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clonedt
Por Abonico Smith

Saber construir uma obra de arte - seja ela escultura, filme, livro, quadro, HQ, desenho animado ou uma simples canção pop - é uma arte. Exige técnica, domínio da linguagem, criatividade, personalidade, às vezes ousadia e sobretudo muita paciência. Tudo isto leva à figura do artista um glamour que nem sempre todos conseguem obter.

Muitos ficam pelo meio do caminho sem conquistar sequer uma pequena parte do brilho tão sonhado. Até aí, ponto pacífico. O que poucos têm consciência, inclusive a grande maioria destes mesmos contemplados com o dom divino da inspiração, é que muito mais difícil que construir é destruir. Acabar com o que já foi produzido para das ruínas reerguer uma nova estrutura artística não é para qualquer um. A tarefa é hercúlea e requer precisão cirúrgica de objetivos - afinal, o resultado pode sair um Frankenstein escabroso. Search and destroy, já dizia o protopunk Iggy Pop no começo dos anos 70. Paulo de Tarso, veterana figurinha carimbada da cena musical curitibana e incorrigível apaixonado por tecnologia e informática, prefere a segunda opção.

À frente de seu projeto eletrônico, a banda-de-um-homem-só clonedt (a nova grafia pede as sete letras minúsculas e juntou tudo em um nome só), ele acaba de lançar seu segundo álbum, 7777777, pelo selo americano DSBP (Decomposed Skunk Bud Production), especializado em sons eletrônicos mais underground e nem tão convencionais assim.

Ao contrário do trabalho anterior, gravado há quatro anos, Paulo radicalizou quanto à concepção de estrutura musical. Passou a trabalhar apenas com fragmentos díspares de sons e batidas não menos díspares. Decompõe a música para criar uma inteiramente nova, colando e costurando tudo a seu modo. E engana-se quem acha que suas composições não seguem uma lógica. Para ele, esta lógica é a emoção momentânea. "É bem difícil expor isto com palavras. Cada faixa mostra o que eu quero passar em termos de textura sonora e sentimento. Não há início, meio e fim ou refrões, mas sim algo sensorial", explica o tecladista e produtor. O critério de Paulo para suas colagens é exatamente não ter critérios.

Basta apenas pegar a linha principal que servirá de fio condutor para cada faixa. A inspiração para compor uma única música pode vir tanto em rápidas quatro horas ou durar duas semanas. Também não há muitos critérios na pesquisa de samples. Os créditos de 7777777 incluem uma lista inacreditável que une Mamonas Assassinas a Helmet, Ramones a Ary Toledo, Astor Piazzolla a Betty Boo, Stray Cats a obscuros projetos eletrônicos, Doors a Castelo Rá-Tim-Bum e outras bandas curitibanas como Woyzeck, Mecanotremata e Equipe Espacial (as duas últimas com excelentes músicas inéditas retrabalhadas pelo músico). Tudo isto mais enxertos de peças teatrais e programação radiofônica (anúncios de AM, comentários esportivos e o misterioso locutor Jack Shadow, âncora do Todos os Caminhos do Rock). "Faço tudo de modo meio aleatório. Chego a samplear determinadas coisas sem saber no que vai dar, apenas pela escolha do shuffle no CD player.

Só que depois eu vou transformando e lapidando tudo, até obter a forma necessária para o trecho se encaixar na proposta das músicas." (Assim como o banco de samples, Paulo trata seus vocais. "Não dou tanta importância assim à minha voz. Não acho que tenho uma voz excepcional, a ponto dela merecer ser destacada do resto. Quero apenas que ela apareça como uma simples textura, com o acréscimo de ruídos e distorções.) E Paulo faz tudo isso de maneira bem lo-fi, monitorado por um computador XT de apenas 64K de memória e disco de 20Mb (o XT nasceu junto com muitos dos leitores do FUN, foi um dos primeiros PC a surgir na década passada. Em relação às máquinas de hoje em dia, tem o mesmo significado que o telejogo para os videogames de hoje). Garante, porém, que não há qualquer envolvimento sentimental. "É um misto de preguiça com o domínio do universo hardware. Foi o primeiro computador que adquiri. Depois cresci muito em matéria de instrumentos, mas mantenho tudo coordenado pelo XT. Ele é limitado mas me permite fazer o que quero. Como este disco, por exemplo. Faço quase tudo com ele, em casa, e só ponho um ou outro detalhe de efeitos e vozes no estúdio."

Cheio dos conceitos artísticos, inclusive o de se recusar a fazer shows, o clonedt não perde tempo em desfazer qualquer curiosidade a respeito do principal deles, o lançamento de um disco com sete faixas, todas elas chamadas "7" e com sete minutos de duração - antes de começar as músicas, o álbum traz ainda 70 pequenas faixas com sete segundos de silêncio cada. "Não há qualquer relação com numerologia ou simbologia mística. Como muitas de minhas idéias, esta surgiu de forma aleatória. Acho sete minutos um tempo considerável para ouvir uma música. Se fizesse seis faixas de seis minutos, iria ficar um disco curto. Com oito de oito, muito cansativo. E o sete ainda aparece em outros temas. Há os sete anões, as sete notas musicais, as sete cores do arco-íris". E o lançamento mundial do disco ainda aconteceu no dia 7 do sétimo mês...


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