Image1.JPG (15354 bytes)

01.03.1999

INFORMAÇÃO
Blur
Ira!
Sleater-Kinney
Goldie

P&R
Henry Rollins
Jon Carter
Afrika Bambaataa

COLUNISTAS
CINISMO ALTO-ASTRAL
por Emerson Gasperin
PAIRANDO
por Camilo Rocha
ESPINAFRANDO
por Leonardo Panço
OUTROPOP
por G. Custódio Jr.
PENSAMENTOS FELINOS
por Tom Leão

CORRESPONDENTES
INTERNACIONAIS

A DECADÊNCIA DO IMPÉRIO NORTE-AMERICANO
por Cassiano Fagundes
WICKED, MATE
Por 90

BR-116
Pequenas Capitanias
Outros Carnavais

Por Fora do Eixo
Arroz com Pequi
Loniplur-RJ
Das Margens do Tietê
Distancity
Leite Quente
Londrina Chamando

FICÇÃO
Leia no último volume
Canalha!
Miniestórias

RESENHAS
Massive Attack
Blondie
"You've Got the Fucking Power"
Relespública (show)
Trap
Johnattan Richman (show)
Little Quail & the Mad Birds
High Llamas
Thurston Moore
Red Meat
Los Djangos
Bad Religion (show)
Vellocet
Jon Carter (show)
Raindrops
Jimi Hendrix Experience
Fun Lovin' Criminals

E-MAIL

CRÉDITOS

FUN LOVIN' CRIMINALS
100% COLOMBIAN
(Virgin)
Por Alexandre Maitas

Antes de mais nada, sim o três caras do Fun Lovin’ Criminals são brancos e fazem rap. Mas como todo rapper branco que se preze, eles não tentam imitar seus parceiros negros. O segredo de ser branco e fazer rap é buscar uma sonoridade nova, criar um ambiente próprio e - mais importante - não querer tirar onda de negão. Somos todos iguais, mas se tem uma coisa que pega mal é branco tentando imitar negro. Sempre parece depreciativo ou ridículo ou risível.

Mas os bons rappers brancos sabem disso e seguem criando seus universos sonoros: os Beastie Boys tentam traduzir tudo que eles acham legal em seu old-skool de moleque birrento, o Cypress Hill apavora - de verdade - com zunidos e sons do outro lado da tumba e o House of Pain soube transportar o gueto pra pista de skate sem dificuldade. Todos cantando com a mesma garra e vigor que seus pares afro-americanos, mas nunca os imitando. O discurso pode ser o mesmo, mas as gírias são diferentes, a postura é menos local e mais global e a forma de rapear é própria.

E o Fun Lovin’ Criminals pertence a este grupo. Os três apareceram pro resto do mundo em 96, quando seu Come Find Yourself abria uma possibilidade do rap ser fruto de gangsters, não gangstas. E adaptando o gueto prum filme de Martin Scorsese, Huey, Fast e Steve apareciam como jovens cappos nos anos 90, herdeiros de clãs sicilianos querendo tirar onda como os novos-ricos californianos que inventaram o gangsta rap. Seu disco de estréia colocava os Beastie Boys para atuar papéis que na primeira versão pertenceram a Al Pacino, Robert DeNiro e Joe Pesci. E um passeio de carro à noite pelo subúrbio nova-iorquino era só uma desculpa pros três se gabarem de seus planos, assaltos e fugas.

Em seu segundo disco, 100% Colombian, eles reafirmam sua postura de moleques bandidos - mas enfatizam no Lovin’ está entre o Fun e o Criminals de seu nome. O tempero vem com uma boa dose de caramelo afrodisíaco soul, que adocica e aplaca o lado adolescente do grupo. O nome do meio do grupo não tem a ver com o óbvio "amável", mas com o mesmo "sweet lovin’" que o Chef do desenho South Park (o vozeirão cafajeste de Isaac Hayes) oferece às suas parceiras.

"Barry White salvou a minha vida", canta Huey no primeiro single do disco - Love Unlimited -, "e se o Barry White salvou sua vida/ ou te fez voltar com sua ex-esposa/ cante Barry White, Barry White é legal". Ele cita as características predatórias do groove pesado de White como uma forma de mostrar que através do amor se pode crescer e amadurecer, sem precisar abandonar o ar rebelde e irresponsável da adolescência.

Estamos falando, afinal, da máfia italiana em Nova York. Do mesmo jeito que os moleques do Bronx vêem seus ídolos entre ativistas negros e bandidões alta-roda, o FLC acha os seus nos piores elementos de uma irmandade fora da lei que tem seu próprio código de ética, muito mais justo - e duro - que o que o sistema propõe. E tira onda com todos os clichês do gênero, como se fosse um moleque fumando os charutos do pai escondido. Sério e tenso, um pré-adolescente que conhece todas as artimanhas da Cosa Nostra e que não hesita em brincar com situações e pessoas que irão cobrar no futuro o seu pescoço como pagamento.

Mas isso é o primeiro disco. 100% Colombian traz este ar de amante profissional que deixa esse mesmo moleque maior. Quando ele gira o charuto entre os dedos e fala com este tom, por minutos esquecemos sua idade e nos vemos diante de um líder nato, que domina o carisma e o palavreado com maestria. Deve estar no sangue.

E assim se preocupa com um irmão ainda mais irresponsável que ele (We’re All Very Worried About You), joga o estuprador de sua amante-cidade, a que chama carinhosamente de Delancy, nos trilhos do metrô e não olha pra ver o estrago (na pesada Southside), trabalha sem sujar as mãos (All for Self) e invade Los Angeles em grande estilo (na suinguenta Big Night Out).

Mas é um apaixonado pela Grande Maçã, mas não esta cidade fria de hoje, mas a que o viu crescer e ganhar poder, como o Hill de Up on the Hill, a Rua 10 de 10th Street ou seu bairro-natal, que "guarda no coração com um segredo" em Back in the Block. Encontra tempo pra apreciar o visual (The View Belongs to Everyone), a música (Mini Bar Jam) e a comida (Korean Bodega) de sua cidade, mas quer é amar.

Reconciliar-se com a ex-esposa, passar a mesma cantada e ter o mesmo doce amor que ele sabe que ela pode dar a ele. Claro que ele pode se divertir e ter supermodelos da costa leste em seu colo (pra não dizer em outra coisa, como em Big Night Out), mas o amor verdadeiro é daquela mulher que viu ele se livrar de todos aqueles corpos sujos na banheira. Pois canta sobre amor e fidelidade - em termos - em Love Unlimited, Sugar, Southside e Up on the Hill e derramando o clima de balada por todo novo disco.

O título - "100% colombiano" - faz jus à qualidade do CD em parâmetros narcotráficos, mas ele reforça a pureza do cidadão siciliano que nasce no peito da capital do mundo. E marca também a primeira grande transação, a primeira negociata de peso, um rito de passagem. A partir daqui, não dá pra olhar pro Fun Lovin’ Criminals como meros moleques. O pior é que eles são isso, mas não pra vê-los apenas como isso.

Os textos só poderão ser reproduzidos com a autorização dos autores
© 1999
Fale conosco

Hosted by www.Geocities.ws

1