Karl Barth
No século XIX, o liberalismo enfatizou o progresso do homem e
a reforma do mundo.
Mas se esse homem era tão avançado, por que promoveu uma
guerra mundial? Se suas descobertas na tecnologia e na ciência eram
tão eficazes, por que apontou suas armas para seus semelhantes?
As pessoas estavam apaixonadas por suas possibilidades. Os avanços
alcançados na ciência pareciam transformar o mundo em um
lugar menos misterioso. Em vez de procurar um Deus sobrenatural, muitos
procuravam criar o paraíso na terra.
Darwin e outros cientistas questionavam os elementos sobrenaturais da
Bíblia. O homem era realmente uma criação especial?
Os milagres poderiam mesmo acontecer? Por que precisamos de Deus, se nós
mesmos podemos controlar a natureza? A teologia liberal daquela época
retratava um Deus sem ira, um Cristo feito de ética e um Reino
que era plenamente deste mundo.
A Primeira Guerra Mundial, no entanto, provocou o questionamento de todas
essas coisas. Como o progresso da Europa cristã fora colocado em
dúvida, muitos passaram a enxergar a natureza falida do pensamento
liberal.
Um desses homens foi um pastor chamado Karl Barth. Confrontado com as
atrocidades da guerra, o pastor liberal voltou-se para a carta de Paulo
aos Romanos. O que ele encontrou ali mudaria sua fé e criaria uma
sublevação nos remanescentes da teologia de Agostinho, Lutero
e Wesley.
Sua obra Comentário da carta aos Romanos — que foi chamada
"uma granada no terreno da teologia liberal" — descreveu
Deus como soberano e transcendente. A queda do homem, mostrada em Gênesis
3, é real, disse Barth. Ali, todo o ser do homem estava atrelado
ao pecado, e ele não era mais capaz de descobrir a verdade de Deus
por si mesmo. Deus precisava se revelar ao homem, e ele faz isso por intermédio
de Jesus Cristo.
A reafirmação de doutrina por Barth, que usou termos clássicos
protestantes, causou muita discussão. Em 1930, o pastor já
se tornara professor de teologia na Alemanha.
Barth, com outros da Igreja Confessante, escreveu grandes trechos da Declaração
Barman, que chamava os cristãos a se opor às inverdades
que Hitler declarava sobre a igreja. Um ano depois, em 1935, Barth foi
expulso da Alemanha e seguiu para Basiléia, na Suíça,
a fim de ensinar Teologia. Escreveu com grande intensidade durante o período
que passou ali, incluindo sua obra principal, os treze volumes da Dogmática
eclesiástica, obra-prima do protestantismo.
As idéias de Barth se tornaram a base da neo-ortodoxia. Essa teologia
do século xx é antiliberal em sua ênfase do estudo
das Escrituras e do pecado, e em sua atitude séria com relação
à soberania de Deus, mas assume uma posição ambivalente
em relação à his-toricidade da Bíblia, especialmente
do Antigo Testamento. Embora apoie a maior parte dos ensinamentos bíblicos,
ela não necessariamente aceita que todos os acontecimentos relatados
na Bíblia ocorreram no tempo e no espaço. Seus críticos
disseram que a neo-ortodoxia conseguia "ser a melhor e ao mesmo tempo
a pior", pois afirma as doutrinas tradicionais e, também,
apoia os céticos que duvidavam da natureza histórica do
cristianismo.
Teólogos como Emil Brunner, Gustaf Aulen, Reinhold e Richard Nie-buhr,
além de Friedrich Gogarten, compartilharam da maioria das crenças
de Barth sobre a soberania de Deus e o pecado do homem. Eles enfatizaram
que a fé significa mais do que dizer SIM a algumas proposições
teológicas. Pelo fato de a neo-ortodoxia pressupor a necessidade
de um "salto de fé", com relação às
verdades aparentemente difíceis ou contraditórias, ela também
foi chamada teologia da crise.
Em um mundo que enfrentou duas enormes guerras, as idéias de Barth
levaram uma igreja indecisa de volta aos temas do pecado e da soberania
de Deus. Muitos cristãos consideram esses textos volumosos tanto
estimulantes quanto frustrantes. Barth flertou com o universalismo, a
idéia de que Deus no final salvará todas as pessoas, embora
o teólogo nunca tivesse enfrentado a questão. Em sua teologia
cristocêntrica, ele, com freqüência, via Cristo no Antigo
Testamento em lugares improváveis. Ele não aceitava a infalibilidade
ou a inerrância das Escrituras.
Barth, no entanto, encorajou o estudo bíblico sério, enfatizou
a pregação dinâmica e levou o homem de volta à
compreensão de sua necessidade do Deus todo-poderoso — o
aspecto positivo de sua obra. Em uma época em que muitos haviam
se voltado para o mundo em busca de esperança, ele pedia que todos
olhassem para Cristo.
|