MOBY
Por Luciano Vianna e Valeria Rossi
London's Burning
Artista dos mais ecléticos, Moby sempre passeou com
muita propriedade em diversos estilos de música, como techno, ambient e até hardcore.
Com "Play", seu último álbum, o artista americano de 33 anos explora
sonoridades extraídas de antigos discos de gospel e blues, criando assim um dos melhores
e mais instigantes álbuns de música eletrônica do ano. O 1999 esteve conversando com
Moby no começo de julho em Londres.
1999 - Você era punk na adolescência e já fez discos de ambient, techno e hardcore. O
que te faz mudar tanto de um disco para o outro?
Moby - É simplesmente porque eu gosto de diferentes tipos de música. Eu não vejo a
razão de me limitar em apenas um específico gênero de música. Gosto de house music,
amo hip hop, música clássica, jazz, folk, quase tudo. Especialmente quando eu componho,
tenho tantos tipos diferentes de influências à minha disposição que isso acaba sendo
incorporado em meus próprios discos.
1999 - O que você gosta de ouvir em casa?
Moby - Quando estou em casa em New York eu ouço de tudo. Mesmo quando estou viajando eu
trago CDs comigo. Coisas como Crosby, Still, Nash & Young, Roxy Music, essas coisas
que eu cresci escutando. Em casa eu ouço principalmente hip hop, R&B, house e
música clássica, como Ravell ou Debussy.
1999 - O seu último álbum, "Play", traz muitas influências de gospel e de
blues. O que te fez caminhar para essa direção artística nesse disco?
Moby - Basicamente quando eu peguei os samplers do disco eu não pensava de onde
eles vinham, se eram da tradição gospel ou blues, mas sim se eles tinham as qualidades
artísticas que eu estava procurando para aquele tipo de música que estava fazendo.
1999 - Você ficou feliz com o resultado final do álbum?
Moby - Sim, acho que a resposta que eu tive foi excelente. Fiquei muito feliz e orgulhoso
com ele. Eu gosto de todos os discos que faço.
1999 - Você ouve seus discos antigos?
Moby - Sim, eu sempre ouço. Na minha casa eu sempre ouço mais meus discos do que de
qualquer outro artista. Não sei se isso é muito saudável, mas é o que faço. Eu amo
meus discos, fiz tantos tipos diferentes de discos, com tantos estilos que não tenho
nenhum problema em escutá-los sempre.
1999 - Quais são seus planos para o futuro?
Moby - No próximo ano, provavelmente em abril ou maio, eu vou lançar uma versão
remixada de "Play". Provavelmente será um disco duplo, com os b-sides em um
disco e os remixes em outro. Até lá eu estarei fazendo os shows da minha nova turnê.
Talvez no ano que vem, quando o disco de remixes estiver saindo eu faça uma turnê como
DJ.
1999 - Alguma chance de levar esse show para o Brasil?
Moby - Adoraria fazer isso. Eu estive no Brasil uma vez, em 1992 ou 93, numa turnê com
Altern 8 e Soul Slinger em São Paulo, Curitiba e Porto Alegre. Coincidentemente alguns
meses depois eu comecei a sair em New York com uma mulher brasileira chamada Alexandra,
que tinha um avô que foi um ex-ditador brasileiro, Getúlio Vargas.
1999 - O que você conhece de música brasileira?
Moby - Eu tenho até vergonha de dizer isso, mas sou muito leigo em matéria de música
brasileira. Eu conheço Sepultura, é claro. Eu adoro Sepultura. Conheço também coisas
antigas, como Os Mutantes, Astrud Gilberto, essas coisas que todo mundo conhece.
1999 - Tem algum gênero que você gostaria de explorar melhor em um próximo álbum?
Moby - Eu gostaria de trabalhar com música country no futuro. Minha mãe sempre saiu com
caras que tocavam em bandas country, então desde pequeno sempre fui muito exposto a este
tipo de música. Eu adoraria transportar essa influência para os meus próprios discos.
1999 - Você está no meio da turnê promocional de "Play", chegou ontem
do Japão e está com todo o seu tempo tomado entre shows e entrevistas atualmente. Mas e
fora disso, como é a sua rotina normal, diária em New
York?
Moby - Minha rotina diária desde março é falar de mim mesmo...
1999 - Isso te chateia?
Moby - Não, eu sou fascinado comigo mesmo. Gosto de entrar em contato com outras pessoas.
Eu não entendo porque alguns artistas não gostam de dar entrevistas, porque é uma das
partes mais divertidas, pois você fala dos seus discos, fala sobre você mesmo e a maior
parte dos jornalistas são pessoas agradáveis. Além disso, esse também é um modo
de expor o que eu faço para mais pessoas. Mas voltando a sua pergunta inicial, quando
estou em casa, meus dias são bem normais. Eu acordo cedo, porque não consigo dormir
tarde. Eu desejaria que pudesse fazer isso, mas não consigo dormir muito tarde. Todo dia
lá pelas seis, sete da manhã eu acordo e vou dar uma caminhada. Depois tomo café,
trabalho com música, almoço, trabalho com música novamente, janto, leio um livro, ligo
ou saio com amigos para dançar ou ir ao cinema e só. Uma rotina bem normal.
1999 - Você costuma sair muito para dançar?
Moby - Eu adoraria, mas New York é um lugar muito difícil para isso, porque não
existem bons clubs por lá.
1999 - Você tem algum DJ favorito?
Moby - Eu sou meu DJ preferido. Eu trabalho com música há 25 anos, eu realmente toco por
diversão e eu gosto de tocar o que eu realmente gostaria de ouvir. Eu toco mais coisas
que a maioria dos DJs teriam vergonha de tocar, como discos bem antigos, coisas que acho
que vão fazer as pessoas felizes na pista.
1999 - Você ganhou fama mundial com a música "Go", que tinha um sampler da
abertura do seriado Twim Peaks. Quando você criou "Go", alguma vez passou pela
sua cabeça que ela seria um dos maiores clássicos da música eletrônica?
Moby - Nunca imaginei que isso fosse acontecer. Em 1988, eu era DJ em New York e quando
comecei a fazer discos, eu lancei "Go" em um pequeno selo e vendeu apenas 400
singles. Depois é que a música começou a fazer sucesso. Eu nunca esperei nada, nunca
esperei fazer discos ou chegar no estágio que estou agora, para mim foi uma grande
surpresa tudo o que aconteceu.
1999 - Todos os encartes de seus discos sempre vêm com textos escritos por você em
que se discute desde anti-semitismo até problemas de economia mundial. Você tem muitas
respostas sobre isso?
Moby - Sempre tenho, principalmente quando estou tocando ao vivo. Depois dos shows sempre
chegam alguns fãs para comentar sobre os textos. Eu sei que tem muitos jornalistas
ingleses que não gostam da idéia de que um músico passe uma idéia política ou social
definida, eles não gostam que um música exponha sua criatividade em modos não
estereotipados de criação, acho que eles não esperam que um músico possa ser
socialista. Acho que minhas crenças ainda confundem muitas pessoas, mas realmente eu
tenho muitas respostas positivas sobre meus textos.
1999 - Como você obtém essas respostas, por e-mail, na rua, em shows?
Moby - Eu não passo meu e-mail particular para ninguém, porque uma vez divulgaram ele e
eu recebia uma média de 300 e-mails por dia, o que era inviável para ler e acabou
sobrecarregando meu antigo endereço. Eu encontro muitas pessoas nas turnês, autografando
em lojas de discos e depois de shows. Eu sei que tem muitos músicos que quando estão em
tour só o que fazem é ficar em hoteis, mas eu não sou assim. Eu preciso do contato de
novas pessoas sempre perto de mim.
1999 - Em alguns textos e entrevistas, você sempre cita o nome de Cristo. Como é a sua
relação com a religião?
Moby - Eu tenho 33 anos e pelo o que sei este planeta tem 5 bilhões de anos, o universo
15 bilhões de anos. Isso é maior do que qualquer coisa que eu imagine. Tudo é tão
grande, tão antigo que é até difícil para qualquer um
dizer alguma coisa realmente objetiva em relação a Deus. Eu gosto dos ensinamentos de
Cristo, gosto das idéias de compaixão e amor que ele pregava. Eu não vou a
igreja, não acredito nos dogmas do cristianismo. Não tenho nenhum problema com outras
religiões. No meu estranho ponto de vista, eu vejo Cristo como sendo um Deus, mas não
sei que Deus é esse, se isso faz algum sentido.
1999 - Há 10 anos atrás você não tinha idéia de que viraria um sucesso mundial.
E agora, o que você acha que vai acontecer na sua vida daqui a 10 anos?
Moby - Espero que as pessoas já estejam inteligentes o suficiente para me elegerem o
presidente do mundo (risos). Eu espero continuar fazendo discos, mas meu sonho para daqui
a 10 anos é ter uma grande casa em algum lugar do campo, casar com alguém que eu ame,
poder receber sempre amigos, ter um piano, um lago perto da casa e fazer minha própria
música, que é o modo que eu tenho de dividir meus conhecimentos com o mundo.
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