logo06.JPG (17693 bytes). INFORMAÇÃO COLUNISTAS BR-116 HISTÓRIA
DO ROCK
FICÇÃO RESENHAS
 

Mark Sandman
Por
Alexandre Matias

Mark Sandman gostava da cidade à noite e inventava desculpas pra curti-la. Por uma época de sua vida, foi taxista - noturno, claro - em sua cidade-natal (Cambridge). Outra trabalhou num pesqueiro no Alasca. Morou por um ano no Rio de Janeiro e não tinha residência fixa, embora sua base de trabalho sempre tenha sido Boston. Montou duas bandas de rock como desculpa para desfrutar a noite despreocupadamente - o Treat Her Right e o Morphine. Com esta última, nome de uma droga que alivia a dor, sedimentou sua reputação de maldito noturno ao misturar blues, jazz e rock numa banda sem guitarras e com dois saxes tocados pelo mesmo músico (Dana Colley). Com sua voz pesada e sonolenta, balbuciava canções cujos temas podiam ser definidos em duas frases que compõem duas faixas do disco Yes (o terceiro da banda que teve cinco discos ao todo - todos parecidos e bons). De um lado, o fracasso lamentado na mesa de bar de I Had My Chance (cuja letra resume-se a "Eu tive minha chance e deixei passar"). Do outro, o mosaico de prazeres da noite de Super Sex (cuja letra explica-se "Automático táxi pare elétrico cigarro amor baby hotel rock’n’roll discoteca elétrica super sexo"). A boemia foi substituída pelo romantismo no último sábado 3, quando Mark, ao começar a segunda música de um show em Roma, teve uma parada cardíaca. Foi levado ao hospital, mas chegou morto. Morreu no palco, no meio de uma música, da forma mais romântica possível - mas isso foi só conseqüência de sua vida. A lição de Mark não é que ele era um mito entre os bêbados: o que ele provava era que qualquer bêbado pode ser um mito. O som do Morphine pouco tinha de inovador ou original, mas era apresentado de forma simples e direta, como aquela banda de boteco que quer tocar à noite inteira só pra beber de graça e não guarda os instrumentos antes de todo mundo ir embora (uma banda de boteco perfeita). Mark Sandman morre justamente no ano em que o festival Free Jazz sondava o grupo (com boas chances) de tocar no Brasil. Ficamos sem vê-los ao vivo e não era por falta de vontade da banda. Em entrevista ao Trabalho Sujo do dia 18 de março de 1996, Sandman contava que queria vir ao nosso país (era fã de carteirinha de música brasileira) e pedia pra um possível produtor que estivesse lendo aquela entrevista que bastava entrar em contato com o grupo. Infelizmente, os tempos eram outros, o Brasil passava por uma época de vacas magras no que se referia a shows internacionais (independentes ou não) e o show não aconteceu. A seguir, a reprodução da entrevista citada.

Trabalho Sujo - Qual foi o primeiro instrumento que você aprendeu a tocar?
Mark Sandman - Trombone de vara, quando tinha dois anos, em 1945 (rindo).

Trabalho Sujo - ...Fala sério.
Sandman - Não, meu primeiro instrumento que tentei tocar foi a guitarra, lógico, e primeiro instrumentista que me chamou atenção foi Jimi Hendrix, lógico.

Trabalho Sujo - E quando você descobriu que nunca iria tocar como Jimi Hendrix você começou a tocar baixo?
Sandman - Isso.

Trabalho Sujo - Como você define o som do Morphine?
Sandman - Low rock.

Trabalho Sujo - E por que você escolheu este nome?
Sandman - Erra como se fosse uma droga do deus Morfeu, o deus do sonho. Você sabe, meu nome é Sandman, que é um personagem de contos de fada que leva as pessoas pro mundo dos sonhos e eu sempre tive isso na cabeça.

Trabalho Sujo - Seu nome é mesmo Sandman?
Sandman - É. Todo mundo pensa que é pseudônimo, mas é Sandman.

Trabalho Sujo - Vocês são como uma banda de bar. Os discos nem parecem discos, parecem repertório de bandas de bar.
Sandman - É, gostamos mais de tocar ao vivo que de gravar. Uma época, antes de lançarmos este disco, Yes, tocávamos sete dias por semana.

Trabalho Sujo - Sempre em bares pequenos?
Sandman - Não, ano passado tocamos em vários festivais. Em Glastonbury, na Inglaterra, tocamos pra 200 mil pessoas.

Trabalho Sujo - E como é o som de vocês numa platéia grande?
Sandman - No Glastonbury tocamos ao meio-dia, quando o pessoal tava acordando. Foi legal. A gente também tava acordando.

Trabalho Sujo - Você morou no Brasil. Aonde e por quanto tempo?
Sandman - No Rio, no bairro Santa Tereza, por um ano.

Trabalho Sujo - Seu português é muito bom.
Sandman - Obrigado. Seu inglês também. Estávamos querendo tocar aí, mas parece que não tem muita gente que nos conhece aí.

Trabalho Sujo - O que é uma pena. Gostaria de deixar um recado?
Sandman - Se tiver algum produtor lendo essa entrevista, entre em contato com a gente que a gente quer descer pra aí.

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