logo06.JPG (17693 bytes). INFORMAÇÃO COLUNISTAS BR-116 HISTÓRIA
DO ROCK
FICÇÃO RESENHAS

 

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"DRINKING FROM PUDDLES"
Vários
(Kill Rock Stars)
Por Alexandre Matias

Quando Brandon Lieberman era moleque, voltava do jogo de futebol americano na escola e passava perto de um jardim em que um dos regadores estava quebrado, formando uma enorme poça de água sobre a grama, onde ele e seus amigos paravam para matar a sede. Bebendo de poças ele sentia que estava mais próximo da essência da água, como se o contato dela com a grama desse mais vida e fosse mais autêntico.

Depois de velho, na faculdade, herdou um programa de rádio e transformou-o em Drinking From Puddles (Bebendo de Poças) em que ele mostra ao público artistas tão autênticos e reais quanto a água daquela poça onde ele matava a sede. Artistas de verdade, ele queria dizer, herdeiros espirituais do punk que só se preocupam e fazer música do único jeito que sabem fazer: o seu.

Seu programa aos poucos passou a dar espaço para artistas se apresentarem ao vivo e logo seu acervo de shows inéditos havia se tornado mais do que notável - um disco era o próximo passo. E assim aconteceu. Em Drinking From Puddles (Kill Rock Stars, importado) somos apresentados a toda uma geração de art rockers que se escondem na cena independente norte-americana, artistas que vão do punk rock à poesias lidas em voz alta, barulho e lirismo se encontrando num disco que à primeira audição soa muito diverso, mas que logo percebemos que são facetas diferentes de um mesmo tipo de música.

O disco abre com Dance Hall Music, um trash noise no limite do audível, por conta dos barulhentos Murder City Devils e entra na bela e forte Hurricane, a cargo do Come. O Hazel rasga suas guitarras em cima da semi-new wave The Magazine Man, o indie folk rock dos Obtuaries atinge ápices de doçura visceral não visto desde os anos 70 e o Prolapse casa Gang of Four com Sonic Youth em Cachophony #A.

A balada Butch do Geraldine Fibbers atravessa diversas atmosferas sonoras com uma dramaticidade exagerada e moderna ao mesmo tempo. Jeffrey Lee Pierce, falecido líder do Gun Club, surge do mundo dos mortos como um fantasma de dentro do som, com sua voz áspera e um violão contemplativo conduzindo Lucky Jim. O Cadallaca, projeto paralelo da Sleater-Kinney Corin Tucker é uma versão menos agressiva e mais sentimental de sua banda original e nos seduz com a tola You’re My Only One.

Poison Idea pisa na tábua com o punk eficiente de Taken By Surprise e Kristen Hersch (das Throwing Muses) nos convida para seu universo épico suburbano em Gazebo Tree, acompanhada apenas por seu violão agressivo. Tanto Elliot Smith (só com um violão) quanto Cindy Lee Berryhill (só com um tecladinho Casio) e Madigan (só ao violoncelo) fazem o folk brilhar de novo em Everybody Cares, Everybody Understands, Aquamarine e Snowfell Summer, respectivamente. O Dead Moon faz o rock voltar para um porão americano no fim dos anos 60, casando psicodelia punk com despojo instrumental em Graveyard. A bela Chan Marshall, da banda-de-uma-mulher-só Cat Power, chora uma tímida e perfeita versão para We Dance, faixa de abertura do disco Wowee Zowee, do Pavement. Roger Manning nos manda pro Village no começo dos anos 60, num folk arrastado e quilométrico, em Pacifica Blues. O Crackerbash nos remete a um casamento do começo do Pere Ubu com os Pixies mais furiosos e o Soul Junk brinca de se esgoelar em cima da repetitiva levada de Sweet to My Soul.

Três apresentações não-musicais permeiam o disco: na primeira a artista multimídia Nicole Panter conta suas experiências sexuais em Fuck (sendo interrompida por Brandon que conclui ironicamente: "Então você fez sexo"), a poetisa Pleasant Gehman cria seu rosebud em Monsanto, se referindo ao subúrbio californiano como o seu paraíso pessoal da cultura underground e a diva no wave Lydia Lunch admitindo "tudo, exceto que estou errada e que sou culpada".

Brandon abre para nós um leque de música produzida nas garagens americanas, muitas delas apenas paqueradas pela grande mídia. Um leque tão diverso quanto este universo independente americano, um retrato sem retoques de parte da melhor produção alternativa ianque.

    Os textos só poderão ser reproduzidos com a autorização dos autores
© 1999

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