora profissional e bem organizado, o Porão careceu de maiores novidades musicais entre seus 22 convidados. Apesar de uma razoável variedade de estilos - reggae, soul, funk, blues, hard rock, psicodelismo, ska, hardcore, rock político -, faltou aquele "sopro inovador", algo que poderia apontar para um novo horizonte do som de Brasília. Mas também ninguém comprometeu. A honrosa exceção local, creio eu - e boa parte dos jornalistas presentes - foi o Bois de Gerião, sobre o qual já falamos por aqui. O Porão serviu como vitrine para a molecada detonar o seu divertido skacore. Um show para dançar, pogar, bater cabeça. Abram os olhos selos independentes! Procurem esses meninos, que até agora só têm um registro em CD, na coletânea Banana 2, lançada há dois anos pela Sylvia Music, de Brasília. Vale registrar também as excelentes presenças estrangeiras dos pernambucanos do Sheik Tosado, que incendiaram o público com a certeira mistura hardcore/mangue beat, e a rapaziada do Ultramen, que mostrou um outro lado do rock gaúcho, algo mais além de letras (metidas a) engraçadinhas ou do discurso enjoado de Humberto Gessinger. A grande "bola fora" do festival foi dada pelo Inocentes. Uma das principais atrações da segunda noite, os caras simplesmente não apareceram em Brasília. Deram desculpas de última hora, alegaram falhas internas de comunicação e perderam a oportunidade de voltar a tocar para um grande público e divulgar o novo CD, Embalado a Vácuo. Em 18 anos de estrada, a banda paulista só veio uma vez à capital do país. Vacilo! Para compensar a ausência, a organização teve jogo de cintura. Promoveu uma jam session prá lá de histórica, que reuniu integrantes do Rumbora e do Maskavo Roots e convidados como Gustavo Black Alien (Planet Hemp), Canisso (Raimundos), Júnior (Nativus), Kid Vinyl (ele mesmo!) e todo o extinto Little Quail and the Mad Birds: Bacalhau (baterista do Rumbora), Gabriel (vocal e guitarra do Autoramas, outra atração do festival) e Zé Ovo (chefe da equipe de roadies do evento). No repertório, teve de Bob Marley a Rage Against the Machine, passando por Planet Hemp, Raimundos, Metallica e, claro, Little Quail. Sobre o show da Plebe Rude, o que dizer? Os quatro estavam lá: Philippe Seabra, mesmo cantando com sotaque, fruto (?) dos últimos anos morando em Nova York, parecia um menino em cima do palco. "Eu sempre fui o maior fã da Plebe Rude. Essa é a minha banda", falava com orgulho para os ainda mais de 10 milz presentes no local, no início da madrugada de segunda-feira, 2 de agosto. André X tocava seu baixão com estilo, fazendo uma cozinha perfeita com o baterista Gutje Woortmann. Jander Ameba Bilaphra foi um capítulo à parte. A mesma barba por fazer, o jeito caladão e sério, mas que não escondeu o sorriso em algumas passagens do show. O guitarrista, expulso da banda por divergências pessoais, no início da década, estava reunido aos velhos amigos quase 10 anos depois. Para isso, teve que driblar problemas burocráticos e contornar ciúmes envolvendo atual e e ex-empresário. A ponto de só poder chegar a Brasília no dia da apresentação. Enquanto os três companheiros ensaiaram direto por 10 dias, ele só teve uma tarde. "Foi um show mais emocional do que técnico", analisava André X, ao final. Mas para os "plebeus", o show não poderia ser melhor. Do início, com o hino Brasília até o encerramento, com o bis de Até Quando Esperar, foram 80 minutos de recordações para os acima de 25 e de um grande encontro para os novatos, que só conheciam a banda de discos e dos flashbacks das FMs. Todos os sucessos foram tocados, com emocionantes versões para A Ida (que Philippe dedicou ao pai, falecido) e Proteção. No bis, mais homenagens: ao cultuado Escola de Escândalo (com Luzes, que teve a participação de Lôro Jones, do Capital Inicial, e da galera do Rumbora) e ao Clash, com a indefectível Should I Stay or Should I Go. Só quem é ou viveu em Brasília sabe o que significou essa celebração (né, Matias?). Futuro da Plebe? Ninguém sabe. André X, hoje um técnico bem remunerado do Banco Central em Brasília, trocaria seu emprego estável pelos riscos da vida do showbizz? E Jander, deixaria de ser roadie dos Engenheiros do Hawaii (onde ganha um troco bom e certo), para voltar a se reunir aos amigos que um dia o mandaram embora? Nós, "plebeus", esperamos que sim ... ACBROCK Entre o final de 1995 e meados de 1997, uma turma de músicos e produtores locais procurou se organizar em uma entidade jurídica, cujo maior objetivo era arrecadar fundos para eventos e criar um espaço permanente para shows de rock em Brasília. Surgiu, então, a Associação Cultural Brasiliense de Rock, ou ACBRock. Através de contatos com a Secretaria de Cultura do Distrito Federal e outros órgãos do Governo, conseguiram arrendar uma rampa, situada embaixo de uma espécie de viaduto, bem no centro da cidade. O local, com capacidade para aproximadamente 500 pessoas, passou a abrigar alguns shows e ficou conhecido como o Buraco do Rock. Só que, para que funcionasse legalmente, era necessária uma série de reformas estruturais, exigidas pelo Corpo de Bombeiros e Defesa Civil. A ACBRock arregaçou as mangas, fez o que podia, mas não o suficiente. O local acabou sendo interditado. Paralelamente, uma crise interna na diretoria gerada pelo cansaço da ralação sem proveito e pelas naturais necessidades financeiras de cada um, fez com que a entidade se esvaziasse e ficasse inativa nos últimos dois anos. Em 1999, alguns remanescentes da antiga equipe juntaram-se à uma nova galera para reativar o espaço e, em um segundo momento, a associação. Voltaram a fazer contatos, conseguiram até um relativo apoio e tentaram organizar um show em um local de propriedade do Governo (o Gran Circo Lar), cuja renda seria revertida justamente para a realização das reformas do Buraco do Rock. Até o nome, meio pejorativo, seria mudado através de eleição entre o público. Tentaram, eu disse. Por ironia, no dia do show - domingo, 22 de agosto -, o Corpo de Bombeiros interditou o Gran Circo Lar. Segundo a corporação, o local, que já abriu e fechou várias vezes (chegou a ficar inativo por quatro anos seguidos), está com vários problemas de segurança. Show cancelado de última hora e público, que prometia ser bom, insatisfeito, claro! Não há notícias de uma nova tentativa em outro local. Uma pena! RAPIDINHAS
Marcos Pinheiro é jornalista de esportes do Correio Braziliense e produtor e apresentador do programa de rock Cult 22, da Cultura FM de Brasília Thomas
Pappon 1999 é feito por Alexandre Matias e Abonico Smith e quem quer que queira estar do lado deles. Os textos só
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