1999 - Por que o Fábio não
participou desse show na Bunker? Ainda rola alguma animosidade entre vocês?
Francisco - Vou te falar uma coisa: O Fábio não participou desse show porque ele não
participa da banda. Só isso. A banda acabou em 94 e eu saí da banda porque eu já não
agüentava mais um determinado clima que rolava. A banda pra mim já havia acabado. Esse
show só rolou porque o Rodrigo organizou um festival pra comemorar o aniversário do
Midsummer Madness. Ele perguntou o que a gente achava e eu falei que não tocava mais
porque eu só tocava pra me divertir. Então eu disse a ele que a única coisa que eu
achava que deveria rolar era a seguinte: Se vai rolasse um show do Second Come, eu tocaria
menos com o Fábio. Isso responde a sua pergunta?
1999 - Então isso foi mesmo uma imposição da parte de
vocês?
Francisco - Não, não foi uma imposição. Mas eu acho que ele também não gostaria de
fazer. Não era uma coisa unilateral.
Fernando - É mútuo.
Francisco - É entre nós e ele. É uma outra coisa. Ele tem a vida dele, as formas dele,
as loucuras dele, os problemas dele.... e nós temos os nossos. Eu acho que é outro
caminho.
1999 - Vocês começaram a divulgar o lançamento dessa
compilação pelo Midsummer Madness, então quer dizer que não existe a menor
possibilidade dele participar de algum show?
Francisco - Comigo, com o Fernando e com o Cadu e eu acho difícil. Mas eu acho que ele
pode fazer um Second Come dele. Não tem um Pink Floyd do David Gilmour e outro do Roger
Waters? Não tem o Renaissance da Annie Haslam e outro do Michael Dumpform? Então
poderiam existir dois Second Come, mas eu acho que ele não precisa disso. O Fábio é um
bom compositor, é um cara legal. Além do mais, eu acho que ele tem a banda dele e não
quer saber mais nada do Second Come. Então, a gente também não quer saber mais dele.
1999 - Então quer dizer que o Second Come acabou em
virtude de problemas entre o Fábio e a banda?
Francisco - Sabe o que aconteceu? Eu particularmente nunca fiz entrevista depois que a
banda acabou e isso é um negócio meio chato pra gente ficar falando. A banda acabou
porque tinha que acabar. Eu já tocava com o Fábio desde 85-86. Então eu não tinha mais
culhão pra aturar o Fábio. É que nem marido e mulher: chega uma hora em que a linha que
divide o amor e o ódio é tênue. E não rolava mais nem beijinho na boca (irônico). O
ódio era muito maior. A gente não aguentava mais se olhar.
Fernando - Na época, o nosso baterista já não era mais o Cadu. Era o Rayson. E pra
você ter uma idéia, a gente não brigou. Isso não existiu. A gente simplesmente voltou
de um show e ninguém se ligou mais. Acabou, mas eu continuei amigo do Francisco...
Francisco - Eu liguei pra ele dizendo que havia saído da banda, porque no clima que tava
não dava mais. Eu não ganho dinheiro com isso, eu tinha o meu trabalho, as minhas
coisas, a vida que eu queria levar e não tava aí pra me aporrinhar com viadagem. Aí eu
saí da banda. Foi por aí. O Fábio já tocava na Drivellers e depois ele foi tocar com
um outro pessoal no Stellarblast. Eu acho que é por aí, não tem nada a ver. Acabou.
Fernando - Foi basicamente tudo ao mesmo tempo.
Francisco - Quando eu falei que iria sair da banda...
Fernando -...o Fábio já tinha dado uma entrevista, não sei pra quem, dizendo que
também não queria mais tocar. Da minha parte, já fazia um mês que eu não ligava mais
pra ninguém. Pra você ter uma idéia do que rolou: a gente fez um show, na volta ficamos
4 horas e meia sentados no carro e nenhum abria a boca pra falar com o outro.
Francisco - Viu só que coisa linda (irônico)?
Fernando - Eu me lembro disso como se fosse ontem. A gente tava no meu carro, eu deixei o
cara lá em Niterói, depois deixei todo mundo em casa. Falei: "Beleza, tchau!"
Francisco - Pois é. Nós fomos até lá e deixamos o cara na casa dele, em Niterói. E
por causa disso, o pessoal fala que a banda é niteroiense. Só porque ele é de lá.
Fernando - Começa por aí, nós não somos de Niterói (rindo).
Francisco - Depois de deixarmos o cara em casa, a gente veio conversando e tudo. Só que
eu não tinha mais saco, a realidade é essa.
1999 - Então o tal "último show" que vocês
fizeram no Circo já era uma despedida?
Francisco - O último show não foi no Circo e sim, em São Paulo.
Fernando - Foi no Columbia. O show do Circo foi só o último no Rio. Na minha
concepção, pra você ter uma banda é primordial que você seja amigo das pessoas.
Francisco - Tem o seguinte: eu não ganho dinheiro com isso. Quem acha isso, tá maluco.
Ganha dinheiro quem conta piada. Tem até um pessoal aí que se você for procurar, você
vai achar. O pessoal que conta uma piada, conta duas, três..... e aí lança 3, 4 discos
contando a mesma piada. Ela até perde a graça, mas isso dá dinheiro. E a gente não
está afim de fazer esse tipo de coisa, nem nunca estivemos. Eu gosto de fazer a coisa pra
me divertir, eu ganho dinheiro com outra coisa. E se eu estiver afim de ganhar dinheiro
com música, então vai ter que ser de outra forma. Então quer dizer que eu nunca vou
ganhar dinheiro com música porque eu nunca vou fazer outro som a não o que eu faço. Por
isso é que tem que rolar um clima legal para se ter uma banda. A gente entrou no estúdio
pra ensaiar a convite do Rodrigo e a gente só se divertiu, cara. Foi muito engraçado. A
gente errava, acertava.... mas tava bom. Não tinha ego pra gente pisa! r: "Olha,
não se mexe muito no palco senão você pode pisar no meu ego (irônico)!" Não
tinha esse tipo de coisa. Nesse show, acabou a luz no meio do show e ninguém ficou de mau
humor. É uma brincadeira. São pessoas apenas tentando se divertir uma coisa que não
rolava antes.
1999 - Quais são as maiores vantagens e desvantagens de
fazer parte de uma banda cult alternativa?
Francisco - A vantagem é você poder fazer as coisas na hora em que você quer e do jeito
que você quer. A desvantagem é que você não tem grana. Só isso.
Fernando - Não precisa ser cult ou não ser cult. É só você não querer fazer a coisa
apenas pra ganhar dinheiro, que você entra na mesma categoria que a gente.
Francisco - Eu não vou ficar contando piada ou ficar falando coisas como "pau no c*
de não sei o que" ou "vou comer o c* dela" ou "pega na
manivela", esse tipo de coisa, e com isso chegar ao Rock In Rio porque isso não me
interessa.
Fernando - A gente nunca tentou ser cult, mas a gente acabou virando isso.
Francisco - Se a banda chegou a algum lugar, ela chegou por chegar. Poderia até ser que
algumas pessoas estudassem uma estratégia de marketing porque a banda tivesse alguma
coisa cult ou algo assim, mas eu te falo com franqueza que isso não rolou comigo ou com o
Fernando. E com o Cadu, menos ainda. O mesmo eu posso falar do Marcelo, que agora tá
tocando com a gente. Eu sei disso porque eu tocava com ele numa outra banda (Terrible Head
Cream) que era hiper-legal porque a gente tocava só pra se divertir. A gente só parou
porque nasceu o meu filho e eu não tinha mais tempo.
1999 - Eu tenho aqui uma pergunta que vocês podem
ignorá-la, caso não queiram responder. Vocês curtem o trabalho do Fábio posterior ao
Second Come?
Francisco - Cara, eu vejo relevância em qualquer coisa. Vejo isso até no "É o
Tchan", até no trabalho solo do Leonardo (irônico). Agora se é bom ou ruim, isso
é vago. Cada um tem o direito de fazer o que quiser. E com relação ao trabalho dele, eu
posso te dizer que não é uma coisa que vá comprar um CD ou vá ouvir.
Fernando - Eu jamais vou escutar uma banda que não tem baixo. E olha que eu sou um
guitarrista.
Francisco - Eu até ouço, o Doors era legal.
Fernando - Entendo, mas pelo menos tinha alguém desempenhando o papel do baixo.
1999 - Vocês fariam um número razoável de shows, em
função do possível lançamento da compilação dos dois CDs e também das fitas ou a
coisa rolou só para esse show?
Francisco - Cara, a banda não existe mais.
Fernando - Isso aqui é realidade virtual.
Francisco - Como eu te disse, isso aqui foi uma festa que o Rodrigo fez e chamou a gente
pra tocar. Ele está fazendo uma fita e está lançando as coisas porque ele acha legal. E
a gente achou uns materiais, demos para ele e tudo mais... Não vou dizer que não seria
legal se rolasse outro show. Como eu te falei, foi muito legal o clima nessas duas semanas
de preparação para esse show. Eu não me sentia bem há três anos dentro do Second
Come. Mesmo com dois discos lançados e o caralho, eu nunca me senti tão bem quanto
nessas três ou quatro semanas em que a gente ensaiou para esse show. Isso sem levar em
conta o show. Quer dizer que, se pintar alguma coisa, pode ser que a gente venha a fazer.
Mas eu acho que a cena, o momento atual não está pro nosso tipo de som. Volto a falar: a
gente pode fazer um show, mas não há pretensão nenhuma em retorno de banda ou fazer
show pra divulgar isso ou aquilo. Se rolar, será só pela diversão. Divulgar o que? Para
quem? Então a gente só faz porque a gente gosta e se as pessoas também gostam, ótimo
elas vão vir e se divertir. Nós vamos rever pessoas, vai ser engraçado, aquela coisa.
Fora isso, nada além.
1999 - Vou perguntar isso pelo fato de vocês terem sido
uma banda da Rock It!. Algumas pessoas pejorativamente consideram a Rock It! como apenas
um hobby do Dado Villa-Lobos, vocês acham que isso procede?
Francisco - Cara, se isso for um hobby, é do tipo que eu gostaria de ter.
Fernando - Eu nunca tive reclamações maiores quanto ao Dado. Ele é um cara que sempre
me tratou 100% bem. Pra te falar a verdade, são 110%. Ele é um cara totalmente
tranqüilo.
Francisco - Ele é legal pra cacete.
Fernando - Pois é. De todos os caras que eu conheci do chamado "mainstream",
ele é o cara mais humilde, mais gente boa. Eu nunca tive problema nenhum com ele.