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01.03.1999

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(Curitiba)
Por Digão Duarte

É agora que a BR-116, esta nossa confraria de antenados, vai ficar com cara de lista de discussão. Não pretendo que seja assim sempre, mas desta vez não tenho como deixar passar em branco o que li na coluna de Marcos Pinheiro (responsável por cobrir DF) da edição anterior - creio que ele também esteja esperando um comentário meu a respeito, então vamos lá! Na coluna Por Fora do Eixo do mês passado, Marcos Pinheiro comentava a respeito do choro generalizado de nossos colegas do Brasil afora quanto à estrutura falha de nossa cena alternativa. Findou seu texto com o seguinte parágrafo: "Que inveja de Curitiba, que tem jornal e rádios especializadas que incentivam a produção do rock e conscientizam a moçada a ficar atenta nos novos talentos da cidade! Aqui a colonização do eixo Rio-São Paulo (conexão Bahia) já está tão forte, que só uma lobotomia resolveria". Quem vê Curitiba do lado de fora da vitrine pode mesmo ter uma visão exagerada e até (por que não?) romântica da cena local, mas eu não culpo ninguém por isso. As aparências realmente enganam.

Semanalmente a Gazeta do Povo, jornal de maior expressão no Paraná, publica o caderno Fun, que tem como linha editorial a cultura teen (que palavrinha danada). Bandas curitibanas de qualquer "porte" sempre são pauta de suas páginas, seja em notinhas ou resenhas de CDs e shows. Ultimamente muitas bandas curitibanas estão ganhando a capa do caderno. São aquelas que estão produzindo um trabalho consistente e relevante na cena local. Quando achamos que isso é motivo de prestígio, entra em ação ela: a terrível mentalidade curitiboca. Quando cheguei nesta cidade, um velhinho me pediu para guardar um pensamento básico para a sobrevivência aqui: "o curitibano não quer que sua horta seja bonita e frutífera, mas sim que a horta do vizinho seja pior que a dele". Num primeiro momento achei que ele era um extremista, mas com o tempo concluí ser ele um realista.

Voltando ao Fun, muitas bandas iniciantes (e imaturas) julgam que lá o espaço é liberado, com pensamentos do tipo "Ei, eu conheço esses caras. Aquele ali foi meu colega no colégio. Aqueles outros freqüentam o mesmo bar que eu. Se eles foram capa então nós também podemos ser". Nada disso! Tem que ter talento para ganhar a capa. Depois de levarem muita bronca, os moleques começam a fazer campanha contra o caderno e contra as bandas da capa. Entra em vigência uma política: "se não temos as mesmas vantagens que eles, vamos atacá-los". Na seção de cartas sempre tem neguim detonando os outros e muitos assinam com pseudônimo, um sinal de covardia, pois não dão a cara para bater.

Vamos agora à questão de rádio e TV. Temos uma rádio rock sim, mas o espaço para bandas locais geralmente ocorre apenas em programas específicos. Uma ou outra banda maior pode ter músicas veiculadas na programação normal, como o Resist Control, que vendeu 6.000 cópias em esquema independente, ou Skuba e Boi Mamão, lançados pela Paradoxx. Outra opção é o espaço Todos os Caminhos do Rock, da Educativa FM. A emissora, direcionada aos clássicos e MPB, libera a noite de sexta-feira (das 20h às 2h) para programas voltados a gêneros específicos. Tem o Transylvaniann Express (psychobilly), Eletrólise (eletrônica), Devotos do Blues (o nome já diz), entre outros. Atenção maior merece o Ciclojam, um programa de meia hora onde bandas curitibanas tocam ao vivo na própria rádio, intercalando trechos de entrevista entre blocos de músicas. Podem rolar até jam sessions e acústicos. Vale lembrar que em Curitiba foi inaugurada uma TV musical Estação Primeira, homônima da falecida Rádio que tinha uma programação realmente alternativa e foi um marco na história da música curitibana. A TV lembra a MTV no começo e ainda está engatinhando (Nota: ainda não vi nenhum clipe curitibano lá).

Como se vê, os esforços são grandes e os resultados poucos. Apesar de Brasília não contar com um suporte semelhante a este, ela lançou e continua lançando grandes artistas para todo o território nacional. Nos anos 80 foram Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Plebe Rude, Capital Inicial. Mais recentemente ocorreu o estouro dos Raimundos e agora vemos Maskavo Roots e Nativus despontarem como medalhões. Muitos podem pensar que bandas grandes não têm relação alguma com a cena pois o que importa é o lado mais alternativo. Isto é um engano, pois são eles quem chamam a atenção da mídia, que vai procurar mais informações sobre outros músicos da cidade. Em Curitiba o que temos? Pode procurar que não há nenhuma banda em patamar semelhante. O que já houve foram tentativas, como Beijo AA Força, Senhor Banana e Skuba, que não vingaram. O que temos agora são possíveis apostas de possíveis estouros, como Resist Control, Boi Mamão, Fuksy Faluta, Relespública, Zirigdum Pfóin e Woyzeck. Mas para que eles cheguem a um patamar realmente alto, terão que driblar um obstáculo e tanto, a mentalidade curitiboca (olha ela aqui de novo!). Aqui rola muita panelinha, o povo não quer união. E para finalizar (e ilustrar), coloco aqui o fragmento de uma entrevista com Resist Control no Caderno Fun de 01/01/99. O baterista André Massad sacou bem a mentalidade curitiboca neste trecho: "Ainda existe muita desunião e inveja na cena do rock local. Assim que uma banda aparece um pouco mais, começam as fofocas e intrigas. Tem muita gente que quer cortar logo o que está crescendo e progredindo para que todo mundo fique em um estágio igual, no marasmo"

Café Expresso
Quebrando um pouco a linha editorial desta revista, vamos agora falar de quadrinhos (alternativos, é claro). Antes de 98 terminar, foram lançadas duas revistas muito bacanas com quadrinistas curitibanos. Uma delas é a Manticore, direcionada ao terror e à ficção científica. No número 1, temos a primeira parte de uma saga onde o personagem principal é o intrigante chupacabras. O enredo foge de situações previsíveis quanto ao assunto e a arte é de primeira. Pudera, pois a revista foi elaborada pela equipe Núcleo de Quadrinhos Curitibanos, onde só tem fera. A outra é o Almanaque Entropya, que reúne vários autores e é editada pelo RHS, do escatológico fanzine Berne e também vocalista da banda Stanley Dix. Como o nome pede, é um almanacão de histórias curtas e certeiras escolhidas a dedo. Lembra os comics underground americanos. Apesar de chamá-lo de revista, o Entropya tem mais ginga é de fanzine. Se for assim, então é o melhor fanzine curitibano de 98.

Garagem é um nome um tanto batido no meio alternativo, mas isso não é obstáculo. Com esse nome foi batizada a mais nova loja de Curitiba. Os proprietários Simon e o rapper Davi Black antes trabalhavam na Drop Dead Sound Department e encomendavam os CDs mais alternativos do planeta para suas prateleiras. Continuaram seguindo a mesma linha na Garagem. É daquelas lojas em que dá vontade de sair com duas sacolas cheias. Vendem demos, camisetas, zines e principalmente CDs. Tem quase todos os nacionais independentes lançados recentemente. No gringo, o mais quente é o rap e as barulheiras das garagens americanas lançadas por selos como Matador Records, Kill Rock Stars, Grand Royal e afins. Sabe qual a melhor? A alta do dólar ainda não passou por lá!

Impossível não citar aqui o aniversário de um dos poucos dinossauros do rock curitibano: Relespública. A banda mais rock'n'roll da cidade completou seus dez anos no último dia 18 de fevereiro. A comemoração, no entanto, ocorreu uma semana antes numa apresentação fan-tás-ti-ca no Labirinto Bar. O empolgado guitarrista Fábio Elias avisou antes do show: "Sei de cor todas as nossas músicas (...) Enquanto a chama estiver acesa e o público pedir, vou continuar tocando, mesmo que sozinho". Foram duas horas do show mais intenso que Curitiba presenciou. Público e banda em êxtase. A Reles nunca esteve tão no auge quanto agora. Primeiro CD lançado, clipe da música "Mina Rock’n’Roll" rolando na MTV, shows toda semana nos bares mais cool da cidade e a conquista de um público fiel e crescente. Vão durar por mais dez anos com certeza.

Digão Duarte editava o Papakapika zine e atualmente mantém congelados os fanzines Mambo Bobby e [MAIS] Zine no freezer de casa. Não viu a cena curitibana nascer para o Brasil e teme que quando isto ocorra, saia do ventre da Província do Leite Quente um natimorto.

Os textos só poderão ser reproduzidos com a autorização dos autores
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