Image1.JPG (15354 bytes)

01.03.1999

INFORMAÇÃO
Blur
Ira!
Sleater-Kinney
Goldie

P&R
Henry Rollins
Jon Carter
Afrika Bambaataa

COLUNISTAS
CINISMO ALTO-ASTRAL
por Emerson Gasperin
PAIRANDO
por Camilo Rocha
ESPINAFRANDO
por Leonardo Panço
OUTROPOP
por G. Custódio Jr.
PENSAMENTOS FELINOS
por Tom Leão

CORRESPONDENTES
INTERNACIONAIS

A DECADÊNCIA DO IMPÉRIO NORTE-AMERICANO
por Cassiano Fagundes
WICKED, MATE
Por 90

BR-116
Pequenas Capitanias
Outros Carnavais

Por Fora do Eixo
Arroz com Pequi
Loniplur-RJ
Das Margens do Tietê
Distancity
Leite Quente
Londrina Chamando

FICÇÃO
Leia no último volume
Canalha!
Miniestórias

RESENHAS
Massive Attack
Blondie
"You've Got the Fucking Power"
Relespública (show)
Trap
Johnattan Richman (show)
Little Quail & the Mad Birds
High Llamas
Thurston Moore
Red Meat
Los Djangos
Bad Religion (show)
Vellocet
Jon Carter (show)
Raindrops
Jimi Hendrix Experience
Fun Lovin' Criminals

E-MAIL

CRÉDITOS

TRAP
BUY
(Stopharia Records)
Por Alexandre Matias

O Trap é descendente da primeira geração do rock brasileiro dos anos 90, mas, por uma série de motivos, não aconteceu. Seu primeiro disco, Outside, só saiu em 95, o ano das frustrações para bandas independentes espalhadas pelo país. Quem acompanhava a cena desde o começo da década, percebia uma evolução de mentalidade e estrutura com fácil discernimento.

Bandas e fanzines começaram a ter mais contato entre si bem no começo desta dezena de anos, o que culminou com a realização de um festival de festivais independentes: o BHRIF em Belo Horizonte, o Juntatribo aqui em Campinas, o SuperDemo no Rio, o BIG em Curitiba. Festivais que tinham público, um público que queria novidades e similares às suas bandas gringas favoritas. O fã de Ramones ia ver Raimundos, o fã de Jesus & Mary Chain ia ver Second Come, o fã de Rage Against the Machine ia ver Câmbio Negro, o fã de My Bloody Valentine ia ver o Brincando de Deus. E surgiam cada vez mais fãs dos Raimundos, do Second Come, do Câmbio Negro, do Brincando de Deus.

O selos de fitas já eram uma realidade e as bandas começavam a fazer turnês bem sucedidas pelo Brasil. Casas de shows abriam uma atrás da outra (muitas fechando brevemente) e logo o grande mercado começava a incorporar estes elementos. O Banguela - dos Titãs - surgia com o Little Quail, os Raimundos, o Mundo Livre S/A, o Maskavo Roots e a Graforréia Xilarmônica. A Tinitus tinha a banda Bel, o Yo-Ho-Delic, o Virna Lisi, o Off the Wall e o Beijo AA Força. A RoadRunner tinha o Killing Chainsaw, o Lethal Charge e o Garage Fuzz. O Rock It! - de Dado Villa-Lobos - contra-atacava com Second Come, Gangrena Gasosa e PELVs. A Sony contratava Planet Hemp, Gabriel O Pensador, Chico Science & Nação Zumbi e o Skank. 94 viu este cenário florescer em sua frente, uma cena independente acontecendo mesmo e se tornando uma nova geração rock no Brasil.

O próximo e natural passo seria o próprio mercado independente se consolidar. Não apenas dar frutos pro mainstream, mas mostrar que está na briga do mesmo jeito. Várias bandas escolheram 95 (e seu sucessor) para lançar seu primeiro CD - gente vindo de turmas e gerações diferentes - e esperar acontecer. Da velha guarda, André Abujamra mostrava o seu Karnak, seu ex-parceiro nos Mulheres Negras, Maurício Pereira, enveredava pelo samba, o ex-Picassos Falsos Humberto Effe se lançava em carreira solo e Max Cavalera experimentava com hardcore e noise no Nailbomb. Os mineiros do Pato Fu e do Virna Lisi lançavam seus excelentes segundos discos procurando alcançar um público maior. Estreando mesmo estavam o Linguachula, o Brincando de Deus, o Concreteness, os Muzzarelas, Oz, Graforréia, Maskavo, Jorge Cabeleira, Mestre Ambrósio, o Low Dream, o Dazaranha - e o Trap. Bandas que investiram todas as fichas em seu sucesso, mas que deram com os burros n’água por uma conjunção estranha de fatores.

Na verdade, o chabu que deu na cena independente brasileira dos 90 foi culpa da MPB, que depois de trinta anos no poder (mais que os milicos!) perceberam que estavam velhos e que precisavam de herdeiros. Logo os mais palatáveis e candidatos a pop stars foram pinçados da monte e apresentado para o eterno e forçado carnaval que a MPB criou - e o Planet Hemp, Chico Science, os Raimundos e outros foram misturados à Fernanda Abreu, Gilberto Gil, Arnaldo Antunes e o resto dessa tchurma. Era pra geração anos 90 finalmente fazer a ponte entre o pop brasileiro e o mundial, mas veio a MPB e, como o Dói-Codi fazia, seqüestrou os principais nomes e fez coisas inomináveis com eles.

Como alguns dos órfãos de 95, o Trap sobreviveu ao holocausto. Não fechou as portas nem caiu em desuso, usou a entressafra para trabalhar seu nome. E agora lançam Buy (compre via Tamborete, pelo email [email protected] ou pelo fone 021-352-2792), seu segundo disco, se descontarmos a trilha sonora pro filme trash Caquinha Star Au Go-Go.

O resultado segue a linha do primeiro CD, um pop pesado e experimental, acertando a mão em cheio num trabalho requintado de guitarras (psicodelia e pós-punk com técnica, meio Robert Fripp às vezes), com melodias fáceis de memorizar e riffs tocados pela banda inteira, como se ela fosse só um instrumento. Na verdade, é. Afinal, Jonny Trap não responde com esse sobrenome à toa. É ele quem comanda e executa quase todos os instrumentos de Buy e reprocessa-os via computador. O resultado é tão pop quanto ousado e mostra possibilidades esquecidas com instrumentos de rock. Vale o investimento.

Os textos só poderão ser reproduzidos com a autorização dos autores
© 1999
Fale conosco

Hosted by www.Geocities.ws

1