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DO ROCK
FICÇÃO RESENHAS
 

SECOND COME
Por Marcus Marçal
Bílis

Em razão do festival "algumas pessoas tentam te fuder de novo", comemorando o décimo aniversário do selo/fanzine midsummer madness, o Second Come, cultuada banda do cenário alternativo, renasceu apenas para um show. Entretanto, as feridas que levaram a dissolução da banda ainda não foram cicatrizadas, já que a banda se apresentou desfalcada de Fábio Leopoldino
ex-cantor e guitarrista do Second. Desavenças a parte, o show foi memorável, em parte pela satisfação nos rostos dos músicos. "Eu só estou nessa por diversão", diria o baixista-vocalista Francisco Kraus logo após a apresentação. Foi com ele e seu amigo Fernando Kamache, guitarrista que levamos um papo. Divirta-se!

1999 - Por que o Fábio não participou desse show na Bunker? Ainda rola alguma animosidade entre vocês?
Francisco - Vou te falar uma coisa: O Fábio não participou desse show porque ele não participa da banda. Só isso. A banda acabou em 94 e eu saí da banda porque eu já não agüentava mais um determinado clima que rolava. A banda pra mim já havia acabado. Esse show só rolou porque o Rodrigo organizou um festival pra comemorar o aniversário do Midsummer Madness. Ele perguntou o que a gente achava e eu falei que não tocava mais porque eu só tocava pra me divertir. Então eu disse a ele que a única coisa que eu achava que deveria rolar era a seguinte: Se vai rolasse um show do Second Come, eu tocaria menos com o Fábio. Isso responde a sua pergunta?

1999 - Então isso foi mesmo uma imposição da parte de vocês?
Francisco - Não, não foi uma imposição. Mas eu acho que ele também não gostaria de fazer. Não era uma coisa unilateral.
Fernando - É mútuo.
Francisco - É entre nós e ele. É uma outra coisa. Ele tem a vida dele, as formas dele, as loucuras dele, os problemas dele.... e nós temos os nossos. Eu acho que é outro caminho.

1999 - Vocês começaram a divulgar o lançamento dessa compilação pelo Midsummer Madness, então quer dizer que não existe a menor possibilidade dele participar de algum show?
Francisco - Comigo, com o Fernando e com o Cadu e eu acho difícil. Mas eu acho que ele pode fazer um Second Come dele. Não tem um Pink Floyd do David Gilmour e outro do Roger Waters? Não tem o Renaissance da Annie Haslam e outro do Michael Dumpform? Então poderiam existir dois Second Come, mas eu acho que ele não precisa disso. O Fábio é um bom compositor, é um cara legal. Além do mais, eu acho que ele tem a banda dele e não quer saber mais nada do Second Come. Então, a gente também não quer saber mais dele.

1999 - Então quer dizer que o Second Come acabou em virtude de problemas entre o Fábio e a banda?
Francisco - Sabe o que aconteceu? Eu particularmente nunca fiz entrevista depois que a banda acabou e isso é um negócio meio chato pra gente ficar falando. A banda acabou porque tinha que acabar. Eu já tocava com o Fábio desde 85-86. Então eu não tinha mais culhão pra aturar o Fábio. É que nem marido e mulher: chega uma hora em que a linha que divide o amor e o ódio é tênue. E não rolava mais nem beijinho na boca (irônico). O ódio era muito maior. A gente não aguentava mais se olhar.
Fernando - Na época, o nosso baterista já não era mais o Cadu. Era o Rayson. E pra você ter uma idéia, a gente não brigou. Isso não existiu. A gente simplesmente voltou de um show e ninguém se ligou mais. Acabou, mas eu continuei amigo do Francisco...
Francisco - Eu liguei pra ele dizendo que havia saído da banda, porque no clima que tava não dava mais. Eu não ganho dinheiro com isso, eu tinha o meu trabalho, as minhas coisas, a vida que eu queria levar e não tava aí pra me aporrinhar com viadagem. Aí eu saí da banda. Foi por aí. O Fábio já tocava na Drivellers e depois ele foi tocar com um outro pessoal no Stellarblast. Eu acho que é por aí, não tem nada a ver. Acabou.
Fernando - Foi basicamente tudo ao mesmo tempo.
Francisco - Quando eu falei que iria sair da banda...
Fernando -...o Fábio já tinha dado uma entrevista, não sei pra quem, dizendo que também não queria mais tocar. Da minha parte, já fazia um mês que eu não ligava mais pra ninguém. Pra você ter uma idéia do que rolou: a gente fez um show, na volta ficamos 4 horas e meia sentados no carro e nenhum abria a boca pra falar com o outro.
Francisco - Viu só que coisa linda (irônico)?
Fernando - Eu me lembro disso como se fosse ontem. A gente tava no meu carro, eu deixei o cara lá em Niterói, depois deixei todo mundo em casa. Falei: "Beleza, tchau!"
Francisco - Pois é. Nós fomos até lá e deixamos o cara na casa dele, em Niterói. E por causa disso, o pessoal fala que a banda é niteroiense. Só porque ele é de lá.
Fernando - Começa por aí, nós não somos de Niterói (rindo).
Francisco - Depois de deixarmos o cara em casa, a gente veio conversando e tudo. Só que eu não tinha mais saco, a realidade é essa.

1999 - Então o tal "último show" que vocês fizeram no Circo já era uma despedida?
Francisco - O último show não foi no Circo e sim, em São Paulo.
Fernando - Foi no Columbia. O show do Circo foi só o último no Rio. Na minha concepção, pra você ter uma banda é primordial que você seja amigo das pessoas.
Francisco - Tem o seguinte: eu não ganho dinheiro com isso. Quem acha isso, tá maluco. Ganha dinheiro quem conta piada. Tem até um pessoal aí que se você for procurar, você vai achar. O pessoal que conta uma piada, conta duas, três..... e aí lança 3, 4 discos contando a mesma piada. Ela até perde a graça, mas isso dá dinheiro. E a gente não está afim de fazer esse tipo de coisa, nem nunca estivemos. Eu gosto de fazer a coisa pra me divertir, eu ganho dinheiro com outra coisa. E se eu estiver afim de ganhar dinheiro com música, então vai ter que ser de outra forma. Então quer dizer que eu nunca vou ganhar dinheiro com música porque eu nunca vou fazer outro som a não o que eu faço. Por isso é que tem que rolar um clima legal para se ter uma banda. A gente entrou no estúdio pra ensaiar a convite do Rodrigo e a gente só se divertiu, cara. Foi muito engraçado. A gente errava, acertava.... mas tava bom. Não tinha ego pra gente pisa! r: "Olha, não se mexe muito no palco senão você pode pisar no meu ego (irônico)!" Não tinha esse tipo de coisa. Nesse show, acabou a luz no meio do show e ninguém ficou de mau humor. É uma brincadeira. São pessoas apenas tentando se divertir uma coisa que não rolava antes.

1999 - Quais são as maiores vantagens e desvantagens de fazer parte de uma banda cult alternativa?
Francisco - A vantagem é você poder fazer as coisas na hora em que você quer e do jeito que você quer. A desvantagem é que você não tem grana. Só isso.
Fernando - Não precisa ser cult ou não ser cult. É só você não querer fazer a coisa apenas pra ganhar dinheiro, que você entra na mesma categoria que a gente.
Francisco - Eu não vou ficar contando piada ou ficar falando coisas como "pau no c* de não sei o que" ou "vou comer o c* dela" ou "pega na manivela", esse tipo de coisa, e com isso chegar ao Rock In Rio porque isso não me interessa.
Fernando - A gente nunca tentou ser cult, mas a gente acabou virando isso.
Francisco - Se a banda chegou a algum lugar, ela chegou por chegar. Poderia até ser que algumas pessoas estudassem uma estratégia de marketing porque a banda tivesse alguma coisa cult ou algo assim, mas eu te falo com franqueza que isso não rolou comigo ou com o Fernando. E com o Cadu, menos ainda. O mesmo eu posso falar do Marcelo, que agora tá tocando com a gente. Eu sei disso porque eu tocava com ele numa outra banda (Terrible Head Cream) que era hiper-legal porque a gente tocava só pra se divertir. A gente só parou porque nasceu o meu filho e eu não tinha mais tempo.

1999 - Eu tenho aqui uma pergunta que vocês podem ignorá-la, caso não queiram responder. Vocês curtem o trabalho do Fábio posterior ao Second Come?
Francisco - Cara, eu vejo relevância em qualquer coisa. Vejo isso até no "É o Tchan", até no trabalho solo do Leonardo (irônico). Agora se é bom ou ruim, isso é vago. Cada um tem o direito de fazer o que quiser. E com relação ao trabalho dele, eu posso te dizer que não é uma coisa que vá comprar um CD ou vá ouvir.
Fernando - Eu jamais vou escutar uma banda que não tem baixo. E olha que eu sou um guitarrista.
Francisco - Eu até ouço, o Doors era legal.
Fernando - Entendo, mas pelo menos tinha alguém desempenhando o papel do baixo.

1999 - Vocês fariam um número razoável de shows, em função do possível lançamento da compilação dos dois CDs e também das fitas ou a coisa rolou só para esse show?
Francisco - Cara, a banda não existe mais.
Fernando - Isso aqui é realidade virtual.
Francisco - Como eu te disse, isso aqui foi uma festa que o Rodrigo fez e chamou a gente pra tocar. Ele está fazendo uma fita e está lançando as coisas porque ele acha legal. E a gente achou uns materiais, demos para ele e tudo mais... Não vou dizer que não seria legal se rolasse outro show. Como eu te falei, foi muito legal o clima nessas duas semanas de preparação para esse show. Eu não me sentia bem há três anos dentro do Second Come. Mesmo com dois discos lançados e o caralho, eu nunca me senti tão bem quanto nessas três ou quatro semanas em que a gente ensaiou para esse show. Isso sem levar em conta o show. Quer dizer que, se pintar alguma coisa, pode ser que a gente venha a fazer. Mas eu acho que a cena, o momento atual não está pro nosso tipo de som. Volto a falar: a gente pode fazer um show, mas não há pretensão nenhuma em retorno de banda ou fazer show pra divulgar isso ou aquilo. Se rolar, será só pela diversão. Divulgar o que? Para quem? Então a gente só faz porque a gente gosta e se as pessoas também gostam, ótimo elas vão vir e se divertir. Nós vamos rever pessoas, vai ser engraçado, aquela coisa. Fora isso, nada além.

1999 - Vou perguntar isso pelo fato de vocês terem sido uma banda da Rock It!. Algumas pessoas pejorativamente consideram a Rock It! como apenas um hobby do Dado Villa-Lobos, vocês acham que isso procede?
Francisco - Cara, se isso for um hobby, é do tipo que eu gostaria de ter.
Fernando - Eu nunca tive reclamações maiores quanto ao Dado. Ele é um cara que sempre me tratou 100% bem. Pra te falar a verdade, são 110%. Ele é um cara totalmente tranqüilo.
Francisco - Ele é legal pra cacete.
Fernando - Pois é. De todos os caras que eu conheci do chamado "mainstream", ele é o cara mais humilde, mais gente boa. Eu nunca tive problema nenhum com ele.

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