logo06.JPG (17693 bytes). INFORMAÇÃO COLUNISTAS BR-116 HISTÓRIA
DO ROCK
FICÇÃO RESENHAS

 

ÍNDICE

 

LIAM HOWLETT
Prodigy Presents The Dirtchamber Sessions Volume 1
(RoadRunner)
Por Alexandre Matias

Chegou a hora. Você olha pra sua coleção de discos, arregaça as mangas, estala os dedos e vai. Disco por disco, passeando seus dedos entre os plásticos das caixas de CD ou no papelão dos velhos vinis. Escolhe artistas que, historicamente, não têm nada a ver um com o outro - você apenas os reúne porque gosta. Põe o disco para tocar, grava uma música, tira-o e guarda-o, colocando outro disco na seqüência.

Você está gravando "aquela" fita - pra uma viagem, pra mostrar pra quem não conhece, pra tocar em uma festa, pra ouvir no walkman a sua própria trilha sonora - e durante este espaço de tempo em que isto acontece, o cômodo em que o som e o lugar onde você guarda os discos torna-se um laboratório, um estúdio, um ateliê. Porque querendo ou não, você está expressando seus sentimentos através da música - mesmo que seja a música dos outros. Porque você não tem uma banda onde pode tocar a hora que quiser as músicas que tiver vontade, então você "toca" o seu som.

E fica lamentando não ter pelo menos um mixer em casa, pra encaixar as músicas umas nas outras. E amaldiçoando todos esses DJs que tem um estúdio espalhado pela casa onde eles podem, não apenas encaixar as músicas, mas alterá-las. Colocar aquele refrão no meio daquela outra música, uma mágica que só poderia acontecer na sua cabeça. E inventa milhares de artimanhas pra a fita ficar perfeita - somando o tempo das músicas, soltando os dois "pauses" ao mesmo tempo, formas de digitar o teclado de um tape.

O DJ é isto que você está fazendo neste instante, só que o tempo todo. Ele é o que ele toca, como dizia David Bowie no fim dos anos 70, e o que faz um DJ diferente do outro é a forma que ele usa para apresentar as melhores músicas do mundo, em sua opinião. É diferente do DJ do rap (embora tenham diversos pontos em comum) que é um tocador de instrumento, uma máquina de soltar som, um sampler humano. O DJ que toca em festas é um alquimista de emoções e a forma que ele faz a multidão delirar apenas apresentando novos pontos de vistas (o seu ponto de vista, diga-se de passagem) sobre a música que ele está tocando é sua arte.

O que eleva o formato do disco mix à condição de obra de arte, o que não deixa de ser verdade. O disco mix - em que um DJ mixa as músicas de acordo com sua vontade - mostra quem são aquelas pessoas por trás das músicas, ao contrário das impessoais coletâneas de hits que estamos habituados a ver. O disco mix nem precisa ter só hits para existir, pelo contrário. Veja o disco mix dos Chemical Brothers, os primeiros novos ricos techno do showbusiness a peitar uma empreitada do tipo, Brothers Gonna Work it Out, cujos únicos hits eram Block Rockin’ Beats dos próprios, Everything Must Go dos Manic Street Preachers e I Think I’m in Love, do Spiritualized. Isso num disco com 23 faixas.

Depois dos Chemical Brothers, é chegada a vez de seus parceiros de "revolução eletrônica", o Prodigy fazer seu disco mix. E como três quartos do Prodigy são gárgulas de fim de milênio cuja função é mais visual e comportamental que musical, resta ao quarto restante a função de trabalhar todo o lado instrumental do som. Mimado, arrogante, presunçoso e mal-educado, Liam Howlett, o cérebro musical do Prodigy, parece ser tão inofensivo quanto aquele moleque skatista de cabelo descolorido da sua rua. Mas sua habilidade pra cortar as músicas aos pedaços e remontá-las como quiser o transforma numa espécie de supercérebro do som, o Mal encarnado numa criança, a menina que representava o Caos nos quadrinhos do Sandman, Demian.

Prodigy Presents the Dirtchamber Sessions - Volume One (RoadRunner) mostra este moleque em ação. E como se quisesse mostrar a todos os pequenos fãs de Prodigy quais são os sons certos para escutar, Liam promove um desfile de gêneros diferentes numa compilação que, se lançada em qualquer outra época, chocaria todos os amantes de cada um desses gêneros.

Mas estamos nos anos 90 e isso é permitido, felizmente. Então ouvimos rap clássico (Ultramagnetic MCs e Beastie Boys, LL Cool J, Digital Underground, Tim Dog, KRS-One, Public Enemy, Grandmaster Flash & the Furious Five), techno do fim dos anos 80 (Bomb the Bass, Meat Beat Manifesto, Coldcut), jazz e funk que formaram o rap (Jimmy Castor Bunch com It’s Just Begun - "apenas começou", a faixa que fecha o disco -, Barry White, JBs, Herbie Hancock), rock (Sex Pistols, Jane’s Addiction, Primal Scream, Charlatans) e big beat (Chemical Brothers, Fatboy Slim, Propellerheads), dividindo a pista com hits pessoais do autor, clássicos de sua própria vida, discos que lhe abriram a cabeça (gente como T-La-Rock, DST, Beats Rasmus, Time Zone, Mark the 45 King, Frankie Bones, Hijack, Renegade Soundwave, The Beginning of the End, Medicine).

Um disco que mostra porque o Prodigy consegue ser agressivo, funky e eletrônico ao mesmo tempo, o imaginário cerebral do cientista por trás do monstro desfibrado em 51 faixas em 55 minutos, uma viagem de ritmo e groove com espasmos de rock que ainda encontra tempo pra nos fazer sorrir, seja pelo Beastie Boys tocando no dobro da velocidade, Kool Keith (do Ultramagnetic MCs) recitando claramente Smack My Bitch Up como o autor faz questão de frisar ou no berro esganiçado de Perry Farrell em Been Caught Stealing. Coloque o disco na vitrola e deixe a festa rolar.

    Os textos só poderão ser reproduzidos com a autorização dos autores
© 1999

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