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01.03.1999

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PAIRANDO
Arqueologia do Groove
Por Camilo Rocha

Finalmente se aceitou que música eletrônica e dançável é legal e que este realmente é o futuro mais interessante entre os que se oferecem para a música. Demorou, mas aconteceu: todos os críticos de música que importam aceitam isso; a indústria musical endossa (mesmo que as vendas não sejam fabulosas); popstars de outros campos são rápidos em expressar seu interesse e conhecimento no assunto (até o Arnaldo Antunes! Justificando-se, claro, com uma teoria cabeça: a de que são todos herdeiros de Oswald de Andrade...???); a MTV reformulada vai limar todos os programas especializados, mantendo só o Amp - estendido para uma hora - e outro que não me lembro. E por fim, o cara que manifesta seu gosto pelo som dançável cada vez menos tem que encarar comentários do tipo "é coisa de viado", "é som de negão", "os caras não tocam de verdade" e por aí afora.

Está mais que na hora então de uma revisão histórica, então. Uma revisão histórica é o seguinte: nos anos 70 a gente aprendia que em 1964 tinha havido uma "revolução"; depois, com democracia, governo civil, diretas etc. veio à tona a palavra que melhor descrevia o que tinha acontecido em 64: "golpe". Data histórica deveria ser o dia em que a TV Globo parou de se referir a 64 como "revolução" e passou a falar em "golpe".

O rock também disfarçou seu golpe com papo de revolução. Bom, a comparação talvez seja um pouco extrema. Mas não dá para negar que, por uma conjunção de necessidade mercadológica, poderio econômico e puro preconceito, a história oficial da música pop é marcada pelo predomínio do Bob Dylan em relação ao Smokey Robinson, pela importância de gêneros e movimentos perpetrados por jovens brancos em detrimento do soul, dub, disco, reggae, funk, rap, electro, house e tecno. Porque Frank Zappa merece a classificação de "gênio" e Isaac Hayes não?

Pegue uma "bíblia" como a Rolling Stone History of Rock e compare o espaço dado ao Crosby, Stills, Nash &Young ao dado a Giorgio Moroder. Quem influenciou mais a música não preciso nem dizer. O Kraftwerk, embora um pouco mais reconhecido, na maioria das vezes é atirado na vala comum do rock progressivo ou do art-rock. Outro dia mesmo tive um texto meu cortado por um certo editor de grande jornal porque ele não concordava com a seguinte afirmação: "O Kraftwerk é talvez mais importante para a música de hoje do que os Beatles e os Rolling Stones."

Pois até hoje, mesmo com a aceitação generalizada da dance e da eletrônica, parece que tudo surgiu num vácuo e pouco se fala de suas origens. Tirando algumas raras iniciativas, essa história ainda carece de relatos e contextualizações. Na tentativa de remediar um pouco a situação, aqui segue uma humilde e resumida introdução a alguns heróis que fizeram muito e sobre os quais se falou pouco.

  • Os mestres do dub da Jamaica, os primeiros a transformarem o estúdio num instrumento, introduzindo técnicas de mutação musical que podem ser ouvidas até hoje nos mais variados gêneros: King Tubby, Lee "Scratch" Perry, Augustus Pablo e Keith Hudson;
  • Kraftwerk e James Brown, os pais da eletrônica e os pai do funk. Sim, eles são amplamente reconhecidos e idolatrados faz tempo, mas ainda não o bastante considerando o peso de suas inovações;
  • Os escultores sonoros da disco; a disco em si foi um dos fenômenos mais execrados pelo establishment roqueiro e intelectual, o próprio demo. A birra que muitos tem hoje da dance music contemporânea é descendente disso. De uns anos para cá, parece ter havido uma certa reapreciação da disco, mas não se engane, é puramente sob uma ótica irônica e kitsch: músicas como "I Will Survive", de Gloria Gaynor, "YMCA", do Village People; filmes como "Studio 54". São poucos os que identificam as inovações de DJs e/ou produtores como Larry Levan, Tom Moulton, David Mancuso, Vince Montana, François Kevorkian, Patrick Adams, Giorgio Moroder e Walter Gibbons, além de bandas como Chic, MFSB e Trammps;
  • O pessoal do electro do início a meados dos anos 80, um tempo em que funk e rap regularmente lançavam produções experimentais e abstratas ao invés do palavreado vazio de hoje em dia. São nomes como Arthur Russell, Arthur Baker, Mantronix, Grandmaster Flash, Afrika Bambaataa, D-Train, Jonzun Crew, Man Parrish e Hashim.

Num universo onde as guitarras do Ramones tem cada vez menos importância, é urgente que qualquer um com interesse pelas suas raízes vá pesquisar os sons acima. Inevitavelmente vai descobrir que ainda tem muito mais (por exemplo, os sons latinos, como do percussionista Candido dizem muito mais as pistas atuais do que o Neil Peart). E certamente, ao se deliciar com sua arqueologia, vai pensar: "Porque nunca tinham me contado antes?"

Camilo Rocha acha que, antes de saber mixar, DJs devem saber quem foi Mantronix

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