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01.02.1999

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CÂMBIO NEGRO
EXTREMA POSIÇÃO CRÍTICA
Por Abonico R. Smith

Foram alguns anos de espera e o grupo brasiliense Câmbio Negro finalmente lança sua estréia fonográfica como uma verdadeira banda de rock e rap. Depois de duas experiências anteriores com programações eletrônicas (nos álbuns Sub-Raça e Diário de um Feto, lançados em 1993 e 1995 pelo selo independente Discovery, também de Brasília), a posse liderada pelo vocalista X agora adiciona guitarras pesadas e grooves orgânicos aos costumeiros versos de extrema posição crítica frente à realidade brasileira.

Editado pelo selo Matraca (ligado à gravadora Trama, uma nova empreitada de médio porte no mercado fonográfico nacional), o disco leva apenas o nome do quinteto, completado por Marcelinho (scratches), Bell (guitarra), Ritchie (bateria) e Daniel (baixo). A simplicidade, porém, acaba no título. Em dez faixas, X desfila verdadeiras bombas dispostas em forma de fonemas. Religião, política, economia, sociedade, submundo, drogas, violência, nada escapa de sua contundente metralhadora verborrágica.

No escritório de sua gravadora, em São Paulo, o X que conversa com o 1999 nem de longe parece ser a mesma pessoa que vocifera no microfone raivoso, pedindo justiça, igualdade e dignidade. Tranqüilo, sereno e bastante simpático, o rapper faz os minutos do relógio passarem mais rápido com a mesma eloqüência e articulação de suas composições.

1999 - Por que o terceiro álbum do Câmbio Negro demorou tanto para sair?
X -
Nós conversamos com o Miranda (diretor-artístico do selo Matraca, subdivisão da Trama) desde 1994, quando ele ainda dirigia o Banguela. Apesar do interesse, nós esbarramos na não-liberação do nosso selo, pelo qual gravamos mais um outro disco, já com uma breve introdução da banda de apoio. Só que lucramos com este hiato. Naquela época nós não estávamos preparados. Este tempo serviu para trazer autoconhecimento, afirmação e amadurecimento.

1999 - Quais são as maiores novidades deste disco?
X -
Mostramos a cara que o Câmbio Negro tem hoje, o que a gente é de verdade, com bases pesadas, guitarras distorcidas, groove com rap tradicional. Não é porque a maioria dos rappers critica o fato de ter uma banda de apoio que nós não vamos fazer assim.

1999 - Vocês foram o primeiro grupo de rap a se assumir como banda...
X -
Desde o primeiro álbum, em 1993, o Câmbio Negro vem quebrando barreiras e tabus. Hoje você tem Faces do Subúrbio, Pavilhão 9, mas quando decidimos por isso, no segundo disco, foi um choque.

1999 - Outro pioneirismo creditado ao Câmbio Negro foi o fato do grupo ter protagonizado há três anos uma campanha publitária contra as drogas.
X -
Foi contra o abuso de drogas. Naquele tempo o governo tinha uma visão bem pior do que tem hoje. Achava-se que o perigo estava apenas nos tiros, na bandidagem, no sangue escorrendo. Nos anúncios dos quais participamos foi a primeira vez em que o governo admitiu o uso das drogas. Não era o "não use", e sim o "não abuse". Aquilo não era igual às campanhas imbecis e babacas de prevenção às drogas e Aids. Estamos às portas do ano 2000, não temos que ficar só no ôba-ôba. Você tem que chocar as pessoas, botar medo nelas. Só assim irão funcionar de verdade estas campanhas institucionais.

1999 - O que Edu K, vocalista do DeFalla, trouxe de bom para a banda como produtor do disco?
X -
A gente já vinha conversando há quatro anos a respeito da produção de um disco e só conseguimos acertar com ele agora, por causa da liberdade de produtor dada pela Trama. Ele nos ajudou muito a pegar o feeling roqueiro. Para trabalhar com um produtor é preciso ter mais que afinidade, é necessário um prazer mútuo. E o Edu é profissional ao extremo dentro do estúdio. Além de dar idéias, procurava ouvir sempre o que a gente criava e o que estava bom era logo aprovado. Logo viramos amigos.

1999 - Vocês vieram da cidade-satélite da Ceilândia, a região mais perigosa do Distrito Federal. Qual é a diferença entre a região de vocês e os morros cariocas ou a zona sul paulistana?
X -
Lá ocorrem assassinatos e estupros, mas você não vê caras na rua com uma AR-15 ou M-16. Outra diferença é a regionalização das drogas. Se no Rio quem manda é a cocaína e em São Paulo o crack, no Distrito Federal temos a merla, feita da pasta da coca. Na música temos trabalhos inteligentes como Gog, Falso Sistema, Fogo Cruzado, Dino Black e DJ Mano Mix. No meio deste boom do rap, existe também muita merda. Mas a experiência e o tempo vão tratar de solidificar quem é bom.

1999 - O Câmbio Negro sempre se diferenciou por trazer versos pesados, que procuram fazer um retrato nu e cru da situação sócio-político-econômica brasileira, sem qualquer maquilagem...
X -
Sempre tivemos a coragem de mostrar as coisas na ferida. Não ficamos naquela de fazer só o curativozinho. Desde a criação da banda nós enfrentamos problemas por causa disso. Se antes o rap já não tocava nas rádios, o nosso ainda esbarra no preconceito contra o palavrão, por exemplo. O som de protesto, então, tem que continuar correndo por fora. Mas não vamos passar a medir as palavras por causa dos diretores de rádio.

1999 - "Círculo Vicioso" já abre o disco com um discurso direto contra as drogas e a violência...
X -
É uma mensagem para quem acha que a violência e as drogas são os caminhos para uma vida fácil. Isso é um erro e nós procuramos mostrar que o grafite, o break, o rap e o desenvolvimento da arte são os verdadeiros caminhos. Falamos que todo mundo precisa terminar os estudos também. Assim como bons artistas, nosso país também precisa de bons dentistas, bons médicos, bons advogados. Nada cai do céu. Por isso não adianta só ficar reclamando da vida.

1999 - O discurso em "Esse É O Meu País" é exatamente o contrário. Vocês exageram no sarcasmo atirando para todos os lados. Falam bem dos políticos, do trânsito, da saúde, da educação do sistema carcerário, da Igreja Universal...
X - É o nosso sonho irônico de viver numa sociedade segura, justa, digna e sem discriminação. Estamos pagando na mesma moeda ao devolver todo este sarcasmo. Não vemos por parte das autoridades um mínimo de esforço para que tudo melhore. As pessoas também contribuem, querendo ficar iguais aos governantes. Hoje em dia todo mundo acha normal ver alguém caído na calçada, fudido e com fome.

1999 - Existe, porém, uma faixa com letra bem mais pesada que todas as outras. Em "Um Tipo Acima de Qualquer Suspeita" vocês descrevem em minúcias toda a história de dois estupros, de mãe e filha. A letra descreve toda a ambientação dos protagonistas às inevitáveis conseqüências posteriores dentro do cárcere, passando pelos detalhes mais cruéis e chocantes dos estupros propriamente ditos...
X -
Muita gente vêm até mim para contar que ficou estarrecida com a letra. Até já tinha feito algo parecido antes, na música chamada "Diário de um Feto", contando os detalhes mais fortes de um aborto. Eu escrevo isso porque vivo no Brasil, leio o jornal e vejo televisão. Apesar das pessoas ficarem em choque com a letra, não faço nada para ser sensacionalista. Muito pelo contrário, meu interesse é a conscientização. Sei que sozinho não tenho muitos recursos para acabar com estas barbaridades. É preciso que se tenha a solidariedade dos empresários, dos jornalistas...

1999 - Você continua com a temática no future em "Necronomicom". A música, repleta de referências religiosas e meio com cara de quadrinhos de ficção científica, encerra o disco com um arranjo épico, com explosões, batidas pesadas, vocais raivosos e versos apocalípticos.
X - Ela foi escrita durante uma fase atribulada minha. Tinha que colocar para fora certas coisas que andavam me perturbando. "Necronomicon" é a história escrita com sangue, o livro dos mortos com páginas feitas de pele humana. É a Terra devastada e sem sobreviventes.

1999 - Pegando um pouco mais leve, agora... Como rolou o encontro com TC Izlam, filho de Afrika Bambaataa?
X - A lenda do rap, ídolo nosso desde os tempos de break... Foi um golpe de sorte, a faixa que faltava neste disco. Aconteceu tudo em dois dias. Ele estava no Brasil fazendo um trabalho com uma banda de rock e uma amiga comum acabou levando-o ao estúdio onde estávamos gravando. Ele gostou muito do trabalho e se dispôs a participar. No primeiro encontro ficamos criando a base até as quatro da manhã. No outro dia eu escrevi a letra ali na hora, no estúdio, e ele criou tudo só na hora de gravação. Foi tudo de improviso, em um freestyle rap, algo semelhante ao nosso repente.

1999 - Se o entrosamento com TC Izlam foi tão rápido, já existe algum projeto do trabalho de vocês ser levado para os Estados Unidos?
X - Não há um contato mais sólido, mas com certeza existe a ponte e a intenção. Mais para o futuro, quem sabe...

Os textos só poderão ser reproduzidos com a autorização dos autores
© 1999

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