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05.04.1999

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CORNELIUS
CM - FM
(Matador)
Por Alexandre Matias


Não é difícil ouvir Fantasma, o primeiro disco ocidental do japonês Cornelius, e ficar impressionado. Afinal, o CD compila a história do pop mundial contada por um de seus fãs mais ávidos, de um ponto de vista não-cronológico e a bordo de um estúdio formidável. Desconstruía a canção popular das últimas cinco décadas como se pudesse reescrevê-la, usando tecnologia e tendências de ponta pra dar sua versão dessa história.

E não foram apenas ouvintes comuns que deixaram o queixo cair ao som de Keygo Oyamada (seu verdadeiro nome). Vários músicos, gente de destaque no grande prêmio da música pop atual, cederam aos encantos caóticos do japonês. E, correndo, pediram para que ele remixasse algumas de suas músicas.

Cornelius topou. Só pedia duas condições. A primeira era que o artista também remixasse uma faixa de seu disco de estréia neste lado do planeta. A outra era que ele deixasse que o japonês usasse as duas músicas, tanto o remix requisitado quanto o do requisitante, quando quisesse.

O resultado está nos dois discos que ele lança agora em março. CM e FM são os dois lados desta nova moeda. CM
(Cornelius reMixes) traz o japonês alucinando em cima de músicas do U.N.K.L.E., Buffalo Daughter, High Llamas, The Pastels, Coldcut e Money Mark. FM (Fantasma reMixes) traz estes - mais Damon Albarn, do Blur - remixando as músicas de Keygo.

Se você já conhece o trabalho de Cornelius, o disco a ser procurado é FM. Ele começa com Money Mark - o João Fera dos Beastie Boys - metendo a mão na faixa de abertura de Fantasma. Só que Mic Check deixa de ser um devaneio lúdico sobre passagem de som pra se tornar um hip hop quase instrumental, pesado, grave e claustrofóbico. De leve, Sean O’Hagan (o cabeça dos High Llamas) tira apenas os pedaços que lhe interessam de The Micro Disneycal World Tour: um vocal, que logo transforma, num loop e uma série de ruídos elásticos. Derrama um banjo dedilhado sobre um chocalho e remonta outros vocais da mesma faixa.

E, sem que percebamos, caímos no meio de um disco do High Llamas - usando apenas elementos do disco do japonês (com exceção do tal banjo e de outros vocais, do próprio Sean). Excelente.

Os também japoneses Buffalo Daughter limpam a primeira parte de New Music Machine, deixando apenas o vocal sossegado de Keygo patinar sobre uma cadência marcada por um baixo e uma guitarra abafados. No meio da música, sons sintéticos cobrem o mesmo vocal - mas tudo (inclusive a métrica original) é soterrado no refrão por uma guitarra pesada. E assim, acrescentando pedaços aos poucos, vão tocando uma bela versão pro original.

Os Pastels transformam o mar de microfonia que era originalmente Clash em uma canção suave, quase tímida, com pouquíssimos instrumentos (um acordeon, uma percussão digital delicada, flauta), transformando o refrão - um ‘clash’ esticado até o limite da voz - num frágil suspiro.

Count 5 or 6 é distorcida pela parte cerebral do Pizzicato Five, o DJ Konishi Yasuharu. A princípio a canção lembra o original, mas um tecladinho sacana - tocando uma melodia de festa de aniversário em churrascaria - nos carrega pro universo kitsch do grupo do DJ. Damon Albarn, do Blur, recria completamente Star Fruits Surfer Rider - dando ênfase em um teclado que passa sem perceber na versão de Cornelius. Logo o próprio Albarn entra cantando - com a voz grave e em falsete - e, aos poucos, acrescenta elementos da faixa inicial. Até que, no meio da música, um vocoder avisa que uma raça alienígena vem observando a terra através das imagens do Planeta dos Macacos (de onde Cornelius tirou seu pseudônimo).

O mesmo Planeta... começa a versão do U.N.K.L.E. (entenda-se DJ Shadow) para Free Fall. Mas a introdução é só papo furado: quando a música começa, ela é apenas a   parte instrumental acompanhada de camadas e mais camadas de cordas, scratches que berram “Cornelius” e uma quantidade absurda de informação sonora.

Encerrando este disco, o Coldcut simplesmente destroça Typewrite Lesson - um mundo de sons tocados como se fosse um drum’n’bass, só que sem percussão. Os breakbeats desse jungle surreal ficam sendo o som de uma velha máquina datilográfica, distorcida, revertida e espremida a gosto da dupla. De tirar o fôlego até pros ouvidos mais treinados.

Agora, se você não conhece o trabalho de Cornelius, comece com CM. O disco mostra a versatilidade do japonês e sua versátil mão para mexer em qualquer música que coloquem à sua disposição.

CM começa com Ape Shall Never Kill Ape. Lema do planeta dos macacos (Macaco Nunca Deverá Matar Macaco), a música foi composta pelo U.N.K.L.E. apenas para que Cornelius a remixasse. O que assistimos é uma parada marcial formada por cordas em pizzicato e um teremim
desesperado serem, aos poucos, pisoteados por uma tonelada de sons dos mais diferentes lugares, intercalados por um riff de thrash de fazer inveja a James Hetfield.

Maybe I’m Dead, uma tranqüila bossa nova de Money Mark, recebe um pulso mecânico mais firme - acelerando sua velocidade original - e uma chuva de ruídos alheios, que funcionam como luzes decorativas, piscando aos poucos. Great Five Lakes, do Buffalo Daughter, é despida das guitarras originais e submetida a uma transfusão de percussão que a transforma num house esquizofrênico. Atomic Moog 2000, do Coldcut, é caprichada na percussão, uma quebradeira sem tamanho que, lá pelo meio da música, encaixa-se com a biblioteca de sons aleatórios do japonês.

Mas pra tirar dos seus ombros a fama de rechear músicas alheias com quilos e mais quilos de pedaços de música, ele nos dá Windy Hills, dos Pastels, que recebe tratamento de jóia, limpa e polida. Ela torna-se, no meio do caminho, Homespin Rerun, releitura delicada para a canção dos High Llamas, ganhando groove sem deixar perder o pique. Que lá pela metade de sua duração, pra não fugir à regra, recebe aquela quantidade de microarquivos de áudio que são característicos de Cornelius. As muitas faces de Cornelius - seja remixando e remixado - podem ser digeridas em qualquer ordem, uma vez que ele é o centro dos dois discos. Cabe a você decidir por onde começar.

Os textos só poderão ser reproduzidos com a autorização dos autores
© 1999

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