logo06.JPG (17693 bytes). INFORMAÇÃO COLUNISTAS BR-116 HISTÓRIA
DO ROCK
FICÇÃO RESENHAS

 

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LULU SANTOS
Calendário
(BMG)
Por Alexandre Matias

É só ouvir a música nova e entender tudo: Lulu Santos voltou a ser o que era. Com Fogo de Palha, a música de trabalho de seu novo disco, Calendário (BMG), o cantor carioca deixa os modismos de lado (sejam eles a música eletrônica ou o power trio, formato que redescobriu no ano passado no trio Jakaré, que não teve nada lançado, fazendo apenas shows) e volta ao pop ensolarado que parece ser a trilha sonora perfeita para as rádios FM brasileiras desde que ele apareceu no dial com Como Uma Onda, há quase vinte anos.

Então era só tiração de onda, o flerte musical com o techno, com o DJ Memê, com o pop Malhação. Era só vontade de fazer diferente, de deixar de ser ele mesmo por um tempo, um feriado instintivo. Só isso e ele confirma na letra da primeira música do disco novo. "Bem que eu achei/ Que era artificial", canta sem vergonha, "Bem que eu notei/ Que era só encenação". Ele sabia da própria máscara desde o começo e não queria ser hipócrita e racional o suficiente para não usá-la, afinal, queria assim fazer. "São duas casas totalmente separadas/ A do desejo e a da razão/ E que se revezam quase religiosamente/ Tal qual a luz e a escuridão".

Depois de assumir mais uma vez seu lado Dr. Jeckyll, Lulu volta à guitarra e ao pop sofisticado que seu lado Mr. Hyde, totalmente instintivo e fascinado por excessos, odeia. E ao batizar o novo disco de Calendário, ele se desculpa por sua inconstância, explicando-se sazonal, e, ao mesmo tempo, imprevisível.

Vocês lembram, Lulu passou de bom moço do pop dos anos 80 à besta negra da nova geração, abraçando, em diversas fases de sua carreira, rock (Mondo Cane), techno (Assim Caminha a Humanidade), pop Planeta Xuxa (Eu e Memê, Memê e Eu), pop deslavado (O Ritmo do Momento), brasileiro (Popsambalanço), conceitual (Normal) e visionário (Liga Lá). Em todas as fases, mostrava uma parte de sua personalidade, se fragmentando como artista e ruindo como personalidade - e em certos momentos você tinha certeza que o cara havia pirado de vez.

E havia sim, mas ele voltou ao normal. Filtrado pelo funk sintético dos anos 70 que vem dando a tônica do pop atual, Calendário traz Lulu de volta às origens, como os momentos menos ousados do último disco - Liga Lá - faziam crer. Aqui, encontramos o hitmaker em paz consigo mesmo, desabafando para o público seus sentimentos e reatando laços com velhos parceiros (o antigo rival Liminha, a ex-mulher Scarlet, o ex-parceiro Nelson Motta e hits em potencial).

Cheio de metalinguagem e referências nas entrelinhas à televisão, o disco parece explicar que a inconstância do autor é só uma forma dele conseguir ir para frente. "Eu é que não vou ficar aqui parado/ Esperando que o passado bata à minha porta", canta em Eu Não, "Não aprende a ganhar/ Quem não sabe perder" - essa é a sua mensagem agora. Ficar parado significa não errar e o erro é importante para que entendamos o acerto. "Eu sei que existe uma canção meio enjoada que diz assim/ Não se preocupe em inglês e seja feliz", brinca com Don’t Worry Be Happy em Bolado, "Mas quase nunca nada é tão simples/ E às vezes o sentimento fica ruim/ O que não impede que se continue tentando/ O jogo só acaba no fim". "Nada é só ruim", a faixa de trabalho avisa, "Vem o refrão da canção na hora" e essa é sua especialidade. O refrão na hora certa e deixar-se fluir artisticamente ao sabor das ondas do instinto e avisa, em Aquilo, que "Outra vez a mesma história volta a acontecer". Resta saber como vai ser desta vez.

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© 1999

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