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05.04.1999

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T-REX
Por 90

1: 1947-1970 

Marc Bolan, líder e mentor do grupo setentista T-Rex, já foi definido, entre outros termos, como 'Little Richard reencarnado como um judeu londrino'. Mas isso é simplificar demais. Em uma época dominada pelo rock corporativo e pretensioso, ele injetou uma boa dose de simplicidade e diversão de volta às paradas. O Glam (ou Glitter, como é mais conhecido nos EUA) rock foi, musicalmente falando, uma volta à canção ganchuda de menos de 3 minutos, antes ainda do punk ter estourado mundialmente. Em termos de visual, Bolan foi o artista que chutou a porta da extravagância glam para outros como Bowie, Slade, Sweet, e Gary Glitter passarem e ir além, para bem ou mal. A histeria causada nas multidões no Reino Unido nos anos 70 durante os shows do banda foram um fenômeno que não se via desde o ápice da Beatlemania na década anterior. Pode se argumentar que Bolan foi o maior artista pop inglês dos anos 70. Fora de sua terra natal seu status é mais o de um artista 'cult', que influenciou direta e indiretamente tanto ótimas coisas (Os Ramones eram grandes fãs de Glam em geral e de Bolan em particular, Joey Ramone cantava em uma banda Glam chamada Sniper antes de juntar se a Dee Dee e Johnny) como de algumas das pragas musicais da década passada (o defunto Glam rock das bandas de Los Angeles, que de Glam só tinha o visual).

Marc Bolan (nascido Mark Feld no dia 30 de Setembro de 1947 em Hackney, leste de Londres) foi introduzido ao rock, por acidente, graças ao pai, Simeon, que lhe deu seu primeiro toca discos e o primeiro compacto ("The Ballad of Davey Crockett", do cantor americano Bill Hayes). Em 1955, pensando ter comprado um álbum do mesmo cantor, Simeon trouxe para casa um álbum de Bill Halley. O jovem Mark foi imediatamente fisgado por aquele novo som vindo do outro lado do Atlântico, e em breve outros artistas daquelas plagas, como Elvis Presley, Little Richard, Buddy Holly e Eddie Cochran estavam rodando incessantemente na vitrola do garoto. Era também a época do Skiffle de Lonnie Donegan na Grã-Bretanha. Os pais de Mark, apesar do baixo poder aquisitivo, sempre fizeram todo o possível para estimular o interesse do filho em música, comprando o segundo violão para o filho (o primeiro ele mesmo construiu), que comprava seus discos ajudando a mãe na banca de frutas da família no mercado de Berwick Street, Soho e trabalhando aos finais de semana no mesmo café no qual Cliff Richard e os Shadows iniciaram suas carreiras.

Aos quinze anos de idade Mark abandona os estudos (aparentemente expulso da escola por mau comportamento) e começa a envolver se ativamente na cena Mod londrina. Mark trabalhou como modelo por um breve período e tentou lançar-se como um cantor folk, sob a alcunha Toby Tyler. Como Toby Tyler, Mark chegou a gravar duas demos a fim de conseguir um contrato. Em vão. Mark decidiu concentrar-se em aprender a tocar melhor seu instrumento, ainda não desistindo de uma carreira musical.

E foi em 1965 que Mark lançou seu primeiro compacto, 'The Wizard', pela gravadora Decca. Primeira surpresa ao receber as primeiras cópias do single: seu nome havia sido arbitrariamente mudado para Mark Bowland, sob a alegação de que Mark Feld simplesmente não soava bem. Ao invés de brigar, Mark colaborou com a mudança, sugerindo trocar o 'k' de seu primeiro nome por 'c' e tirar o 'w' e o 'd' do sobrenome artístico. O compacto foi lançado e não emplacou. O seguinte, "The Third Degree" também não rendeu resultados e Bolan foi despedido. Em seguida Bolan encontrou o mal-afamado empresário Simon Napier-Bell. Outro compacto gravado, outro compacto fracassado ("Hippy Gumbo", que ressurgiu décadas mais tarde, junto de outras faixas, com overdubs de uma banda inteira, traindo suas origens acústicas). Napier-Bell então sugeriu que Marc se juntasse a uma das bandas que gerenciava, John's Children. A banda logo ficou conhecida pela atitude maníaca em palco. Tão maníaca que a banda quase não sobreviveu a um show na Alemanha, chegando ao ponto de causar o cancelamento de um show do The Who na mesma cidade. Esta entre outras causas deixaram Bolan mais e mais insatisfeito com a banda, e menos de seis meses depois de ter se juntado à ela Bolan saía, mais e mais obcecado com a idéia de sucesso com um grupo no qual ele fosse o líder...e foi exatamente esse o próximo passo, um passo de dinossauro...

Apesar de nem ainda ter formado uma nova banda, Bolan marcou uma data para um show no clube Electric Garden, em Covent Garden. Colocou então um anúncio numa revista procurando músicos para sua nova banda, banda essa com um nome comprido, pedante, pomposo e escolhido para impressionar: Tyrannosaurus Rex. Juntaram-se à Marc um baixista e um segundo guitarrista, e um baterista chamado Steve Turner. O show em si foi tão ruim (devido ao fato dos músicos simplesmente não terem tido tempo de ensaiar juntos) que Bolan e sua nova banda foram vaiados impiedosamente...o que não deve ter sido nada estimulante para o notório ego de Bolan. Imediatamente o baixista e o guitarrista abandonaram aquela barca aparentemente furada. Ficaram por tão pouco tempo que até hoje especular sobre o nome desses músicos é passatempo para os fãs mais ardorosos de Bolan. Turner, entretanto, ficou, para ter seu nome artístico mudado para Steve Peregrine Took, por sugestão de Marc, grande fã do escritor de fantasia JRR Tolkien. Tolkien, alías, foi uma grande influência nos hippies ingleses, a ponto do Electric Garden ter mudado seu nome para Middle Earth. Foi justamente neste clube que a dupla Tyrannosaurus Rex começou a construir uma sólida reputação entre o 'underground' hipponga londrino de então. Sem guitarra e amplificadores disponíveis (versões diferentes do porquê disso existem), Bolan voltou para o violão. Took trocou a bateria por um par de bongôs e assim nasceu o dinossauro.

Entra em cena o lendário dj londrino John Peel, que já conhecia o trabalho de Bolan desde seu primeiro malfadado compacto, e que se interessou pela dupla, tanto pela música quanto pela personalidade dos dois músicos. O reconhecimento do Tyrannosaurus Rex por Peel foi como um selo de aprovação, e em breve a dupla efetivava a já citada reputação, tocando freqüentemente no Middle Earth.

E foi justamente após uma dessas apresentações (dessa vez no não menos afamado clube UFO) que Bolan conheceu seu futuro colega de trabalho, o produtor americano Tony Visconti. Ex-músico de jazz, Visconti foi convencido a tentar uma carreira como produtor musical após uma tentativa não tão bem sucedida de se lançar como artista em dupla com sua então esposa. Por sugestão de seu chefe, Visconti foi à Londres trabalhar na Essex Music, sucursal inglesa da companhia de produção à qual estava empregado nos EUA. Apesar de T.Rex ser a banda com a qual o nome do produtor é mais freqüentemente associado, Visconti já tinha experiência de sobra quando conheceu Bolan, tendo já trabalhado com Joe Cocker e The Move, entre outros. O produtor ficou muito interessado na dupla composta pelo pequeno cantor/guitarrista tocando seu violão e cantando num sotaque que não soava muito como inglês, e pelo percussionista que fazia vocais de apoio às vezes gritados, às vezes agudos. A dupla tinha um efeito inegável na platéia, que parecia mesmerizada. Após a apresentação, Visconti decidiu falar com a dupla. Evitando Marc por achar mesmo que ele fosse estrangeiro e não tivesse um bom domínio do Inglês, o produtor abordou Took. Este então direcionou-o a Marc. Visconti imediatamente decepcionou-se quando ouviu a resposta de Marc. Este inventou uma mentira deslavada, dizendo a Visconti que ele era o sétimo produtor interessado na dupla, e que mesmo John Lennon já havia o abordado, oferecendo-os um contrato. Mesmo assim, Marc anotou o número do telefone de Visconti.

Qual não foi a surpresa deste quando, no dia seguinte, Marc liga para os escritórios da Essex music pedindo uma audição. Uma hora após o telefonema, Marc e Steve tocaram todo o set da noite anterior sentados no tapete do escritório da firma. Denny Cordell, o cabeça da firma, ficou suficientemente impressionado a ponto de oferecer um contrato para o Tyrannosaurus Rex, planejando lançá-los como o grupo underground do selo Regal Zonophone, de propriedade de Essex e distribuído pela toda-poderosa EMI.

O primeiro single, "Deborah", e o subseqüente álbum, com o longuíssimo título de "My People Were Fair And Had Sky In Their Hair, But Now They're Content to Wear Stars On Their Brows", venderam razoavelmente bem, conseguindo mesmo chegar ao top 40 britânico da época. O álbum vendeu melhor que o single, situação essa que iria reverter-se na década seguinte, com a explosão da próxima encarnação do grupo, T-Rex.

Dois álbuns se seguiram, "Prophets, Seers and Sages, The Angel of Ages", e "Unicorn". Enquanto o primeiro foi aclamado pela crítica mas não vendeu muito, o segundo é considerado por muitos o melhor álbum do Tyrannosaurus Rex, chegando ao número 12 da parada britânica. A dupla continuava fazendo shows e a popularidade desta crescia, e em 1969 Bolan lançou seu livro de poesias, intulado "The Warlock of love". Este foi também o ano em que as mudanças mais significativas ocorreram no grupo.

Muitos concordam que o ponto de virada, o embrião do futuro T-Rex foi o compacto lançado pela dupla, intitulado "The King of The Rumbling Spires". Após um hiato, Bolan voltava a empunhar uma guitarra elétrica. A essência do que era o Tyrannosaurus Rex ainda estava presente, mas o resultado geral era algo diferente, menos "hippie" e acústico, mais vibrante e "rock". Outro acontecimento significante foi Steve Took deixando o grupo após uma desastrosa turnê americana. O uso de Took de drogas, principalmente ácido, estava atrapalhando as performances do grupo.

No lugar de Took entrou o novo percussionista, Mickey Finn. Há quem diga que Finn entrou no grupo apenas porque ele tinha uma moto que fascinava Marc, outros dizem que o principal motivo foi o fato de Finn parecer-se com Took, e assim os fãs não notariam a diferença. A verdade é que apesar de Finn não ser tão ousado enquanto percussionista como Took, ele tinha uma imagem inegavelmente forte, que contrastava brilhantemente com a de Bolan. Após um curto período de entrosamento em Gales, a dupla lança o que viria a ser o último disco da fase Tyrannosaurus Rex, intitulado "A Beard of Stars". Os temas e os climas que caracterizaram o som do Tyrannosaurus Rex estavam ainda presentes, mas o disco todo estava permeado do som elétrico da guitarra de Bolan, e do baixo tocado pelo produtor Visconti. Vários fãs abandonaram o grupo, achando que Marc havia se vendido e que o som elétrico do grupo não condizia com o gosto dos que estavam seguindo a trajetória do grupo por tanto tempo. Ainda assim o álbum assegurou uma confortável posição nas paradas, chegando ao número 21. Sucederam-se o casamento de Marc com sua então namorada June Child (ex-secretária, ela foi uma grande força por trás do sucesso inicial de Bolan, cuidando dos negócios e deixando-o livre para compor e gravar) e mais uma turnê americana. Infelizmente, Bolan não conseguiu conquistar os americanos com seu som, uma frustração que viria a tornar-se um estigma pelo resto de sua carreira.

1970 foi o ano no qual consolidaram-se todas as mudanças que estavam borbulhando no grupo. Foi o ano no qual um single, uma mudança de nome e a adição de dois novos membros viriam a tornar o Bolan o astro de rock e sua banda o fenômeno que ele sempre ambicionou ser. Mas isso é para a próxima parte, mês que vem. Até lá.

No mês que vem:

- O fenômeno do T-Rex!
- A explosão do Glam rock!
- Os álbuns e singles clássicos!
- A decadência de Bolan! A bebida! A cocaína!
- A volta por cima que não foi mas deveria ter sido!
- A morte trágica!

Os textos só poderão ser reproduzidos com a autorização dos autores
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