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01.03.1999

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GOLDIE
CURTA MEGALOMANIA
Por Luciano Vianna e Valéria Rossi
(London's Burning)

O homem dos dentes de ouro volta a atacar. Apesar de ter passado os últimos meses se dividindo entre as filmagens de Everybody Loves A Sunshine, do documentário Talkin' Headz e uma extensa turnê pelos Estados Unidos, Goldie não deixou de bater ponto no seu estúdio entre um trabalho e outro e lançou recentemente na Inglaterra o mini-LP Ring of Saturn, que traz cinco faixas inéditas, um remix e uma recriação da faixa "Mother".

A boa notícia é que Goldie não sofreu de nenhuma crise megalomaníaca no novo disco e "Mother" encurtou - se durava pouco mais de uma hora no álbum Saturnz Return, passou para enxutos sete minutos. As faixas inéditas ("What You Won't Do For Love", "Hyena", "Kaiser Salsek", "Judged By Colour, Heard By Sound, Seen By Blind" e "Unkle") também não decepcionam e trazem um drum'n'bass soturno e de arrepiar qualquer um, com destaque para a melodiosa "What You Won't Do For Love".

Em um fim de tarde chuvoso londrino, o 1999 esteve conversando com Goldie que, entre outras surpresas, se revelou um admirador das batidas brasileiras e afirmou que o futuro do drum'n'bass está na América do Sul.

1999 - Quais são as suas lembranças da viagem ao Brasil para tocar no Free Jazz, em 1997?
Goldie -
Gostei muito, principalmente do Rio. Mas não saí muito, por isso eu quero voltar de férias, provavelmente este ano. Me lembro bem que a cena de drum'n'bass era bem maior do que eu esperava. Bem maior do que nos Estados Unidos.

1999 - Alguma outra lembrança feliz do Brasil?
Goldie -
Com certeza. No aeroporto do Rio, pouco antes de embarcar de volta para a Inglaterra, conheci uma garota muito bonita chamada Denise. Ela trabalha como assistente de um dentista. Bom, ficamos bastante amigos (risos). Ela me ligava todos os meses com a ajuda de um tradutor, porque eu não falo português e nem ela falava inglês. Acontece que tive que mudar o meu número de telefone e não deu tempo de dar o novo número para ela. Por isso queria aproveitar para dar um recado: se você ler isso, Denise, entra no meu site na Internet e manda um e-mail para mim!

1999 - O seu último lançamento, Rings Of Saturn, não é nem um LP, nem um EP. Você o chama de mini-LP. Por quê?
Goldie -
Porque não é um grande trabalho meu. Para mim é uma coisa que... Olha, para mim é muito fácil fazer discos, melodias. Quando fiz o álbum eu tinha muitos pedaços em volta, um monte de coisas acontecendo ao mesmo tempo. Rings Of Saturn é como notas no rodapé de um livro. Nada mais.

1999 - Isso quer dizer que você está trabalhando em um novo álbum atualmente?
Goldie -
Sim. Eu assinei contrato em novembro e estou planejando ir ao Brasil para gravar algumas faixas. Quero combinar as batidas africanas e latinas com a tecnologia digital para este novo trabalho. Por enquanto, o título é Here Comes The Drums.

1999 - E o que você conhece de música brasileira?
Goldie -
Não conheço muitas novas coisas. Sei mais das raízes antigas. As batidas mais tribais... Acho que, do jeito que a world music está evoluindo, o caminho é voltar para os tambores de qualquer maneira. É o que quero fazer no meu novo álbum: focar nos tambores, no ritmo. De uma forma geral, quando as pessoas fazem esse tipo de trabalho, elas nunca vão para a América Latina para pesquisar ritmos. E acho que a batida do tambor é uma das principais e maiores características da música brasileira, uma das coisas que sobreviveu a todos os estilos.

1999 - Seu nome tem uma cota de responsabilidade na criação dessa cena. Você se considera um representante universal do drum'n'bass?
Goldie -
Eu vou aos lugares e começo a revolução. É o meu trabalho. Tem DJs que hoje são famosos e que sempre foram os meus fãs. Eu dou camisetas e discos e, um ano depois, eles têm um nome na cena. Você abre o jornal e vê o cara na foto com a camiseta que você deu quando ele ainda não era ninguém. Na retrospectiva, é como ver um pouco da minha trajetória mesmo, porque eu também fui tiete de outras pessoas. Me faz feliz saber que eu dei um incentivo para eles.

1999 - Qual é a maior vantagem da fama? E qual é o principal "osso do ofício" de ser famoso? Te chateia dar entrevistas e responder sempre às mesmas perguntas, por exemplo?
Goldie -
Depende. Os repórteres alemães chegam para você e perguntam: "por que você faz isso?" (risos)... Que tipo de pergunta é esta?! Então, quando a primeira pergunta é esta, já sei quais serão a quinta e a décima. Então eu viro a mesa e pergunto: "por que você escreve?". A gente aprende um pouco de cada experiência. Nós somos seres humanos e não robôs. A parte boa é que a cena que realmente importa é onde as suas vitórias realmente aparecem. Como, por exemplo, com os garotos do Brasil, os visionários que se deram conta que este tipo de música teria uma grande influência desde aquela época até agora. Uma vitória, porque você pensa "vou dar a isso um pouco de tempo" e aí acontece. Você dá uma camiseta para um garoto e pensa que ele é você dez anos antes. Mas é preciso manter a memória sob esta perspectiva. O ruim da fama, você sabe, às vezes as pessoas começam fofocas do tipo "ele tem um monte de grana" e por aí vai. Às vezes as pessoas esquecem quem você é realmente, e no meu caso quem eu sou é sempre relacionado à música. Você não pode deixar isso te afetar, porque você tem que se manter concentrado. Outra coisa é que você tem muito pouco tempo privado e, sempre que aparece algum, ele se torna precioso. Mas me sinto muito privilegiado pelo fato de ser músico e fazer o que faço.

1999 - Como é um típico dia seu?
Goldie -
Em um dia legal, acordo cedo e vou andar de bicicleta com o meu irmão. Compro um frango, cozinho, jogo Nintendo, limpo o meu carro e saio por aí. Adoro dirigir, é muito bom para ouvir música. Se é um dia em que tenho estúdio, dou uma olhada nos meus arquivos. Tenho muitos sons arquivados para pesquisa que, eventualmente, utilizo nas minhas músicas. Antes de dormir, escrevo. Faço poemas, coisas do tipo. Ultimamente tenho feito muitos manifestos. Em um dia ruim, acordo tarde, birrento. Dirijo rápido demais, vou para casa de mau-humor, ouço música bem alto. Dou uma nadada na piscina e durmo. Apenas isso.

1999 - Quando "Mother" foi lançada, alguns críticos afirmaram que era uma música muito pretensiosa, por ser muito longa. A nova versão, incluída em Rings Of Saturn, é uma resposta para eles?
Goldie -
Esta "nova" versão já estava pronta quando lancei a primeira. Os críticos acham que sabem qual é o meu jogo, mas eles estão por fora. E o que eles pensam realmente não faz muita diferença para mim, eu gosto de brincar com eles. Quando vejo pessoas dizendo que gostam de Ring Of Saturn [Nota: disco muito bem recebido pela crítica inglesa] começo a bufar. Não é que não goste do disco, mas é tão fácil fazer um trabalho só com batidas. Eu acho isso simples demais. Acredito que a missão do artista é fazer quebra-cabeças para as pessoas resolverem. Eu não quero tornar as coisas fáceis para o público. Por isso Ring Of Saturn não é propriamente um LP. Também acho que dificultar faz parte da minha vida e a existência das pessoas tende a se tornar mais complexa entre os 29 e os 32 anos. É um fato, um axioma. Eu tenho que ser honesto comigo mesmo. Críticos não são artistas, senão estariam escrevendo livros. Não se pode esperar que eles entendam.

1999 - Fora da área musical, em que outros projetos você anda envolvido?
Goldie -
Eu acabei de dirigir um vídeo para "Mother" com Josh Evans. Eu escrevo muito. Pode ser que eu estréie como ator numa peça por seis meses. Tudo vai depender de conseguir fazer o sotaque nova-iorquino para o meu personagem. Meu papel é o de um portador do vírus da Aids que está morrendo por abuso de drogas. A peça vai coincidir com o meu novo álbum, mas isso é bom, porque vou estar fazendo duas coisas no mesmo lugar, pregado no chão.

1999 - Você é um artista de várias facetas...
Goldie -
Verdade. Eu também pinto [Nota: antes de fazer sucesso na música, Goldie ficou famoso com os seus painéis de grafite]. Estou construindo o meu estúdio de pintura em casa. Nos últimos dez anos tenho desenhado muito. Vou fazer toda uma nova coleção de telas para expor em breve. Uma das coisas mais bizarras de ser um artista é que, se paro de desenhar fisicamente no papel, o desenho continua na minha cabeça. Como a música. E quando volto a desenhar no papel, sempre recomeço do ponto que parei na minha cabeça, e não no papel. Bem impressionante. Adoro isso. Agora no inverno é a época em que mais gosto de pintar.

1999 - Na sua opinião, qual é o futuro do drum'n'bass?
Goldie -
Muita gente acha que ele vai se transformar numa coisa meio jazz, mas acho que já é jazz desde o verão passado. Na minha opinião, o drum'n'bass vai é se transformar em uma coisa mais latina. Os ritmos latinos são anteriores ao jazz. De qualquer maneira, o ritmo não vai mais embora. E mais do que na Alemanha ou em qualquer outro lugar, há uma grande chance de o futuro do drum'n'bass ser na América do Sul.

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