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DO ROCK
FICÇÃO RESENHAS
 

R.E.M.
Por Luciano Vianna e Valeria Rossi
London's Burning

Quando lançaram "Up", os músicos do REM juraram que não iam sair em turnê para mostrar o disco novo. Alguns meses depois, o trio composto por Michael Stipe (voz), Peter Buck (guitarra) e Mike Mills (baixo) está na estrada e, surpresa, pela primeira vez o Brasil está concretamente nos planos da banda para o começo do ano que vem. Faltam apenas alguns detalhes para o REM ser escalado oficialmente para o Rock In Rio III. Os músicos juram que as fracas vendas de seu último trabalho nada têm a ver com a decisão de voltar a tocar ao vivo. Seja qual for o motivo, é o público que sai ganhando.
Michael Stipe conversou com o 1999 na manhã do segundo show londrino da turnê, em junho, alguns dias antes de encarar (com muito sucesso, diga-se de passagem) o palco principal do Glastonbury Festival. Tímido e esquisitão, como sempre, ele manteve um ritmo instável de conversa -- com longas pausas para pensar -- e deu respostas surpreendentes, como quando revelou que não gosta de ler livros, apenas revistas.

Como está sendo tocar ao vivo pela primeira vez para os fãs londrinos sem o Bill Berry (baterista que deixou a banda antes das gravações do último álbum, "Up")?

Legal. Já se passaram dois anos, sabe? A gente superou isso.

Neste último disco, por causa da ausência de Bill, vocês tiveram que usar bateria eletrônica em boa parte das músicas novas. Você acredita que este pode ser o primeiro flerte do REM com a música eletrônica?

Com exceção de "Radio for Europe", que foi o nosso primeiro single em 1991, usamos bateria eletrônica em todos os discos que fizemos. A diferença neste disco é que, sem um grande baterista no estúdio e pelo fato de que Peter (Buck, guitarrista) não estava querendo tocar muita guitarra, os recursos eletrônicos aparecem mais coloridos. Para nós, a mudança de direção não foi muito radical. Reconheço que o álbum soa muito diferente, mas isso se deve à maneira como foi mixado. No entanto, não sei se vamos nos mover mais para o lado da música eletrônica. Escrevemos o álbum quando Bill ainda estava na banda, e as baterias eletrônicas já estavam previstas.

Num primeiro momento, no lançamento do álbum, vocês disseram que não sairiam em turnê este ano. O que os fez mudar de idéia? Foi pressão da gravadora porque as vendas do disco estão abaixo das expectativas?
Não. O disco está vendendo bem, na realidade. Não tanto quanto "Out of Time", mas não esse não é o parâmetro através do qual nós julgamos se um disco é bem sucedido ou não. Um disco é bem sucedido se escrevemos boas canções e fizemos tudo o que podíamos para faze-las soar bem no disco. Essa é a medida do sucesso. No que me diz respeito, focar nas vendas e na mídia é uma ressaca deixada pelos anos 80 nos EUA. Sinto muito que esse vírus em particular tenha afetado o resto do mundo, acho muito triste. Respondendo à tua primeira pergunta, nós três sempre soubemos que queríamos tocar este disco ao vivo, só não sabíamos como, e não podíamos sair na imprensa e dizer "vamos fazer alguma coisa, mas não sabemos o quê".

A América do Sul está no mapa para esta turnê?
Estamos conversando isto neste exato momento. Eu quero muito, muito tocar na América do Sul. É trabalhoso, porque nós não aceitamos nenhum tipo de patrocínio de marcas de cigarro ou bebida e é muito difícil tocar naqueles países sem recorrer aos cigarros Hollywood ou coisa que o valha. Mas eu conversei com os caras do U2 sobre isso e conversei com várias outras pessoas que lidam com gerenciamento e estamos tentando chegar a um denominador comum para levar o nosso show ao Brasil, entre outros países.

Vocês estiveram em São Paulo há alguns anos. O que você se lembra da viagem?
Que a cidade é enorme. Honestamente, não fiquei tempo o suficiente por lá para formular qualquer outro tipo de impressão. Me senti como num filme de ficção científica, porque eu estava de passagem para outro lugar, passei cinco ou seis horas na cidade e me senti como flutuando a vinte pés do chão o tempo todo. E aí eu fui embora para o Paraguai.

Nas tuas letras, você sempre fala sobre personagens, gente comum. Quem te inspira? Onde é que você encontra essa gente?
Neste mundo é difícil não topar com outras pessoas. Eu sou um cara comum, como todo mundo. Sou apenas um cantor, não vivo numa redoma. Eu viajo bastante por causa do meu trabalho, talvez tanto quanto um corretor de seguros. Não tem diferença, a não ser que o que eu faço é muito endeusado pela cultura em que a gente vive. Eu não sou um pop star 24 horas. Eu faço o que faço, e depois sou um cara comum de novo.

Você declarou várias vezes que ressente o fato de a imprensa se referir a você como uma pessoa enigmática, por achar que se trata de um eufemismo para te rotular homossexual. Você anda mais predisposto a falar abertamente sobre a tua sexualidade?
Já estive um pouco mais, mas a imprensa deturpa muito o que eu falo nessa área e esse tipo de declaração tende a ofuscar o que eu tenho a dizer sobre a nossa música que, afinal de contas, é o que interessa. Por isso tenho evitado de falar sobre isso.

Na tua opinião, como é a platéia ideal?
Tivemos uma experiência muito interessante em Portugal, há alguns dias atrás. Foi um ótimo lugar para começar a turnê (pausa para mastigar uma rosquinha). O primeiro show da turnê é sempre muito selvagem; ninguém sabe o que vai acontecer, só que vai ser muito intenso. E foi um show muito louco. A platéia portuguesa é perfeita para isso (risos). Eles estavam à flor da pele. Para mim, essa é a melhor platéia: a troca de energia é imediata. Eles não questionam ou intelectualizam, apenas vivem a experiência.

Você é um cara escolado em turnê. Ainda gosta de sair pelo mundo tocando?
Eu adoro viajar, e eu odeio viajar. Sair em turnê parece muito glamuroso, e tudo mais, mas não é. Tem muita correria e muito tempo de espera. Tem momentos em que você tem que correr sem parar e há outras horas em que o tempo todo se resume a esperar para que algo aconteça, ou para que alguém chegue, ou para que o avião pouse. Isso não é muito glamuroso, é terrivelmente entediante.

Como foi trabalhar na trilha sonora do filme "Man On The Moon" (de Milos Forman, com Jim Carey e Courtney Love)?
Milos Forman me ligou, antes mesmo de começar a escolher o elenco, para saber se nós estaríamos interessados em fazer a trilha sonora. Ele queria usar o título de nossa música como título do filme e eu fiquei muito honrado. Eu pensei que, se Milos Forman vai estar envolvido nisso, vale a pena participar. Passamos toda a primavera, há até uns dez dias atrás, trabalhando na trilha e estou muito satisfeito com o que fizemos.

Você implicou um pouco com a escolha de Jim Carey para o papel principal, não foi?
Eu não achava ... Bem, eu creio que este é um filme único, porque Andy Kaufman (comediante americano sobre quem é baseado o filme), de quem eu sou um grande fã, não é um assunto que rende muitos filmes. Por isso estava preocupado em que a escolha fosse acertada. Eu achei que Jim Carey não fosse certo para o papel, mas eu estava errado. Ele é sensacional e fez um trabalho maravilhoso. E olha que eu sou rigoroso com atores (risos).

O que você tem escutado nos últimos tempos?
Eu gosto muito da Beta Band. Mas, para ser honesto, não estou muito na crista da onda não. Tenho andado tão ocupado me preparando para a turnê que não tive tempo de me concentrar para ouvir muita coisa nova. Normalmente coloco um som no qual não tenho que me concentrar muito, como Carl Graig e Aphex Twin e deixo rolar.

Você tem lido alguma coisa interessante ultimamente?
Eu não leio. Quer dizer, estou lendo um roteiro no momento. Eu sou um leitor de revistas, não leio livros.

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