Gregório I
O período de crescimento do poder papal começou com o pontificado
de Gregório I, o Grande, e teve o apogeu no tempo de Gregório
VII, mais conhecido por Hildebrando. É bom notar que desde o princípio,
cada papa, ao assumir o cargo, mudava de nome. Gregório VII foi
o único papa cujo nome de família se destacou na história
depois de sua ascensão à cadeira papal. É acerca
de Gregório I, que se conta a conhecida história de que,
ao ver alguns escravos em Roma, de cabelos louros e olhos azuis, perguntou
quem eram.
Disseram-lhe, então, que eram "angli", isto é,
"ingleses", ao que ele respondeu: "Non angli, sed angeli",
quer dizer, não ingleses, mas anjos. Mais tarde, quando foi eleito
papa, enviou missionários à Inglaterra a fim de cristianizar
o povo. Gregório expandiu o reino de sua igreja objetivando a conversão
das nações da Europa que ainda se conservavam pagãs,
conseguindo levar à fé ortodoxa os visigodos arianos da
Espanha.
Gregório resistiu com êxito às pretensões do
patriarca de Constantinopla, que desejava o título de bispo universal.
Tormou a igreja praticamente governadora da província nas vizinhanças
de Roma, preparando, assim, caminho para a conquista do poder temporal.
Também desenvolveu certas doutrinas na igreja romana, especialmente
a adoração de imagens, o purgatório, a transubstanciação,
isto é, a crença de que na missa ou comunhão o pão
e o vinho se transformam milagrosamente no verdadeiro corpo e sangue de
Cristo.
O papa Gregório foi um dos fortes defensores da vida monástica,
havendo sido ele mesmo um dos monges da época. Foi um dos administradores
mais competentes da história da igreja romana, e por isso mereceu
o título de Gregório o Grande.
Gregório Magno, São (540-604)
Nasceu em Roma e morreu nessa mesma ci-
dade. Passou à história como o arquiteto do
papado medieval. Papa de 590 a 604, é reconhe-
cido como um eminente teólogo, administrador e
reformador social, litúrgico e moral. Considera-
do o último doutor da Igreja latina, tratou de mo-
delar as idéias agostinianas de A cidade de Deus
numa sociedade que cristalizaria, mais tarde, no
que hoje conhecemos como cristandade. Seria
uma societas reipublicae christianae, onde a au-
toridade secular estaria submetida à autoridade
eclesiástica.
São conhecidas as suas facetas de monge —
fundou sete mosteiros —, de reformador e de
missionário. Foi o grande impulsor da vida mo-
nástica iniciada por São *Bento. Em 596 iniciou
um dos grandes feitos de seu pontificado, envi-
ando missionários à Inglaterra, de onde mais tar-
de partiriam São Wilibrordo e São Bonifácio para
a evangelização do centro da Europa.
Menção especial merece seu trabalho como
administrador e organizador da Igreja. Sem nun-
ca renunciar à sua condição de monge, chegando a
ser, sem
perceber, o fundador do que se conheceria mais
tarde como Estado Pontifício e da autoridade tem-
poral do papa. Mas sempre pensou que opatrimônio dos apóstolos
deveria estar a serviço ime-
diato da Igreja e dos pobres. Entendeu seu gover-
no como serviço da caridade sobre a autoridade.
Assim o demonstra o epitáfio de sua tumba: Côn-
sul de Deus.
A atividade pastoral de São Gregório Magno
está registrada no Registrum epistolarum, cole-
ção de suas cartas oficiais. Como bom romano, a
característica de Gregório é sua praticidade. Seus
escritos em geral carecem de originalidade
especulativa. Sua formação eclesiástica não
foi
tão extensa e profunda como a dos padres
capadócios. Não captou, como esses, os valores
característicos da cultura e da arte. Sua fonte é o
sentido organizativo e prático. Daí sua preocupa-
ção com o encaminhamento da vida monástica, a
formação do clero e do povo, a reforma da Missa
e do canto chão, conhecido como canto
gregoriano. Daí também sua preferência pela parte
prática da teologia: valor dos milagres, exemplos
da vida dos santos, a doutrina do purgatório e a
conseguinte satisfação com as Missas chamadas
gregorianas etc.
Três de suas obras exerceram uma influência
decisiva no pensamento e na práxis posterior da
Igreja: 1) Liber regulae pastoralis, conhecido
como a Regra pastoral, que se transforma no guia
espiritual e prático dos bispos da Idade Média. 2)
Os diálogos sobre a vida e milagres dos primei-
ros santos da Igreja na Itália. Destaca a vida de
São *Bento. 3) Moralia in Job, o texto clássico
por excelência e encontro obrigatório sobre a
moral e interpretação bíblica, que marca um ca-
minho na história da moral cristã. Figuram tam-
bém entre suas obras duas coleções de homilias
sobre os evangelhos e sobre Ezequiel.
A importância de Gregório consiste em ter
procurado conservar, num período de decadência
total da cultura, as conquistas dos séculos ante-
riores.
|