Savonarola
No final do século XV, o Renascimento desabrochava em Florença.
O governador daquela república, Lorenzo de Mediei, um tirano, tornara-se
patrono das artes e trouxera muitos grandes homens para elevar a cultura
de sua cidade. Contudo, enquanto a arte e a literatura vicejavam em Florença,
o mesmo acontecia com a corrupção e a ganância. O
governo Medici levara a cidade à vida centrada em si mesma e em
volta de sua riqueza. A igreja também sofreu essa influência,
de modo que o voto de pobreza tinha pouco significado nos mosteiros florentinos.
Girolamo Savonarola, monge dominicano zeloso e piedoso que levava a sério
a tradição de pregação de sua ordem, chegou
a essa cidade mundana. Embora ele falasse de maneira dura contra o pecado,
profetizando a queda dessa cidade que se dizia cristã, mas que
se importava apenas com sua pompa, o monge caiu nas graças dos
florentinos. Multidões se formavam para ouvir suas palavras.
Em 1494, quando a França atacou a cidade, o povo de Florença
perdeu a confiança nos Médicis e os derrotou numa revolução
popular. Savonarola tornou-se o novo governante, e uma maravilhosa mudança
aconteceu naquela localidade. As pessoas abandonaram os sinais de seu
estilo de vida frivolo, incluindo suas roupas finas e o jogo. Banqueiros
e comerciantes devolveram o que haviam tirado das pessoas de maneira ilícita.
Homens de boas famílias tornaram-se monges.
Savonarola, no entanto, atacava o papa, como o restante do clero mundano.
O papa Alexandre VI, de forma escandalosa e infame, era pai de um grande
número de filhos ilegítimos. Em 1495, cansado dos ataques
de Savonarola, o papa ordenou que o dominicano parasse com suas pregações.
Savonarola obedeceu e passou a se dedicar ao estudo. Um ano depois, aparentemente
acreditando que humilhara o monge, Alexandre permitiu que ele voltasse
a pregar novamente. Não demorou muito para que o monge voltasse
a atacar, de forma veemente, a corrupção da igreja.
Em 1497, o papa excomungou Savonarola, mas o povo de Florença apoiou
o monge. Um ano depois, o papa ameaçou a cidade com o interdito,
a não ser que ela lhe enviasse Savonarola. Apesar dos apelos de
Savonarola a vários líderes de outras nações,
pedindo que convocassem um concilio para depor o papa, nada aconteceu.
Os habitantes de Florença experimentaram uma conversão apenas
superficial, pois, quando nenhuma ajuda chegou, eles se voltaram contra
seu líder. O governo da cidade caiu nas mãos de um partido
hostil e eles entregaram Savonarola a dois embaixadores do papa, que tinham
instruções para certificar se de que o monge rebelde seria
executado. Savonarola e dois de seus seguidores foram queimados na grande
praça da cidade.
Embora muitos protestantes saúdem Savonarola como um deles, seu
pensamento era, na verdade, católico. Contudo, como muitos antes
dele, Savonarola tinha o grande desejo de ver as pessoas vivendo da maneira
como os que Cristo chamara deviam viver. A sociedade mundana e rica à
qual ele se opôs não podia tolerai- sua condenação.
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