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312 A conversão de Constantino
313 Eusébio de Cesaréia O Historiador da Igreja
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367 A carta de Atanásio reconhece o cânon do Novo Testamento
385 O bispo Ambrosio desafia a imperatriz
387 Conversão de Agostinho
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451 O Concilio de Calcedonia
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863 Cirilo e Metódio evangelizam os eslavos
988 Conversão de Vladimir, príncipe da Rússia
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1073 Papa GregórioVII ou Hildebrando
1093 Anselmo é escolhido arcebispo de Cantuária
1095 O papa Urbano II lança a primeira Cruzada
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1173 Pedro Valdo funda o movimento valdense
1198 A Supremacia Papal com InocêncioIII
1215 O IV Concilio de Latrão
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1378 Catarina de Sena vai a Roma para solucionar o Grande Cisma
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1415 João Hus condenado à fogueira
1478 O estabelecimento da Inquisição espanhola
1498 Savonarola é executado
1517 Martinho Lutero afixa As noventa e cinco teses
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1525 Início do movimento anabatista
1534 O Ato de Supremacia de Henrique VIII
1536 João Calvino publica As instituías da religião cristã
1540 O papa aprova os jesuítas
1559 John Knox volta à Escócia para liderar a Reform
1572 O massacre do Dia de São Bartolomeu
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1611 Publicação da Versão do Rei Tiago da Bíblia
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1854 Charles Haddon Spurgeon torna-se pastor em Londres
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Papa Inocêncio III (1160-1216)

Dos papas deste século o maior foi, talvez, Inocêncio III, que subiu a
essa "dignidade" no ano de 1198. Com certeza não teve quem o excedesse
em maldade. O seu verdadeiro nome era Lotário de Conti, mas os seus
ardeais deram-lhe o nome de Inocêncio em testemunho da sua "vida
irrepreensível!"
Ura dos primeiros atos de Inocêncio, ao subir à cadeira papal, foi
destruir a felicidade doméstica do rei da França. Filipe Augusto atraído
pela fama da beleza da princesa Isemburge da Dinamarca, prometeu a sua
mão àquela senhora, realizando-se em seguida o casamento. Ora, o mo-
narca, que tinha procedido muito precipitadamente, mostrou desde o
princípio uma aversão invencível pela sua jovem esposa, e, recusando-se a
viver com ela como sua mulher, repudiou-a para casar com a jovem e linda
Agnes, filha do duque de Merânia, por quem sentiu um profundo e
verdadeiro amor.
Contudo, o papa tomou partido da princesa repudiada e ameaçou pôr
o país inteiro sob interdição se o rei não abandonasse a filha do duque e
recebesse a princesa Isemburge com afeto conjugai. Esta não era, de modo
algum, uma ameaça vã, e as conseqüências de tal interdição iriam recair
fortemente sobre os súditos inocentes de rei da França. Suspender os atos
públicos de religião era, aos olhos de todos, uma coisa terrível, visto que
quase todo o seu culto era realizado por meio dos padres, e, em geral, não
tinham o recurso da oração particular.
Mas Filipe não quis ceder. Disse que o seu divórcio da princesa
dinamarquesa era legal, pois tinha sido ratificado pelo papa anterior,
Celestino III. Além disso, estava legalmente casado com Agnes que já lhe
tinha dado dois filhos. O papa, porém, não quis ouvir nada disso, e como
Filipe continuou a teimar, deu a necessária autorização ao seu legado,
então em Dijon, para proclamar a interdição. À meia noite teve lugar, a
toque dos sinos, uma execrável cerimônia. Queimaram a hóstia
consagrada, cobriram as imagens de preto, e puseram as relíquias nos
túmulos. Em seguida o clero saiu da igreja em procissão solene, tendo à
frente o cardeal com a sua estola roxa de luto; e quando ele pronunciou a
interdição, os padres apanharam as tochas, fecharam as portas das igrejas,
e todas as orações, todos os serviços religiosos, ficaram indefinidamente
suspensos. Só os sacramentos de batismo, confissão e extrema unção eram
permitidos pela igreja, e andavam todos com a barba por fazer; era proibido
o uso de carne, e os cadáveres sem terem lugar de sepultura eram lançados
aos cães, que infestavam as cidades, e aos bandos de aves de rapina.
Filipe protestou em vão contra este procedimento extremo; mas o
papa foi inexorável e as suas ordens tinham de ser obedecidas. Agnes teve
de ser abandonada, Isemburge reintegrada nos seus direitos. Enquanto
isto não acontecesse tinha de durar a interdição. Mas o afeto de Filipe
concentrava-se na sua linda esposa, e não se poderia convencer a
submeter-se a uma ordem tão áspera. A própria Agnes não tinha ambições
de rainha, mas não podia suportar o pensamento de se separar do seu
marido: ela apenas queria ser o que o papa e o parlamento a tinham feito,
sua legítima esposa. Desesperado pela dor da esposa e pela sua própria
impossibilidade de acalmar-se, o rei exclamou: "Vou-me tornar
maometano. Feliz Saladino que não tem papa que o governe!" Mas a tudo
isto respondia a ordem cruel: "Obedece ao papa, abandona Agnes e torna a
receber Isemburge".
Por fim o rei cedeu. O papa venceu aquela luta e retirou a interdição.
As igrejas tornaram-se a abrir ao povo, as imagens foram destampadas as
relíquias novamente expostas e os sacramentos ministrados como antes. A
princesa foi reconhecida como esposa de Filipe, mas a sua aversão por ela
tinha aumentado em conseqüência de tudo quanto tinha sucedido e
continuou a recusar-se a viver com ela como sua mulher. A linda e amável
Agnes, separada a força do seu marido, morreu pouco depois, com o cora-
ção despedaçado.

INOCÊNCIO III E O REI JOÃO DA INGLATERRA
Mas não foi a França o único país que sofreu os horrores de uma
interdição durante o pontificado de Inocêncio III. O rei João da Inglaterra,
pelas suas ameaças grosseiras ao papa, fez com que o seu país fosse
também visitado por uma interdição. Porém esta não produziu efeito algum
no ânimo de João, e quando, no ano seguinte, foi excomungado, recebeu a
bula do papa com desprezo. A bula foi seguida no ano 1211 por um ato de
deposição, e a coroa de João foi-lhe confiscada - os seus súditos foram
desligados dos seus juramentos de obediência, e foi-lhes dada liberdade de
prestarem a sua obediência a uma pessoa mais digna de ocupar o trono
que estava vago. Por fim Filipe Augusto de França foi convidado a tomar as
armas contra o rei contumaz. Foram-lhe também prometidos os territórios
ingleses para aumentar o seu próprio reino. Esta última medida do papa
venceu por completo o covarde João, e a sua antiga altivez e independência
deram imediatamente lugar a uma baixeza e a um servilismo que quase
não há igual na história.
Numa casa dos templários, próximo a Dover, o rei da Inglaterra, de
joelhos, colocou a sua coroa aos pés de Pendulfe, o legado papal, e cedeu a
Inglaterra e a Irlanda ao papa; jurou-lhe homenagem como seu senhor
soberano e prestou juramento de fidelidade aos seus sucessores. Foram
esses os vergonhosos e humilhantes termos ditados pelo suposto pastor do
rebanho de Cristo, e suportados por um rei inglês!
Filipe Augusto, que tinha nesse meio tempo feito imensas despesas
para organizar um exército, foi em seguida informado, sem mais
explicações que devia desistir das hostilidades e que qualquer tentativa
contra o rei da Inglaterra seria altamente ofensiva para a santa Sé.
Mas o triunfo do papa transformou-se em alarme quando, dois anos
mais tarde, os barões da Inglaterra com o arcebispo Langton à sua frente,
reuniram-se em Runnymede e forçaram o tirano João a renovar e ratificar
a carta das suas liberdades, que lhes tinha sido conferida por Henrique I.
"Pois quê?", exclamou Inocêncio, "os barões da Inglaterra atrevem-se
a transferir para outros o patrimônio da igreja de Roma? Por S. Pedro, não
podemos deixar um tal crime impune". Mas os barões tinham um ânimo
muito diferente do seu soberano; e quando o papa anulou a grande carta e
ameaçou os que a defendiam, eles receberam a excomunhão com um
silêncio de desprezo

A DOUTRINA DA TRANSUBSTANCIAÇÃO
O pontificado de Inocêncio adquiriu maior importância por ser ele
quem estabeleceu por decreto o dogma fatal da transubstanciação,
decidindo, assim, uma questão que, havia tanto tempo, se agitava no
espírito de muitos. No quarto concilio Laterano (1215) foi afirmado
canonicamente que, depois de o padre pronunciar as palavras de
consagração os elementos sacramentais do pão e do vinho ficam
convertidos na substância do corpo e do sangue de Cristo. Assim, foram
decretadas honras divinas aos elementos consagrados, que se tornaram
objeto de culto e adoração. Foram feitos cofres ricos, lindamente
cinzelados, para os receberem e, desse modo, segundo esta doutrina falsa,
o Deus vivo era encerrado num cofre, e podia ser transportado de um para
outro lado!

Perseguição na Europa e a Inquisição
(1200-1300)


No ano em que Inocêncio III foi eleito papa, a obra de Pedro de Bruys,
Henrique e Pedro Waldo produziu muito fruto, de modo que se podiam
encontrar adeptos em quase todos os países da Europa. Na Alemanha e
Itália homens e mulheres de todas as classes tinham seguido os seus ensi-
nos e doutrinas evangélicas, desde os fidalgos até os camponeses, desde o
abade de mitra até o monge de capuz; enquanto que na Lombárdia
existiam em tal quantidade que um deles declarou que podia viajar de
Colônia a Milão recebendo todas as noites hospitalidade em casa de
irmãos. Podiam encontrar-se na Inglaterra, na Áustria, na Boêmia e na
Bulgária e até mesmo entre os corajosos eslavos e nos montes Ourales.
Mas em parte alguma se podiam encontrar em tão grande número como
nas férteis planícies da França Meridional e nos vales de Piemonte; e foram
esses dois pontos privilegiados da terra, os atingidos pelos editos de
extermínio. Protegidos pelas montanhas que os cercavam, os cristãos dos
vales puderam por ainda mais dois séculos escapar dos horrores de uma
perseguição geral, mas os das planícies, os albigenses como lhes
chamavam, foram logo vítimas de uma execução imediata.

INOCÊNCIO INICIA UMA CRUZADA DE PERSEGUIÇÃO
Inocêncio deu começo à perseguição pedindo a Raimundo VI, conde
de Tolosa, e a outros príncipes da França Meridional que adotassem
medidas rápidas para a supressão dos hereges, mas o seu apelo não
encontrava a resposta cordial que esperava. Raimundo e os outros fidalgos
não podiam concordar com aquele pedido bárbaro. Muitos deles tinham
parentes entre os hereges proscritos, e expulsá-los das suas casas, ou
assassiná-los a sangue frio, era mais do que se podia esperar, ainda
mesmo dos obedientes filhos de Roma. Além disso, que mal tinham feito
esses albigenses a quem os perseguira? Sempre se tinham mostrado
súditos pacíficos, cumpridores da lei, e contentes; e, devido à sua
indústria, a província de Languedoc se tinha tornado a mais rica do país.
Portanto, não se podia esperar que os senhores feudais, que tanto deviam
aos seus trabalhos, pudessem corresponder a tão cruéis editos, que orde-
navam a destruição desses súditos tão fiéis.
A presença de Pedro de Castelnau, legado do papa, na corte de
Raimundo ainda mais complicou o caso. Era ele um insolente monge da
Ordem de Cister, e mostrava-se muito arrogante no seu modo de tratar os
negócios. Quando o papa por meio de repetidas ameaças de castigos tem-
porais e das chamas eternas, obrigou o conde a assinar um edito de
exterminação, o legado foi tão zeloso em apressar a execução, e se
precipitou de uma tal maneira que deu em resultado a sua própria ruína,
evitando também que o edito se cumprisse. Raimundo estava encolerizado
o mais possível pelos seus modos arrogantes, e, infelizmente, proferiu
ameaças inconsideradas e precipitadas, que foram ouvidas por um dos
seus sequazes. No dia seguinte este homem armou uma questão com o
legado, e depois de uma troca de palavras azedas de ambos os lados,
desembainhou 0 seu punhal e feriu-o mortalmente.
A notícia deste acontecimento foi recebida em Roma com alegria, visto
dar uma desculpa plausível ao papa para excomungar Raimundo, e para
pedir o auxílio do rei da França e dos seus fidalgos.
Foi no ano de 1209 que 300 mil soldados todos decorados com a
santa cruz, e tendo por comandante em chefe Simão De Montfort, se
encaminharam para Languedoc.
À frente da força via-se o espanhol Domingos, com o símbolo do
cristianismo nas mãos, e um ódio diabólico no coração; e sobre seu hábito
branco levava um manto preto . triste emblema de uma próxima desgraça.
Ao seu lado cavalgava o legado papal, Almarico, com os olhos encova-dos a
brilhar de alegria malvada, quando olhava de tempos a tempos na direção
das férteis planícies de Languedoc e em seguida para o exército que vinha
na sua retaguarda.

O COMEÇO DA LUTA
Pouco depois dava-se o começo à obra execrável, e os soldados
achavam-se empenhados em queimar, roubar e matar em todas as
direções, embora o conflito propriamente não começasse, senão depois da
chegada do exército defronte de Beziers. A guarnição estava aqui sob o
comando de Raimundo Roger, sobrinho de Raimundo de Tolosa, e esta era
uma das cidades mais fortes. O bispo da localidade, segundo as ordens que
tinha recebido de Almarico, exortou o povo a render-se, mas os católicos e
os hereges recusaram-se a isso, igualmente. Almarico fez uma terrível
ameaça a toda a cidade. E o ataque começou. A desigualdade era
esmagadora, e bem depressa as portas tiveram de ceder à força dos
assaltantes. Levantou-se porém uma dificuldade. Havia católicos dentro
das muralhas e como haviam de eles ser reconhecidos? Isto para Almarico
não era dificuldade alguma. "Matem toda a gente", gritou ele: Matem
homens, mulheres e crianças, pois o Senhor conhece aqueles que são
seus".
- Sim, Almarico, o Senhor ainda te há de mostrar quais são os seus,
quando sobre o trono Ele se sentar para te pedir contas do sangue inocente
que derramaste!
Todos os habitantes da cidade foram massacrados naquela ocasião;
foram mortas de vinte a cem mil pessoas segundo as diferentes opiniões. A
mesma destruição foi feita em outras cidades. Mas a retirada, num período
posterior, de alguns dos principais nobres com os seus partidários, tornou
necessário um novo apelo para reunir mais soldados, e Dominico e os
monges viram-se obrigados em pouco tempo a pregar uma nova cruzada.
Quarenta dias de campanha dizem eles, fará expiar o maior crime, e purifi-
cará o coração da mais negra mancha. Ser soldado no exército "santo" fazia
com que fossem perdoados imensos pecados. O apelo ainda desta vez teve
bom êxito, e no princípio do ano seguinte, De Montfort estava à testa de um
novo exército.

PERSEGUIÇÃO A RAIMUNDO DE TOLOSA
Não vamos aqui contar tudo o que o papa fez a Raimundo de Tolosa.
Parece que aos olhos daquele não havia modo de este expiar o pecado de
ser chefe de tantos súditos hereges. Não foi suficiente manifestar o seu
desgosto e justificar-se pelo assassinato do monge de Cister. Raimundo
teve além disso de dar uma prova da sua sinceridade entregando sete dos
seus castelos mais fortes; teve de fazer penitência em público das suas
ofensas, com uma corda em roda do pescoço enquanto lhe aplicavam
chicotadas às costas, e em seguida reunir-se às filas dos cruzados e
combater contra os próprios súditos, até mesmo contra a sua própria
família; e depois disso, sua santidade o papa mostrou sua "benignidade"
dando-lhe o beijo da paz.
Quando porém o pobre conde se estava regozijando por terem
passado todos os perigos e humilhações, chegou uma carta do papa para
sua eminência, o legado, ordenando-lhe que deixasse por algum tempo o
conde de Tolosa, e empregasse para com ele uma certa dissimulação, de
modo que os outros hereges pudessem mais facilmente ser vencidos, e para
que o pudessem esmagar quando se achasse sozinho. Vemos pois que
Raimundo não tinha sido perdoado de modo algum, seguindo-se a isto a
excomunhão que mais uma vez foi pronunciada contra ele.
A guerra mudou então de aspecto, e Raimundo com o auxílio do
conde de Foix e outros fidalgos começou a tomar medidas desesperadas
para sua proteção. O seu povo, que era muito dedicado, correu às armas à
primeira chamada, e De Montfort viu que tinha agora de se haver com um
inimigo desesperado pela perseguição e enlouquecido pelo sentimento de
repetidos danos. A sua natureza cruel estimulou-se com esta oposição
inesperada, e as mais inauditas barbaridades foram cometidas por sua
ordem. Homens e crianças foram mutilados, as mulheres desonradas, as
searas e vinhas destruídas, as vilas queimadas, e as cidades entregues à
pilhagem e passados à espada os seus habitantes. No momento da captura
de La Minerbe foram queimadas vivas umas 140 pessoas, entre as quais a
mulher, a irmã e o filho do governador da localidade. Dizem que todos
caminhavam para a morte de muito boa vontade, cantando já nas chamas
hinos a Deus, e não cessaram de lhe entoar louvores senão quando o fumo
os sufocou. Quando o castelo de Brau se rendeu, De Montfort tirou os
olhos e cortou o nariz a cem dos seus bravos defensores, deixando um olho
a um deles para que pudesse guiar o resto para Cabrieres, a fim de aterrar
a guarnição que ali se achava. Estas e outras crueldades, indignas até da
Roma paga, foram praticadas pela "santa" igreja católica, e executadas
pelos "santos" peregrinos, como eram chamados pelo papa.
Na tomada de Foix, quando a cidade estava abandonada aos horrores
de um saque, e os habitantes de todas as idades e sexos estavam sendo
igualmente massacrados, ouviam-se as vozes dos bispos e legados, por
cima dos gritos das mulheres e das maldições dos seus assassinos, entoan-
do um solene cântico. Uma senhora chamada Giralda de quem se dizia que
nenhum pobre tinha ido a sua porta sem ser socorrido, também estava
entre os prisioneiros, e sendo lançada a um poço foi morta a pedradas.
Raimundo era católico, mas diz-se que, ao ver o tratamento que estavam
dando aos seus fiéis súditos, exclamou: "Bem sei que vou perder as minhas
propriedades por causa dessa boa gente, mas estou pronto não só a ser
expulso dos meus domínios como a dar a minha vida por todos eles".

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