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01.03.1999

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SLEATER-KINNEY
ENERGIA REDIRECIONADA
Por Alexandre Matias

Garotos punks e garotas new wave. Esse é um dos maiores clichês e uma das maiores farsas da história do rock e descende diretamente do grosso machismo que é típico do gênero. Sendo assim, garotos são maus e predatórios, meninas são doces e frágeis. E, automaticamente, o punk rock se torna um símbolo comportamental de masculinidade e a new wave coisa de menina. Logo, se a menina toca punk, ela é sapatão. Se o cara toca new wave é viado. Vê como as coisas são?

Quem lê a História do Rock por páginas diferentes das oficiais sabe que punk, new wave e até o temporão pós-punk (além de subgêneros tão diferentes quanto o hardcore e o technopop) são, na verdade, nomenclaturas distintas para uma mesma manifestação. Era um sentimento de indignação misturado com o gosto pelo exótico e a curiosidade em descobrir o novo. Essa atitude punk (presente em boa parte das bandas novas surgidas a partir de 76) é o denominador comum de uma geração inteira.

Echo & the Bunnymen e Dead Kennedys, Blondie e Pere Ubu, Clash e Duran Duran, Ramones e Gang of Four, Joy Division e X, Hüsker Dü e Siouxsie & the Banshees, Television e Smiths. Expoentes tão diferentes, cuja interseção encontrava-se na vontade de destruir a apatia e poder falar de sua realidade. O sonho hippie havia sido substituído por uma paz de conto medieval e um amor de comercial de calça jeans. Fabricado ou sonhado, aquela música pop não tinha a ver com toda uma geração de moleques que, a partir do primeiro disco dos Ramones, de 76, começaram a nascer como mato de verdade naquele jardim de plástico. E logo um novo sonho surgia para a juventude e o rock confirmava sua qualidade cíclica - e confirmava a década como unidade, contando que em 56 o rock nasceu e em 66 a psicodelia e o rock de garagem nasceram.

Mas historicamente, esse terceiro levante de criatividade do rock é dividido entre punk e new wave. De um lado o punk, herdeiro do rock’n’roll, violento, macho, truculento e mau. Do outro a new wave, amiga do pop, esquisita, divertida, aberta e doce. E voltamos à confusão do início do texto - mulheres tocando punk soam másculas, homens tocando new wave soam afeminados.

O Sleater-Kinney sentiu na pele o preconceito. Tudo bem, no começo as guitarristas, vocalistas e letristas Carrie Brownstein e Corin Tucker eram mesmo um casal, mas isso foi na época do primeiro disco homônimo, o romance acabou e elas continuaram tocando e se divertindo como uma banda normal. Mas a imagem masculina que a banda não ostentava se refletia nas músicas, quase todas declarações de amor ao rock ou confissões numa relação amorosa mal resolvida. Com duas guitarras e uma batera, elas injetavam hormônios pesados como combustível das canções, casando perfeitamente com a sinergia quase elétrica que as três (Carrie, Corin e a baterista Janet Weiss - que também é metade do duo Quasi) exibem quando juntas.

Saíram da cena riot grrl, do estado do grunge (são de Olympia, Washington) e da gravadora do Bikini Kill, a Kill Rock Stars. Junto com a voracidade adolescente do segundo disco - o excepcional Call the Doctor -, a associação de idéias foi inevitável e a fama de duronas ficou.

O terceiro disco, Dig Me Out, reforçava ainda mais essa idéia. Era o primeiro disco lançado depois que as meninas ficaram mais conhecidas e sua capa copiava a capa de Kontroversy, dos Kinks. Mesmo os sentimentos maternos pelos fãs berrados por Corin conspiravam contra e pareciam soar como uma tentativa alternativa de deixar os sentimentos femininos saírem. Mas figurou nas votações de melhores do ano de 97 e garantiu o posto de autenticidade rocker com direito ao visto do renomado crítico Greil Marcus.

Assim, o quarto disco da banda é lançado sob mais olhares curiosos ainda. Mas The Hot Rock (Kill Rock Stars, importado) vira a direção pra esquerda e muda o curso da linha ascendente que levava o grupo para o pódio punk dos anos 90. Aos mesmo tempo em que fazem a curva, puxam o freio de mão, abrem as janelas inteiras, dividem um chiclete e ligam o rádio no último volume, na rádio mais pop.

E tornam-se meninas new wave. A idéia no disco, segundo Carrie, era trazer energia não através da força e sim da doçura. O conceito acerta no alvo - e o que a vocalista chama de energia nada mais é que o sentimento punk que dá origem ao punk rock e à new wave ao mesmo tempo. The Hot Rock quebra barreiras de gêneros musicais e prova que é possível andar dos dois lados da avenida sem ter medo de correr todo o tempo de um lado para o outro. Coisa que não víamos desde o tempo dos CBGB’s (os Ramones tocando bubblegum, o Talking Heads tocando pesado, o B-52’s entrando em parafuso na parte instrumental de Rock Lobster).

Só por isso já poderíamos cumprimentar as meninas pelo primeiro grande disco do ano. Mas não é só isso - não é apenas punk e new wave lado a lado. É o disco novo do Sleater-Kinney e todos aqueles elementos já clássicos da banda estão presentes. E potencializados.

As vozes e as guitarras do duo da frente parecem estar sempre apontadas para direções diferentes, como se estivessem tocando canções distintas. Mas uma casa perfeitamente sobre a outra, encaixando um instrumento no espaço vazio deixado pelo outro (os melhores momentos deste casamento estão na dupla Burn Don’t Freeze e Banned from the End of the World). Canções de urgência (como Start Together, The End of You e Get Up) também marcam presença ao lado de faixas bem mais lentas que o normal (Hot Rock, Don’t Talk Like e The Size of Our Love) e delírios new wave - às vezes sérios, às vezes divertidos (God is a Number, Burn..., Banned... e Memorize Your Lines). Num disco que vale os dólares supervalorizados.

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