Image1.JPG (15354 bytes)

05.04.1999

INFORMAÇÃO
Fatboy Slim
Cassius
Paul Oakenfold
Silver Jews

P&R
Amon Tobin
Inocentes
Sepultura

COLUNISTAS
OUTROPOP
por G. Custódio Jr.
PENSAMENTOS FELINOS
por Tom Leão
LONIPLUR
por Sol
atenciosamente,
por rodrigo lariú

CORRESPONDENTES
INTERNACIONAIS

A DECADÊNCIA DO IMPÉRIO NORTE-AMERICANO
por Cassiano Fagundes

BR-116
Comédias
Pequenas Capitanias
Por Fora do Eixo

Arroz com Pequi
Marreta?
Das Margens do Tietê
Distancity
Leite Quente
Londrina Chamando
Por Aí

HISTÓRIA
DO ROCK
T-Rex
Kurt Cobain
Bob Dylan
Nuggets

RESENHAS
Sebadoh
Los Hermanos
Kiss (show)
Mestre Ambrósio
Jesus Lizard
Maxixe Machine
Fish Lips
Silverchair
PJ Harvey e Jon Parish (show)
Cornelius
Post-punk chronicles
Blur (show)
Garage Fuzz
Pólux (show)
Marcos Valle
Astromato
French Fried Funk
Sublime

FICÇÃO
Leia no último volume
Na Lata!
Miniestórias

E-MAIL

CRÉDITOS

COMÉDIAS
CE
Por Thais Aragão

Mutantes em ação

De algo se tem certeza: a cena cultural subterrânea de Fortaleza é realmente underground. Isso porque o público é pequeno, em sua maioria fiel, e muito lentamente se renova. Tocam um som maldito, para o qual pouquíssimos pais e vizinhos são todos ouvidos. Sua atitude é muitas vezes ingênua (típico da juventude), mas da mesma forma é insistente, enquanto durar a infinita teimosia em se fazer o que dá na telha.

Esses "outsiders alencarinos" (créditos pertencentes a Chaos Filho) não têm muitos sonhos a longo prazo, a não ser os de continuar lançado fanzines ou tocando nas suas bandas. Estas atividades custam alguma grana e isso acaba esbarrando nas condições financeiras do pessoal. A maioria estuda, sendo sustentada pelos pais, ou tem um emprego michuruca (como manda a crise e o nível de interesse em mergulhar no establishment), que mal dá pra bancar os CDs e as revistas do mês. Desta forma, o grande dilema do underground acaba se tornando: sobreviver ou desaparecer? Desaparecer ninguém quer, mas "aparecer" também é um risco. Afinal, o underground tem esse nome porque está onde nossos olhos geralmente não alcançam. Ou não faz a mínima questão de que gente desinteressante o conheça.

Há um fenômeno curioso em Fortaleza, que não é tão novo nem exclusivo da cidade, mas que possui suas peculiaridades. E este fenômeno está intimamente ligado ao paradoxo "ser ou não ser" do underground, que agrega em sua essência outros termos como "alternativo" e "independente".

Está sendo distribuído pela editora Do It Yourself ("Faça Você Mesmo", aquele lema punk), a publicação "Música Underground em Fortaleza: resistência ou crise de identidade?". O trabalho, originalmente, foi desenvolvido por Amaudson Ximenes para ser apresentado como sua tese de conclusão do Curso de Ciências Sociais, na UECE. Já formado, Amaudson xeroca e encaderna sua pesquisa para distribuí-la. Nada de excepcional. É apenas a forma mais fácil e rápida de disponibilizar o material e que, embora não seja patenteada pelo underground, é largamente utilizada por ele, tornando-se inclusive uma de suas características marcantes.

Quando cria-se uma "editora" para lançar publicações underground (basicamente fanzines) é muitas vezes com boa dose de ironia. E é bom notar que não se entende muito bem a piada quando se está fora do meio. Amaudson, no entanto, está apresentando uma tese de graduação, que é um trabalho científico orientado dentro de uma instituição respeitável como a universidade, através de uma "editora" própria. Sem querer discutir o que define uma editora, a idéia que o grande público tem de uma é que esta é dotada de pessoas especializadas, editores exigentes, empresários tarimbados para não deixar falir uma empresa que trabalha diretamente com cultura, todos muito bem aceitos, com muitos créditos diante da sociedade.

A impressão que se tem é a de que Amaudson quer provar que as pessoas envolvidas no underground não são zés doidinhos e que fazem parte de algo que, culturalmente, tem uma grande importância. A insistência em palavras como "cena", "movimento" e "união" faz com que quem não está envolvido nessa movimentação ache que realmente não exista união e que exista uma cena, um movimento. A insistência em se dizer que a tese de Amaudson está sendo lançada por uma editora, faz com que se duvide de que a publicação tenha algum valor como um "verdadeiro" livro. Há uma pretensão desnecessária em se fazer respeitar, que acaba indo de encontro à lógica desses desertores da cultura de massa, de que qualquer descrédito ou demérito vindo da sociedade só possa significar uma espécie de elogio.

Esse fato mostra uma imensa insegurança vinda do underground, além de deixar claro que, num país como o Brasil, onde mal dá para se sobreviver com um emprego "decente", viver do que se gosta é ainda um ideal, no qual muitos estão trabalhando duro. Infelizmente, o underground, com raras exceções esporádicas, ainda não encontrou, na prática, uma solução para seu problema.

A tese

Alguns pontos polêmicos ou questionáveis podem ser achados em "Música Underground em Fortaleza: resistência ou crise de identidade?". Um deles é que o leitor desavisado não tem acesso a uma historiografia do heavy metal. É o punk que tem um peso enorme na monografia, muito embora fique claro que a fascinação de Amaudson Ximenes seja mesmo pelo metal. A impressão que fica é de que o metal é punk (!?). E um segmento que ficou esquecido foi o do rap, que tem grande tradição em nossa cidade e representa uma resistência muito mais visível em Fortaleza atualmente do que o punk, por exemplo.

Outro problema que confunde o leitor é a seqüência cronológica através da qual o autor constrói a recente história do rock cearense. De meados da década de 70, a história vai parar em 85, depois avança para 91 e volta para o começo dos anos 80. Depois 98, depois 86, a seguir, 92.

No histórico de dezessete páginas sobre a cultura de resistência de Fortaleza, seis são dedicadas à ACR (Associação Cultural Cearense do Rock), da qual o próprio Amaudson é presidente. A banda Obskure, da qual ele também é integrante, tem muito peso na tese, se considerarmos que muitas bandas e grupos ficaram de fora na análise. Esse envolvimento compromete um pouco o resultado da monografia.

O glossário também não suporta as dimensões de termos como "mainstream". Se mainstream é simplesmente "grande mercado fonográfico, contrário ao underground", então underground seria um pequeno mercado fonográfico, contrário ao mainstream? De acordo com a Segunda Lei de Newton, a cada ação corresponde uma reação de igual intensidade na mesma direção, mas em sentido oposto. É preciso não subestimar o mainstream, para não fazer o mesmo, de tabela, com o underground. Segundo dados divulgados pela revista Showbizz, em junho do ano passado, o grupo de rap Racionais MCs, da periferia de São Paulo, conseguiu vender, num esquema independente, 500 mil cópias de seu álbum lançado na época. Para se ter uma idéia, o número equivale à soma do que venderam, no Brasil, lançamentos de bandas como U2, Rolling Stones e Oasis.

Também é muito limitado caracterizar o som da década de 90 como pró-maconha (por causa do estouro do Planet Hemp) e machista (por causa do estouro dos Raimundos). Além disso, a atualização, inovação ou evolução é confundida às vezes com modismos, como é o caso da mescla de sons regionais com rock, representados na tese pelo Mangue Beat e pelo álbum "Roots", da banda de metal brasileira Sepultura.

Não foram dadas provas consistentes e suficientes para a afirmação de que existe um movimento punk no Ceará hoje em dia. O que parece haver é simplesmente a influência direta do som do punk rock e da atitude do movimento, que surgiu por volta de 1977 e que, para muitos pesquisadores, morreu pouco depois ressurgindo anos à frente sob outra forma. É o caso de Legs McNeil, autor do livro Mate-me Por Favor e atuante original do movimento nos Estados Unidos, que editou a revista Punk antes mesmo que o termo fosse utilizado para dar nome ao mesmo.

Como cientista social, Amaudson perde uma boa chance de falar sobre a relação de punks e bangers fortalezenses com os partidos políticos locais. Também só se fica sabendo que as duas tribos brigaram entre si (pelo menos uma vez, como foi citado) e que uma conversinha entre os "líderes" de ambas as partes resolveu a confusão, além de ter se seguido um festival com bandas tocando juntas, que representou a superação das desavenças. Não foi explicada a razão de punks e bangers não falarem a mesma língua nem como começaram a se entender, informação que seria de muita utilidade para a cena atual.

CENAS DA ATUAL CENA "UDIGRÚDI" DE FORTALEZA

A Internet tem sempre seus prós e seus contras se comparada a outras mídias. Frente ao velho zine em papel xerox, ela perde o colar e recortar (artesanato puro!), perde o "ler no ônibus, no banheiro ou no show", perde o alcance a todas as classes, mas explode suas fronteiras espaciais. Além disso também pode perfeitamente estar numa constante metamorfose, não só promovida pelos editores quanto pelos próprios leitores. É o festejado advento da interatividade.

Nem todos os zines eletrônicos são constantemente atualizados. Mas o Firestarter, antes maloqueiro da Geocities (grande provedor mundial de home pages gratuitas) e hoje abraçado pelo site fortalezense Oba por sua boa reputação e esmero visual, é um dos únicos e-zines brasileiros preocupados em passar informações fresquinhas (foi dado em primeira mão a vinda do Sepultura à cidade). Mas o que deixa o e-zine mais interessante é que o Firestarter está aberto à participação do leitor. Seus editores, Daniel Dantas e Renato Lima, anexaram ao zine eletrônico um mural onde os leitores podem postar mensagens, independentemente de serviços de e-mail.

Há alguns meses, o mural, que lista e acumula cronologicamente e por assunto cerca de 150 mensagens (as mais recentes vão "empurrando" para fora da página as mais antigas), era um meio através do qual se anunciava instrumentos e discos para venda, compra e troca, procurava-se integrantes para bandas e avisava-se sobre datas de shows e lançamentos de demos e CDs.

Mas, há um mês, uma simples pergunta fez a relativa calmaria predominante no mural se dissolver: "O rock cearense é uma piada?"

"Estive em SP, Rio e pude colher opniões (sic) sobre os grupos de Fortaleza... As mais cruéis. Não é intenção minha denegrir o que se tem feito por aqui. (...) Entretanto, o nível das bandas por aqui ainda é muito triste. Sem qualquer imaginação, até mesmo os shows de heavy/black/death são uma desgraça, previsíveis, os caras sobem no palco, apresentão (sic) 8 músicas e vão embora! Muita suadeira, e um show vazio... (...) Isso é uma postura anti-rock, acomodada!! O rock vai além disso!!" Esta bem intencionada mensagem escrita por alguém com codinome Boro detonou uma discussão que ainda dura no mural e é comentada em shows, telefonemas e encontros casuais de quem está envolvido na cena. Para responder à drástica questão, muitos palavrões são utilizados por quem perde a paciência antes de achar um bom argumento para as réplicas.

O que não é o caso de Richarley Menescal, que foi vocalista da extinta banda Sinapse, entre 95 e 96. "Desde que a Sinapse acabou, fiquei acompanhando a cena muito superficialmente e ao ver sua aparente decadência resolvi participar mais ativamente dela." Foi quando começou a editar o Bio-Zine, zine de rock, ficção-científica, quadrinhos, ufologia e cinema, também disponível na Internet, por falta de grana para pô-lo no papel.

"A maioria dos que escrevem isso [no mural da Firestarter] não participa da cena, são meros coadjuvantes. Mas Fortaleza tem muita banda ruim mesmo, assim como em Recife, São Paulo ou no Rio de Janeiro. Isso é natural. Mas generalizar a cena é um erro, pois tem gente que batalha muito, principalmente para oferecer um material de qualidade para o público. Veja a Insanity, a Obskure, a Groove, a Dago Red e o Cidadão Instigado."

Para ele, a cena underground local vive sua melhor fase em relação a bandas entrando em estúdios, lançando demos e CDs, mas vive sua pior fase em relação a apoio. "Claro que não podemos comparar com o final dos anos 80 ou começo dos anos 90, mas lá não tínhamos uma cena ainda. Hoje temos uma cena, mas os cearenses não têm interesse em pelo menos conhecê-la." Em compensação, também está preocupado com a movimentação. "Acho que vivemos uma fase perigosa e ao mesmo tempo esperançosa. Perigosa porque o público que acompanha a cena mudou bastante com o tempo, o consumo de drogas aumentou e têm acontecido confusões envolvendo o público, o que antigamente não acontecia. E esperançosa porque finalmente o Sepultura vai tocar aqui e, dependendo do público, esse show poderá abrir os olhos de muitos cearenses para a cena local [especificamente de metal], incluindo aí, empresários, imprensa, que verão que o Ceará tem público", diz Richarley.

Deixa quem é de lá falar!

Se o referencial são as grandes cidades brasileiras, aí vai uma entrevista com Alê, baixista e vocalista da banda paulista Pin Ups, que já presenciou muita encrenca e que fala um pouco sobre as confusões de São Paulo.

Comédias - Em termos de polêmicas e desavenças, como é a cena em São Paulo?

Não existe uma cena junta; é uma cena muito separada, super segmentada. Quem é punk ouve punk, quem é rap ouve rap, quem é guitar ouve guitar, quem é hardcore ouve hardcore. A gente não tem mais a pretensão de juntar absolutamente nada. Hoje em dia, você tem uma cena de pessoas que gostam de música independente. É uma cena que existe e acompanha os shows. Mas é uma cena muito limitada, para uma cidade da grandeza de São Paulo.

Comédias - É essa fragilidade da cena independente que faz com que as pessoas queiram desesperadamente que haja uma união?

Eu acho que é uma ingenuidade. É uma utopia querer que as pessoas se juntem porque somos frágeis e talvez unidos sejamos grandes. É como eu dizer que o cara que gosta de axé tem que gostar de Caetano porque, sabe como é? ...é tudo MPB. É a mesma coisa que dizer que Pin Ups [punk bubblegum] é underground e Dorsal Atlântica [metal] também, então se se vai ao show do

Pin Ups, vai-se ao do Dorsal também. Não tem! A gente chegou a essa conclusão depois de alguns anos.

* Isso diminui o underground, o deixa mais fraco?

Em nível nacional, não, porque você tem a cena segmentada em todas as cidades do país. Mas na cidade de São Paulo deixa, sim. São Paulo é a maior capital de música underground do país e é muito mais segmentada do que qualquer outra cidade. Todo mundo se conhece, mas ninguém gosta de ninguém. Basicamente você acaba não falando mais com certas pessoas. E você acaba se limitando.

* Como as críticas interferem na cena?

Crítica é um problema muito sério. A partir do momento que você critica alguém você basicamente cria uma polêmica, independente de a crítica ser construtiva ou não. Eu aceito crítica, mas também não gosto que alguém fale mal da minha banda. A gente vive à mercê da [Show]Bizz, da Rock Brigade. São revistas que chegam no país inteiro. Então se o cara me detona na [Show]Bizz, por mais que ele esteja sendo construtivo, que ele queira me ajudar, ele vai impedir que eu venda o meu disco em milhares de cidades.

* E a crítica nos fanzines?

Eu acho que o fanzine é uma coisa diferente. É um veículo no qual o cara pode se dar o direito de falar o que ele quiser, porque é independente, alternativo. E é dele, ele não cobra nada por aquilo, ou quando cobra é uma coisa simbólica. Ele pode falar bem ou detonar, enfim, ele pode fazer o que quiser. Eu basicamente não gosto de veículos que detonam os outros. Eu sou super contra. Odeio detonação. Eu acho que assim você desestimula a cena. Enfraquece, sim. A cena é tão pequena, tão restrita, tão limitada... Se você começa a detonar, fica difícil, né? A não ser que se tenha um bom motivo. Sei lá, se a banda é sexista, nazista, uma coisa maior. Não só porque a música é ruim. Em cidades um pouco menores, fica mais complicado ainda, porque a cena é tão limitada que as bandas ruins acabam tendo mais espaço do que deveriam ter. Também é culpa do público. Será que alguém teve coragem de detonar essas bandas? Eu não acho legal você detonar ninguém, mas a partir do momento que uma banda tem uma atitude de achar que é boa pra caralho e ser uma b**ta, aí realmente a banda merece tomar um balde de água fria de algum lugar. Mas é um caso específico. Eu só não sou a favor da detonação gratuita.

Tom Leão, um cara que acredita que o fim para as fitas esta próximo (sejam de áudio ou vídeo)

 

Os textos só poderão ser reproduzidos com a autorização dos autores
© 1999

Fale conosco

Hosted by www.Geocities.ws

1