Chico Xavier / Emmanuel
Em companhia de Silas, que se harmonizara
com as suas aspirações de trabalho, o ex-rabino partiu de
Antioquia, internando-se pelas montanhas e atingindo sua
cidade natal, depois de enormes dificuldades. Breve, o
companheiro indicado por Simão Pedro habituava-se com o seu
método de trabalho. Silas era um temperamento pacífico, que se
enriquecia de notáveis qualidades espirituais, pelo seu
devotamento integral ao Divino Mestre. Paulo, por sua vez,
estava plenamente satisfeito com a sua colaboração.
Palmilhando longos e impérvios (impenetráveis) caminhos,
alimentavam-se parcamente, quase só de frutas silvestres
eventualmente encontradas. O discípulo de Jerusalém, todavia,
revelava alegria uniforme em todas as circunstâncias.
Antes de atingir Tarso, pregaram a Boa Nova, no curso mesmo da
viagem.
Soldados romanos, escravos misérrimos, caravaneiros humildes,
receberam de seus lábios as confortadoras notícias de Jesus. E
não poucos escreveram, à pressa, uma que outra das anotações
de Levi, preferindo as que mais se ajustavam ao seu caso
particular. Por esse processo, o Evangelho difundia-se, cada
vez mais, enchendo de esperanças os corações.
Na cidade do seu berço, mais senhor das convicções próprias, o
tecelão que se consagrara a Jesus espalhou a mancheias os
júbilos do Evangelho da Redenção. Muitos admiraram o
conterrâneo, cada vez mais singularmente transformado; outros
prosseguiram na tarefa ingrata da ironia e do lamentável
esquecimento de si mesmos. Paulo, no entanto, sentia-se forte
na fé, como nunca. Defrontou a velha casa em que nascera,
reviu o sítio ameno onde brincara os primeiros tempos da
infância; contemplou o campo de esportes onde guiara sua biga
romana; mas exumou as recordações sem lhes sofrer a influência
depressiva, porque tudo entregava ao Cristo como patrimônio em
cuja posse poderia entrar mais tarde, quando houvesse cumprido
seu divino mandato.
Depois de breve permanência na capital da Cilícia, Paulo e
Silas procuraram alcançar os cumes do Tauro, empreendendo nova
etapa da rude peregrinação em começo.
Noites ao relento, sacrifícios numerosos, ameaças de
malfeitores, perigos sem conta foram enfrentados pelos
missionários que, todas as noites, entregavam ao Divino Mestre
os resultados da recolta (colheita)e, pela manhã, rogavam à
sua misericórdia não lhes faltasse com a valiosa oportunidade
de trabalho, por mais dura que fosse a tarefa diária.
Cheios dessa confiança ativa, chegaram a Derbe, onde o
ex-rabino abraçou comovidamente os amigos que ali chegara a
fazer, após a dolorosa convalescença, quando da primeira
excursão.
O Evangelho continuava, a estender seu raio de ação em todos
os setores.
Profundamente sensibilizado, o convertido de Damasco, no
desdobramento natural do serviço, começou a obter notícias da
ação de Timóteo. O jovem filho de Eunice, pelo que lhe
informavam, soubera enriquecer, de maneira prodigiosa, os
conhecimentos adquiridos. A pequena cristandade de Derbe já
lhe devia grandes benefícios. Por mais de uma vez, o novo
discípulo ali acorrera em missões ativas. Disseminava curas e
consolações. Seu nome era abençoado de todos. Cheio de júbilo,
após o término de suas tarefas naquela cidade pequenina, o
ex-rabino demandou Listra, com ansiedade carinhosa.
Loide o recebeu, bem como a Suas, com a mesma satisfação da
primeira vez. Todos queriam notícias de Barnabé, que Paulo não
deixava de fornecer, solícito e prazenteiro. Na tarde desse
dia, o convertido de Damasco abraçou Timóteo com imensa
alegria a transbordar-lhe da alma O rapaz chegava da faina
diária junto dos rebanhos. Em breves minutos, Paulo conhecia a
extensão dos seus progressos e conquistas espirituais. A
comunidade de Listra estava rica de graças. O moço cristão
conseguira a renovação de muita gente: dois judeus dos mais
influentes na administração pública, destacados entre os que
promoveram a lapidação do Apóstolo, eram agora seguidores
fiéis da doutrina do Cristo. Cuidava-se da construção de uma
igreja, onde os doentes fossem amparados e as crianças
abandonadas encontrassem um ninho acolhedor.
Paulo regozijou-se.
Naquela mesma noite, houve em Listra grande assembleia. O
Apóstolo dos gentios encontrou uma atmosfera carinhosa, que
lhe prodigalizava grande conforto. Expôs o objetivo de sua
viagem, revelando suas preocupações pela difusão do Evangelho
e acrescentando o assunto pertinente à igreja de Jerusalém.
Como em Derbe, todos os companheiros contribuíram com o
possível. Paulo não cabia em si de contentamento, observando o
triunfo tangível do esforço de Timóteo nas camadas populares.
Aproveitando sua passagem por Listra, a bondosa Loide
confidenciou-lhe suas necessidades particulares. Ela e Eunice
tinham parentes na Grécia, por parte do pai de seu neto, os
quais lhes reclamavam a presença pessoal, a fim de que não
lhes faltassem com os socorros afetuosos, Os recursos que lhes
restavam, em Listra, estavam prestes a esgotar-se.
Por outro lado, desejava que Timóteo se consagrasse ao serviço
de Jesus, iluminando o coração e a inteligência. A generosa
velhinha e a filha projetavam, então, a mudança definitiva e
consultavam o Apóstolo sobre a possibilidade de aceitar a
companhia do rapaz, pelo menos durante algum tempo, não só
para que ele adquirisse novos valores no terreno da prática,
como também porque isso facilitaria a transferência de todos
para lugar tão distante.
Paulo acedeu de bom grado. Aceitaria a cooperação de Timóteo
com sincero prazer. O rapaz, a seu turno, conhecendo a
decisão, não sabia como traduzir seu profundo reconhecimento,
com transportes de alegria.
Nas vésperas da partida, Silas entrou prudentemente no assunto
e perguntou ao Apóstolo se não era de bom alvitre operar a
circuncisão do moço, a fim de que o judaísmo não perturbasse
os labores apostólicos. Em socorro de sua arguição, invocava
os obstáculos e lutas acerbas de Jerusalém. Paulo meditou
bastante, recordou a necessidade de espalhar o Evangelho sem
escândalo para ninguém, e concordou com a medida aventada.
Timóteo teria de pregar publicamente. Conviveria com os
gentios, mas, maiormente, com os israelitas, senhores das
sinagogas e de outros centros, onde a religião era ministrada
ao povo. Era justo refletir na providência para que o moço não
fosse incomodado em sua companhia.
O filho de Eunice obedeceu sem hesitação. Daí a dias,
despedindo-se dos irmãos e das generosas mulheres que ficavam
a chorar nos votos de paz em Deus, os missionários demandaram
Icônio, cheios de coragem indômita e do firme propósito de
servir a Jesus.
No espírito amoroso de pregação e fraternidade, dilatando o
poder do Evangelho redentor sobre as almas e jamais esquecendo
o auxílio à igreja de Jerusalém, os discípulos visitaram todas
as pequeninas aldeias da Galácia, demorando-se algum tempo em
Antioquia de Pisídia, onde trabalharam, de algum modo, para se
manterem a si mesmos.
Paulo estava satisfeitíssimo. Seus esforços, em companhia de
Barnabé, não haviam sido improfícuos. Nos lugares mais
remotos, quando menos esperava, eis que surgiam notícias das
igrejas anteriormente fundadas. Eram benefícios a
necessitados, melhoras ou curas de enfermos, consolações aos
que se encontravam em extremo desespero. O Apóstolo
experimentava o contentamento do semeador que defronta as
primeiras flores, como radiosas promessas do campo.
Os emissários da Boa Nova atravessaram a Frígia e a Galácia
sem perseguições de grande envergadura. O nome de Jesus era,
agora, pronunciado com mais respeito.
O ex-rabino continuava em franca atividade para a difusão do
Evangelho na Ásia, quando, uma noite, após as preces
habituais, ouviu uma voz que lhe dizia com amoroso acento:
— Paulo, sigamos adiante… Levemos a luz do Céu a outras
sombras; outros irmãos te esperam no caminho infinito!…
Era Estevão, o amigo de todos os minutos, que, representando o
Mestre Divino junto do Apóstolo dos gentios, o concitava à
semeadura noutros rumos.
O valoroso emissário das verdades eternas compreendeu que o
Senhor lhe reservava novos campos a desbravar. No dia
seguinte, informando Silas e Timóteo do sucedido, concluía
inspirado:
— Tenho, assim, que o Mestre me chama a novas tarefas. É
justo. Aliás, reconheço que estas regiões já receberam a
semente divina.
E acentuava depois de uma pausa:
— Desta vez, já não encontramos muitas dificuldades. Antes,
com Barnabé, experimentamos as expulsões, o cárcere, os
açoites, o apedrejamento… Agora, porém, nada disso aconteceu.
Quer dizer que por aqui já existem bases seguras para a
vitória do Cristo. É preciso, portanto, caminhar para onde se
encontrem os obstáculos e vencê-los, para que o Mestre seja
conhecido e glorificado, pois nós estamos numa batalha e é
necessário não desprezar as frentes.
Os dois discípulos ouviram e procuraram meditar na grandeza de
semelhantes conceitos.
Decorrida uma semana, lá se foram a pé, procurando a Mísia. E
contudo, intuitivamente, Paulo percebeu que não seria ainda
ali o novo campo de operações. Pensou em se dirigir para a
Bitínia, mas a voz que o generoso Apóstolo interpretava como
sendo a do “Espírito de Jesus” (1) Atos, capítulo 16,
versículo 7. — (Nota de Emmanuel), sugeriu-lhe a alteração do
trajeto, induzindo-o a descer para Trôade. Chegados ao ponto
do destino, acolheram-se cansadíssimos, numa hospedaria
modesta. E Paulo, numa visão significativa do espírito, viu um
homem da Macedônia, que identificou pelo vestuário
característico, a acenar-lhe ansiosamente, exclamando: — “Vem
e ajuda-nos!”
O ex-doutor interpretou o fato como ordenação de Jesus, a
respeito de seus novos encargos. Cientificou os companheiros
logo pela manhã, não sem ponderar a extrema dificuldade da
viagem por mar, baldo que estava de recursos.
— Entretanto, concluía, creio que o Mestre lá nos facultará o
necessário.
Silas e Timóteo calaram-se respeitosos.
Saindo à rua cheia de sol, pela manhã, eis que o Apóstolo fixa
o olhar numa casa de comércio e para lá se dirige com ansiosa
alegria. Era Lucas que parecia fazer compras.
O ex-rabino aproximou-se com os discípulos, e bateu-lhe
carinhosamente no ombro:
— Por aqui? — disse Paulo, com grande sorriso.
Abraçaram-se alegremente. O pregador do Evangelho apresentou
ao médico os novos companheiros, falando-lhe dos objetivos de
sua excursão por aquelas paragens. Lucas, a seu turno,
explicou que, havia dois anos, era encarregado dos serviços
médicos, a bordo de grande embarcação ali ancorada, em
trânsito para Samotrácia.
Paulo recebeu a informação com profundo interesse. Muito
impressionado com o encontro, deu-lhe a conhecer a revelação
auditiva do roteiro, bem como a vidência da véspera.
E convicto da assistência do Mestre naquele instante, falava
com segurança:
— Estou certo de que o Senhor nos envia os recursos
necessários na tua pessoa. Precisamos transportar-nos à
Macedônia, mas estamos sem dinheiro.
— Quanto a isso — respondeu Lucas, com franqueza —, não te
preocupes. Se não tenho fortuna, tenho vencimentos. Seremos
companheiros de viagem e tudo pagarei com muita satisfação.
A palestra prosseguiu animada, relatando o antigo hóspede de
Antioquia as suas conquistas para Jesus. Nas suas viagens,
havia aproveitado todas as oportunidades em prol do Evangelho,
transmitindo a quantos se lhe aproximavam os tesouros da Boa
Nova. Quando contou que estava só no mundo, com a partida da
genitora para a esfera espiritual, Paulo fez-lhe nova
observação, acentuando:
— Ora, Lucas, se te encontras sem compromissos imediatos, por
que não te dedicas inteiramente aos trabalhos do Mestre
Divino?
A pergunta produziu certa emoção no médico, como se valesse
por uma revelação. Passada a surpresa, Lucas acrescentou, um
tanto indeciso:
— Sim, mas há que considerar os deveres da profissão.
— Mas, quem foi Jesus senão o Divino Médico do mundo inteiro?
Até agora tens curado corpos, que, de qualquer modo, cedo ou
tarde hão de perecer.
Tratar do espírito não seria um esforço mais justo? Com isso
não quero dizer que se deva desprezar a medicina propriamente
do mundo; no entanto, essa tarefa ficaria para aqueles que
ainda não possuem os valores espirituais que trazes contigo.
Sempre acreditei que a medicina do corpo é um conjunto de
experiências sagradas, de que o homem não poderá prescindir,
até que se resolva a fazer a experiência divina e imutável, da
cura espiritual.
Lucas meditou seriamente nessas palavras e replicou:
— Tens razão.
— Queres cooperar conosco na evangelização da Macedônia? —
interrogou o ex-rabino sentindo-se triunfante. Irei contigo —
concluiu Lucas.
Entre os quatro discípulos do Cristo houve enorme júbilo.
No dia seguinte, a missão navegava para a Samotrácia. Lucas
explicou-se como pôde, Solicitando ao comando a permissão de
se afastar por um ano dos serviços a seu cargo. E porque
apresentasse substituto, conseguiu com facilidade o seu
intento.
A bordo, como fazia em toda parte, Paulo aproveitou todos os
ensejos para a pregação.
As menores margens eram grandes temas evangélicos no seu
raciocínio superior, O próprio comandante, romano de boa
têmpera, abandonava-se prazerosamente ao gosto de ouvi-lo.
Foi nessas viagens que Paulo de Tarso travou relações com
grande círculo de simpatizantes do Evangelho, conquistando
numerosos amigos, citados nas futuras epístolas.
Desembarcados, os missionários, enriquecidos com a cooperação
de Lucas, descansaram dois dias em Neápolis, dirigindo-se em
seguida para Filipes. Quase às portas da cidade, Paulo sugeriu
que Lucas e Timóteo se dirigissem, por outros caminhos, para
Tessalônica, onde os quatro se reuniriam mais tarde. Com esse
programa, nem uma aldeia ficaria esquecida e as sementes do
Reino de Deus seriam espalhadas nos meios mais simples. A
ideia foi aprovada com satisfação.
Lucas não deixou de perguntar se Timóteo era circuncidado.
Conhecia as tricas dos judeus e não desejava atritos nas suas
tarefas iniciais.
— Esse problema — esclareceu o Apóstolo dos gentios — já foi
necessariamente atendido. As duas humilhações infligidas a um
jovem confrade que levei a Jerusalém, não a conselho da
sinagoga, mas a uma reunião da igreja, levaram-me a refletir
na situação de Timóteo, que precisará, muitas vezes, dos
favores dos israelitas no curso das pregações. Até que Deus
opere a circuncisão de tantos corações endurecidos, é
indispensável saibamos agir com prudência, sem atritos que nos
inutilizem os esforços.
Esclarecido o assunto, entraram na cidade onde o médico e o
jovem de Listra descansariam um pouco, antes de tomarem o rumo
de Tessalônica por estradas diferentes, de modo a multiplicar
os frutos da missão.
Hospedaram-se num albergue quase miserável que a população da
cidade reservava aos estrangeiros. Depois de três noites ao
relento, os amigos de Jesus dirigiram-se à casa de oração, que
ficava à margem do rio Gangas.
Filipes não possuía sinagoga e o santuário destinado às
preces, embora tomasse o titulo de “casa”, não era mais que um
recanto ameno da Natureza, rodeado de muros em ruínas.
Ciente da situação religiosa da cidade, Paulo dirigiu-se para
lá com os companheiros. Muito surpreendidos, entretanto, os
missionários não encontraram senão senhoras e meninas em
oração. O ex-rabino penetrou resolutamente no círculo feminino
e falou dos objetivos do Evangelho, como se estivesse diante
de imenso público. As mulheres estavam magnetizadas por sua
palavra ardorosa e sublime. Enxugavam discretamente as
lágrimas que lhes afluíam ao rosto, ao receberem notícias do
Mestre, e uma delas, chamada Lídia, viúva digna e generosa,
aproximou-se dos missionários e, confessando-se convertida ao
Salvador esperado, oferecia-lhes a própria casa para fundarem
a nova igreja.
Paulo de Tarso contemplou-a de olhos úmidos. Escutando-lhe a
voz desbordante de cristalina sinceridade, recordou que no
Oriente, no dia inesquecível do Calvário, só as mulheres
haviam acompanhado Jesus no doloroso transe, sendo as
primeiras criaturas que o viram na gloriosa ressurreição; e
eram ainda elas que, em doce reunião espiritual, vinham
receber a palavra do Evangelho no Ocidente, pela primeira vez.
Em silenciosa contemplação, o Apóstolo dos gentios fixou o
grande número de meninas que se ajoelhavam à sombra carinhosa
das árvores. Observando-lhes os trajes muito claros, teve a
impressão de que via à sua frente um gracioso bando de pombas
muito alvas, prestes a desferir o voo glorioso dos
ensinamentos do Cristo, pelos céus maravilhosos da Europa.
Foi por isso que, contrariamente à expectativa dos
companheiros, o enérgico pregador respondeu à Lídia em tom
muito afável.
— Aceitamos vossa hospedagem.
Desde aquele minuto, travou-se entre Paulo de Tarso e sua
carinhosa igreja de Filipes a mais formosa amizade.
Lídia, cuja casa era muito abastada, em vista do movimento
comercial de púrpuras, acolheu os discípulos do Messias com
júbilo indescritível. Enquanto isso, Lucas e Timóteo
continuavam a viagem. Silas e o ex-doutor de Jerusalém
consagravam-se ao serviço do Evangelho, entre os generosos
filipenses.
A cidade singularizava-se por seu espírito romano. Havia nas
ruas vários templos dedicados aos deuses antigos. E como
apenas as mulheres procuravam o recinto da casa de orações,
Paulo, com o desassombro que o caracterizava, deliberou fazer
pregações do Evangelho na praça pública.
Na mesma época, possuía Filipes uma pitonisa que se
celebrizara nas redondezas. Como nas tradições de Delfos, suas
palavras eram interpretadas como oráculo infalível. Tratava-se
de uma rapariga cujos patrões procuraram mercantilizar seus
poderes psíquicos. A mediunidade era utilizada por Espíritos
menos evoluídos, que se compraziam em dar palpites sobre
motivos de ordem temporal. A situação era altamente rendosa
para os que a exploravam descaridosamente. Aconteceu que a
jovem estava presente à primeira pregação de Paulo, recebida
pelo povo com êxito inexcedível. Terminado a exposição
evangélica, os missionários observam a moça que, em grandes
brados que impressionavam o público, se põe a exclamar:
— Recebei os enviados do Deus Altíssimo!… Eles anunciam a
salvação!…
Paulo e Silas ficaram um tanto perplexos; entretanto, nada
replicaram, conservando o incidente no coração, em atitude
discreta. No dia seguinte, porém, repetia-se o fato e, durante
uma semana, os discípulos do Evangelho ouviram, após as
pregações, a entidade que se assenhoreava da jovem,
atirando-lhes elogios e títulos pomposos.
O ex-rabino, no entanto, desde a primeira manifestação
procurara saber quem era a rapariga anônima e ficou conhecendo
os antecedentes do caso.
Estimulados pelo ganho fácil, os patrões haviam instalado um
gabinete onde a pitonisa atendia às consultas. Ela, por sua
vez, de vítima ia passando a sócia da empresa, que pingues
eram os rendimentos. Paulo, que nunca se conformou com a
mercancia dos bens celestes, percebeu o mecanismo oculto dos
acontecimentos e, senhor de todos os particulares do assunto,
esperou que o visitante do invisível novamente aparecesse.
Assim, terminada a pregação na praça, quando a jovem começou a
gritar:
“Recebei os mensageiros da redenção! Não são homens, são anjos
do Altíssimo!...” — o convertido de Damasco desceu da tribuna
a passos firmes e, aproximando-se da locutora dominada por
estranha influência, intimou a entidade manifestante, em tom
imperativo:
— Espírito perverso, não somos anjos, somos trabalhadores em
luta com as próprias fraquezas, por amor ao Evangelho; em nome
de Jesus Cristo ordeno que te retires para sempre! Proíbo-te,
em nome do Senhor, estabeleceres confusão entre as criaturas,
incentivando interesses mesquinhos do mundo em detrimento dos
sagrados interesses de Deus!
Imediatamente, a pobre rapariga recobrou energias e
libertou-se da atuação malfazeja.
O fato provocou enorme admiração popular.
O próprio Silas que, de algum modo, se comprazia em ouvir as
afirmações da pitonisa, interpretando-as como um conforto
espiritual, estava boquiaberto.
Quando se viram a sós, quis lhe dissesse Paulo os motivos que
o levaram a semelhante atitude, e perguntou-lhe:
— Acaso não falava ela do nome de Deus? Sua propaganda não
seria para nós valioso auxílio?
O Apóstolo sorriu e sentenciou:
— Porventura, Silas, poder-se-á na Terra julgar qualquer
trabalho antes de concluído?
Aquele Espírito poderia falar em Deus, mas não vinha de Deus.
Que fizemos para receber elogios? Dia e noite, estamos lutando
contra as imperfeições de nossa alma. Jesus mandou que
insulássemos, a fim de aprendermos duramente. Não ignoras como
vivo em batalha com o espinho dos desejos inferiores. Então?
Seria justo aceitarmos títulos imerecidos quando o Mestre
rejeitou o qualificativo de “bom”? Claro que, se aquele
Espírito viesse de Jesus, outras seriam suas palavras.
Estimularia nosso esforço, compreendendo nossas fraquezas.
Além do mais, procurei informar-me a respeito da jovem e sei
que ela é hoje a chave de grande movimento comercial.
Silas impressionou-se com os esclarecimentos mais que justos.
Mas, dando a entender suas dificuldades para os compreender
integralmente, acrescentou:
—Todavia, será o incidente uma lição para não entretermos
relações com o plano invisível?
—Como pudeste chegar a semelhante conclusão? — respondeu o
ex-rabino muito admirado.
—O Cristianismo sem o profetismo seria um corpo sem alma. Se
fecharmos a porta de comunicação com a esfera do Mestre, como
receber seus ensinos?
Os sacerdotes são homens, os templos são de pedra. Que seria
de nossa tarefa sem as luzes do plano superior? Do solo brota
muito alimento, mas, apenas para o corpo; para a nutrição do
espírito é necessário abrir as possibilidades de nossa alma
para o Alto e contar com o amparo divino. Nesse particular,
toda a nossa atividade repousa nas dádivas recebidas. Já
pensaste no Cristo sem ressurreição e sem intercâmbio com os
discípulos? Ninguém poderá fechar as portas que nos comunicam
com o Céu.
O Cristo está vivo e nunca morrerá. Conviveu com os amigos,
depois do Calvário, em Jerusalém e na Galileia; trouxe uma
chuva de luz e sabedoria aos cooperadores galileus, no
Pentecostes; chamou-me às portas de Damasco; mandou um
emissário para a libertação de Pedro, quando o generoso
pescador chorava no cárcere…
A voz de Paulo tinha acentos maravilhosos, nessas profundas
evocações.
Silas compreendeu e calou-se, de olhos rasos de pranto.
O incidente, entretanto, teria mais vastas repercussões, além
daquelas que os Apóstolos do Mestre poderiam esperar. A
pitonisa não mais recebeu a visita da entidade que distribuía
palpites de toda sorte. Em vão, os consulentes viciados lhe
bateram à porta. Vendo-se privados da renda fácil, os
prejudicados fomentaram largo movimento de revolta contra os
missionários. Espalhava-se o boato de que Filipes, em virtude
da audácia do pregador revolucionário, fora privada da
assistência dos Espíritos de Deus. Os fanáticos exaltaram-se.
Daí a três dias, Paulo e Silas foram surpreendidos, em plena
praça, com um ataque do povo e foram presos a troncos
pesadíssimos e flagelados, sem compaixão. Sob os apupos da
massa ignorante, submeteram-se, com humildade, ao suplício.
Quando sangravam sob as varas impiedosas, houve a intervenção
das autoridades e foram então conduzidos ao cárcere, abatidos
e cambaleantes. Dentro da noite escura e dolorosa,
incapacitados de dormir, pelas dores crudelíssimas, os
discípulos de Jesus vigiaram em preces ungidas de luminoso
fervor.
Lá fora, rugia a tempestade em trovões terríveis e ventos
sibilantes. Filipes inteira parecia abalada em seus alicerces
pela tormenta fragorosa. Passava da meia-noite e os dois
Apóstolos oravam em voz alta. Os prisioneiros vizinhos,
vendo-os em oração, pareciam acompanhá-los, pela expressão do
rosto. Paulo contemplou-os, através das grades, e,
aproximando-se, a custo, começou a pregar o Reino de Deus. Ao
comentar a tempestade imprevista que se abatera sobre o ânimo
dos discípulos, enquanto Jesus dormia na barca, um fato
maravilhoso feriu os olhos dos encarcerados. As portas pesadas
das numerosas celas se abriram sem ruído. Silas ficou lívido.
Paulo compreendeu e saiu ao encontro dos companheiros.
Continuou pregando as verdades eternas do Senhor, com
entonação impressionante; e vendo umas dezenas de homens de
peito hirsuto (pelos arrepiados), barbas longas, fisionomias
taciturnas, como se estivessem plenamente esquecidos do mundo,
o Apóstolo dos gentios falou, com mais entusiasmo, da missão
do Cristo e pediu que ninguém tentasse fugir. Os que se
reconhecessem culpados agradecessem ao Pai os benefícios da
corrigenda; os que se julgassem inocentes dessem expansão ao
regozijo, porque só os martírios do justo podiam salvar o
mundo. Esses argumentos de Paulo contiveram toda a estranha e
reduzida assembleia. Ninguém procurou alcançar a porta de
saída, senão que, reunindo-se em torno daquele desconhecido,
que tão bem sabia falar aos desgraçados, muitos se ajoelharam
em pranto, convertendo-se ao Salvador que ele anunciava com
bondade e energia.
Ao alvorecer, amainada a tormenta, levanta-se o carcereiro,
perturbado pelo vozerio singular. Vendo as portas abertas e
temendo a sua responsabilidade, tenta matar-se,
instintivamente. Mas Paulo avança e impossibilita-lhe o gesto
extremo, explicando-lhe a ocorrência. Todos os encarcerados
regressaram humildes ao seu cubículo. Lucano, o carcereiro,
converte-se à nova doutrina. Antes que a claridade diurna
invadisse a paisagem, ei-lo que traz aos Apóstolos os socorros
de emergência, pensando-lhes as feridas, sensibilizado como
nunca. Residindo ali mesmo, conduz os discípulos ao interior
doméstico, manda servir-lhes alimento e vinho reconfortante.
Logo nas primeiras horas, os juízes filipenses são informados
dos fatos. Cheios de temor, mandam libertar os pregadores;
mas, Paulo, desejando oferecer garantias ao serviço cristão
que se iniciava na igreja fundada em casa de Lídia, alega sua
condição de cidadão romano, a fim de infundir mais respeito
aos magistrados de Filipes pelas ideias do profeta nazareno.
Recusa a ordem de soltura para exigir a presença dos juízes,
que comparecem receosos. O Apóstolo anuncia-lhes o Reino de
Deus e, exibindo seus títulos, obriga-os a escutar suas
dissertações relativamente a Jesus. Fê-los sabedores dos
trabalhos evangélicos que alvoreciam na cidade, com a
cooperação de Lídia e comentou o direito dos cristãos em toda
parte. Os magistrados apresentaram-lhe desculpas, garantiram a
manutenção da paz para a igreja nascente, e, alegando a
extensão de suas responsabilidades perante o povo, rogaram a
Paulo e Silas que deixassem a cidade, para evitar novos
tumultos.
O ex-rabino sentiu-se satisfeito e, voltando à residência da
generosa purpureira, em companhia de Silas que lhe reconhecia
a fortaleza, sem dissimular o grande espanto, ali demorou
alguns dias traçando o programa dos trabalhos da nova
sementeira de Jesus. Em seguida, rumou para Tessalônica,
escalando em todos os recantos onde houvesse sítios ou aldeias
à espera de notícias do Salvador.
Nesse novo centro de lutas, reencontraram Lucas e Timóteo que
os aguardavam ansiosos.
Os trabalhos seguiram ativíssimos. Em toda parte, os mesmos
choques.
Judeus preconceituosos, homens de má-fé, ingratos e
indiferentes, conluiavam-se contra o ex-doutor de Jerusalém e
seus devotados companheiros.
Paulo mantinha-se forte e superior nas mínimas refregas.
Sobrevinham dissabores, angústias na praça pública, acusações
injustas, calúnias cruéis; poderosas ameaças caiam às vezes,
inesperadamente, sobre o desinteresse divino de suas obras;
mas o valoroso discípulo do Senhor prosseguia sempre, sereno e
firme através das tormentas, vivendo estritamente do seu
trabalho e compelindo os amigos a fazerem o mesmo. Era
indispensável que Jesus triunfasse nos corações, esse o seu
programa primordial. Desatendia a qualquer capricho,
sobrepunha essa realidade a quaisquer conveniências e a missão
continuava entre dores e obstáculos formidandos, mas, segura e
vitoriosa em sua divina finalidade.
Depois de incontáveis atritos, com os judeus, em Tessalônica,
o ex-rabino resolveu transferir-se para Bereia. Novos labores,
novas dedicações e novos martírios. Os trabalhos missionários,
iniciados sempre em paz, continuavam debaixo de lutas
extremas.
Os judeus rigorosos, de Tessalônica, não faltaram em Bereia. A
cidade movimentou-se contra os discípulos do Evangelho, os
ânimos exaltaram-se.
Lucas, Timóteo e Silas foram obrigados a afastar-se,
perambulando pelas aldeias circunvizinhas. Paulo foi preso e
açoitado.
A custa de grandes sacrifícios dos simpatizantes de Jesus,
deram-lhe liberdade, com a condição de retirar-se dentro do
menor prazo possível.
O ex-rabino acedeu prontamente. Sabia que atrás de si e
através de esforços insanos, sempre ficaria uma igreja
doméstica, que se alargaria ao infinito, bafejada pela
misericórdia do Mestre, a fim de proclamar a excelência da Boa
Nova.
Era noite, quando os irmãos de ideal conseguiram trazê-lo do
cárcere para a via pública.
O Apóstolo dos gentios procurou informar-se sobre os
companheiros e soube das vicissitudes que os assoberbavam.
Lembrou que Silas e Lucas estavam doentes, que Timóteo
necessitava encontrar-se com a sua mãe no porto de Corinto.
Era melhor proporcionar aos amigos uma trégua no vórtice das
atividades renovadoras. Não seria justo requisitar-lhes a
cooperação, quando ele próprio experimentava a necessidade de
repouso.
Os irmãos de Bereia insistiam pela sua partida. Era uma
temeridade provocar novos atritos. Foi aí que Paulo deliberou
pôr em prática um velho plano. Visitaria Atenas satisfazendo
um velho ideal. Muitas vezes, impressionado com a cultura
helênica recebida em Tarso, alimentara o desejo de
conhecer-lhe os monumentos gloriosos, os templos soberbos, o
espírito sábio e livre. Quando ainda muito jovem, cogitara
dessa visita à cidade magnificente dos velhos deuses,
disposto a levar-lhe os tesouros da fé, guardados em
Jerusalém: procuraria as assembleias cultas e independentes e
falaria de Moisés e da sua Lei. Pensando, agora, na realização
de tal projeto, considerava que levaria luzes muito mais ricas
ao espírito ateniense: anunciaria à cidade famosa o Evangelho
de Jesus. Certo, quando falasse na praça pública, não
encontraria os tumultos, tão do gosto israelita. Antegozava o
prazer de falar à multidão afeiçoada ao trato das coisas
espirituais.
Indubitavelmente, os filósofos esperavam notícias do Cristo,
com impaciência.
Teriam nas suas pregações evangélicas o verdadeiro sentido da
vida.
Embalado por essas esperanças, o Apóstolo dos gentios decidiu
a viagem, acompanhado de alguns amigos mais fiéis. Estes,
porém, regressaram das portas atenienses, deixando-o
completamente só.
Paulo penetrou na cidade possuído de grande emoção. Atenas
ainda ostentava numerosas belezas exteriores. Os monumentos de
suas tradições veneráveis estavam quase todos de pé; brandas
harmonias vibravam no céu muito azul; vales risonhos
atapetavam-se de flores e perfumes. A grande alma do Apóstolo
extasiou-se na contemplação da Natureza. Recordou os nobres
filósofos que haviam respirado aqueles mesmos ares, rememorou
os fastos gloriosos do passado ateniense, sentindo-se
transportado a maravilhoso santuário. Entretanto, o transeunte
das ruas não lhe podia ver a alma, e de Paulo viram apenas o
corpo esquálido que as privações tornaram exótico.
Muita gente o tomou por mendigo, farrapo humano da grande
massa que chegava, em fluxo contínuo, do Oriente desamparado.
O emissário do Evangelho, no entusiasmo de suas generosas
intenções, não podia perceber as desencontradas opiniões a seu
respeito. Cheio de bom ânimo, resolveu pregar na praça
pública, na tarde desse mesmo dia. Ansiava por defrontar o
espírito ateniense, tal como já defrontara as grandezas
materiais da cidade.
Seu esforço, no entanto, foi seguido de penoso insucesso.
Inúmeras pessoas aproximaram-se no primeiro momento; mas,
quando lhe ouviram as referências a Jesus e à ressurreição,
grande parte dos assistentes rompeu em gargalhadas de
irritante ironia.
— Será este filósofo um novo deus? — perguntava um transeunte
com ar de pilhéria.
— Está muito desajeitado para tanto — respondia o interpelado.
— Onde já se viu um deus assim? — indagava ainda outro. — Vede
como lhe tremem as mãos! Parece doente e enfraquecido. A barba
é selvagem e está cheio de cicatrizes!…
— E louco — exclamava um ancião com vastas presunções de
sabedoria.
— Não percamos tempo.
Paulo tudo ouvia, notou a fila dos retirantes, indiferentes e
endurecidos, e experimentou muito frio no coração. Atenas
estava muito distanciada das suas esperanças. A assembleia
popular deu-lhe a impressão de enorme ajuntamento de criaturas
envenenadas de falsa cultura. Por mais de uma semana
perseverou nas pregações públicas sem resultados apreciáveis.
Ninguém se interessou por Jesus e, muito menos, em
oferecer-lhe hospedagem por uma simples questão de simpatia.
Era a primeira vez, desde que iniciara a tarefa missionária,
que se retiraria de uma cidade sem fundar uma igreja. Nas
aldeias mais rústicas, sempre aparecia alguém que copiava as
anotações de Levi para começar o labor evangélico no recinto
humilde de um lar. Em Atenas ninguém apareceu interessado na
leitura dos textos evangélicos. Entretanto, foi tanta a
insistência de Paulo junto de algumas personagens em
evidência, que o levaram ao Areópago, para tomar contacto
com os homens mais sábios e inteligentes da época.
Os componentes do nobre conclave receberam-lhe a visita com
mais curiosidade que interesse.
O Apóstolo ali penetrara por mercê de Dionísio, homem culto e
generoso, que lhe atendera às solicitações, a fim de observar
até onde ia a sua coragem na apresentação da doutrina
desconhecida.
Paulo começou impressionando o auditório aristocrático,
referindo-se ao “Deus desconhecido”, homenageado nos altares
atenienses. Sua palavra vibrante apresentava cambiantes
singulares; as imagens eram muito mais ricas e formosas que as
registradas pelo autor dos Atos. O próprio Dionísio estava
admirado. O Apóstolo revelava-se-lhe muito diferente de quando
o vira na praça pública. Falava com alta nobreza, com ênfase;
as imagens revestiam-se de extraordinário colorido; mas,
quando, começou a discorrer sobre a ressurreição, houve forte
e prolongado murmúrio. As galerias riam a bandeiras
despregadas, choviam remoques acerados. A aristocracia
Intelectual ateniense não podia ceder nos seus preconceitos
científicos.
Os mais irônicos deixavam o recinto com gargalhadas
sarcásticas, enquanto os mais comedidos, em consideração a
Dionísio, aproximaram-se do Apóstolo com sorrisos
intraduzíveis, declarando que o ouviriam de bom grado por
outra vez, quando não se desse ao luxo de comentar assuntos de
ficção.
Paulo ficou, naturalmente, desolado. No momento, não podia
chegar à conclusão de que a falsa cultura encontrará sempre,
na sabedoria verdadeira, uma expressão de coisas imaginárias e
sem sentido. A atitude do Areópago não lhe permitiu chegar ao
fim. Em breve o suntuoso recinto estava quase silencioso, O
Apóstolo, então, lembrou que seria preferível arrostar o
tumulto dos judeus. Onde houvesse luta, haveria sempre frutos
a colher. As discussões e os atritos, em muitos casos,
representavam o revolvimento da terra espiritual para a
semente divina. Ali, entretanto, encontrara a frieza da pedra.
O mármore das colunas soberbas deu-lhe imediatamente a imagem
da situação. A cultura ateniense era bela e bem cuidada,
impressionava pelo exterior magnífico, mas estava fria, com a
rigidez da morte intelectual.
Apenas Dionísio e uma jovem senhora de nome Dâmaris e alguns
serviçais do palácio permaneciam a seu lado, extremamente
constrangidos, embora propensos à causa.
Não obstante o desapontamento, Paulo de Tarso fez o possível
por evitar a nuvem de tristeza que pairava sobre todos, a
começar por ele próprio. Ensaiou um sorriso de conformação e
tentou algo de bom humor. Dionísio consolidou, ainda mais, sua
admiração pelas poderosas qualidades espirituais daquele homem
de aparência franzina, tão enérgico e cioso de suas
convicções.
Antes de se retirarem, Paulo falou na possibilidade de fundar
uma igreja, ainda que fosse num humilde santuário doméstico,
onde se estudasse e comentasse o Evangelho. Mas os presentes
não regatearam escusativas e pretextos. Dionísio afirmou que
lamentava não lhe ser possível amparar o cometimento, dada a
angústia de tempo; Dâmaris alegou os impedimentos domésticos;
os servos do Areópago, um por um, manifestaram dificuldades
extremas. Um era muito pobre, outro muito incompreendido, e
Paulo recebeu todas as recusas mantendo singular expressão
fisionômica, como o semeador que se vê rodeado somente de
pedras e espinheiros.
O Apóstolo dos gentios despediu-se com serenidade; mas, tão
logo se viu só, chorou copiosamente. A que atribuir o doloroso
insucesso? Não pôde compreender, imediatamente, que Atenas
padecia de seculares intoxicações intelectuais, e, supondo-se
desamparado pelas energias do plano superior, o ex-rabino deu
expansão a terrível desalento. Não se conformava com a frieza
geral, mesmo porque, a nova doutrina não lhe pertencia e sim
ao Cristo.
Quando não chorava refletindo na própria dor, chorava pelo
Mestre, julgando que ele, Paulo, não havia correspondido à
expectativa do Salvador.
Por muitos dias, não conseguiu desfazer a nuvem de
preocupações que lhe ensombrou a alma. Todavia, encomendava-se
a Jesus e suplicava-lhe proteção para os grandes deveres da
sua vida.
Nesse bulcão de incertezas e amarguras, surgiu o socorro do
Mestre ao Apóstolo bem-amado. Timóteo chegara de Corinto,
carregado de boas notícias.
Kardec e amigos
Jesus Cristo
Chico Xavier
..."Recordemos que o
Espiritismo nos solicita uma espécie permanente de caridade:
a caridade de sua própria divulgação" Emmanuel
Abigail, doente
Emmanuel e Chico Xavier
Aparição de Jesus