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05.04.1999

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MARCOS VALLE
Nova Bossa Nova
(Natasha)
Por Alexandre Matias


Poucos devem lembrar-se, mas é crucial o papel de Marcos Valle neste revival de bossa nova e MPB que o mundo está imerso. Pra quem ainda não se deu conta, aí vão algumas coordenadas: Eumir Deodato produzindo Björk, Beck gravando uma bossa nova chamada Tropicalia, mais funky que a bossa nova I Don’t Know, do último disco dos Beastie Boys. E ainda estamos na letra B.

Temos Bebel Gilberto gravando com Towa Tei e Thievery Corporation, a PolyGram americana lançando os discos dos Mutantes, Tamba Trio no comercial na Nike, Tomzé remixado por Tortoise, Sean Lennon - cujo disco de estréia é altamente bossanovista - e Amon Tobin (que por sinal, é brasileiro). Tom Jobim sendo regravado por Stereolab (um mix de Garota de Ipanema/ Surfboard), Cibo Matto e Russell Simmons, baterista do Jon Spencer Blues Explosion (Águas de Março). Fora a influência no pop local: o Soulfly gravando Jorge Ben, Mundo Livre atualizando Jorge Ben e Tomzé ao mesmo tempo, Racionais e Marcelo D2 pagando tributo ao clássico Tim Maia Racional. Bebel Gilberto gravando com Otto, Ed Motta reprocessando os arranjos de Marcos Valle e Sérgio Mendes. Enfim, uma tendência cuja nova fase, segundo a revista americana Rolling Stone, inclui uma redescoberta completa da influência de João Gilberto.

Pois foi Marcos Valle o marco inicial deste movimento. Sem querer querendo, uma coletânea de suas composições chave acertou as pistas de dança no começo da década. E aconteceria o primeiro grande cisma na tribo londrina de acid jazz: de um lado ficaram os jazzistas, onde estava Marcos; do outro ficaram os amantes de soul, que viram o nascimento daquilo que convencionou-se chamar de trip hop. Sem nenhum tipo de atualização, o disco duplo The Essential Marcos Valle transformou-se num hit underground e vários donos de sebo ingleses voavam para o Brasil caçarem discos que se tornariam clássicos instantâneos. Assim, os discos de MPB dos anos 70 em geral se tornaram artigos de demonstração de bom gosto musical. E de Walter Wanderley a Joyce, a música brasileira ia ganhando seu espaço no underground. Grande o suficiente pra chamar atenção de diversos pop stars ao mesmo momento.

E é assim que Marcos Valle entra no estúdio para gravar seu novo disco. Nova Bossa Nova tem ares de um paraíso sonoro chamado MPB. Tirando de letra beats modernosos e loops sintéticos, Valle não precisa de meio minuto sequer pra desfazer completamente a última imagem dele que tínhamos em mente (quem se lembra de Bicicleta? "Pedalando com você..."). Aqui ele é o mestre de uma sonoridade funk, mas sofisticada e finíssima, como um Quincy Jones à brasileira. Só que ele não tem o perfil Duke Ellington que Quincy parece transparecer. Marcos Valle é a imagem da tranqüilidade, do sossego, de ficar deitado na praia olhando o céu, de sentar num banco à beira mar e ficar vendo as pessoas passarem, sem pensar em tempo, obrigação ou qualquer outra coisa.

Suas letras dão o clima de paquera de praia do disco: "o amor não marca hora pra chegar/ ele aparece sem você notar/ ele começa em qualquer lugar/ você precisa sempre acreditar", "viver não passa de uma brincadeira/ um novo encontro a cada dia/ gente buscando alegria e tanta coisa boa pra falar/ você também faz parte disso tudo/ viva a vida/ faça o que tem vontade/ deixe o seu coração aberto/ porque o amor tá sempre perto/ e de repente pode acontecer" ou "escrevendo qualquer coisa muito louca/ Pra no fim pedir um beijo em tua boca". Mas não precisamos prestar atenção nas letras, ela está lá pelo mesmo motivo daquele piano elétrico, daquele baixo programado, daquela percussão de samba, daquele violão bossa nova - criar esse oásis de despreocupação, esse calor úmido de um verão musical, essa música que nos faz apertar os olhos de tão ensolarada.

Difícil escolher os melhores momentos do disco, mas as instrumentais (o soft funk de Novo Visual, o afro groove de Bahia Blue, o jazz funk de Bar Inglês, o estranho drum’n’bass escondido que fecha o disco, o samba house com jazz improvisado de Freio Aerodinâmico e em Nordeste, uma toada primitiva que se torna um suntuoso soul elétrico) saem na frente por não propor nenhum possibilidade lírica, nos prendendo somente à música. Mas o vocal apaixonado de Patrícia Avi nos convence a cada sílaba de Cidade Aberta e de Vontade de Rever Você. E na faixa-título ele faz embaixadinha com a sua nova bossa nova, emulando com muito sabor o vocal de João. Derrapa em Moshi Moshi, escrita pro Japão, uma bossa simples, sem surpresa. Mas não chega a riscar o brilho de Nova Bossa Nova. O disco é excelente, ótimo e suculento prato de entrada pra quem quer se arriscar nos caminhos sinuosos da MPB dos anos 70. Ou pra quem quer simplesmente ficar numa boa.

Os textos só poderão ser reproduzidos com a autorização dos autores
© 1999

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