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HIGH LLAMAS LOLLO ROSSO (V2) Por Alexandre Maitas Os detratores do High Llamas gostam de encher a boca para dizer que o grupo não passa de um plágio descarado das melhores idéias do Beach Boy Brian Wilson nos idos de 66. Não é bem assim. Sean OHagan, cabeça e centro do sistema solar do grupo, é, claro, obcecado pelo californiano mais genial dos anos 60 - a ponto de tentar recriar sua obra-prima perdida, Smile. Mas isso não quer dizer que ele se limite a plagiar o trabalho do autor de Pet Sounds. Pra começo de conversa, ele não está interessado em canções pop redondinhas finalizadas com instrumentos de orquestra e músicos de jazz contratados. Sua obsessão não está no Brian Wilson compositor nem no Brian Wilson arranjador. O que ele quer é o Brian Wilson experimentalista, aquele que se debruçava na mesa do estúdio e tentava compactar sons acústicos mais diferentes em pequenos minutos. Como um cientista, este Brian queria criar novos timbres a partir de outros já existem, construindo paisagens sonoras inéditas e tão aprazíveis quanto as originais. Misturando pretensão erudita, insanidade mental, substâncias ilícitas e uma criatividade fenomenal ele criava seu próprio universo, uma bolha de som que hoje reconhecemos com tanta facilidade. Sean não quer recriar este universo e sim habitá-lo. Fazer música a partir do que seu mestre concebeu, com a mesma lógica dele. Mas as semelhanças páram por aí. Não interessa copiá-lo, mesmo porque depois que abandonou a praia que os Beach Boys mostraram ao mundo a cópia se tornara execrável na cabeça de Wilson. E assim pensa Sean, que atualiza para estúdios modernos a filosofia musical subliminar dos sulcos do disco mais clássico da banda de seu tutor espiritual. Para mostrar que é muito mais que um mero reverberador das idéias de Brian, o líder dos High Llamas entregou parte de seu último disco (o excelente Cold & Bouncy) nas mãos de alguns dos mais respeitados recriadores musicais dos últimos tempos. Entrando no terreno do remix, o som de seu grupo deixaria de ser referencial e a verdadeira criação de OHagan viria à tona. Assim é Lollo Rosso que mostra a amplitude do talento de Sean, visto pelo ponto de vista alheio. O disco começa com o grupo alemão Mouse on Mars recriando Showstop Hip Hop, que se transforma em Showstop Hic Hup. Na versão, a música é invertida de trás pra frente, passada por um filtro vocoder e casada com sua versão original. O resultado é um caleidoscópio sobre a canção, fazendo que possamos ver, ao mesmo tempo e em diferentes direções, todos os timbres sintéticos da canção, em fractais sonoros tão complexos e singelos quanto um floco de neve. O japonês Cornelius, uma versão oriental e nerd de OHagan (tão obcecado por Pet Sounds quanto o líder dos High Llamas), quebra Homespin Rerun em mil pedacinhos para depois reorganizá-los sobre um violento drumnbass que, posto por cima de bases tranqüilas e bucólicas, não parece ter um milésimo de sua agressividade. É como assistir a uma corrida de dragster ao som de música clássica, vendo a quantidade se transformar em qualidade na frente dos nossos tímpanos. Com sua invejável capacidade de empilhar sons sem que percebamos que estes são muitos, ele viaja pelo espaço à velocidade da luz como se estivesse tocando um bandolim numa gôndola. Esse cara ainda vai dar muito o que falar. Outros alemães, desta vez o Schneider TM, não se contentam com uma música só e colocam, em pistas paralelas, elementos de Homespin Rerun, Showstop Hip Hop e Over the River, criando Homespin Übershow. O resultado, pitoresco, faz com que as três canções surjam lado a lado, como se estivessem em camadas diferentes, correndo sobre um insistente vibrafone acompanhado de microrruídos de percussão. No meio da canção, as cordas de Showstop... juntam-se com o teclado de Homespin... criando um amálgama de sons que deve ter deixado Sean pelo menos intrigado. O inglês Kid Loco parte da base de Homespin Rerun para criar The Space Raid Remix. A princípio a faixa parece uma repetição dos sons que já tocaram nas faixas anteriores. Mas ao repetir-se, como um mantra, ela capta a atenção quase que via hipnose. Mas no meio da canção, o autor muda subitamente a direção, elevando o volume e a velocidade do baixo, usando pequenos beats pra compor uma intrincada percussão e as cordas apenas como decoração. Ao novamente nos empurrar em outro mantra, ele volta com o tema anterior e tudo faz sentido. Ele desconstrói antes de reconstruir e o resultado é belíssimo. O trio bretão Stock Hausen & Walkman parte pro radicalismo e dilacera Three Point Scrabble como um açougueiro armado com seu cutelo. Parte da canção em pedaços iguais e com força, salpicando-os com um tempero igualmente quebrado de Showstop Hip Hop. Aos poucos, Reflections in a Plastic Glass vai se formando. Ao desmembrar a canção aos poucos, eles tentam remontá-la numa bandeja de ruídos criados pelo grupo no decorrer de todo disco anterior. O molho vem com a voz de Sean, transformada em uma onomatopéia rítmica. E gotas de som escorrem pelo corpo da canção, que, aos poucos se esvazia. Já o pós-rocker americano Jim ORourke (colaborador do Tortoise e do Sonic Youth) cria sua Mini-Management a partir de diversos sons de Cold & Bouncy, mas prefere se abster do ritmo que todos os outros propuseram. Ele prefere brincar com texturas e andamentos, como se sua canção fosse um dos sonhos mais líricos que OHagan pudesse ter, com muita ênfase nos teclados (um piano e um órgão Rhodes). Mas lá pelo meio da música ele brinca com pequenos sons sintéticos que entoam uma canção alegre pra cair numa cascata de naipe de metais que, se o volume não fosse abaixado, poderia se estender para sempre. Encerrando o disco, os próprios High Llamas recriam Tilting Windmills, que muda pouco, se tornando quase instrumental, como se pudesse ser traduzida para uma linguagem universal. Ao final do disco, percebemos que o fantasma de Brian Wilson passou longe daqui e cujo único artista realmente presente foram os próprios High Llamas. Pra calar a boca de quem os chama de plagiadores. Os textos só
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