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DO ROCK
FICÇÃO RESENHAS
 

FLAMING LIPS
Por Luciano Vianna e Valeria Rossi
London's Burning

A entrevista com Wayne Coyne, cantor e líder multimídia do grupo Flaming Lips, estava marcada para a manhã de uma quinta-feira, na gravadora da banda, em Londres. No dia e na hora combinada, ao descer do táxi em frente aos escritórios da Warner, dou de cara com o próprio Wayne saindo pela porta, desorientado, em direção à rua. "Oi, eu estou aqui para te entrevistar. Você já está indo embora?", pergunto antes de ele sumir numa esquina. "Não. É que eu me perdi no labirinto de escritórios. Não consegui achar a porta certa. Que bom que você está aqui. Você me ajuda?", requisita ele. E eu, claro, atendo encantada. Foi um bom começo (a entrevista seguiu com bastante empatia mútua, daí para a frente) e um bom exemplo da personalidade de Wayne: um pouco confuso, um tanto enrolado, mas extremamente simpático. Não é à toa que ele tem fama de maluco.

Acompanhado pelo baterista, tecladista e guitarrista Steven Drodz e pelo baixista e guitarrista Michael Ivins, o americano Coyne esteve em Londres para o lançamento de seu último álbum, o magnífico "The Soft Bulletin" e para fazer uma série de shows pela Europa. Mesmo com 17 anos de estrada (embora Coyne seja o único membro reminescente da formação original do Flaming Lips) a banda mostra um autêntico prazer de tocar ao vivo e parece se divertir como poucas em cima de um palco - principalmente Wayne.

1999 - Você se diverte tanto quanto parece no palco?
Wayne - Dá para perceber, é? Realmente não dá para fingir esse tipo de bobeira mesmo. Antes eu costumava tocar guitarra e devo confessar que não sou muito bom, gosto de música, mas não sou um músico nato, por isso tinha que ficar concentrado o tempo todo. Agora só canto e bato no gongo de vez em quando, então posso me divertir de verdade. É ótimo.

1999 - O que aconteceu com a bateria no show de vocês?
Wayne - Bom, o baterista continua no palco, só que tocando teclados (risos). É que Steve é um músico tão talentoso que ele queria tocar e experimentar em outras áreas, e a gente não achou nenhum baterista à altura para substituí-lo, por isso todas as baterias do show são pré-gravadas e de vez em quando a gente joga no telão uma imagem do Steve tocando a batera, também pré-gravada. O resultado ficou legal, sem comprometer o conteúdo.

1999 - Você é realmente um artista multimídia. Além de compor todas as letras e boa parte das músicas da banda, você também faz o planejamento visual do show e escreve até os releases para a imprensa. Isso não é muito comum...
Wayne - Não sei por quê mas a gente sempre fez de tudo. No caso do release, comecei fazendo um texto padrão, sobre o que a banda estava fazendo durante as gravações do disco, coisa e tal, e aí me dei conta de que algumas pessoas iam se tocar de quem estava escrevendo aquilo mesmo era eu, só pelo jeito como eu reclamo das coisas (risos). Por isso fui levando o texto para o lado mais pessoal mesmo. A idéia era ver como ficava e, se agradasse, o texto emplacaria como release, senão deixaria por isso mesmo. Parece que agradou... A idéia era fazer uma coisa engraçada, reveladora, um pouco ridícula, engraçada e talvez um tanto informativa (risos). Veja bem, quando eu estou aqui falando com você, não estou sendo nada maluco, mas quando as pessoas lêem o texto, podem ter a idéia de que a minha estabilidade mental está comprometida. As pessoas acham que eu me drogo muito e que sou malucão (risos). A programação visual do espetáculo e os nossos clips sou eu quem faz também. Eu acho que nos torna uma banda melhor sermos capazes de produzir todos esses aspectos diferentes que envolvem o Flaming Lips, além da música, naturalmente.

1999 - Por falar em maluquice, realmente não conheço ninguém que tenha sido capaz de tocar o anterior de vocês, "Zaireeka", com os quatro CDs ao mesmo tempo. Foi proposital fazer um trabalho tão pouco acessível?
Wayne - A gente costumava encarar o nosso trabalho como um desafio. O objetivo do "Zaireeka" era fazer com que o ouvinte parasse de fazer tudo que estava fazendo e fizesse do fato de ouvir os quatro discos uma experiência. Não é um disco que dê para ouvir no 1999do da conversa, casualmente. Eu eventualmente toco os quatro juntos, mas as vezes toco só três, ou misturo dois. Mas é melhor dar às pessoas a opção de fazer os quatro ou de tocar um de cada vez, para que o ouvinte sinta todas as variações. É um evento. Por isso é especial, porque não é música para se escutar todos os dias. Eu mesmo provavelmente escuto o Zaireeka duas vezes por ano, e já me basta. Para a gente foi uma experimentação muito interessante e eu também acredito que, com a evolução da tecnologia, num futuro muito próximo vai ser possível tocar quatro ou mais CDs ao mesmo tempo num aparelho só. A idéia surgiu tocando vários remixes da mesma música da Björk ao mesmo tempo em casa com a minha namorada.

1999 - Quais são os planos para uma grande turnê européia?
Wayne - Não sei. Muito vai depender da aceitação do "The Soft Bulletin" no mercado. Eu acho que este é um disco que pode ser classificado como "especial". Este é um disco mais acessível, mas isso não garante o sucesso de um álbum, por isso não penso nesse aspecto como sendo positivo ou negativo. Eu gosto de tocar em Londres, mas não ligo para viajar pela Europa tocando. Tem lugares que não são tão interessantes e situações em que prefiro ficar em casa pensando sobre música do que rodando por aí. De qualquer jeito, a gente vai abrir para o Mercury Rev em várias cidades...

1999 - Vocês começaram mais ou menos na mesma época que bandas como Mercury Rev e Sebadoh, que hoje em dia já desfrutam de bastante sucesso, principalmente na Europa. Você ressente o fato de ainda não ter conquistado o mainstream como elas?
Wayne - Não, pelo contrário. Essas bandas serem vistas faz com que nós sejamos vistos também. Eu gosto de ver que trabalhos de qualidade ainda são apreciados, porque isso se reflete no que a gente faz. Acredite, a gente já fez dinheiro suficiente e tem muita gente que gosta do que fazemos

1999 - Como você se vê daqui a dez anos?
Wayne - Eu acho que a gente vai estar fazendo alguma coisa. E provavelmente estaremos fazendo coisas mais para o lado do esquisito do que para o lado do convencional ou comercial. E se tivermos sorte, as coisas comerciais vão nos garantir muito dinheiro para que possamos produzir as nossas maluquices divertidas.

1999 - Vocês querem se tornar mais mainstream?
Wayne - De jeito nenhum. Apesar que sempre tivemos que lutar bastante, isso nos deu a oportunidade de desenvolver as nossas próprias idéias; se tivéssemos tido reconhecimento instantâneo teríamos que ter viajado o mundo inteiro, sem muito tempo para pensar. Por outro lado, sempre que tivemos um pouco mais de sucesso foi difícil lidar com ele (risos).

1999 - O que você tem escutado ultimamente?
Wayne - Eu trouxe alguns CDs comigo: "Best of the Bee Gees", Miles Davis, Björk. Mas sou um cara muito aberto. Ouço de tudo.

1999 - Você conhece alguma coisa de música brasileira?
Wayne - Já ouvi alguma coisa através do Stereolab. Não conheço muitos dos artistas, mas sou capaz de reconhecer os sons e os ritmos.

1999 - Você gostaria de tocar no Brasil?
Wayne - Quem não gostaria! Tocar, na verdade, é um pensamento secundário à idéia principal, que é visitar o Brasil.

1999 - O Flaming Lips sempre usou muita tecnologia e efeitos para fazer música. O som de vocês seria diferente sem toda essa parafernália?
Wayne - Eu não encaro tecnologia como algo novo. Tem gente que fala em tecnologia e pensa em computadores e coisas assim, mas para mim a tecnologia é diferente. Ela sempre esteve ligada à música: pensa quando o piano foi inventado, como isso influenciou... Não sou purista, acho que a gente tem que tirar proveito de tudo o que está disponível. No último disco, algumas das coisas que fizemos, se as tivéssemos tentado há cinco anos, teríamos levado muito mais tempo, mais dinheiro e mais organização. A gente sempre está usando as últimas novidades.

The Soft Bulletin (Warner)

Depois de lançarem um dos discos mais estranhos dos últimos tempos, o quádruplo "Zaireeka" no ano passado (o disco é tão experimental que os quatro CDs só têm algum sentido se tocados simultaneamente), a banda americana Flaming Lips chega ao décimo disco de sua carreira de 17 anos
disposta a seguir o mesmo caminho de bandas conterrâneas como Sebadoh e Mercury Rev, ou seja, a sair do anonimato do 1999do das prateleiras do indie rock americano e conquistar o mundo. Lançado no mês passado, "The Soft Bulletin" é o disco mais facilmente compreensível e pop (no melhor sentido da palavra) da extensa carreira do grupo.

Escolhido disco do mês por respeitadas publicações inglesas especializadas como a revista Uncut e o semanário New Musical Express, "The Soft Bulletin" foi gravado durante os últimos dois anos em Nova York e produzido pela própria banda junto com o produtor Dave Fridmann (que também trabalhou no excelente último álbum do Mercury Rev), que preencheu o som do Flaming Lips misturando na medida certa lindas melodias com as habituais colagens sonoras que são marca registrada do grupo. Com letras que parecem mais cartas para um amigo invisível, o letrista e vocalista Wayne Coyne nos transporta para um mundo todo próprio em músicas de angústias e esperanças como em "Race For The Prize", "Waitin' For A Superman", "Suddenly Everything Has Changed" e "The Spark That Bled", pontuadas por um instrumental caprichado, fornecido pelo baterista, tecladista e guitarrista Steven Drodz e pelo baixista e guitarrista Michael Ivins, que misturam com propriedade pelas músicas desde ecos de punks psicodélicos até autênticos free jazz.

Para quem não sabe, o Flaming Lips é um daqueles ícones sagrados do rock americano como Sebadoh, Dinossaur Jr., Butthole Surfers, entre outros, que a explosão do underground iniciada pelo Nirvana ajudou a mostrar ao mundo. Discos como este e "Deserter Songs" do Mercury Rev ajudam a mostrar que se as novas bandas americanas estão perdidas num meio caminho entre o heavy metal moderninho e o funk-hip-hop-rap-rock, os veteranos vão muito bem, obrigado.


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