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05.04.1999

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FATBOY SLIM
Por Humberto Slowik

O Rei das Picapes

Há oito anos uma das edições da revista norte-americana Interview previa que os DJs seriam as verdadeiras estrelas desta década. No ano em que as passarelas de moda de todo o mundo assistiam ao revival dos anos 60 e 70, top models como Linda Evangelista, Cindy Crawford, Christy Turlington e Naomi Campbell ascendiam ao Olimpo do mundo pop e a dance music começava a consolidar sua posição após o boom do verão de 1988, esta suposição era alimentada pelo sucesso das raves e pelo hype de clubes como o londrino Ministry of Sound. Diga-se de passagem, hype estimulado por modelos, estilistas, celebridades e ilustres desconhecidos que ferviam sem dó nem piedade ao som do baticum eletrônico produzido no período.

Corta para 1999. Hoje o circuito fashion apresenta uma miscelânea de tendências que vão e vêm de seis em seis meses, sem uma linha condutora definida e unânime. As modelos supertars estão em baixa há tempos e a música eletrônica é considerada a salvação da música pop. Em meio a este cenário, os profissionais que põem a galera para dançar e alucinar por horas a fio realmente se tornaram ídolos. E, talvez, a melhor personificação da categoria seja Norman Cook, mais conhecido pela singela alcunha de Fatboy Slim (Gordinho Elegante, em português).

"The Rockafeller Skank", primeiro single de seu segundo álbum, You've Come a Long Way, Baby, foi considerado a melhor música do ano passado por diversas publicações internacionais (além de freqüentar até mesmo a trilha sonora da atual novela global das 18 horas, presença que impulsionou a vendagem do disco no Brasil). Nomes como Madonna, U2 e a sumida (graças a Deus!) Paula Abdul fazem fila para contratar seus serviços - aliás, os três receberam um redondo não de Norman, que faz questão de trabalhar apenas com quem simpatiza sonoramente.

Só estes dois fatos comprova a reputação adquirida em todos os anos durante os quais viveu entre a cena britânica e os agitos de Ibiza, na Espanha. Fatboy Slim, realmente, é uma estrela.

No entanto, não há exatamente uma ligação entre este inglês de Brighton e o que se costuma chamar de star system. Como acontece com 99% dos DJs do planeta, Fatboy se considera apenas mais um rosto na multidão - com a diferença de que é responsabilidade dele pilotar as picapes enquanto o povo se sacode. "Não sou dançarino, não sou ator, não sou atraente para se olhar", declarou recentemente o rapaz à revista inglesa Mixmag. "Nenhuma garota se arrasta até o lugar em que estou e diz 'eu te amo'. Elas dizem 'amo sua música'. Se você olhar para a grande maioria dos DJs, nenhum de nós é exatamente uma pintura", disse à edição retrospectiva de 1998 da americana Rolling Stone.

Felizmente para Cook, este estrelato low profile permite que ele continue a manter sua rotina normal de vida, que, por mais que o DJ e produtor diga estar mais calma, é povoada por excessos. "Posso continuar ficando bêbado, caindo e enfiando minha cara em vômito sem que isto vá parar nos jornais no dia seguinte", contou.

Esta atitude considerada pouco saudável por qualquer ser humano "normal" (Cook não esconde que costuma beber vastas quantidades de vodca antes de tocar, "para entrar no clima") não é muito diferente da adotada nas suas reencarnações como DJ e produtor (ele também foi responsável pelo projeto "metralhadora giratória" Beats International, que emplacou o hit "Dub Be Good To Me" no primeiro posto dos charts britânicos). Sua identidade artística, entretanto, já foi muito diferente da atual, que celebra o big beat (o nome, "batidão", entrega que o gênero é calcado no forte apuro do lado rítmico) e a cultura de clubes em produções caprichadas que, por vezes, beiram a genialidade.

Nos idos da década passada, Norman era um dos quatro rapazes de uma banda inglesa de grande popularidade em seu país, o Housemartins. Entre as músicas emplacadas pelo quarteto estava "Build", o único hit da banda no Brasil (isto depois de também ter sido incluída em uma trilha de novela!). E como não poderia deixar de ser, nem sempre tudo foram rosas na vida do produtor. Principalmente quando "Dub Be Good To Me" se tornava hit entre os ingleses. Um divórcio e pendengas com relação a royalties - que acabaram por deixá-lo tão duro a ponto de levarem-no a escrever trilhas sonoras para diversas versões de videogame dos Smurfs - foram apenas alguns dos detalhezinhos pouco agradáveis de sua caminhada. "Basicamente, eu queria morrer", disse ela à revista inglesa Select.

Um colapso nervoso o levou ao maravilhoso mundo dos aditivos químicos, prescritos por um médico. No decorrer de poucos meses, estes levaram-no a um caminho menos católico para ficar "alto". De droga em droga, Fatboy teve finalmente seu primeiro encontro com o famigerado ecstasy. "Me lembro do dia seguinte ao experimentar ecstasy pela primeira vez. Estava com o rosto doendo de tanto ter sorrido. Logo após tomei mais um ecstasy", disse o rapaz, que também não esconde outras preferências. Better Living Through Chemistry (algo como "Melhor Viver Através da Química), título de seu primeiro álbum como Fatboy Slim, já explicava a trajetória quase lendária deste moço de 35 anos no mundo das drogas.

Durante sua turnê norte-americana, Cook teve um novo colapso, desta vez por causa de seus excessos - de trabalho, inclusive. "Existe muita coisa que você pode fazer com seu corpo. Mas estou com 35 anos e isto começa a doer um pouco. Tony De Vit (um dos principais DJs ingleses, morto no ano passado) me fez começar a cogitar dar uma acalmada em minha vida e pensar em quanto desta vida de trabalho exacerbado contribuiu com sua morte", falou à Mixmag.

Só que esta rotina não deve parar tão cedo. Antes do lançamento de You've Come a Long Way, Baby, Fatboy levou algumas broncas de executivos de sua gravadora que, mesmo não vendo os resultados do novo álbum, podiam observar a nova estrela em mais um de seus porres durante uma estada de trabalho e diversão em Ibiza. "Não posso mais viver minha vida por 48 horas diárias. Só que posso fazer isso por 24 horas", explicou. "Fazer um álbum inteiro é um um desafio para mim. Acredito que posso fazer singles que venham a ser tocados em clubes, mas a idéia de um álbum é estranha", comentou, ao tentar explicar este leve descaso com sua própria produção.

Tudo que o inglês faz para se divertir e relaxar é dormir - coisa que parece fazer pouco ultimamente, por causa dos milhões de  idéias que surgem para novos grooves e beats. "Minha namorada não gostava muito disso e esta foi uma das razões que nos fez romper", declarou na entrevista para a Rolling Stone. Dormindo, se drogando ou simplesmente enlouquecendo nas noites de Brighton, Fatboy ainda vai ter que agüentar muitos convites - como um que propunha tocar no país de Gales, mais uma limusine, champanhe e muito aditivo químico. "Entre os DJs não existe este papo de estrela e é impossível aceitar uma proposta dessa", disse.

Você pode não concordar com ele e seu estilo de vida. Uma coisa, contudo, não pode ser negada. Pelo menos Fatboy Slim fez um dos melhores discos do ano passado. E isto não é pouco.

Os textos só poderão ser reproduzidos com a autorização dos autores
© 1999

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