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BLONDIE NO EXIT (BMG) Por Abonico R. Smith Quando um grupo que ajudou a contar a história do rock anuncia de maneira triunfal o seu retorno, não há outra imagem que vem à cabeça senão a daquele robô "lata-de-sardinha" da série de tevê Perdidos no Espaço balançando os braços, girando freneticamente uma luz sobre a cabeça e gritando "perigo, perigo". Afinal, reza a cartilha deste final de século que muita gente boa se aproveita da fama e do talento de outrora para melhorar o saldo da conta bancária arrancando sem dó nem piedade o dinheiro do bolso de milhares de fãs saudosistas. Como diz o ditado, porém, para toda regra há exceção. No caso do Blondie, felizmente, o agora quarteto americano confirma que tomou a decisão correta ao sair de quase dezessete anos de hibernação. E, ao contrário de muitos outros oportunistas, prova que pôde muito bem congelar o tempo e fazer um disco novo (de estúdio) tão bom quanto os seus principais álbuns, Parallel Lines (1978) e Eat To The Beat (1979), duas obras-primas concebidas em plena explosão da corrente punk/new wave nova-iorquina. Debbie Harry tem hoje 53 anos e está bem distante daquela imagem de bombshell loira e voluptuosa que muito antes de Madonna costumava freqüentar o imaginário masculino. Apesar de não contar mais com o vigor dos tempos de ex-coelhinha da Playboy, Harry manteve a mesma elegância de sempre e, principalmente, primou por deixar o gogó intacto. Ouvindo o novo disco, percebe-se que os vocais continuam tão fascinantes quanto antes, transitando permissivamente entre a doce entonação infantil, o sussurro sexy e a agressividade necessária. O trio que a acompanha também ficou como vinho, quanto mais velho melhor. Chris Stein (guitarras), Jimmy Destri (teclados) e Clem Burke (bateria) revelam que esta trinca era o que contava no Blondie e Nigel Harrison (baixo, hoje exceutivo de uma grande gravador americana) e Frank Infante (guitarra) realmente não fazem falta. Se o título é uma brincadeira com a eterna pressão dos fãs para que a banda voltasse à ativa, No Exit ainda tem a ousadia de passar a limpo as várias facetas (leia-se fases, estilos e ritmos) do grupo em seu pouco tempo de atuação (na verdade, o período que conta para o Blondie vai de 1974 a 1980; depois disso, até a interrupção da carreira dois anos depois, só vieram foram fragmentos e cacos de uma formação desunida). Tudo na boa, sem cair em fórmulas anteriores ou mostrar qualquer indício de cansaço. O novo Blondie continua sendo uma delícia. O ska "Screaming Skin" dá o pontapé inicial para a grande festa. Fazer trenzinho - até mesmo sozinho - é inevitável. "Maria" (cujos versos, de conteúdo reflexivo-religioso, se distanciam do esquema boy-and-girl eternizado nas letras de Harry), "Under The Gun" (dedicada ao amigo Jeffrey Lee Pierce, líder do Gun Club, que se matou recentemente) e "Nothing Is Real But The Girl" são uma grande aula de como se fazer new wave de qualidade quase duas décadas depois. Além da energia e do punch, o grupo mostra que ainda continua sabendo fazer pop de qualidade. As gemas "Forgive And Forget", "Double Take" e "Night Wind Sent" não apenas lembram a fase pós-punk e mais eletrônica, como trazem o frescor e a qualidade que faltaram nos dois últimos discos, lançados em 1980 e 1982. O cover "Out In The Streets", por sua vez, remete aos primórdios (leia CBGB, circa 74/75), quando havia muita influência do ingênuo pop 60s. O resto se divide entre o grande leque de opções que o Blondie sempre primou por oferecer. "Happy Dog" apresenta traços de rhythm'n'blues. "The Dream's Lost On Me" vai pelo hillbilly de compasso 3 por 4. A faixa-título, com a participação do rapper Coolio, mistura peso com muito rhythm'n'poetry. "Divine" busca o groove do reggae jamaicano. E "Boom Boom In The Zoom Zoom Room", meio jazzy meio trip hop orgânico, prepara a cama para Harry botar para fora toda a sensualidade que lhe fez a fama. Se hoje em dia sobra pretensão dos artistas e conteúdo musical é o que menos importa para subir as escadas do estrelato, o Blondie volta no momento certo. Pelo menos para mostrar ao mundo que ser punk ou underground não significa gritar contra o sistema, xingar meio mundo ou fazer caras, bocas e poses, Pelo contrário: é preciso ter apurado conhecimento artístico e feeling correndo solto pelas veias. O resto vem como conseqüência. Os textos só
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