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01.03.1999

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Por Gustavo Mini

É uma madrugada muito fria e eu saio de casa bem agasalhado. Marta não ligou durante o dia todo. Fiquei esperando, olhando o telefone - essa atitude que todos tomamos quando alguém importante sai de nossas vidas tão de repente como entrou.

Graças ao frio sai fumacinha da minha boca. E com ela um pensamento: nunca, nunca é de repente. Sempre vem de uma sucessão de acontecimentos desastrosos. Às vezes pequenos e aparentemente inofensíveis. Às vezes com uma cara inconfundível de fim.

Chego ao carro e as chaves gelam meus dedos quando as procuro no bolso do casacão da Nike que peguei emprestado de um amigo para viajar e nunca mais devolvi. Desligo o alarme e me sento ao volante.

Não, nunca é de repente. Para falar a verdade, a gente sabe que está se encaminhando para uma direção nada amistosa. E ainda assim, nunca conseguimos evitar. É como você estar caminhando pela rua e ver um piano vindo em sua direção, direto do quadragésimo andar. Há tempo para sair de baixo. Mas você não sai. Acha que o piano não vai cair justo em você. Aliás, não faz relação nenhuma com o piano e você. Está tão absorto que acha que não é com você? Piano? Que piano?

Relacionamentos em fase final de carreira são como pianos caindo na nossa cabeça direto do quadragésimo andar. Apesar de detestar essas analogias rasas, é tudo que eu posso pensar no momento. Pego uma fita com Luna no porta-luvas e boto pra tocar. Ainda não ligo o carro.

Relacionamentos em fase final de carreira são como pianos caindo na nossa cabeça direto do quadragésimo andar. Você sabe que o fim está vindo e sente-se impotente, gelado de medo, apavorado, e não faz nada. Fica ali embaixo, a sombra daquela coisa enorme crescendo à sua volta, o suor frio.

Não adianta mandar flores ao piano. Não adianta escrever poemas ou dar um tempo ao piano. Não dedicar, naquele curto espaço de tempo, toda atenção ao piano que você nunca dedicou antes.

Dou a partida no carro e saio da garagem Dirigir por Porto Alegre à noite é traquilizante se você souber tomar as ruas certas e não pegar nenhum louco bêbado pela frente.

Dean Warehan canta "Anesthesya" à frente do Luna.

Um passo ao lado. Isso é o que precisamos fazer. Olhar o piano de outro ângulo. É isso que faço. Dou um passo para o lado. O piano vem sibilando. E bate violentamente contra a calçada.

Nisso eu dobro à direita numa grande avenida que corta a cidade e tomo uma direção certa. Continuo andando durante uns dez minutos.

Estaciono em frente ao prédio e toco o porteiro eletrônico.

A voz sonolenta de Marta atende.
"Quem é?"
"Sou eu."
"O que você quer?"
"Aprendi a tocar piano."
Acho que pelo sono ela nem entende o que eu digo e abre a porta.

Acho bom. Por causa dela acabei nem vendo o jogo do Brasil.

Gustavo Mini toca nos Walverdes e edita o zine Poneifax

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