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Vamos começar bem do começo. Seja lá como for, o mundo apareceu de alguma forma. O homem "evoluiu" até a forma atual e isso quer dizer que de algum modo, após milhões de anos de espera, seus pais se conheceram, rolaram uns lances entre eles e por mais que a realidade seja dura, você nasceu.

Uma pena que feio desse jeito. Já estamos, a essa altura bem adiantados, afinal, você já é um adolescente, ou seja lá como chamam esse seu estado atual. Com certeza os próximos passos são: começar a tocar algum instrumento ou achar que é vocalista. Das duas, uma. Uma terceira seria só dançar, como o Bez dos Happy Mondays. É bom que você comece a fazer amigos, pois só assim vai poder montar uma banda. Ou então seguir os passos da MPB e fazer voz e violão. A decisão é sua.

Vamos supor que sua vida esteja consideravelmente mais adiantada do que essa parte e sua banda já esteja montada, você já saiba (ou ache que saiba) tocar algum instrumento e esteja a ponto de gravar uma fita demo. O que é uma fita demo é o primeiro ponto. Demo é a abreviação de demonstration = demonstração. São fitas usadas para mostrar para gravadoras e imprensa em geral, o trabalho de algum artista. Nos últimos anos ela tomou outra forma, outra conotação. Serve também para o comércio entre as bandas e para a galera em geral poderem conhecer o grupo.

Ultimamente as pessoas pensam em gravar demos mesmo antes de formar o grupo. É extremamente essencial que se entre no estúdio sabendo que aquelas são músicas que a banda realmente gosta. É preciso fazer muitos shows para que a formação da banda fique fixa e coesa. Quanto mais apresentações ao vivo o grupo fizer, maior será a chance de cada componente do grupo estar mais seguro e confiante em seu instrumento, o que será vital na hora da gravação. Quanto menos a banda errar as músicas na hora da gravação, maior será o tempo para a mixagem, menos dinheiro será gasto ou mais músicas poderão ser gravadas.

Como pagar a gravação? Ou seus pais vão bancar tudo, ou vocês já trabalham ou nenhuma das duas hipóteses. A solução: ir juntando dinheiro gradualmente. Guarda um dali, um daqui, até ter o mínimo suficiente. Suponhamos que a grana já esteja em cima, o próximo passo é o equipamento a ser usado na gravação. É muito comum os grupos chegarem no estúdio pra gravar com cordas velhas que não afinam mais, cabos com mau contato, sem pratos de bateria, sem pedal, sem caixa, às vezes sem bateria para o pedal de guitarra. Enfim, sem o mínimo necessário. Pense em tudo que vai ser preciso para a gravação.

Pare para analisar tudo que vai ser necessário, desde a fonte de 9V até a guitarra. Se você for marinheiro de primeira viagem, com certeza vai ficar inseguro com estas questões. O que pode ser feito? Dois conselhos. Acompanhe a gravação de alguém mais experiente. Fique ali no cantinho do estúdio, quietinho, bonitinho, só olhando e se ligando nos detalhes.

Outro ponto é se o seu equipamento for muito ruim. Nem sempre é fácil, mas se for possível, arrume umas coisas emprestadas. Uma guitarra boa, um baixo decente. Podem ajudar bastante.

Qual estúdio usar? Nesse caso existem 2 pontos. Qualidade e grana. Veja quanta grana você tem e depois faça uma lista dos estúdios de sua cidade/região e do preço. Você pode fazer uma pesquisa com os grupos que você conhece que já gravaram e ficar sabendo quantas horas eles usaram e quantas músicas gravaram. Pegue várias fitas e ouça a qualidade da gravação. Depois compare qualidade/preço.

É essencial que o grupo esteja bem ensaiado, com as músicas na ponta da língua. Se possível, leve alguém mais experiente para dar uma força na gravação e na mixagem. Se não tiver alguém para ajudar, procure gravar a guitarra ligada em amplificador e esse, por sua vez microfonado. Tente um estúdio com bateria acústica, já que as "trigadas", pelo menos pra rock, não servem muito bem.

Após um período de tensão, nervosismo e ralação, eis que sua gravação está pronta. Não desperdice seu trabalho com uma parte gráfica de baixa qualidade. A apresentação do grupo já é meio caminho andado. Agite aquele amigo, ou mesmo alguém da banda, que desenhe bem, que faça colagens interessantes e comece a fazer a capa. Experimente fazer só a parte da frente e a dobra lateral colorida. Em uma mesma folha de papel ofício, cabem 6 capinhas e sai bem mais barato. Nessas partes tem de ter o nome do grupo e o nome da fita (se houver). O encarte com as letras, a ficha técnica, os agradecimentos, etc. faça preto e branco em xerox comum. Sai "baratox". Tome o máximo de cuidado com essa parte, pois os grupos andam cada vez mais profissionais e a concorrência muito mais acirrada. Não esqueça do endereço de contato.

Tome muito cuidado com a qualidade das cópias da fita. Se for feito em casa, use o melhor rádio possível. Senão, ache um daqueles lugares que fazem fitas em série com o tempo certinho. Acabada essa parte, vêm os preparativos para começar a divulgação. Começando por um release bem escrito e terminando com boas fotos. Por mais que você seja bicho do mato, todo mundo conhece algum estudante de jornalismo e uma aspirante a fotógrafo. Pro seu amigo jornalista, ou mesmo alguém que escreva bem, você vai pedir um release. Pra quem não sabe, release é um texto que apresenta a banda. Tente evitar aquele clássico começo: "Banda formada no início de 1990, por fulano, cicrano, etc." Quando o texto estiver pronto, tente fazer uma diagramação legal e tome cuidado com os erros de português.

Chegou então a hora do seu aspirante a fotógrafo lhe ajudar. Pense no visual que o grupo quer passar, em sua imagem, etc. Um bom cenário ajuda muito, mas não se esqueça de que o grupo é o principal, o cenário é só um complemento. Faça fotos preto e branco para zines e jornais e coloridas para revistas.

Depois que tudo isso estiver pronto, o que com certeza demorou bastante e usou muito de sua dedicação e energia, chegou a hora de mandar pra Deus e o mundo. Jornalistas, revistas, jornais, outros grupos, casas de show, botecos, enfim, pro raio que o parta. O trabalho está só começando.