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01.03.1999

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OUTROPOP
Abaixo o elitismo!
Por G. Custódio Jr.

Acabo de voltar de uma homenagem aos 25 anos de morte do guerrilheiro comunista Maurício Grabois. Homenagem que foi organizada pelo Partido Comunista do Brasil, do qual Grabois fazia parte. Partido esse que foi a principal causa de sua morte, já que Grabois morreu há 25 anos atrás na Guerrilha do Araguaia tentando fazer a revolução comunista. E por que estou escrevendo isso? Ora, coincidentemente quando cheguei em casa, logo o primeiro disco que coloquei na vitrola foi o mais novo single da banda inglesa Comet Gain chamado "If I Had a Soul" (Kill Rock Stars). Botei logo o lado B, onde encontramos uma canção chamada "The Brothers Off the Block", que tem um refrão lindo: "the courage to die for your people / the courage to die for what you believe". Logo me veio à cabeça Grabois. Não só ele, mas outros grandes líderes guerrilheiros comunistas que tombaram lutando, como Marighela e Lamarca, só pra ficar entre os mais famosos. Eu que já adorava a banda, estou gostando ainda mais. Esse pessoal do Comet Gain sabe das coisas. Meu primeiro contato com a banda foi quando vi o single "Say Yes! to International Socialism". Comprei na hora e logo na primeira audição já tinha sido conquistado pelo pop apaixonado, de tirar o fôlego, cheio de bom gosto, com letras lindas, presente nas 4 canções do single. Pra completar, o encarte do CD tinha um manifesto de encher os olhos. Tipo aqueles que o Cappuccino Kid fazia nos discos do Style Council. Depois disso venho acompanhando a carreira da banda com bastante atenção e já foram dois álbuns e vários singles.

Todos contém os famosos manifestos. Todos contém P!O!P! Nunca me decepcionaram. Ideais... toda banda deveria ter um, toda gravadora deveria ter um, todo mundo deveria ter um!

E os mais atentos já perceberam a grande quantidade de discos relançados de bandas da chamada Class of 86 nesse final de década. Antes de falar das bandas e dos discos, precisamos esclarecer resumidamente o que foi a C86. O nome veio de uma fita cassete lançada em 86 pelo semanário britânico New Musical Express que reunia bandas com sons e idéias similares, ou seja, um som que misturava as melodias dos grupos femininos dos anos 60, os experimentalismos pop do Television Personalities, a agressividade do The Fall, o minimalismo do Jesus and Mary Chain, a suavidade e o lirismo do Orange Juice e Smiths, a inteligência do pop dos Go-Betweens e os ideais e atitudes do punk rock.

Um alívio, já que na época a Inglaterra (e o mundo) estava infestada de bandas tentando imitar o U2, que faziam o maior sucesso. Foi a primeira vez que uma cena vinda do underground criada pela mídia realmente deu certo (o que viria a se tornar moda na mídia inglesa, persistente até hoje). Mas como sempre fazem, no começo da cena toda a mídia elogia horrores para logo depois cair matando, destruindo grande parte das bandas e ridicularizando a cena como um todo. Foi isso que aconteceu com a Class of 86. É importante frisar isso para entender o porquê da importância desses relançamentos. A C86 teve uma vida curtíssima, tanto que a grande maioria das bandas nem chegaram a gravar um disco inteiro, sendo que os registros se encontram somente nos compactos e EP's 12 polegadas da época, lançados por gravadoras independentes que conseguiam bancar em média 2000 cópias de cada lançamento, que hoje valem ouro.

Esses relançamentos são importantes porque disponibilizam a música para todos os que quiserem, acabando com o elitismo, bastante comum no indiepop, onde o que mais se vê é neguinho ficar naquela de "eu tenho, você não tem".

As bandas C86 que estão tendo suas canções relançadas em formato digital são o Talulah Gosh, Groovy Little Numbers, Rosehips, 14 Iced Bears, Shop Assistants e Vaselines (esse último teve a oportunidade de ter seus disquinhos relançados mais cedo devido ao hype promovido pelo Kurt Cobain). Outras, como o Chesterf!elds, Pooh Sticks, Pastels, BMX Bandits e Wedding Present estão na ativa até hoje e tem toda a discografia disponível. Algumas bandas tiveram seus discos lançados no Brasil, como o Bodines e Close Lobsters, aumentando a chance de topar com um LP deles em algum sebo brasileiro. Gravadoras, como a Subway e a 53rd and 3rd, tem compilações disponíveis que reúnem singles clássicos da cena. Como podem notar, é bastante coisa para passar despercebida.

Em 97 foi lançado Backwash do Talulah Gosh pela gravadora americana K. O CD compilava tudo o que o Talulah havia lançado, todos os singles, lados B, canções gravadas no John Peel e 2 inéditas, totalizando 25 canções. Os clássicos como "Beatnik Boy", "Talulah Gosh", "I Can't Get No Satisfaction (Thank God)" estão todos presentes. Pop de fácil digestão, batidas aceleradas e guitarras dedilhando a mil por hora em contrastes com os vocais femininos e melodias influenciadas por Chiffons e Ronettes.

No mesmo esquema surgiu em 98 o CD dos Rosehips (Secret Records), outra banda clássica da época cujo singles, lançados originalmente pela Subway Organization, eram impossíveis de serem encontrados até então. O álbum homônimo reúne tudo o que a banda lançou, incluindo 2 inéditas. O que temos são 22 canções a lá Ramones e Jesus and Mary Chain, todas com menos de 3 minutos e um vocal feminino bastante peculiar. Clássicos como "Room In Your Heart" e "(I Fell In Love With A) Fashion Victim" estão presentes. Item obrigatório!

Num esquema diferente surge o Shop Assistants. Em vez de uma compilação de singles, foi relançado em 97 Will Anything Happen (Overground), o debut e único álbum da banda, que na época foi lançado por uma grande gravadora, causando indignação entre os C86 kids mais radicais, que ainda hoje acham que a banda se vendeu e o álbum é uma merda. Os singles infelizmente continuam fora de catálogo. Mas o álbum está longe de ser ruim. Indo do pop de batidas minimalistas de "I Don't Want to be Friends With You" e "All Day Long", passando por baladas a lá Velvet Underground como "Somewhere in China" e "Before I Wake", o álbum tem o seu valor e foi bastante copiado nesses últimos anos.

Mas a surpresa mais agradável do ano passado foi saber que estava sendo lançado um CD compilando tudo o que o Groovy Little Numbers tinha lançado. O que não foi bastante coisa; dois singles 12 polegadas pra ser mais exato, totalizando 6 canções. Como a maioria das bandas da época, nem chegaram a lançar um LP. O Groovy Little Numbers foi formado em Glasgow por um casal, Joe e Catherine, que se revezavam nos vocais e chamavam convidados para participarem de suas canções. Estamos falando de uma banda que fez "Happy Like Yesterday", um dos pops mais belos que já ouvi em toda minha vida. Como se não bastasse ainda me fazem algo como "You Make My Head Explode" e "Windy", que não ficam atrás da outra canção já citada. O que impressiona é o senso de melodia que os dois tinham, a perfeita harmonia dos vocais e instrumentos, a inclusão de sax, flautas e trumpetes no momento certo, dando um toque especialíssimo à banda. É impressionante a capacidade do Groovy Little Numbers em criar popsongs perfeitas, que dão a impressão de estarem deslizando suavemente por algum tubo lisinho, sem solavancos e sustos. O álbum se chamada The 53rd & 3rd Singles e foi lançado pela Avalanche no finalzinho do ano passado. Anote esse nome e compre o disco. Tenho certeza que não se arrependerão.

Temos ainda o 14 Iced Bears, que acaba de ter uma compilação lançada pela Overground, intitulada Let The Breeze Open Our Hearts. São 20 faixas que reúne os singles da banda. O que os diferencia dos outros são as influências psicodélicas, como por exemplo o 13 Floor Elevators e principalmente, o Television Personalities. Mas não se assuste com o psicodelismo, pois temos nesse CD 20 gemas do mais autêntico - e um dos mais legais - C86 pop.

Vale destacar ainda algumas compilações que foram relançadas e são um ótimo meio de se iniciar no estilo, ou mesmo ouvir singles clássicos de bandas que ainda não tiveram nada relançado. Temos a compilação 53rd & 3rd Fun While It Lasted... the compilation lançada pela Avalanche Records. O CD reúne 12 canções que dão uma geral no catálogo da gravadora de Stephen Pastel. As bandas presentes são Groovy Little Numbers, Vaselines, BMX Bandits, Talulah Gosh, Shop Assistants, The Boy Hairdressers e outras. Outra gravadora clássica da época, a Subway Organization, tem dois CDs onde encontramos a maioria dos singles lançados na época. As compilações são intituladas Whole Wide World volumes 1 e 2. Totalizando são 40 canções nos dois álbuns. Imperdível. O único lugar onde podemos ouvir bandas clássicas como Razorcuts, The Clouds, Flatmates, Soup Dragons (os primeiros singles são o máximo!), Pop Will Eat Itself (idem!), Rodney Allen e os já citados Rosehips.

Temos ainda Chesterf!elds, Charlottes, Fastbacks e outros. Essas compilações da Subway são algo fora de série. Itens obrigatório para qualquer fã de pop que se preze.

Estou torcendo para que a moda pegue e lancem ainda mais discos que contam a história de bandas clássicas da época. Para terminar, vale dizer que em comemoração aos 10 anos da C86, o New Musical Express lançou em 96 uma compilação em CD chamada C96, com várias bandas legais que fugiam do rock padrão cópia de Oasis bastante em voga na época e, infelizmente, hoje em dia também. Dentre essas bandas estava o Comet Gain, citados no começo da coluna. Ou seja, todo mundo em casa.

Pop'n'peace!

Gilberto Custódio Jr. editava o zine Esquizofrenia.

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