Num primeiro momento, no
lançamento do álbum, vocês disseram que não sairiam em turnê este ano. O que os fez
mudar de idéia? Foi pressão da gravadora porque as vendas do disco estão abaixo das
expectativas?
Não. O disco está vendendo bem, na realidade. Não tanto quanto "Out of Time",
mas não esse não é o parâmetro através do qual nós julgamos se um disco é bem
sucedido ou não. Um disco é bem sucedido se escrevemos boas canções e fizemos tudo o
que podíamos para faze-las soar bem no disco. Essa é a medida do sucesso. No que me diz
respeito, focar nas vendas e na mídia é uma ressaca deixada pelos anos 80 nos EUA. Sinto
muito que esse vírus em particular tenha afetado o resto do mundo, acho muito triste.
Respondendo à tua primeira pergunta, nós três sempre soubemos que queríamos tocar este
disco ao vivo, só não sabíamos como, e não podíamos sair na imprensa e dizer
"vamos fazer alguma coisa, mas não sabemos o quê".
A América do Sul está no mapa para esta turnê?
Estamos conversando isto neste exato momento. Eu quero muito, muito tocar na América do
Sul. É trabalhoso, porque nós não aceitamos nenhum tipo de patrocínio de marcas de
cigarro ou bebida e é muito difícil tocar naqueles países sem recorrer aos cigarros
Hollywood ou coisa que o valha. Mas eu conversei com os caras do U2 sobre isso e conversei
com várias outras pessoas que lidam com gerenciamento e estamos tentando chegar a um
denominador comum para levar o nosso show ao Brasil, entre outros países.
Vocês estiveram em São Paulo há alguns anos. O que
você se lembra da viagem?
Que a cidade é enorme. Honestamente, não fiquei tempo o suficiente por lá para formular
qualquer outro tipo de impressão. Me senti como num filme de ficção científica, porque
eu estava de passagem para outro lugar, passei cinco ou seis horas na cidade e me senti
como flutuando a vinte pés do chão o tempo todo. E aí eu fui embora para o Paraguai.
Nas tuas letras, você sempre fala sobre personagens,
gente comum. Quem te inspira? Onde é que você encontra essa gente?
Neste mundo é difícil não topar com outras pessoas. Eu sou um cara comum, como todo
mundo. Sou apenas um cantor, não vivo numa redoma. Eu viajo bastante por causa do meu
trabalho, talvez tanto quanto um corretor de seguros. Não tem diferença, a não ser que
o que eu faço é muito endeusado pela cultura em que a gente vive. Eu não sou um pop
star 24 horas. Eu faço o que faço, e depois sou um cara comum de novo.
Você declarou várias vezes que ressente o fato de a
imprensa se referir a você como uma pessoa enigmática, por achar que se trata de um
eufemismo para te rotular homossexual. Você anda mais predisposto a falar abertamente
sobre a tua sexualidade?
Já estive um pouco mais, mas a imprensa deturpa muito o que eu falo nessa área e esse
tipo de declaração tende a ofuscar o que eu tenho a dizer sobre a nossa música que,
afinal de contas, é o que interessa. Por isso tenho evitado de falar sobre isso.
Na tua opinião, como é a platéia ideal?
Tivemos uma experiência muito interessante em Portugal, há alguns dias atrás. Foi um
ótimo lugar para começar a turnê (pausa para mastigar uma rosquinha). O primeiro show
da turnê é sempre muito selvagem; ninguém sabe o que vai acontecer, só que vai ser
muito intenso. E foi um show muito louco. A platéia portuguesa é perfeita para isso
(risos). Eles estavam à flor da pele. Para mim, essa é a melhor platéia: a troca de
energia é imediata. Eles não questionam ou intelectualizam, apenas vivem a experiência.
Você é um cara escolado em turnê. Ainda gosta de sair
pelo mundo tocando?
Eu adoro viajar, e eu odeio viajar. Sair em turnê parece muito glamuroso, e tudo mais,
mas não é. Tem muita correria e muito tempo de espera. Tem momentos em que você tem que
correr sem parar e há outras horas em que o tempo todo se resume a esperar para que algo
aconteça, ou para que alguém chegue, ou para que o avião pouse. Isso não é muito
glamuroso, é terrivelmente entediante.
Como foi trabalhar na trilha sonora do filme "Man On
The Moon" (de Milos Forman, com Jim Carey e Courtney Love)?
Milos Forman me ligou, antes mesmo de começar a escolher o elenco, para saber se nós
estaríamos interessados em fazer a trilha sonora. Ele queria usar o título de nossa
música como título do filme e eu fiquei muito honrado. Eu pensei que, se Milos Forman
vai estar envolvido nisso, vale a pena participar. Passamos toda a primavera, há até uns
dez dias atrás, trabalhando na trilha e estou muito satisfeito com o que fizemos.
Você implicou um pouco com a escolha de Jim Carey para o
papel principal, não foi?
Eu não achava ... Bem, eu creio que este é um filme único, porque Andy Kaufman
(comediante americano sobre quem é baseado o filme), de quem eu sou um grande fã, não
é um assunto que rende muitos filmes. Por isso estava preocupado em que a escolha fosse
acertada. Eu achei que Jim Carey não fosse certo para o papel, mas eu estava errado. Ele
é sensacional e fez um trabalho maravilhoso. E olha que eu sou rigoroso com atores
(risos).
O que você tem escutado nos últimos tempos?
Eu gosto muito da Beta Band. Mas, para ser honesto, não estou muito na crista da onda
não. Tenho andado tão ocupado me preparando para a turnê que não tive tempo de me
concentrar para ouvir muita coisa nova. Normalmente coloco um som no qual não tenho que
me concentrar muito, como Carl Graig e Aphex Twin e deixo rolar.
Você tem lido alguma coisa interessante ultimamente?
Eu não leio. Quer dizer, estou lendo um roteiro no momento. Eu sou um leitor de revistas,
não leio livros.