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O Dia de São Bartolomeu
No dia 22 de agosto de 1572 começou este ato diabólico
de sanguinária brutalidade. A intenção era destruir
de um só golpe a raiz da árvore protestante, que até
então só tinha sofrido parcialmente em seus galhos. O rei
da França tinha abertamente proposto um matrimônio entre
sua irmã e o príncipe de Navarra, capitão e príncipe
dos protestantes. Este imprudente matrimônio foi celebrado em Paris
o 18 de agosto pelo cardeal de Bourbon, sobre um elevado catafalco construído
com este propósito. Comeram com grande pompa com o bispo, e jantaram
com o rei em Paris. Quatro dias depois, o príncipe (Coligny), ao
sair do Conselho, foi ferido por disparos em ambos braços; disse
então a Maure, ministro de sua defunta mãe: "Oh, meu
irmão, agora vejo que certamente Deus me ama, pois tenho sido ferido
por sua mais santa causa!". Embora Vidam o aconselhou a fugir, permaneceu
em Paris, onde foi morto pouco depois por Bemjus, quem depois disse que
jamais tinha visto ninguém afrontar a morte com maior valentia
que o almirante.
Os soldados foram dispostos para que, ao dar-se determinado sinal, se
lançassem de imediato a efetuar a matança por diversas partes
da cidade. Depois de dar morte ao almirante, o lançaram por uma
janela à rua, onde lhe cortaram a cabeça, que foi enviada
ao Papa. Os sacrilégios papistas, ainda enfurecidos contra ele,
cortaram-lhe os braços e os membros privados, e depois de tê-lo
arrastado por três dias pelas ruas, o penduraram pelos pés
fora da cidade. depois dele mataram muitas outras pessoas grandes e honoráveis
que eram pptes, como o Conde de La Rochfoucault, Telinius, genro do almirante,
Antônio, Clarimontus, o marquês de Ravely, Lewes Bussius,
Bandineus, Pluvialius, Burneius, etc., e lançando-se contra o comum
do povo, continuaram durante muitos dias a matança; durante os
primeiros dias mataram dez mil de toda categoria e condição.
Os corpos foram lançados nos rios, e o sangue escorria como arroios
pelas ruas, e o rio parecia ser de sangue, tão furiosa era aquela
ira infernal que deram morte a todos os papistas que estavam considerados
como não muito firmes a sua diabólica religião. Desde
Paris, a destruição se estendeu a todos os cantos do reino.
Em Orleans foram mortos mil homens, mulheres e crianças; e seis
mil em Rouen.
Em Meldith duzentos foram encarcerados, e mais tarde tirados um a um e
cruelmente assassinados.
Em Lyon deu-se morte a oitocentos. Aqui, crianças penduradas do
pescoço de seus pais, e pais abraçando afetuosos a seus
filhos, foram alimento das espadas e das sanguinárias mentes daqueles
que se chamavam a si mandamentos a Igreja Católica. Aqui, trezentos
foram assassinados na casa do bispo, e os ímpios monges não
queriam consentir que fossem enterrados.
Em Augustobona, ao saber a gente da matança do Papa, fecharam as
portas para que nenhum protestante pudesse fugir, e procurando diligentemente
a cada membro da Igreja reformada, os encarceraram e deram morte da mais
bárbara maneira. Estas mesmas crueldades tiveram lugar em Avaricum,
Troys, Toulouse, Rouen e em muitos outros lugares, indo de cidade em cidade,
vilarejos e povoados, por todo o reino.
Como corroboração desta horrorosa carnificina, citamos a
seguinte apropriada e interessante narração, escrita por
um católico-romano sensível e erudito:
"As núpcias do jovem rei de Navarra (nos diz o autor) com
a irmã do rei da França foram solenizadas com grande pompa;
e todas as expressões de afeto, todos os protestos de amizade e
todos os juramentos sagrados entre os homens foram profusamente prodigalizados
por Catarina, a rainha mãe, e pelo rei; durante tudo isto, o resto
da corte não pensou em nada além de festejos, teatro e bailes
de máscaras. No final, às doze da noite, na véspera
de são Bartolomeu, se deu o sinal. De imediato, as casas dos protestantes
foram forcadas uma a uma. O almirante Coligny, alarmado com a comoção,
pulou do leito, quando um grupo de assassinos se precipitou em seu dormitório.
Iam encabeçados por um tal de Besme, que fora criado no seio da
família dos Guisas. Este miserável traspassou com sua espada
o peito do almirante, e também deu-lhe um corte no rosto. Besme
era alemão, e sendo depois tomado por protestante, os de La Rochela
trataram de metê-lo na cidade para pendurá-lo e despedaça-lo;
porém, foi morto por um tal de Bretanville. Henrique, o Jesus duque
de Guisa, quem depois constituiu a liga católica, e que foi assassinado
em Blois, esteve em pé na porta até acabar a horrorosa carnificina,
e gritou: "Besme! Acabou?". Depois disso, aqueles canalhas lançaram
o corpo pela janela, e Coligny expirou aos pés do de Guisa".
"O conde de Teligny também caiu vítima. Tinha-se casado,
uns dez meses atrás, com a filha de Coligny. Seu rosto era tão
formoso que os canalhas, quando se adiantaram para matá-lo, se
sentiram cheios de compaixão; porém outros, mais bárbaros,
se precipitaram sobre ele e o assassinaram".
"Enquanto isso, todos os amigos de Coligny foram assassinados por
todo Paris; homens, mulheres e crianças eram assassinados de maneira
indistinta e todas as ruas estavam lotadas de corpos agonizantes. Alguns
sacerdotes, aferrando o crucifixo numa mão e uma adaga na outra,
corriam para os líderes dos assassinos, exortando-os energicamente
a não perdoar nem os parentes ou amigos".
"Tavannes, marechal da França, um soldado ignorante e supersticioso,
que unia a fúria da religião com a ira do partido, se lançou
a cavalo pelas ruas de Paris gritando a seus homens: "Que corra o
sangue! Que corra o sangue! Sangrar é tão sadio em agosto
como em maio!". Nas memórias da vida deste entusiasta, escritas
por seu filho, se nos diz que quando seu pai, no leito de morte, fazendo
confissão geral de suas ações, o sacerdote, surpreendido,
exclamou: "Como! E nenhuma menção à matança
de são Bartolomeu?", ao qual Tavannes respondeu: "Isto
o considero uma ação meritória, que lavará
todos meus pecados". Que horrendos sentimentos pode inspirar um falso
espírito de religião!"
"O palácio do rei foi um dos principais cenários da
matança. O rei de Navarra tinha seu alojamento no Louvre, e todos
seus criados eram protestantes. Muitos deles foram mortos na cama junto
com suas mulheres; outros, fugindo nus, foram perseguidos pelos soldados
pelas várias estâncias do palácio, incluso até
a antecâmara do rei. A jovem esposa de Henrique de Navarra, acordada
pela terrível comoção, temendo por seu marido e pela
sua própria vida, arrebatada de horror e meio morta, pulou de seu
leito para lançar-se aos pés de seu irmão, o rei.
Mas apenas se tinha aberto a porta de sua câmara quando alguns de
seus criados protestantes se precipitaram dentro, procurado refúgio.
Os soldados seguiram de imediato, perseguindo-os diante da princesa e
matando a um que se lançou embaixo de sua cama. Outros dois, feridos
com albardas, caíram aos pés da rainha, quem ficou coberta
de sangue".
"O conde de La Rochefoucault, um jovem nobre, em grande favor do
rei por seu ar atraente, sua cortesia e uma certa fortuna peculiar no
giro de sua conversação, tinha passado a velada até
as onze com o monarca, numa agradável familiaridade, dando rédea
solta, com o maio bom-humor, às saídas de sua imaginação.
O monarca sentiu um certo remorso e, tocado por uma espécie de
compaixão, o convidou, duas ou três vezes, a não voltar
para sua casa, mas a que ficasse no Louvre. O conde disse que devia voltar
com sua mulher, e então o rei já não o pressionou
mais, senão que disse: "Que vá! Vejo que Deus decretou
sua morte!". Duas horas depois era assassinado".
"Mui poucos dos Pastores escaparam da fúria de seus fanáticos
perseguidores. Entre eles estava o jovem La Force (depois o famoso marechal
de La Force), um menino de dez anos de idade cuja liberação
foi sumamente notável. Seu pai, seu irmão mais velho e ele
mesmo foram apresados pelos soldados do Duque de Anjou. Estes assassinos
se lançaram sobre os três, espancando-os a capricho, com
o qual caíram um sobre o outro. O menor não recebeu um único
golpe, senão que, aparentando estar morto, escapou no dia seguinte;
sua vida, preservada desta maneira maravilhosa, durou oitenta e cinco
anos".
"Muitas das pobres vítimas fugiram para a ribeira, e alguns
nadaram para passar o Sena e dirigir-se aos subúrbios de St. Germaine.
O rei os viu desde sua janela, que dominava o rio, e se dedicou a disparar
contra eles com uma carabina que carregava a este fim um de seus assistentes.
Enquanto isto, a rainha mãe, imperturbável e serena em meio
da matança, olhando desde uma sacada animava os assassinos e ria
diante dos gemidos dos agonizantes. Esta bárbara rainha estava
animada de uma agitada ambição, e perpetuamente mudava de
partido a fim de saciá-la".
"Pouco tempo depois destes horrorosos acontecimentos, a corte francesa
tratou de paliá-los mediante formas legais. Pretenderam justificar
a matança mediante uma calúnia, acusando almirante de conspiração,
o que ninguém acreditou. O Parlamento recebeu ordens de agir contra
a memória de Coligny, e seu cadáver foi pendurado com correntes
numas forcas de Montfaucon. O próprio rei foi a contemplar aquele
insólito espetáculo. Então um de seus cortesãos
foi a aconselhá-lo para retirar-se, fazendo notar o fedor do cadáver,
ao qual o rei replicou: "Um inimigo morto cheira bem". Os massacres
do dia de são Bartolomeu estão pintados no salão
real do Vaticano em Roma, com a seguinte inscipcao: "Potifex, Coligny
necem probat", ou seja: "O Papa aprova a morte de Coligny".
"O jovem rei de Navarra foi eximido por questão política
e não por piedade da rainha mãe, mantendo-o prisioneiro
até a morte do rei, a fim de que fosse segurança e prenda
da submissão daqueles protestantes que pudessem fugir".
"Esta horrenda carnificina não se limitou meramente à
cidade de Paris. Ordens semelhantes foram enviadas desde a corte aos governadores
de todas as províncias na França, de maneira que ao cabo
de uma semana uns cem mil protestantes foram despedaçados em diferentes
partes do reino! Somente dois ou três governadores recusaram-se
a obedecer as ordens do rei. Um destes, chamado Montmorrin, governador
de Auvernia, escreveu ao rei a seguinte carta, que merece ser transmitida
à mais distante posteridade:
"Senhor: Tenho recebido uma ordem, com o selo de vossa majestade,
de dar morte a todos os protestantes em minha província. Tenho
demasiado respeito para vossa majestade como para não acreditar
que a carta seja uma fraude; porém se a ordem (Deus não
queira!) for genuína, tenho demasiado respeito por vossa majestade
para obedecê-la".
Em Roma houve um horrendo gozo, tão grande que marcaram um dia
de festejos, e um jubileu, com uma grande indulgência a todos os
que o guardassem e demonstrassem toda expressão de júbilo
que pudessem imaginar! E o homem que deu a primeira notícia recebeu
1000 coroas do cardeal de Lorena por sua ímpia mensagem. O rei
também ordenou que o dia fosse comemorado com toda demonstração
de gozo, tendo chegado à conclusão de que toda a raça
dos huguenotes estava extinta.
Muitos dos que deram grande quantidades de dinheiro como resgate foram
de imediato mortos; e várias cidades que receberam a promessa do
rei de proteção e seguridade, foram objeto de matança
geral assim como se entregaram, com base nesta promessa, a seus generais
e capitães.
Em Burdeos, por instigação de um malvado monge, que costumava
pressionar os papistas à matança em seus sermões,
duzentas sessenta e quatro pessoas foram cruelmente mortas; alguns deles
eram senadores. Outro da mesma piedosa fraternidade causou uma matança
similar em Agendicum, em Maine, onde o populacho, pela satânica
sugestão dos "santos inquisidores", se lançaram
contra os protestantes, matando-os, saqueando suas casas e derrubando
sua igreja.
O duque de Guisa, entrando em Blois, permitiu que seus soldados se lançassem
à pilhagem, e que mataram ou afogaram a todos os protestantes que
pudessem achar. Nisto não perdoaram nem idade nem sexo; estuprando
às mulheres, depois sã assassinavam; daí se dirigiu
à Mère, e cometeu as mesmas atrocidades durante muito dias.
Aqui encontraram um ministro chamado Cassebônio, e o lançaram
no rio.
Em Anjou mataram a um ministro chamado Albiacus; muitas mulheres foram
também estupradas e assassinadas ali; entre elas havia duas irmãs
que foram violentadas diante de seu pai, ao qual os assassinos amarraram
a uma parede para que as visse, e depois deram morte a elas e a ele.
O governador de Turin, depois de ter entregue uma enorme quantia de dinheiro
pela sua vida, foi cruelmente espancado com paus, despido de suas roupas
e pendurado dos pés, com sua cabeça e torso no rio; antes
de morrer abriram-lhe o ventre, arrancaram suas entranhas e as lançaram
no rio; depois levaram seu coração pela cidade, encravado
numa lança.
Em Barre se comportaram com grande crueldade, inclusive com os meninos
pequenos, aos que abriam em canal, arrancado suas entranhas, as que, pelo
furor que tinham, mordiam com seus dentes. Os que tinham fugido ao castelo
foram quase enforcados quando se renderam. Assim o fizeram na cidade de
Matiscon, considerando uma brincadeira cortá-lhes os braços
e as pernas e depois matá-los; como entretenimento para seus visitantes,
amiúde lançavam os protestantes desde um despenhadeiro elevado
no rio, dizendo: "Você já viu alguém pular tão
bem?"
Em Penna, trezentos foram degolados desumanamente, trás te-les
prometido segurança; e quarenta e cinco na Albia, um domingo. Em
Nome, embora se rendeu com a condição de que lhes fosse
oferecida segurança, viram-se os mais horrendos espetáculos.
Pessoas de ambos sexos e de toda condição foram assassinadas
indiscriminadamente; as ruas ressoavam com clamores de dor, e o sangue
escorria, as casas incendiadas pelo fogo que os soldados tinham lançado
dentro delas. Uma mulher, arrastada de seu esconderijo junto com seu marido,
foi primeiro estuprada pelos brutais soldados, e depois, com uma espada
que a obrigaram a aferrar, a forçaram com suas próprias
mãos nas entranhas de seu marido.
Em Samarobridge, mais de cem protestantes, depois de tê-lhes sido
prometido paz; em Antisidor deram morte a cem, e lançaram muitos
no rio. Cem que tinham sido encarcerados em Orleans foram mortos pela
enfurecida multidão.
Os protestantes de La Rochela, aqueles que tinham conseguido escapar miraculosamente
à fúria do inferno e tinham-se refugiado lá, vendo
o mal que se dava àqueles que tinham-se submetido àqueles
demônios que se pretendiam santos, se mantiveram firmes por suas
vidas; e algumas outras cidades, alentadas por este gesto, os imitaram.
O rei enviou contra La Rochela quase tudo o poder da França, que
a assediou durante sete meses; e embora por seus assaltos fizeram bem
pouco contra seus habitantes, pela fome destruíram dezoito mil
de vinte e dois mil. Os mortos, demasiado numerosos para que os vivos
os sepultassem, foram alimento das animálias e das aves predadoras.
Muitos levavam seus próprios ataúdes até o pátio
da igreja, jaziam neles e expiravam. Sua dieta tinha sido durante muito
tempo aquilo que faz tremer as mentes dos que têm abundância:
até carne humana, entranhas, esterco, e as coisas mais imundas,
chegaram a ser finalmente o único alimento daqueles campeões
daquela verdade e liberdade da qual o mundo não era digno. Diante
de cada ataque os assaltantes se encontravam com uma reação
tão denodada que deixaram a cento e trinta e dois capitães,
com um número proporcional de tropas, tendidos no campo. Finalmente,
o cerco foi levantado a petição do duque de Anjou, irmão
do rei, que foi proclamado rei da Polônia, e o rei, cansado, acedeu
facilmente, com o qual lhes foram concedidas condições honrosas.
Foi uma notável interferência da Providência que, em
toda esta terrível matança, somente dois ministros do Evangelho
caíssem.
Os trágicos sofrimentos dos protestantes são demasiado numerosos
para detalhá-los; porém o tratamento dado a Felipe de Deux
dará uma idéia do resto. Depois que os desalmados tivessem
dado morte ao mártir em sua cama, foram a sua mulher, que estava
sendo assistida por uma parteira, esperando dar a luz a qualquer momento.
A parteira rogou-lhes que detivessem suas intenções assassinas,
pelo menos até que o menino, seu vigésimo, nascer. Apesar
disto, cravaram uma adaga até o cabo no corpo da pobre mulher.
Ansiosa por dar a luz, correu até um campo de trigo; porém
até lá a perseguiram, a apunhalaram no ventre, e depois
a lançaram na rua. Em sua queda, o menino saiu de sua mãe
moribunda, e foi pego por um dos rufiões católicos, quem
apunhalou o recém-nascido, lançando-o depois no rio.
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