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PLEBE RUDE
Por Marcus Marçal

Mais uma vez os anos 80 são revisitados no Ballroom. Graças aos empreendimentos do organizador Wagner Filho, pudemos ver outra figura emblemática dos 80 de volta aos palcos. Trata-se do ex-Plebe Rude Jander "Ameba". Ele lembrou algumas de suas canções com a Plebe, além de outras cositas, apoiado pela banda "Atrito" – que conta com seu irmão mais novo na bateria. Foi após esse show, que eu bati um papo com Jander e Gutje – ex-Plebeus. Foi uma conversa super descontraída, onde eu pude perfeitamente constatar a empatia entre dois amigos que não se viam há bastante tempo. Resta-nos torcer que os imbróglios que os levaram a sair da Plebe Rude sejam um dia superados para que possamos rever uma das melhores bandas do rock Brasil dos anos 80. Tomara que Philippe Seabra e André Muller leiam a entrevista e resolvam se encontrar para relembrarem bons momentos e quem sabe – levar um som.

Como era ser adolescente em Brasília nos anos 70? Queria que vocês falassem de possíveis tretas com a polícia e tal...
Gutje - Em Brasília rolava o seguinte com a polícia. A gente saía pra se divertir, naquela época a gente não fazia drogas, então geralmente a polícia parava a gente e nos mandavam fazer flexões de braço. Eles mandavam a gente fazer exercícios físicos. Eles achavam que não podiam prender a gente porque pensavam que a gente era tudo filho de político etc. Eles só nos obrigavam a fazer exercícios e por causa disso a gente ficou saradão. A gente tava cheio de gás por causa da Benzina e nós fazíamos mais flexões do que os próprios policiais conseguiam. Eles ficavam putos. E eu me lembro de uma cena em que estava o Renato Russo – e você sabe que ele era perneta que nem o Roberto Carlos (querendo me zoar). Ele não conseguia fazer flexão de jeito nenhum porque uma perna falhava, ele era sempre o último a acabar a flexões (rindo). Nossa infância era essa: Fazer flexão pra PM (rindo).

No início, vocês chegaram a participar de alguma banda que não fosse a Plebe?
Gutje - Claro, eu toquei na Blitz 64. Se eu não me engano, o Ameba tocava numa outra banda. A Blitz 64 era formada por mim, Lorinho (Capital Inicial) na guitarra e o Geruza no baixo – o irmão do Loro. Mas aí eu saí da banda porque o Lorinho e o Geruza viviam brigando por causa da capa da guitarra ou do baixo – eles só tinham uma capa pros dois. Então ou o baixo ficava no sol ou a guitarra ficava no sol.
Ameba - A capa acabou ficando com a guitarra que o Geraldo fez pra mim e eu estou com ela até hoje.

(Para Ameba) No início, você teve alguma banda que não fosse a Plebe?
Ameba - Não. Durante a Plebe eu comecei a tocar guitarra com Bambinos Marginais – porque eu não tocava guitarra na Plebe nos primeiros anos. Eu só fazia o vocal e fui aprendendo aos poucos. Então, eu toquei um pouco de guitarra com os "Bambinos Marginais" e quando a gente veio pro Rio, eu comecei a tocar com os Dents Kents, que era eu, o Negrete (Legião), o Feijão e o Fred. O Fred era roadie da Plebe.

Eu vejo os "Dents Kents" um pouco como uma lenda, já que todo mundo ouviu falar mas ninguém ou pouca gente viu. Me fale mais sobre a banda.
Ameba - Os Dents Kents era mais uma utopia. A gente só se encontrava uma vez por ano.

Vocês só tocavam covers dos Dead Kennedys?
Ameba - Não, a gente tocava material próprio. Tinha alguma coisa dos Dead Kennedys, mas eram músicas nossas.
Gutje - Por falar nisso, hoje eu encontrei o Fred e o canalha não veio pro show.
Ameba - É porque ele trabalha muito. Ele é da Globo.

Rola muito esse papo de Turma da Colina. Isso era realmente uma turma de amigos que depois formaram bandas – amigos do tipo de emprestar equipamento etc.
Ameba - Com certeza. Era mais uma turma de filhos de professores que moravam na UnB. O Gutje, o André, o Fê, o Flávio... o Loro e o Geraldo também moraram lá um tempo. Aí depois também chegaram os filhos de diplomatas: o Dinho, o Dado e eles passaram a se encontrar com a turma.
Gutje - É, o pessoal lá da Asa Sul. Os boiolas (rindo).
Ameba - E eles começaram a aparecer na turma da colina e o grupo foi se juntando.

Na época do grunge, vocês viram algum paralelo entre a cena de Brasília e a cena de Seattle? Aquela coisa do "já vivi esse filme antes".
Gutje - Acho que não, porque quando as bandas de Seattle estouraram, a cena já existia há algum tempo naquela cidade. Em Brasília, quando a gente começou, nós não tínhamos a menor pretensão – isso é que era legal. Lá não existia nada e com a gente era uma coisa: "Ah, vamos tocar na esquina. Vamos nos divertir". Então a diferença entre as bandas de Brasília e as de Seattle é que lá fora já existia todo um movimento, as bandas começaram a estourar. O lance de Seattle tinha uma coisa muito forte de gravadora, entendeu? Essa coisa do cenário eu acho que era uma coisa de mídia, de gravadora – esse lance de projetar um lugar. Mas a coisa de Brasília era diferente. Não existia pretensão e por uma grande felicidade surgiram "as bandas de Brasília" e isso mitificou porque neguinho era bom mesmo. A coisa aconteceu e isso abriu espaço.
Ameba - A intenção da turma era essencialmente punk, bicho. Era pra protestar, a gente nem pensava em tocar. A gente nem se preocupava em aprender um acorde, era uma coisa mais de revolta. E eu vejo que hoje em dia a coisa só piora, a geração nova tá aí "lá lá lá, lé lé lé...." e não acontece nada. E isso, com certeza, foi uma das coisas que mais me motivaram a fazer esse show (rindo). É impossível, o Brasil cada vez é mais caos, mais roubalheira... Cada furunculozinho que você mexe é um câncer e ninguém faz nada?
Gutje - É, por incrível que pareça, a Plebe ainda é atual. Isso é um absurdo, não mudou porra nenhuma (risos).
Ameba - Eu ia falar isso no show, mas eu até esqueci. A gente começou em 81, em 91 eu saí, ano que vem já é ano 2000 e no outro ano já vai ser 2001 e a Plebe vai fazer estar fazendo 20 anos. E, nesse show que eu fiz hoje, talvez só em duas músicas eu me sinta um pouco barbado demais pra cantar. Mas ainda é atual, bicho.
Gutje - Ele se acha barbado demais, mas eu não me acho, não (rindo).

Na primeira música que vocês tocaram, "Plebiscito", sabe o que esse cara fez? Ele teve que ir lá no bar pegar um uísque, senão o coração dele não ia agüentar (risos).
Ameba - É cara, "Nunca Fomos tão Brasileiros" também foi o bicho.
Gutje - Concordo. Também o moleque (irmão de Ameba) tá batendo pra caralho (rindo).
Ameba - Tocando com um baquetão de 5 polegadas. Não como ele ainda consegue quebrar baqueta (rindo).

Essa pergunta devia ser pro André, mas...
Gutje - Não tem problema. A gente responde pelo André.
Ameba - O Gutje sempre rachou o cachê do André. Então ele tem direito a responder.
Gutje - É verdade, as mesmas meninas... tudo.

A Fernandinha Abreu também tá nessa?
Gutje - Não, isso é coisa de jornal. Fernandinha Abreu nunca rolou.

É por que teve um cara do Hellradio que zoou um lance desse.
Gutje - É porque foi o Tom Leão que comeu ela, no final das contas (rindo). Não foi (rindo pro Ameba)?
Ameba - Não sei. Não me comprometa.

Agora falando sério, sobre o lance da formação do "Aborto Elétrico" rolou um papo de que o André havia sido cogitado pra tocar o baixo, só que o Renato Russo se antecipou. Isso foi até publicado. É verdade?
Gutje - Não, cara. O Aborto Elétrico era o André Pretorius, o Renato Russo e o Fê Lemos na bateria.

Eu sei. Mas eu estou me referindo aos primórdios da banda.
Gutje - Porra, então se rolou, eu não sabia disso. Eu acho que não tem nada a ver.

Rolava algum tipo de competição entre as bandas, em Brasília?
Gutje - Rolava sim. Os caras do Capital Inicial eram uns babacas. A gente detestava o Capital Inicial, os caras não sabiam tocar porra nenhuma. A gente sempre soube disso. Não é, Ameba (rindo)?
Ameba - O que?
Gutje - Os caras não sabiam tocar nada, o pessoal do Capital Inicial – é ou não é? A gente ia pra casa do Fê, pra pilhar o ensaio deles. Eu ia lá e invadia a bateria do Fê, o Ameba pegava a guitarra do Renato Russo.
Ameba - Na verdade, eu acho que a Plebe foi responsável pelo crescimento da qualidade da música feita em Brasília nos anos 80. Porque começava o show do Renato Russo e a gente começava a encher o saco e pedia Emilinha Borba, Waldick Soriano. A gente enchia o saco pra ver se neguinho aprendia a fazer direito.
Gutje - Rolava uma rivalidade, mas eu vou te falar uma coisa: Tem um filme da Plebe que nunca foi exibido. O filme é a história da Plebe – "A Ascenção e Queda de Quatro Roadies Plebeus" – e ao longo do filme, o que acontece? Uma banda de Brasília rouba a gente. Eu acho que isso até demonstrava uma certa rivalidade. A banda era a "Escola de Escândalo". O Bernardo foi lá e roubou a gente. Mas era uma rivalidade legal, do tipo: "Ih, o Capital Inicial vai fazer show lá não sei aonde. Vamos tocar também". Sabe, a gente queria evoluir. Eu via o Fê tocando bateria e isso me incentivava. E isso era uma coisa legal. Era uma rivalidade hiper saudável.
Ameba - O movimento punk em Brasília, pelo menos enquanto a gente morou lá, sempre foi uma coisa supersaudável.
Gutje - Nunca rolou da gente passar no ponto de ônibus e tacar fogo em índio?
Ameba - Ou daquelas tretas que rolavam em São Paulo. Lembra a primeira vez que a gente foi tocar em São Paulo? A porradaria tava rolando e a gente no camarim – aquela porra pegando fogo no Napalm. Era o fechamento do Napalm. As paredes tremiam porque o camarim era de madeira e embaixo do palco. As paredes tremiam e a gente: "Que porra é essa? Ih, os caras daqui são punks mesmo" (risos gerais). Não que a gente não fosse, mas é porque em Brasília não rolava essas violências. Na mesma festa tocava Dead Kennedys, tocava B-52’s, tocava Duran Duran...
Gutje - Rolava até Bee Gees (rindo).
Ameba - Às vezes, a gente enchia o saco e ia lá desligar o disjuntor. E quando neguinho ligava de novo, já tinha outra fita no deck.
Gutje - Cara, Brasília era muito legal. Era uma nave espacial.

Uma vez eu falei com o Tom Leão e ele lembrou que o André falava com ele sobre um do Renato Russo em que ele criou um herói fictício - um roqueiro que se matava – e que na verdade ele acabou meio que imitando aquela história na vida real. Vocês lembram se rolava essa história mesmo?
Gutje - Não, eu não lembro. (pro Ameba) Você se lembra do Renato imitando herói de história em quadrinhos?
Ameba - Essas coisas realmente aconteciam, mas era só na cabeça dele.
Gutje - Não tem nada a ver. A André adora falar merda (rindo). O Renato era o Renato. Ele era muito inteligente, não imitou porra nenhuma.

Há um tempo atrás rolou um papo de uma turnê conjunta da Plebe, Finis Africae e o Capital Inicial. Esse papo era verdade?
Gutje - Eu sei, mas o Ameba falou aí no jornal que não quer fazer revival porra nenhuma.
Ameba - A culpa não é minha, não.
Gutje - Eu também não quero fazer porra nenhuma. Eu não quero nada. O Ameba só tá tocando Plebe Rude por causa do dinheiro, entendeu?
Ameba - Rola o presidente do Banco Central nessa história. Sempre tem alguém com o rabo preso.

Eu quase te cuspi ali no palco. Ainda mais quando você tocou "Segunda-Feira Feriado". Eu pensei: "Pô, o cara é um vendido. Ele é um traidor" (rindo).
Ameba - Eu vi você pedindo essa música lá na platéia.
Gutje - Exatamente. Ele é um vendido. Ele me falou que o negócio dele é tocar viola de dez cordas. Cadê a viola, cumpadi? Aquilo lá não era uma Charvell (nota: Charvell é uma marca de guitarra)?
Ameba - Agora só com dez cordas.

Então não rolaria porque a essência dessas bandas não teria ficado nos anos 80?
Ameba - Hoje em dia pra você fazer um show tem que ter uma produção legal. E pra uma banda que tá ativa, isso já é um puta trabalho. Agora imagina você juntar pessoas que estão morando em lugares diferentes, fazendo atividades diferentes. Então, tem que ter alguém pra se empenhar nisso. E não sou eu, ou o Gutje, ou o Philippe e nem o André.
Gutje - Todo mundo tá afim de tocar, mas ninguém agita nada. Agita aí você, cara (falando com Wagner Filho – nota do entrevistador: o cara que está por trás desses shows com bandas dos anos 80, que rolaram no Ballroom, na Fundição. Se você é feliz pela oportunidade de ver algumas dessas bandas ao vivo, agradeça a ele)! Faz alguma porra!
Ameba - É isso aí. O Wagner me convidou, eu tinha uma banda pra me apoiar, o local oferecia boas condições... Eu fiz o show. A mesma coisa pode acontecer com a Plebe Rude, com o Finis Africae ou com o Capital.

Caso vocês voltem a fazer shows com a Plebe, vocês acham que a platéia seria formada basicamente pela galera da antiga ou pela molecada mais nova?
Gutje - Acho que seria uma mistura.
Ameba - É igual ao show do Kiss.

O que vocês acham do lance do Fê Lemos, que há pouco tempo queria gravar o material do Aborto Elétrico. Teve gente que achou isso uma atitude oportunista porque nunca rolou esse papo enquanto o Renato Russo estava vivo. (Nota: O lance não rolou porque o espólio do Renato Russo pertence ao Juliano, o filho do cantor. Ele só poderá tomar alguma decisão quando alcançar a maioridade.)
Gutje - Cara, o Fê sempre foi o maior mão dura (rindo). Ele tava afim de gravar material do Aborto? (rindo)
Ameba - Eu acho isso ótimo. Eu mesmo estou afim de fazer um trabalho assim, que seria tipo um trabalho "B". Eu queria tocar material de bandas como os Vigaristas de Istambul, XXX, Bambinos Marginais, Elite Sofisticada, Blitz 64, Aborto Elétrico, Plebe Rude etc. São músicas que ninguém ouviu porque nunca foram gravadas, elas só foram tocadas na época, em Brasília.
Gutje - A gente vai até patentear isso, senão... (risos).
Ameba - Tem que fazer mesmo. Tem muita música.
Gutje - Artista é tudo maluco.

Senão alguém acaba fazendo isso antes de vocês.
Gutje - Por isso eu é que eu estou falando. Tem que patentear.

O Herbert Viana fez a produção dos dois primeiros discos de vocês. Ele foi realmente um produtor executivo ou ele tava lá só pra liberarem o estúdio pra vocês fazerem o quiserem, numa boa?
Gutje - Não, o Herbert foi fundamental pra Plebe Rude. Imagina! Quando a gente foi gravar, o Herbert era o cara que tinha toda a sacação de você estar dentro de um estúdio, da organização. Entendeu? Junto com a própria equipe – o Renato Luiz, que gravou a gente, o Jorge Soltey, a equipe toda. O Herbert foi fundamental. Ele já estava presente naquele cenário, já tinha passado por aquele estúdio 1 da EMI-Odeon. Então as máquinas, aquela estrutura – ele apresentou aquilo pra gente. E foi bom porque ele tinha uma cabeça ótima e soube traduzir muito bom o nosso som pros discos.

E com relação ao lançamento do material de vocês em CD, dos três primeiros discos numa caixa. Vocês participaram do lance?
Gutje - Não. Eu mesmo só comprei dois, só que me roubaram um deles.

Sério. Eu nunca vi, eu falei com você que eu só encontrei aquela coletânea de vocês lançada pela Copacabana. E como ficou aquele lance do "The Clash City Rockers"?
Gutje - É, o Ameba não participou. Eu só descobri isso hoje, quando perguntaram pra ele. Fiquei puto porque isso foi a melhor coisa alternativa que a Plebe fez. Pô, cara: "Eu tocando The Clash". O que eu poderia querer mais? Só se fosse tocando The Clash com dinheiro no bolso, meu amigo. Com a geladeira cheia, com o aluguel pago. Pô, brincando, me divertindo no palco. Eu tocaria The Clash a vida inteira.

O título do 2º disco "Nunca fomos tão brasileiros" era uma ironia? Rolou alguma decepção com o fato do Steve Severin do Siouxsie ter declarado que a Plebe era cópia, quando vocês abriram os shows deles no Brasil? O direcionamento musical do 3º disco teve a ver com essa cobrança?
Ameba - Não. A gente jamais se sentiu cobrado por nada, a gente sempre fez o que quis. Com relação à mudança no som, eu vou te dizer o que rolou: Quando a gente gravou o 1º disco, foram só sete músicas. No 2º, a gente tinha quase dez anos de banda e uma pancada de canções de várias épocas. E a gente meteu tudo aquilo no "Nunca Fomos..." – inclusive com algumas músicas novas como: "Nunca Fomos... " e "Bravo Mundo Novo". Quando chegou a vez do 3º disco, a gente ficou afim de fazer alguma coisa nova. E esse disco não tem nada feito antes do "Nunca Fomos...". Na época em que o "Nunca fomos tão brasileiros" foi lançado, ele não representava a fase que a gente tava vivendo naquele momento. A gente só tava registrando o que a gente já havia feito.

O 3º disco não teve um êxito comercial tão legal quanto os dois primeiros. Vocês acham que a mudança de sonoridade contribuiu pra isso?
Ameba - Não, absolutamente. Sonoridade não vende disco no Brasil. A gravadora não trabalhou. Quando o disco ficou pronto, em agosto, a gente já tava trabalhando há nove meses e já sabíamos que era um disco legal, que tinha um som bacana. E a gravadora queria esperar pra lançar o disco só depois do Carnaval, em abril do outro ano. A gente não ficou afim de esperar, mas também não tinha verba pra lançar. Eles falaram: "Se vocês querem lançar agora, a gente lança. Só que não vai ter verba pra fazer isso direito. A gente só vai botar aí no mercado".

A sonoridade do 3º disco estava a frente de seu tempo. Vocês acham que a galera que curtiu o mangue bit estaria apta pra assimilar numa boa o som de vocês no 3º disco?
Ameba - Com certeza estaria. O disco tem ótimas músicas. Tem gente que gosta de uma música, o outro gosta daquela outra. Sempre tem música pra alguém.
Gutje - Qualé? As perguntas agora são só pro Ameba. Não tem nada pra mim, não? Esse cara não sabe nada do terceiro disco (rindo).

Pois é, ele foi o primeiro a sair da banda.
Ameba - Que nada. Fui quem mixou o disco com o Renato Luíz. (rindo).
Gutje - Ele vai te encher de porrada, cara.

Me desculpa, eu retiro o que disse.
Ameba - Tinha três produtores, mas eu queria produzir. Foi lá que eu comecei a aprender um pouquinho a ser técnico.
Gutje - Grande escola. São 300 horas de estúdio no nosso currículo, não é Ameba? 500? 1000? Quantas horas? É por aí?
Ameba - Só na produção do 3º disco foram uns nove meses. Isso rolou durante a turnê do "Nunca Fomos...", e durante a semana a gente tinha uma sala da Odeon, no Estúdio 2, uma sala de mixagem.... E a gente gravava em dois canais pra depois ficar ouvindo.
Gutje - É aquela mesa dos Beatles.
Ameba - E nesse meio tempo, um dia acabou a nossa pré-produção e foi todo mundo embora. Aí eu chamei o auxiliar e a gente fez uma fita pirata com dez músicas ao vivo dos Dents Kents, lá na Odeon.
Gutje - Cara, isso era muito bom.

Pô cara, tem que lançar isso pra galera.
Ameba - A gente tá vendo um lance de lançar com o Dado. Talvez.
Gutje - Cadê essa porra, Ameba? Lança logo essa porra, cara!
Ameba - A gente tá trabalhando, ‘tamo’ masterizando as coisas.
Gutje - Bota logo o Dado pra fazer esse negócio. A gente faz uma mídia.
Ameba - Tem que encontrar o Fejão (Nota do Editor: que eu sabia, o Fejão morreu em 1995).
Gutje - Eu faço a capa. Faço uma árvore chocante, aí um feijoeiro maneiro. Eu faço a capa, porra.
Ameba - Primeiro a gente precisa aprovar o orçamento.
Gutje - Me liga e a gente combina.
Ameba - Pois é, hoje em dia esse negócio do orçamento é muito importante.

Olha só: Vocês chegaram a fazer playback no Chacrinha, playbacks no subúrbio, como é que vocês lidavam com isso – já que vocês eram uma banda com um ideário punk?
Ameba - Bicho, a partir do momento que você grava um disco por uma grande gravadora, principalmente uma internacional como a Odeon, você grava pra trabalhar, pra viver de música. Esse é o seu trabalho. Pra fazer Chacrinha, a gente teve que trocar as calças – porque, naquela época, não podia fazer com calça rasgada.
Gutje - O Clodovil pegou no pé do tênis do Ameba (rindo). Lembra, lembra daquele filho da puta?
Ameba - O Clodovil me encheu o saco por causa da cor dele.
Gutje - Cara, essa foi foda. Ele pagou o maior mico. Essa é a verdade.
Ameba - O Faustão sempre recebeu bem a gente (na época ele tinha o programa "Perdidos na Noite", que começou na Record e depois na Bandeirantes). Pra gente aparecer no Fantástico, a gravadora pagou várias vezes os jabás da época pra gente gravar. Nós gravamos várias vezes e, se eu não me engano, só na 3a vez ou 4a vez que a gente conseguiu ir pro ar realmente. A gente fez na época o clipe de "A Minha Renda". Foi o único que foi ao ar. A gente também gravou o clipe de "Proteção".
Gutje - O Herbert Viana participou do clipe de "A Minha Renda", não é?
Ameba - É, a gente gravava, aí acertavam: "Vocês vão ter que fazer um show lá na praia com não com "não-sei-quem" e "não-sei-quem-mais". Essas coisas, sabe?
Gutje - É. Como era o nome daquele lance lá na Praia da Macumba?

Mixto Quente (nota: Um programa que a Globo exibia nos fins de semana com trechos de shows que rolavam na Praia da Macumba, lá por volta de 85-86).
Gutje - O Mixto Quente devia ser jabá, pra emissoras de televisão.
Ameba - Devia ser mesmo.
Gutje - A gente ia tocar lá em contrapartida.

Rolou um papo de que, num programa de final de ano do Chacrinha, todo mundo foi obrigado a usar touquinha de papai noel. Algumas bandas se recusaram a isso. Então o Ira!, que era a primeira a ter de se apresentar, acabou sendo limado do programa por causa disso. Aí todo mundo resolveu usar a tal touquinha.
Gutje - Não, eu acho que a gente não participou. Você lembra desse negócio da gente usar uns gorrinhos de papai noel, Ameba?
Ameba - Que porra era essa?
Gutje - No Chacrinha.
Ameba - Ah, no Chacrinha.
Gutje - A gente não usou, não. No máximo... (risos)
Ameba - O Philippe colocou na mão da guitarra. Entrou com ela só porque tinha que entrar em cena e depois colocou o gorro na mão da guitarra. Eu acho que foi isso.
Gutje - Quando a gente foi no programa do Raul Gil, tinha a Pantera Cor de Rosa (risos). E o Dedo Gigante?
Ameba - Era assim. Pra você fazer um Perdidos da Noite com o Faustão, você tinha que ir no Raul Gil também. Você tinha que cumprir uma programação. Você queria ir numa rádio FM, então tinha que ir na AM também, no programa do Garotinho. O lance de rádio AM era legal, lembra disso (pro Gutje)?
Gutje - Isso aí, foi ‘the best’.
Ameba - Rádio AM era legal porque na mesa tinha um sanfoneiro, tinha um cego, tinha padre, tinha crente.... Foi legal. A gente tava lançando "A Serra" e tava tocando forró e tal.
Gutje - O problema foi que ninguém entendeu nada.

E nesses lances de camarim do Chacrinha, não rolava umas paradas do tipo: "Ih, olha lá aquele cantor escroto!"?
Gutje - Não, cara. Rolava umas paradas com as Chacretes. Era chocante.
Ameba - A gente chegava umas seis horas, tomava um cafezinho e ficava no maior corredor com 50 camarins.
Gutje - A gente ficava esperando e falavam pra gente: "Agora não dá pra entrar". Tinha o filho da Chacrinha que fazia a produção, aquele cara, o Werner, que ficavam enchendo o saco pra galera trocar de calça.
Ameba - Trocar aquela jaqueta rasgada.
Gutje - O pessoal ficava falando pra você quantos minutos você ia ficar...

Eu me lembro de ter lido uma coisa já nos anos 90, na revista Bizz. Tinha um comercial na TV em que uma suposta banda de rock, pegava um jornal, pegava as manchetes e ia fazer música. E esse lance da Bizz era um texto que fazia uma associação da Plebe como exemplo do "estilo Veja de fazer música" – uma coisa super estereotipada. E a partir daí começou uma certa apologia de desencanação. Como é que você vê o cenário dos anos 90, em termos de texto?
Ameba - Cara, o épico disso é o "Cale a boca e consuma", que é a música da Plebe que repete mais vezes o refrão.

Mas você viu uma evolução na galera dos 90 em comparação à dos 80? Ou esse papo não tem nada a ver porque a história é outra?
Ameba - Eu acho que, com certeza, coisas novas foram criadas. E isso abriu portas pra um monte de gente continuar. Não sei se é evolução ou não.

Existe alguma possibilidade de rolar um show da Plebe?
Gutje - Existe. Tu não viu um show da Plebe hoje? Foi a primeira vez que eu vi um show da Plebe de frente. Isso nunca aconteceu na minha vida (rindo). Eu dou graças a Deus a vocês (falando com o pessoal do Atrito). Isso está em boas mãos. Adorei.

Mas eu estou falando de vocês tocarem com o Philippe e o André. Existe a possibilidade?
Gutje - Existe. O Philippe tá afinzão e o André também. É só neguinho desencanar. Só isso.

Qual foi o motivo pra vocês saírem da banda?
Gutje - Ué, a gente tava afim de sair. O Ameba me ligou um dia e disse: "Gutje, você não tá afim de sair da Plebe, não?" Eu falei: "É, eu acho que eu estou"... Eu vou sair aí (rindo).

Ameba, por favor: não fuja. Por que você saiu da Plebe?
Ameba - Saí porque os caras tavam afim que eu saísse.

Por quê? Você não tava mais suprindo as necessidades da banda?
Ameba - Cara, isso aí você tem que perguntar a eles.

Mas eu vou perguntar. Eu não vou dar mole.
Ameba - Cara, isso aí nem eu perguntei a eles.
Renata (esposa de Jander Ameba) - Vou te falar sobre o que aconteceu no dia em que ele soube que não estava mais na Plebe. Ligaram pra ele e avisaram. Só isso. Ele chegou em casa e mandaram ele ligar pro Rio, não foi (para Ameba)? Então ele ligou e eu falei: "Ai meu Deus, marcaram mais um show!" E ele: "Não, me disseram que eu estou fora".

Que merda, hein?
Renata - Foi assim. Na maior. É por isso que já se passaram dez anos (rindo).
Ameba - Você é um bom repórter.

Pois é, cara. Consegui cavoucar isso. Valeu, obrigado.
Ameba - É. Serão laudas e laudas.

Cara, eu poderia ficar umas três horas fazendo perguntas pra vocês.
Ameba - É cara, fica pra próxima.

Os textos só poderão ser reproduzidos com a autorização dos autores
© 1999

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