logo06.JPG (17693 bytes). INFORMAÇÃO COLUNISTAS BR-116 HISTÓRIA
DO ROCK
FICÇÃO RESENHAS

 

ÍNDICE

 

YO LA TENGO + JAD FAIR
Strange But True
(Matador)
Por Alexandre Matias

Entre os pontos em comum nas carreiras do Yo La Tengo e de Jad Fair é que eles sempre fizeram o que quiseram. Pegue os primeiros discos do trio nova-iorquino e vai ouvir uma banda completamente despreocupada com o que vão achar do resultado final, sem usar máscaras para fingir ser algo que não é, simplesmente ignorada em sua época (eles começaram em 1985). Jad Fair, ao lado do irmão David, compunha o grupo Half Japanese, um grupo que sempre se imaginou o grupo mais importante da história do rock, mesmo que não soubesse tocar nenhum instrumento direito.

O casamento destas duas partes parecia um convite ao experimentalismo instintivo. De um lado, um grupo normal que toca qualquer gênero como se estivesse conversando durante um almoço - e revelando aspectos geniais em cada canção que toca. Do outro, a intuição em pessoa, uma versão cerebral do cidadão comum, uma caricatura do que todo artista deveria ser. Logo, vemos outro ponto em comum: as duas partes usam o fato de não serem especiais, de serem normais, para mostrar que qualquer um pode fazer o que quiser, mesmo que não consiga. É o punk para quem não gosta de fazer cara feia, gritar ou ser agressivo.

Mas quando o trio encontrou Fair, o que não poderíamos esperar era o usual. Encontraram um tema para o disco lendo jornalecos de segunda categoria, tablóides interessados apenas em histórias absurdas acontecidas com pessoas comuns ou gente comum querendo aparecer com feitos surreais. Compuseram Strange But True (Matador, importado) em cima de 22 manchetes malucas que eles realmente leram como se quisessem dizer que um disco daqueles era tão ilógico como qualquer daqueles títulos. Estranho, mas verdadeiro é o nome do título e a ênfase está no "verdadeiro", porque o que importa para eles é que seja real, não maquiado.

O disco abre com a lenta e etérea Helpful Monkey Wallpapers Entire House (Macaco põe papel de parede na casa inteira), em que a guitarra de Ira Kaplan flutua sobre uma onda de energia constante, usando a microfonia como um campo de força enquanto Jad balbucia a história de um macaco que cola papel de paredes com o próprio cuspe. Texas Man Abctuded by Aliens for Outer Space Joy Ride (Texano abduzido por aliens para uma farra espacial) é um Sonic Youth dopado, com a voz de Fair sendo mascada e cuspida como a de Thurston Moore, que fala de alienígenas que saem à noite para seqüestrar humanos indefesos.

National Sports Association Hires Retired English Professor to Name New Wrestling Holds (Associação nacional de esportes contrata professor aposentado para batizar novos movimentos de luta livre) tem um groove bêbado baseado na guitarra pontiaguda que repete-se sem parar. A quadrada Dedicated Thespian Has Teeth Pulled to Play Newborn Baby in High School Play (Ator dedicado arranca os dentes para fazer papel de recém-nascido em uma peça de escola de segundo grau) se constrói sobre o acúmulo de riffs repetidos à exaustão e sem coordenação por todos os instrumentistas.

Cada vez mais a lógica três por quatro do pop tradicional vai sendo corrompida, subvertida e jogada fora, deixando apenas os instrumentos soltos passeando livremente ao som de uma voz que conta histórias absurdas inventadas sobre manchetes quilométricas. Quando o ritmo aparece, é como se o quarteto estivesse experimentando: "vamos colocar um ritmo para ver o que acontece?". Mas o que vemos por todo o disco é uma variação noise do free jazz, instrumentos querendo ir onde jamais foram, pássaros voando no alto de uma gaiola e carregando a mesma no vôo.

Os nomes das músicas continuam cada vez maiores e mais constrangedores: Retired Grocer Constructs Tiny Mount Rushmore Entirely of Cheese (Fruteiro aposentado constrói um pequeno Monte Rushmore - aquele, com as caras dos presidentes americanos -, todo de queijo), Car Gears Stuck in Reverse, Daring Driver Crosses Town Backwards (Com as engrenagens ao contrário, motorista audaz atravessa a cidade de ré), Embarrassed Teen Accidentally Uses Valuable Rare Postage Stamp (Adolescente atrapalhado usa selo raro acidentalmente), Nevada Man Invents Piano with 21 Extra Keys (Homem de Nevada inventa um piano com 21 teclas extra) e por aí vai.

Na metade do disco, os nomes das músicas e seus temas passam a ser detalhes engraçados, que nos lembram da vida real enquanto simplesmente nos deixamos conduzir pela avalanche musical intuitiva promovida pelo supergrupo. Se alguém ainda duvida que o atual herdeiro do Velvet Underground é este trio formado por esses caras normais de Hoboken, Strange But True é a prova dos 9. Enquanto seus discos oficiais vão tentando achar um ponto em comum entre o drone rock, o pop perfeito, o noise, músicas alheias e o experimentalismo, os projetos paralelos provam a potência sonora escondida por baixo das doces canções - e como o barulho pode soar levemente.

Fair entra no grupo como um titã, um professor. Filhos bastardos do Half Japanese, o Yo La Tengo tem sua paternidade reconhecida graças à presença do vocalista, disposto a fazer o que seus colegas quiserem. Como um pai que mima os filhos, Jad conduz o grupo numa jam session dividida em 22 partes e se você gosta de ouvir o som como ele realmente pode ser, não pode deixar de ouvir esta pérola.

    Os textos só poderão ser reproduzidos com a autorização dos autores
© 1999

Fale conosco

Hosted by www.Geocities.ws

1