Rentals
Por Alexandre Matias
Depois de ouvirmos o novo disco dos
Rentals, Seven More Minutes (Maverick, importado), dá pra entender porque Matt Sharp saiu
do Weezer. Durante umas férias desopilantes de cérebro em Barcelona, o baixista compôs
tantas músicas que elas não cabiam mais em sua banda oficial. Desviou o
assunto para seu projeto paralelo e transformou o que era apenas uma banda de brincadeira
num enorme paraíso rock, tão grande quanto o Weezer.
Aliás, a comparação com sua antiga banda não pára aí. Em seu primeiro disco, o
Weezer era só um grupo de nerds brincando de fazer pop com guitarras. No segundo,
Pinkerton, o líder Rivers Cuomo deixou um ano inteiro de sua vida pessoal desfilar pelo
disco, transformando o Weezer num grupo de rock clássico, livrando-o do estigma de banda
tímida, sempre filtrado pelo pop.
O mesmo acontece com os Rentals. Enquanto em seu primeiro disco, The Return of the
Rentals, o grupo brincava de defensores do pop feito com Moogs, no novo disco as coisas
são bem diferentes. Depois das tais férias em Barcelona, Matt resolveu transformá-los
numa banda de verdade, com doses pesadas de rock sério, mas, tal como sua banda anterior,
sem deixar o bom e velho pop de lado.
Enquanto a maturidade musical de Cuomo passava pelo Japão, frustrava-se com o
lesbianismo da amada e trancava-se no casulo de si mesmo como defesa (citando Madame
Butterfly), Matt Sharp foge para Barcelona para curtir a vida sem se preocupar com as
conseqüências.
O disco é basicamente sobre isso. Escrito em bares, banheiros de boates, bancos traseiros
de táxis e cabines de peep show, Seven More Minutes quer acordar cada dia numa cama
diferente e preparar-se para mais uma noite de bebedeira com os amigos, como se a vida
dependesse disso.
Faz muito tempo que eu não me sinto assim, canta na festeira Getting By,
talvez desde os tempos do segundo grau. Cada música ele canta para uma garota
e cada garota é uma noite. Nenhuma delas se importa com ele e, mesmo ele ligando pra
isso, finge não se importar. Quer se esbaldar, sabe que as garotas só querem isso e
assim o faz.
Ela não liga pra mim e não temos motivos pra mentir, canta em Getting By.
Ela me diz que tá legal contigo e tá legal sem você/ Dos dois jeitos tá legal
(pois dos dois jeitos você não é meu), explica em She Says Its Alright.
Desilusões amorosas disfarçadas de desinteresse à parte, o disco procura a diversão a
qualquer custo. Olá/ É bom vê-la de novo/ Estar com os amigos/ Onde não existe
trabalho algum, canta na bucólica Hello, Hello. Encara as férias como um cruzeiro
mágico, como explica na excelente The Cruise (Cantamos/ fora de tom/ Estamos num
cruzeiro). Na pegajosa Barcelona (a faixa central do disco) canta a cidade que lhe
inspirou apenas com seus elementos (Gaudi, Dali, Picasso azul, sex show Panam, a discoteca
Top of the Mountain, o boteco Good Bar, absinto e suas chicas, Anna, Maria,
Monica e Noemi).
Musicalmente o disco é bem mais agressivo do que o primeiro. Agressivo entre
aspas porque não é um disco violento: é forte, cheio e com personalidade. Com um pé no
rock clássico e outro no pop tímido do primeiro álbum, Seven More Minutes acerta a mão
com excelentes melodias e refrões grudentos ao extremo. Seja em faixas mais animadas (The
Cruise, Barcelona, Getting By, Big Daddy C) ou lentas (Hello, Hello, Overlee, She Says
Its Alright, Say Goodbye Forever), Matt não perde a mão em sequer um minuto. Os
moogs ainda estão lá, mas não no primeiro plano que dividiam com a voz. Na frente
estão sempre Matt Sharp e Petra Hayden, dividindo backing vocals cujos arranjos são tão
importantes para as músicas quanto nos Beatles.
Falando em vocais, o fato do disco ter sido gravado em Londres conta pela quantidade de
participações especiais. Desfilando ao lado de Matt vemos Tim Wheeler (vocalista do
Ash), Donna Matthews (ex-Elastica), Damon Albarn (do Blur), Miki Berenyi (ex-Lush), num
verdadeiro hall of fame do britpop. Um discaço.
Os textos só
poderão ser reproduzidos com a autorização dos autores
© 1999
Fale conosco |