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01.02.1999

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ESPINAFRANDO
Por Leonardo Panço

FALA SÉRIO

Fui caminhando tranqüilamente da Lapa para o ponto final do meu ônibus que fica na Glória. Com o calor que fazia naquele dia, estar andando ao ar livre, era quase uma dádiva. Eram quase 4 da manhã. A Glória é sempre movimentada a essa hora, por ser a área de atuação dos travestis. E, por isso mesmo, é um lugar seguro. Afinal não se assalta na área de domínio deles.

Um amigo do interior de São Paulo estava hospedado em minha casa. Nunca tinha vindo ao Rio de Janeiro. E mesmo depois de 3 dias por aqui parece que não veio mesmo, afinal só fez um único trajeto. Vila da Penha - Lapa - Vila da Penha. Não dá para dizer que a favela de Manguinhos seja o que temos de mais bonito para mostrar.

Para nossa sorte (até aquele momento), o ônibus já estava para sair. Na madrugada, só temos ônibus de hora em hora. Quem já teve a visão do seu ônibus indo embora, você correndo atrás berrando e o motorista nem é com ele, sabe do que falo. Entramos e me sentei atrás do "Jesus Me Chama", aquele banco onde a pessoa senta sozinha do lado oposto ao do motorista, perto da porta. Quem é do Rio de Janeiro deve conhecer essa expressão, mas para quem nunca ouviu, imagine um ônibus envolvido em uma batida. De frente. Quem será o primeiro a morrer? Com certeza se o piloto tiver chance, vai tirar o dele da reta.

Voltando. Sentei no banco alto, enquanto meu amigo sentou no imediatamente atrás. Exatamente por estar atrás de um banco alto, onde não dá para ver nada, só veio a saber o que se passou quando descemos em casa e lhe contei. Logo que sentei, o motorista entrou. Com ele, um sujeito. Bem típico de se ver por aqui. Do tipo exaltado em novelas da Globo como malandro, sagaz, de camisa aberta e não sei mais o quê. Pois só se for exaltado para eles que andam de carro. Para mim, a escória. No mesmo segundo que a criatura sentou, já virou para trás e puxou assunto.

- E aí, beleza?

- É.

- Pô, cê tá com cara de cansado.

Eu tinha trabalhado dez horas seguidas em pé vendendo CDs. Com certeza tinha que estar com aparência ruim.

- É. Eu trabalhei a noite toda. Tô realmente bem cansado.

- E cê faz o quê?

- Vendo CDs.

Minha bolsa estava lotada de coisas com um volume muito grande, mas CDs mesmo, devia ter uns cinco que eu tinha ganho durante a noite. Nada mais.

- Deixa eu ver então.

- Não, na bolsa não tem nenhum CD.

O cara ficou me olhando uma cara estranha.

Já passei por situações parecidas outras vezes e por algum motivo consigo agir sempre do mesmo modo. Posso estar o mais nervoso possível, que ninguém consegue perceber.

- Tô sabendo que tu tá com CD aí. Deixa dá uma olhada.

Confirmei mais uma vez que não tinha nenhum CD na bolsa. Ele se virou para "trocar umas idéias" com o piloto. Nisso, deu pra ver a arma na cintura. Tudo que eu precisava. Ser assaltado.

- Aí piloto. Me deixa na Central.

- Ih. Não passa não.

- Porra. Tá tranqüilo então. Vou ver onde que eu fico.

Sabe como é. Esse tipo tem muito. Indo a lugar nenhum para ver no que dá. Nisso se virou para mim novamente e começou a falar mal de mulheres. Em especial de um grupo de quatro meninas que tinha descido na Praça Mauá. Para quem não conhece, a Praça Mauá fica em frente ao cais do porto e abriga vários inferninhos. Como tem sempre gringos vindo dos navios, o lugar é ideal para ganhar a vida na noite.

- Tu acha que moça de família desce na Praça Mauá a essa hora?

Fazer o que, né? Tinha que dar atenção. O cara estava realmente carente. Dei uma resmungada de leve e balancei a cabeça negativamente.

- É. Já tô sem dormir há quatro dias, só cheirando.

O balãozinho de história em quadrinhos veio na minha cabeça na hora. "Pois que morra o mais rápido possível. "

- Aí, aí. Vou ficar nesse, piloto.

Aparentemente tudo ia ficar na boa. Mas foi aí que escutei a frase mais absurda da minha vida. O cara já descendo. Com um pé do lado de fora. Foi nessa que o motorista manda a seguinte:

- Não vai ninguém aí, não?

Como alguém em sã consciência pode perguntar pra um cara se ele vai embora de mãos vazias? "Porra, tu já vai embora? Não meteu ninguém. Fala sério." Foi só o que faltou pro desgraçado falar.

E os ventos conspiraram a favor.

- Não, não. Só tem trabalhador. Vai na fé.

Como se ele só assaltasse desempregado ou fosse a reencarnação de Robin Hood. O Rio de Janeiro continua lindo.

O nome do meio de Leonardo Panço é trabalho e é assim que ele toca sua banda, o Jason, e sua gravadora, a Tamborete Entertainment

Os textos só poderão ser reproduzidos com a autorização dos autores
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