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DO ROCK
FICÇÃO RESENHAS

 

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CHEMICAL BROTHERS
Via Funchal - 18 de maio
(São Paulo)
Por Alexandre Matias

Quando as luzes se apagaram e as silhuetas de Ed Simmons e Tom Rowlands surgiram ao som do mantra "Surrender to the Void" (fazendo referência a uma frase de John Lennon no marco psicodélico Tomorrow Never Knows), o público era só entusiasmo. Com uma iluminação impressionante e telões disparando dígitos e letras num caos em preto e branco, os dois despejaram três bombas logo de saída, as inéditas Hey Boy Hey Girl, Music: Response e o hit Block Rockin’ Beats.

E enganaram direitinho quem achava que a noite estaria imersa no funk psicotrônico que os Chemical Brothers consagraram ao tornarem-se papas do big beat. Depois da terceira música, nos vimos presos dentro de uma gaiola de psicodelia estática, uma tensão mental abstrata conduzida detalhadamente por dois nerds no comando de um laboratório de experiências genéticas cerebrais, todas elas aplicadas por meio da música eletrônica. Como animais caindo em uma armadilha após seguir um pedaço de comida, o público foi atirado dentro de algo que não esperava e agora se via preso dentro de uma revolução, um momento histórico.

Não é à toa que o novo disco do grupo chama-se Surrender. Ao cantar "renda-se ao vácuo" no começo do show, os Brothers explicaram que qualquer tipo de resistência seria inútil e tentá-la seria algo dolorido. Ou tedioso, o que, no fim das contas, dá no mesmo. Assim sentiu-se a metade desavisada da platéia do show do grupo, de braços cruzados na estréia mundial da nova fase de um dos artistas mais importante do planeta na atualidade. Se a história estava se repetindo ou não, isso não vem ao caso. O importante é que ela estava sendo escrita ali, na nossa frente, diante dos nossos olhos e ouvidos. E muitos não percebiam, bocejando em frente à modernidade.

A outra parte do público, que seguiu o conselho da banda, entregou-se ao novo. Um transe hipnótico hermético, grooves e loops eletrônicos funcionando como fractais sonoros. No telão, as imagens tentavam descrever o som com todo o tipo de referências: robôs dançando, números desordenados, mãos se transformando em ferramentas, a natureza em alta velocidade, seres humanos deformados, delírios de luz.

No palco, os dois compenetravam-se num videogame de som, como se estivessem às vésperas de um recorde em todas as máquinas ao mesmo tempo. Cada um cuidava de determinadas camadas de som, colando pedaços de músicas conhecidas (Setting Sun, Song for a Siren, Electrobank, Dig Your Own Hole, Life is Sweet, Loops of Fury) e várias inéditas, remixando, ao vivo, o som que passa dentro de suas cabeças.

Em um dos momentos mais memoráveis do show, a música que faz a melhor ponte entre o disco anterior e o novo, The Private Psychedelic Reel (composta ao lado do Mercury Rev), aos poucos perdia o batidão original e desenhava-se plana, meio trance, meio ambient, com doses pesadas de psicodelia eletrônica. Nos telões, vitrais com imagens de santos desfilavam, transformando o ambiente numa enorme missa cerebral, um ritual pagão de uma nova era.

Um show para ser sentido, como os graves que encontravam ressonância nas caixas toráxicas de cada um que estivesse ali, mais do que compreendido. Quando a música soar como soou nesta terça, este primeiro show em São Paulo será claramente um marco. E todos se gabarão de ter ido, mesmo os que não foram ou que, no fundo, sabem que não gostaram. Preconceituosos o suficiente para não seguir uma regra simples: render-se à música.

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© 1999

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