Se você quiser escrever para o 1999 sobre QUALQUER coisa que tenha a ver com música (um show legal que você viu, um carinha que você conseguiu entrevistar, um disco que você queria mostrar pras outras pessoas, qualquer tipo de teoria, contar qualquer parte da história do rock), basta escrever para a gente. 31.AGO.1999 COMENTÁRIO Por mim tudo bem. Desde que a coisa fique mais legal, enfia o que você quiser aonde você quiser malandro! O problema é quando vira regra. Desculpem-me. Comecei pela metade. Mas é que eu lembrei de um Piores clipes do Mundo na MTV, onde a Marina Person teve a excelente idéia de fazer um bloco com clipes Machão. Traduzindo: clipes de bandas que adotam a postura sexo imposto, onde a mulher deve abrir as pernas e calar a boca. Frases como "Marieta libera essa buceta e o cú também", "Fazer um esquema pra te comer", e por ai vai, parecem ter sido extraídas de episódios de Beavis And Butthead. O interessante é que a dupla é formada por dois idiotas adolescentes que vivem de fantasias sexuais medíocres e vídeo clipes. As bandas em questão tem uma média de idade mais avançada, algumas beirando os 30 anos e a mesma vocação para a adolescência. Chega! Vamos dar uma pausa pra respirar e ir diretamente a questão, sem ficar explanando sobre a imbecilidade do rock brazuca pós Raimundos. Ontem estava passando um programa na TV onde um crítico muito importante nos Estados Unidos estava falando sobre a música popular brasileira. Pelo que eu entendi, esse cara é o maior entendido no assunto fora do Brasil. A sua paixão pela música brasileira é explicita e ele se refere ao descobrimento dessa musicalidade como o fato mais importante de sua vida. Até ai tudo bem. Muitas pessoas partilham do mesmo pensamento, onde João Gilberto e Tom Jobim são os maiores artistas contemporâneos da história e o Clube da Esquina é um equivalente ao CBGB para os MPBlóides. O critico em questão era extremamente bem informado e sabe mais que a maioria das pessoas que entendem de MPB no Brasil. Conhecia até algumas bandas contemporâneas como Cascabulho e Mestre Ambrósio, não tinha parado no tempo. Eu já estava achando aquilo tudo muito "correto" demais pra ser verdade, quando de repente o mesmo me solta: "O problema da nova geração é a grande influência da música americana. As bandas brasileiras não precisam de soul e jazz, elas tem o maracatu e o samba!" Well... O que isso exatamente quer dizer? Que devemos ser bairristas e puritanos? Que a música feita por bandas de rock no Brasil devem ser escravas de sua cultura artística? Ou que a gente não deve mexer na música brasileira para agradar ao gosto musical de alguns críticos? Confesso que não entendi. Para um fã de Caetano, Mutantes e Tropicália aquilo não parecia coerente. De repente o cara me solta outra: "Acho que a música não tem barreiras e nós temos que deixar de ser puristas (ou algo parecido). Artistas como Rick Martin vão formar uma nova geração de artistas latinos a invadir a américa". (???????????????). Agora sim está tudo explicado! A contradição que ele mesmo criou serviu para colocar ordem na casa. A idéia que as pessoas tem de artistas que fazem ou poderão fazer sucesso fora do Brasil é preconceituosa e imoral. Os críticos e consumidores de música latina esperam encontrar latinidade, swing e batuque na nossa música. Se não for assim, não presta. Quando o crítico se referiu as bandas com grandes influências americanas, com certeza se dirigiu aos Raimundos, Jota Quest ou até mesmo Skank. Disse que não iria citar nomes, mas ficou óbvio. Para eles até essas bandas não são "latinas" o suficiente para agradar. Não sou fã das bandas citadas, mas isso é preconceito e se atinge até eles que acham que estão fazendo música brasileira, imagina os indie kids? Não importa se é um lixo, tem que ser latino, como o Rick Martin. Esse conceito pode alavancar as vendas de inúmeros artistas nacionais que se enquadram nesse padrão. É óbvio que todos esses artistas estarão confinados aos guetos da elite musical que se acha de vanguarda e antenada nos States. E essas bandas podem se enganar com um pensamento imaturo de que pelo menos sua música atravessou a américa. Mas e as bandas que fazem rock? As bandas indies?? As bandas de rap, funk, metal, etc... Fodam-se! Peguem seu banquinho, sua guitarra e saiam de mansinho. Se fossem da Suíça, Escócia, Holanda ou até mesmo do Japão, tudo bem! Mas do Brasil tem que ter bossa e samba no meio ou gringo não engole. É um fetiche! Uma doença que atinge os quadris. Se até o Stereolab sabe fazer isso, nós temos obrigação de utilizar nossas referências culturais! Olhando por essa ótica seria o mesmo que achar que não podemos comprar um disco de bossa nova de um artista americano. O Beck por exemplo não poderia ser aceito como gênio aqui. Ou então todas as bandas que fazem rock com cara de gringos deveriam ser consideradas geniais lá fora. Mas não é bem assim, afinal rock é mais fácil de se fazer né? E todas essas bandas que fazem música com referências da musica indie americana e inglesa deveriam ser exterminadas! Não tem lugar para isso nem no Brasil, nem no exterior. É isso que eles querem que a gente pense, aqui e lá fora. Bem, se você chegou até aqui, faz rock no Brasil e concorda com meu ponto de vista, deve estar muito chateado lendo esse texto ou então deve estar se perguntando o que eu tenho na cabeça. Nada demais, mas esse é um lugar para você colocar suas idéias em dia e é exatamente o que eu estou fazendo. Sabem o que é mais engraçado? O critico em questão pode ser, ou se achar, mais brasileiro que a gente, porque ele é gringo e isso é chique, mesmo a cultura brasileira sendo algo muito raro e difícil de se pesquisar nos USA. E a gente que está exposto ao American Way of Life, não podemos fazer rock, sem colocar o "B" no meio. Vai entender. Rodrigo Guedes é o Grenade Jason
(entrevista) 1999 é feito por Alexandre Matias e Abonico Smith e quem quer que queira estar do lado deles. Os textos só
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