Se você quiser escrever para o 1999 sobre QUALQUER coisa que tenha a ver com música (um show legal que você viu, um carinha que você conseguiu entrevistar, um disco que você queria mostrar pras outras pessoas, qualquer tipo de teoria, contar qualquer parte da história do rock), basta escrever para a gente. 02.SET.1999 RESENHAS Neste ano um dos mais tradicionais festivais da Europa, com mais de duas décadas de atividade, fez uma edição em dose dupla: uma na cidade de Reading e outra na de Leeds, no interior da Inglaterra. Enquanto em Reading as bandas se apresentavam na sexta, sábado e domingo, em Leeds as atrações subiam ao palco no sábado, domingo e segunda (feriado bancário inglês). Vai ver que por causa da diversidade de locais para os shows e da concorrência do Creamfields (festival de música eletrônica que rolou no mesmo fim de semana), o último Reading do milênio não lotou tanto quanto em outros anos. Melhor assim: quem foi tirou proveito do pouco aperto e pôde ver de pertinho atrações como Blur, Echo & The Bunnymen e Red Hot Chili Peppers, três bandas que se apresentarão no Brasil em breve. As atrações se dividiram em quatro palcos, como sempre,. O principal, reservado às bandas mais importantes, na visão dos organizadores. O da Radio One, onde prevaleciam bandas independentes. O patrocinado pela Carling, no qual apresentavam grupos com ainda com pouca projeção na Inglaterra. E o dance/hardcore, dedicado a projetos e DJs de techno e drum'n'bass na sexta e sábado e ao skate hardcore no domingo. Em Reading, a primeira atração de sexta-feira foi o Apollo 440, no palco principal. Misturando músicas novas como "Stop The Rock" com sucessos antigos, como "Lost In Space", os ingleses foram prejudicados pelo horário (tocaram às 13h) e pelo pouco público, Mesmo assim mostraram a animação de sempre. Por falar em animação, no segundo palco quem estava entrando, quase ao mesmo tempo, eram os escoceses do Bis. Sem parar de pular um minuto, eles levaram a loucura os fiéis fãs adolescentes, principalmente quando tocaram "Eurodisco". Enquanto isso, no palco dance, a galera estava a postos para conferir o lendário grupo americano de rap Sugarhill Gang. Com a arena lotadíssima, eles não decepcionaram ninguém, fazendo o melhor e mais vibrante show do festival e encerrando com a clássica "Rapper's Delight". Fim de show da Sugarhill Gang, outros veteranos começam a tocar no palco principal, o Echo & The Bunnymen. O grupo - que vai tocar em setembro em Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba - mostrou que ainda está em forma. O set foi bastante voltado para as músicas antigas, como "The Cutter" e "Ocean Rain". Ian MacCulloch estava animado e, surpresa das surpresas, não desafinou. Com a noite chegando e o festival cada vez mais cheio, foi a vez dos Chemical Brothers mostrarem seu show de luzes e sons no palco principal. Com um set list praticamente igual ao tocado no Brasil e prejudicados por problemas no som, a dupla não conseguiu empolgar as mais de 30 mil pessoas que assistiam ao show. O que faltava em animação ao ar livre, sobrava em adrenalina na tenda do palco 2, com os americanos do Jon Spencer Blues Explosion. Com apenas duas guitarras e bateria, eles botaram a galera para pular, principalmente com as músicas do último disco, Acme. Depois de um intervalo de meia hora, a única
nota triste do festival: a apresentação do The Fall. Por causa de seu notório vício de
cocaína, Mark Smith entrou no palco com a camisa toda suja de sangue, que escorria aos Sem a guitarrista Donna Mathews e liderado pela vocalista Justine Frischmann, o Elastica fez o melhor show de todo o festival no palco dois. Com energia e timing surpreendentes para quem estava afastada por tantos anos do palco, Justine comandava a galera, que não parava de pular. Tocou os clássicos "Connected" e "Stutter", além de mostrar músicas novas do recém-lançado disco 6 tracks EP e covers como "Da da da", do Trio. Com o sol a pino, o tempo no sábado espantou de vez as previsões mais pessimistas de chuva para o fim de semana. Com o palco principal lotado desde cedo, o Pavement fez uma das mais arrebatadoras apresentações dos últimos anos. Começando com "In A Mouth Of A Desert", passando por "Stereo" e terminando com "Cut Your Hair", o show só poderia ser descrito com uma palavra: perfeito. E olha que ainda faltaram tocar muitos clássicos, como "Here", "Summer Babe" e até mesmo algumas mais conhecidas do novo disco como "Split On A Stranger" e "...And Carrot Rope". Depois de um show destes, escalar a aguada Beth Orton para se apresentar era uma covardia. O jeito, então, foi correr para o palco dance, para o show do Breakbeat Era. Mostrando o que se convencionou chamar de drum'n'bass orgânico, com baixo, sintetizador e bateria e contando com a linda voz de Leonnie Lewis, o Breakbeat Era provou porque é considerado a revelação do ano no drum'n'bass, num set beirando o jazz e com os hits "Rancid" e "Ultra Obscene". Da energia do drum'n'bass para a energia do hardcore punk. Fazendo o show mais lotado do dia do palco 2, os escoceses do Idlewild parecem ser tudo o que o Nirvana teria sido se os seus integrantes tivessem nascido no Reino Unido. Fica a pergunta: em uma época tomada pelo hard-hip hop insosso de bandas como o Korn, por que o Idlewild ainda não estourou mundialmente? Mistérios do showbiz... Depois dos escoceses do Idlewild, era a hora dos galeses do Catatonia, no palco principal. Depois de tocarem quase todo o fraco novo disco e espantarem boa parte do público, os galeses se redimiram no final, tocando em seguida "International Velvet", "Mulder And Scully" e "Road Rage". Mas fica a impressão de que eles estão cada vez mais perdidos entre a opção de voltarem a ser um grupo de rock ou partir de vez para as baladas meia-idade. O destaque ficou por conta da roupa transparente da não muito esbelta cantora Cerys Matthews. Já o Blur parece estar muito bem decidido em seguir o caminho aberto no disco 13. Músicas calminhas espaçadas com um pouco de hardcore. Assim foi o show do grupo inglês (que se apresenta no Brasil em novembro), favorecendo o repertório mais harmonioso e calmo da banda. Inclusive "To the End" e "Universal" foram os dois melhores momentos do show. No bis veio a hora do velho e bom Blur animadinho de sempre, com os sucessos "There's No Other Way", "Parklife", "Girls And Boys" e o final apoteótico com "Song 2". Domingo tradicionalmente é o dia do rock pesado no festival. Como a edição deste ano não fugiu à tradição, então, domingo também era o dia de chegar mais tarde em Reading. Afinal, quem quer ver Lit, Backyard Babies, Buckcherry, Pitchshifter, entre outras pérolas do metal-hip hop-techno moderninhas? O primeiro bom show do dia foi o Arab Strap, no palco 2. Com um repertório praticamente apenas de músicas inéditas e contando com a participação de membros do também escocês Mogwai, assistir a um show do Arab Strap é uma das experiências musicalmente mais angustiantes. Tanto pelas bizarras letras quanto pela impressionante altura dos instrumentos e as enormes melodias, que vão aumentando em camadas e mais camadas de instrumentos. Depois, no mesmo palco, vieram as americanas do Luscious Jackson, que botou o público para dançar com seu rock cheio de influências ao vivo de hip hop. Destaque para o DJs das moças, que deu um show à parte nas carrapetas. Enquanto isso, no palco principal começava o mais divertido show do festival, o do Offspring. Além de tocarem todos os seus sucessos punk bubblegum, os californianos brilharam no quesito animação - com direito a até mesmo uma mangueira do corpo de bombeiros no palco para jogar água no público e um momento lounge com os músicos jogando bolhas de sabão, sentados em sofazinhos infláveis ao som de um muzak pastiche de música latina. Talvez por causa do show do Offspring ter sido
tão bom, o grande headliner da noite, o Red Hot Chili Peppers não conseguiu fazer uma
performance à altura e decepcionou muita gente que esperava mais do grupo. Apesar de ter
todos os hits e as melhores músicas do disco novo, o grupo, que voltou a tocar após um
bom tempo de inatividade, parece não ter mais a química necessária para um grande show
ao vivo. Havia enormes intervalos entre uma música e outra e quase nenhuma troca de
energia com o público. Não que a performance tenha sido muito ruim, mas quem conhece
toda a história do RHCP sabe que eles poderiam ser muito melhores. O
maravilhoso mundo grátis 1999 é feito por Alexandre Matias e Abonico Smith e quem quer que queira estar do lado deles. Os textos só
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