Chico Xavier / Emmanuel
Não são poucos os trabalhos que correm
mundo, relativamente à tarefa gloriosa do Apóstolo dos
gentios. É justo, pois, esperarmos a interrogativa: Por que
mais um livro sobre Paulo de Tarso? Homenagem ao grande
trabalhador do Evangelho ou informações mais detalhadas de sua
vida?
Quanto à primeira hipótese, somos dos primeiros a reconhecer
que o convertido de Damasco não necessita de nossas mesquinhas
homenagens; e quanto à segunda, responderemos afirmativamente
para atingir os fins a que nos pro pomos, transferindo ao
papel humano, com os recursos possíveis, alguma coisa das
tradições do plano espiritual acerca dos trabalhos confiados
ao grande amigo dos gentios.
Nosso escopo essencial não poderia ser apenas rememorar
passagens sublimes dos tempos apostólicos, e sim apresentar,
antes de tudo, a figura do cooperador fiel, na sua legitima
feição de homem transformado por Jesus – Cristo e atento ao
divino ministério.
Esclarecemos, ainda, que não é nosso propósito levantar apenas
uma biografia romanceada.
O mundo está repleto dessas fichas educativas, com referência
aos seus vultos mais notáveis. Nosso melhor e mais sincero
desejo é recordar as lutas acerbas e os ásperos testemunhos de
um coração extraordinário, que se levantou das lutas humanas
para seguir os passos do Mestre, num esforço incessante.
As igrejas amornecidas da atualidade e os falsos desejos dos
crentes, nos diversos setores do Cristianismo, justificam as
nossas intenções.
Em toda parte há tendências à ociosidade do espírito e
manifestações de menor esforço. Muitos discípulos disputam as
prerrogativas de Estado, enquanto outros, distanciados
voluntariamente do trabalho justo, suplicam a proteção
sobrenatural do Céu. Templos e devotos entregam-se,
gostosamente, às situações acomodatícias, preferindo as
dominações e regalos de ordem material.
Observando esse panorama sentimental é útil recordarmos a
figura inesquecível do Apóstolo generoso.
Muitos comentaram a vida de Paulo; mas, quando não lhe
atribuíram certos títulos de favor, gratuitos do Céu,
apresentaram-no como um fanático de coração ressequido. Para
uns, ele foi um santo por predestinação, a quem Jesus
apareceu, numa operação mecânica da graça; para outros, foi um
espírito arbitrário, absorvente e ríspido, inclinado a
combater os companheiros, com vaidade quase cruel.
Não nos deteremos nessa posição extremista.
Queremos recordar que Paulo recebeu a dádiva santa da visão
gloriosa do Mestre, às portas de Damasco, mas não podemos
esquecer a declaração de Jesus relativa ao sofrimento que o
aguardava, por amor ao seu nome.
Certo é que o inolvidável tecelão trazia o seu ministério
divino; mas, quem estará no mundo sem um ministério de Deus?
Muita gente dirá que desconhece a própria tarefa, que é
insciente a tal respeito, mas nós poderemos responder que,
além da ignorância, há desatenção e muito capricho pernicioso.
Os mais exigentes advertirão que Paulo recebeu um apelo
direto; mas, na verdade, todos os homens menos rudes têm a sua
convocação pessoal ao serviço do Cristo. As formas podem
variar, mas a essência ao apelo é sempre a mesma. O convite ao
ministério chega, as vezes, de maneira sutil, inesperadamente;
a maioria, porém, resiste ao chamado generoso do Senhor.
Ora, Jesus não é um mestre d e violências e se a figura de
Paulo avulta muito mais aos nossos olhos, é que ele ouviu,
negou-se a si mesmo, arrependeu-se, tomou a cruz e seguiu o
Cristo até ao fim de suas tarefas materiais. Entre
perseguições, enfermidades, apodos, zombarias, desilusões,
deserções, pedradas, açoites e encarceramentos, Paulo de Tarso
foi um homem intrépido e sincero, caminhando entre as sombras
do mundo, ao encontro do Mestre que se fizera ouvir nas
encruzilhadas da sua vida.
Foi muito mais que um predestinado, foi um realizador que
trabalhou diariamente para a luz.
O Mestre chama-o, da sua esfera de claridades imortais. Paulo
tateia nas trevas das experiências humanas e responde:
– Senhor, que queres que eu faça?
Entre ele e Jesus havia um abismo, que o Apóstolo soube
transpor em decênios de luta redentora e constante.
Demonstrá-lo, para o exame do quanto nos compete em trabalho
próprio, a fim de Ir ao encontro de Jesus, é o nosso objetivo.
Outra finalidade deste esforço humilde é reconhecer que o
Apóstolo não poderia chegar a essa possibilidade, em ação
isolada no mundo.
Sem Estevão, não teríamos Paulo de Tarso. O grande mártir do
Cristianismo nascente alcançou influência muito mais vasta na
experiência Paulina, do que poderíamos imaginar tão-só pelos
textos conhecidos nos estudos terrestres. A vida de ambos está
entrelaçada com misteriosa beleza. A contribuição de Estevão e
de outras personagens desta história real vem confirmar a
necessidade e a universalidade da lei de cooperação. E, para
verificar a amplitude desse conceito, recordemos que Jesus,
cuja misericórdia e poder abrangiam tudo, procurou a companhia
de doze auxiliares, a fins de empreender a renovação do mundo.
Aliás, sem cooperação, não poderia existir amor; e o amor é a
força de Deus, que equilibra o Universo.
Desde já, vejo os críticos consultando textos e combinando
versículos para trazerem á tona os erros do nosso tentame
singelo. Aos bem-intencionados agradecemos sinceramente, por
conhecer a nossa expressão de criatura falível, declarando que
este livro modesto foi grafado por um Espírito para os que
vivam em espírito; e ao pedantismo dogmático, ou literário, de
todos os tempos, recorremos ao próprio Evangelho para repetir
que, se a letra mata, o espírito vivifica.
Oferecendo, pois, este humilde trabalho aos nossos irmãos da
Terra, formulamos votos para que o exemplo do Grande
Convertido se faça mais claro em nossos corações, a fim de que
cada discípulo possa entender quanto lhe compete trabalhar e
sofrer, por amor a Jesus Cristo.
Pedro Leopoldo, 8 de julho de 1941
Kardec e amigos
Jesus Cristo
Chico Xavier
..."Recordemos que o
Espiritismo nos solicita uma espécie permanente de
caridade:
a caridade de sua própria divulgação" Emmanuel
Abigail, doente
Emmanuel e Chico Xavier
Aparição de Jesus