Junto com o Prodigy e os Chemical Brothers, o Underworld
forma a tríade mais conhecida da música eletrônica em todo o mundo. Depois de um hiato
de três longos anos e muita espera por parte dos fãs, a banda acaba de lançar seu
terceiro disco, Beacoup Fish (pelas gravadoras JBO na Inglaterra, V2 nos Estados Unidos e
Roadrunner no Brasil). Este é o primeiro álbum do grupo depois do sucesso de "Born
Slippy", a música que comandou a invasão eletrônica nas paradas mundiais (foi o
single de música eletrônica mais vendido de todos os tempos, mais até que "The
Rockafeller Skank", de Fatboy Slim) e ainda fez parte da cultuada trilha sonora do
cultuado filme Trainspotting.
Formado por Darren Emerson (programação, DJ e teclados), Karl Hyde (vocais) e Rick
Smith (programação), o Underworld optou por fugir do risco de criar uma "Born
Slippy 2 - A Missão". Fez um álbum que, apesar de trazer algumas músicas mais
comerciais, também mostra bem as origens do grupo ao misturar faixas pegajosas com
algumas outras bem estranhas aos ouvidos menos acostumados à música eletrônica. Tudo
azeitado na medida certa para agradar a gregos e troianos.
Por isso mesmo não é difícil de prever que Beaucoup Fish estará em todas as listas
dos melhores álbuns do ano e provavelmente aumentará ainda mais a fama do grupo em todo
o mundo. Em uma típica manhã inglesa de primavera (isto é, um tanto fria) o 1999
conversou com Darren Emerson. Ele contou, entre outras coisas, como foram as
gravações do novo disco. Falou ainda sobre suas impressões do Brasil e revelou os
planos para o futuro do grupo.
Vocês esperavam o sucesso mundial do segundo disco da banda, Second Toughest
In The Infants?
Darren Emerson: O sucesso eu, pelo menos, esperava. O que me surpreendeu foi o disco ter
vendido tão bem em outros países. Ainda nos espanta que pessoas em outros lugares, dos
quais conhecemos muito pouco da cultura, tenham vontade de comprar a nossa música.
O sucesso mudou a sua vida?
Nada mudou muito, na verdade, porque nós já trabalhávamos como DJs e compondo música
antes de fazer sucesso. Então não chegou a ser uma grande mudança de rumo. Algumas
pessoas, quando alcançam o sucesso, podem se demitir de seus empregos chatos, este tipo
de coisa. Para mim o sucesso foi uma continuação do que eu já vinha fazendo. Só que
agora posso comer em restaurantes caros e comprar roupas legais. Acho que é a única
diferença.
Como foram as gravações de Beaucoup Fish?
Foi legal, sabe? Não foram tão longas quanto todo mundo diz por aí. Tem gente dizendo
que levamos três anos para gravar este terceiro álbum, mas elas esquecem que, depois de
lançar Second Toughest..., ficamos um ano inteiro divulgando o disco pelo mundo. Depois
tiramos férias e fomos direto para o estúdio. Por isso o longo período. Mas foi um
trabalho legal de fazer.
Durante as gravações, vocês sentiram a pressão de repetir o sucesso de
músicas como "Born Slippy"?
Não posso dizer que nunca pensei nisso. Na verdade a gente se preocupa em manter o
nível. Por outro lado, a cena cresceu muito, o que significa que tem mais público
também nos últimos três anos. Isto explica a necessidade de ser sempre melhor.
Por que chamar o álbum com uma palavra em francês e outra em inglês?
Rick foi pescar com uns amigos em Louisiana, nos Estados Unidos. Como todos sabem, lá
houve colonização francesa e muita gente ainda mistura os dois idiomas. Enfim, Rick
gravou a conversa toda e, no meio do papo, tinha coisas do tipo: "pegou beaucoup
(muito, em francês) fish (peixe, em inglês)?". Daí surgiu o título. Os outros
dois álbuns tinham títulos grandes e neste disco resolvemos manter as coisas de modo
mais simples.
Você sente que houve uma evolução no som do Underworld nestes três discos?
De certa forma, sim. Mas é uma evolução do lado mais pessoal. Quer dizer, você passa a
conhecer quem é quem na cena, já sabe com quem você se dá melhor para produzir, para
trabalhar de uma forma geral e não comete os mesmos erros do passado. Isto se reflete na
música também. Acho que o nosso som mudou, mas não radicalmente. A nossa identidade
continua intacta.
Como você define o som do Underworld?
Simplesmente como Underworld. Eu acho que o nosso estilo não é compartilhado por
ninguém mais, sabe? E também acho que a gente não se encaixa em nenhum gênero
específico, em nenhum nicho. Muita gente nos odeia por isso... (risos) Para mim, todos os
que realmente gostam de dance music gostam da gente.
Dos três grandes ícones da música eletrônica mundial (Chemical Brothers,
Prodigy e Underworld) os dois primeiros já tocaram no Brasil. O que falta para vocês
passarem por lá?
A gente não recebeu nenhum convite. Os Chemical Brothers me disseram que vão tocar em
boates. Para a gente não pode ser assim. Precisamos de um palco e todo um sistemão de
som [a entrevista foi feita semanas antes do show dos irmãos químicos no Brasil]. Não
sei se tem isso por lá. Eu estive tocando no Brasil, no Rio e São Paulo, há cerca de
cinco anos. As casas onde toquei eram muito diferentes das daqui. Todo mundo arrumadinho,
um público mais velho. Fui na Argentina também e foi bem parecido também. Mas foi tudo
muito divertido, muito provavelmente o motivo pelo qual não lembro muito da minha
visita... (risos)
Hoje em dia o Brasil já tem várias casas que poderiam facilmente receber um
show como o Underworld...
Será que no Brasil existe gente que quer ver um show nosso? Acho que os nossos álbuns
nem foram lançados por lá... Na época que estive por lá percebi que a cena heavy metal
era bem grande. O que não é muito a nossa praia.
Second Toughest... foi lançado e vendeu razoavelmente bem. Beacoup Fish está
saindo agora. Além disso vocês são muito conhecidos por quem gosta de música
eletrônica no Brasil. Talvez vocês possam começar a considerar a possibilidade. Você
conhece alguma coisa de música brasileira?
Pouco. Apenas a batida do samba, estas coisas que todo mundo conhece na Europa.
Qual é a sua música preferida do álbum novo?
A minha preferida é "Cups". Parece uma música antiga. Era a nossa intenção
fazer algo assim com o nosso estilo.
Quais são os planos do Underworld para este ano?
A gente acabou de voltar do Japão. Estivemos ainda na Austrália e fizemos shows pela
Europa. Vamos participar do festival Homelands, acho que vai ser muito divertido. Depois
nos apresentamos no Glastonbury e então voltamos para o Japão. Estivemos lá várias
vezes. Os japoneses adoram o nosso som. É o lugar onde vendemos mais discos.
Como você vê o futuro do Underworld?
Sinto que a gente ainda vai estar por aí. A gente também nunca pensou nada a curto
prazo...