Porque             para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não             podem ser comparadas com a glória que ha de ser revelada em nós.             Romanos 8:18

Bem vindo a nossa página de Estudos Bíblicos, o conteúdo desta página  tem como finalidade auxiliar no conhecimento e desenvolvimento espiritual do estudante da palavra de Deus.

    

Noé
Abraão  *
Isaque   *
Jacó       *
José
Moisés
Davi

 

NOÉ

NOÉ = Repouso.

            Nome do filho de Lameque, descendente de Sete, Gn 5: 28, 29. A razão deste nome afirma-se nas palavras que tem alguma semelhança de som. "E ele lhe pôs o nome de Noé, dizendo: Este nos consolará em nossos trabalhos, yenahame hamenu, e nas obras das nossas mãos na terra que o Senhor amaldiçoou." Este método é um dos muitos que os escritores hebreus empregam. A referência aos anos da vida de Noé sofre várias explicações, de conformidade com os antigos métodos de organizar e construir os registros genealógicos, que se encontram no artigo sobre Cronologia.

A aplicação dos primeiros dois destes métodos, referentes à idade de Noé, não carece de explicação. O terceiro método é mais intrincado, porém igualmente aplicável. Segundo ele, na família de Lameque, 182 anos depois que assumiu posição proeminente entre os filhos de Sete e constituiu a família de que descende a igreja, nasceu um filho a quem seu pai chamou Noé, dizendo: "Este nos consolará." Muito depois, entre os descendentes deste filho de esperança, denominados coletivamente pelo nome de Noé, justamente como os descendentes de Israel eram conhecidos por este nome, apareceu um em quem se realizaram as esperanças e que provou ser realmente o portador deste conforto, cuja conduta religiosa, Deus recompensou, prometendo não mais amaldiçoar a terra por causa da maldade humana, nem ferir mais vivente algum; que construiu a arca, que foi o chefe da família e seu representante. A este se refere o nome tribal. Seu filho mais velho tinha cem anos de idade, quando veio o dilúvio. Deu-se este grande evento no ano 600 de Noé, isto é, 600 anos depois que a família denominada Noé, havia assumido as funções do patriarcado. Se o terceiro método for o verdadeiro, este será o modo de explicar o caso a respeito de Noé. Este patriarca era homem justo e, como Enoque, andou com Deus, Gn 6: 9. Foi um tempo de apostasia universal, de completa indiferença religiosa, em que até os filhos de Deus haviam tomado para si mulheres dos filhos dos homens, por causa da sua formosura, 6: 2, e quando os homens em geral, vivendo para o mundo, casavam-se e davam-se em casamento, comiam e bebiam até o dia em que Noé entrou na arca, Mt 24: 38. Era também um tempo em que a terra estava corrompida diante de Deus e cheia de iniqüidade, em que a imaginação e os pensamentos do coração humano eram aplicados para o mal, Gn 6: 5, 11. Era tal a corrupção, que Deus resolveu destruir a humanidade, concedendo-lhe um prazo de 120 anos, v. 3. Noé, pela sua vida exemplar, foi pregoeiro de justiça, 2 Pe 2: 5. A ele, o Deus criador e juiz de toda a terra, revelou o plano de destruir a raça humana, e ordenou-lhe a construção de uma arca para seu livramento e de sua família e conservar a vida de várias espécies de animais, porquanto um dilúvio de águas ia cobrir a terra. E Noé assim fez. Terminada que foi a construção da arca, Jeová, o Deus redentor, ordenou a Noé que entrasse na arca com sua família, prevenindo-se com os animais necessários aos sacrifícios e à sua alimentação. Aquele que havia criado os animais e os pássaros, ordenou que entrassem na arca um casal de cada um para perpetuar as espécies. Este Deus redentor fechou a arca em que Noé entrou. Depois veio o dilúvio. Veja Dilúvio. Quando, afinal se cumpriu o juízo proposto pelo Criador e governador do universo, lembrou-se de Noé, e fez diminuir as águas. Quando apareceram os primeiros vestígios de terra seca, esperou ainda outros tantos dias, quantos havia durado o dilúvio, e soltou aves para saber se as águas haviam desaparecido de cima da terra. Certo disto, esperou ainda que Deus lhe desse ordem para sair da arca. No dia do novo ano, removeu a coberta da arca e viu que a terra havia secado, mas isto se deu oito semanas depois da ordem que Deus lhe havia dado. Saindo da arca, Noé edificou um altar ao Senhor e tomado de todas as reses e de todas as aves limpas, as ofereceu ao Deus da sua redenção, que aceitou as suas oferendas e os propósitos de seu coração, e resolveu não mais amaldiçoar de novo a terra, nem ferir de morte as criaturas viventes por causa da maldade dos homens. Deus continuou a revelar este seu propósito. Do mesmo modo por que depois de criado Adão, Ele o abençoou, ordenando-lhe que crescesse e se multiplicasse sobre a terra, assim também deu preceitos à nova raça. Dos sete preceitos de Noé, como assim se chamam, e que os judeus diziam anteceder a lei a cujas observâncias se obrigavam os prosélitos, somente três são expressamente mencionadas aqui: Não comer carne com sangue, não matar e reconhecer a autoridade civil, Gn 9: 4-6. Os outros quatro preceitos, proibindo a idolatria, o incesto, a blasfêmia e o roubo, faziam parte da consciência humana em geral. Deus ainda, revelando os seus propósitos de não mais amaldiçoar a terra por causa do homem, comprometeu-se a não destruir a carne por meio das águas do dilúvio e deu como sinal deste pacto, o aparecimento do arco íris sobre as nuvens, 8-17.

Noé dedicou-se, naturalmente, à agricultura e plantou uma vinha, bebeu do vinho que fabricou e embriagou-se. Seu filho Cão motejou-o vendo-o descomposto; os outros dois filhos o defenderam cobrindo-lhe a nudez. Despertando Noé, e sabedor do que se tinha passado e conhecido intimamente o caráter humano, e iluminado pelo conhecimento das ordenações divinas anteriores ao dilúvio de que as propenções más dos pais passam aos filhos e que Deus abençoa os justos até mil gerações, Ex 20: 5, 6, profetizou a degradação da raça de Cão, e por algumas razões, separando somente um dos filhos de Cão, profetizou que ele seria escravo dos escravos de seus irmãos, pronunciou benções para as famílias de Sem e Jafé, e anunciou que ambos seriam fiéis ao Deus de Sem, Gn 9: 20-27. Veja Canaã, Sem.

Noé viveu 350 anos depois do Dilúvio, ele ou os seus descendentes com o mesmo nome, Gn 9: 28. Os semitas, distintos dos outros descendentes de Noé, vieram a ser a geração dirigente e predominante na linha de que descende a igreja. O Salmo 29: 10, contém a palavra hebraica mabbul, especialmente com o sentido de dilúvio, Is 54: 9 ; Ez 14: 14, ambos fazem alusões a Noé. Nosso Senhor compara os dias de Noé aos que hão de preceder a sua segurança vinda, Mt 24: 37; Lc 17: 26. A fé do patriarca Noé é louvada na carta aos Hb 11: 7, e o apóstolo S. Pedro alude duas vezes ao oitavo pregoeiro da justiça divina trazendo o dilúvio sobre um mundo do ímpios, castigando-os com uma total ruína, 1 Pe 3: 20; 2 Pe 2: 5. Os gregos e os romanos tinham uma história a respeito de um dilúvio em que somente duas pessoas foram salvas: Deucalião e sua mulher, Pirra. Este Deucalião pode ser Noé com nome diferente. Seja como for, os babilônicos conservaram uma tradição semelhante `a dos hebreus sobre o dilúvio, cujo herói, denominavam Sitnapistim e Atraasis.

 

ABRAÃO

ABRAÃO = hebr. Pai de uma multidão, ou pai exaltado. (ABRÃO = hebr. Pai das alturas)

            A mudança de Abrão para Abraão teve por fim, reforçar a raiz da segunda sílaba, para dar maior ênfase à idéia de exaltação.

            Abraão era filho de Terá; progenitor dos hebreus, pai dos crentes e amigo de Deus, Gn 11: 26;

Gl 3: 7-9; Tg 2: 23. Este nome estava muito em voga entre os semitas, pelo menos duas gerações antes do reinado de Hamurabi, que parece ser o Anrafel, mencionado em Gn 14. Abraão será nome de tribo? ou será ele a personificação de uma tribo? O motivo para levantar esta questão é que muitos nomes dos registros genealógicos dos hebreus, referem-se a tribos e não a indivíduos, Gn 10 e 24: 1-4. Não é sempre fácil, e às vezes, é impossível saber se tais nomes se referem a uma pessoa ou a um povo. Porém, é importante notar que o nome da tribo inclui indivíduos cujos feitos são recordados nele, e como atos da tribo. Noé, por exemplo, pode ser o nome de uma tribo; se assim for, a narrativa do dilúvio denota igualmente um membro individual daquela tribo, salvo com a sua família na arca. No caso de Abraão, Gn 11: 26, 27; e nos primeiros dez versículos do capítulo doze, podemos ler tanto a história original de uma tribo, e sua emigração, como a de um cheick com sua família.

A separação de Abraão e Ló, pode ser considerada como a separação de duas tribos, e do mesmo modo, o pacto de Abimeleque com o patriarca Abraão.

            Esta distinção entre tribo e individualidades, não vem alterar o assunto deste artigo, referente à pessoa de Abraão. A maior parte dos feitos aqui registrados, são atos individuais, Gn 15: 1-8; 16: 1-11; 18: 1;

19: 28; 20: 1-17; 22: 1-14; e cap. 26. As passagens citadas pertencem à mais remota literatura de Israel, segundo o acordo de todas as escolas de crítica. Nos séculos subseqüentes, os próprios hebreus tratam do assunto sob o mesmo ponto de vista, Is 29: 22; 41: 8; 51: 2; Jr 33: 26; Ez 33: 24; Mt 8: 11.

I Cronologia - a) O Patriarca tinha 75 anos quando deixou a Caldéia. Todo este tempo viveu com seu pai e seus irmãos, em Ur. Casou-se com Sara, sua irmã paterna. Depois da morte de seu irmão Harã, ele e sua mulher e Ló, seu sobrinho, emigraram, sob a direção de Taré, de Ur para a terra de Canaã, Gn 11: 27-31. A Bíblia não menciona o motivo desta emigração. O historiador Josefo pensa que foi por causa do falecimento de seu filho Harã, Antiguidades. 1: 6, 5.

            Pensam outros, que o motivo da mudança baseia-se no desejo de melhorar as condições de vida, em uma nova terra de liberdade, ou talvez por causa das perturbações políticas da Caldéia, ocasionadas pela invasão dos elamitas. Santo Estêvão interpreta o caso referido em Gn 12: 1, do seguinte modo: "O Deus da Glória apareceu a nosso pai, Abraão, quando estava em Mesopotâmia, antes de assistir em Carã, At 7: 2. Esta interpretação é favorecida pelas narrativas de Gn 15: 7, e Ne 9: 7, em que a saída do patriarca obedece a atos providenciais. As várias causas já assinaladas e os motivos de ordem natural, poderiam ter cooperado como meios providenciais empregados por Deus para persuadir o seu servo a obedecer à visão celestial.

A família saiu de Ur, e, tomando a direção ordinária, seguiu o vale do Eufrates, para noroeste. Chegados que foram a Harã, abandonaram a idéia de seguir para Canaã e ficaram ali.

            Quando Abraão tinha 75 anos de idade, partiu de Harã para a terra de Canaã. Esta mudança foi feita em obediência à vontade de Deus, que a ele se revelou em Ur. Santo Estevão, como já foi dito, dá esta interpretação que bem se combina com a narração de Gn 12: 1. Pelo fato de constar a morte de Taré no capítulo anterior, não se segue que o patriarca se detivesse em Harã até à morte de seu pai. O escritor sagrado, como é de costume, termina o que tinha a dizer sobre Taré, antes de entrar nos pormenores da história de Abraão. Pode-se também acreditar que Abraão se deteve ali por mais tempo, porque as mesmas pessoas que saíram de Ur, excetuando Taré, deixaram Harã: é isto também o que diz Santo Estevão no seu discurso em Atos. Sendo assim, Abraão nasceu quando Taré tinha, pelo menos, 130 anos, e não 70, como se infere de Gn 11: 26. Nesta passagem, o nome de Abraão está em primeiro lugar, ou porque era o primogênito, nascido quando Taré tinha 70 anos ou então, se ele era o mais moço e nascido depois dos 70 anos de Taré. Neste caso, pode ser que, ocupando o seu nome o primeiro lugar, seja isso por ter ele sido o progenitor do povo escolhido.

De Harã foi para Canaã. Que caminho tomou ele?

            Provavelmente a estrada de Damasco, larga via que saía da Mesopotâmia e passava por esta cidade, em demanda de Canaã.

            Abraão não se demorava muito tempo nos lugares de descanso; caminhava sempre. Tinha 75 anos quando deixou Harã e passou dez em Canaã, antes de tomar por mulher, a sua escrava Agar, Gn 16: 3. Aos 86 anos de idade, nasceu-lhe Ismael, Gn 16: 16, de modo que só decorreu um ano entre a sua saída de Harã e a chegada a Canaã.

b) Residência em Canaã. Esteve em Canaã, quando muito, dez anos. Armou suas tendas em Siquém, Gn 12: 6, e em Betel, Gn 12: 8, continuando o seu caminho passou ainda mais longe para o sul, Gn 12: 9, indo até ao Egito para se abrigar da fome que assolou toda a terra. Ali, pelo receio de perder a vida, apresentou a Sara como sua irmã. Depois regressou para o sul do país e se estabeleceu de novo em Betel. Foi neste lugar que surgiram os conflitos entre os seus pastores e os de Ló, por causa do aumento de suas manadas. Deu-se então a separação, indo Ló, para as planícies do Jordão. Abraão dirigiu-se mais tarde para as carvalheiras de Mambre em Hebrom, Gn 12: 10-20; 13: 1, 3, 5-12, 18.

c) Residência em Mambre. Neste lugar demorou-se cerca de 24 anos. Associado aos príncipes da sua vizinhança, perseguiu Quedorlaomer, que foi derrotado, reavendo toda a presa, pelo que recebeu as homenagens dos reis de Sodoma e de Salém.

            Deus anuncia a Abraão o nascimento de um herdeiro e promete dar-lhe em herança, a terra de Canaã. Foi aqui que lhe nasceu Ismael. Após um intervalo de 13 anos, estas promessas são renovadas e ampliadas.

O pacto de aliança entre Deus e Abraão é ratificado pelo sinal da circuncisão e o nome de Abrão é mudado para o de Abraão. Destruição das cidades de Sodoma e Gomorra, Gn 14: 13, 1-6, 17-24; cap. 15; cap. 16; cap.17: 18, 19.

            d) Residência ao sul do país. Neste lugar permaneceu Abraão durante a infância de Isaque, cerca de 15 anos, e Sara fora levada à corte de Abimeleque, rei de Gerara. Aos 100 anos de idade, nasceu Isaque, e mais tarde, Ismael é despedido com sua mãe para fora da tenda.

            À beira de um poço de propriedade de Abraão, foi concluído o tratado de paz entre ele e Abimeleque, e deu o nome de Bersabé àquele lugar. Aos 25 anos de idade de Isaque, a fé de Abraão foi posta em prova. O Senhor exigiu-lhe o sacrifício de seu filho Isaque. Ambos, pai e filho, em obediência à ordem divina, dirigiram-se às montanhas de Moriá. Quando o patriarca estendia a mão para o sacrifício de seu filho, um anjo do Senhor mandou substituir a vítima humana por um carneiro. Terminado o sacrifício, voltou ele para Bersabé, Gn 20: 1-21, 22-34; 22: 6; 22: 1-19.

e) Abraão volta para Hebrom. Passados 20 anos de vida calma, veio habitar em Hebrom, onde morreu Sara na idade de 127 anos, Gn 23.

            f) Ao sul do país, com Isaque. Depois da morte de Sara, quando Abraão tinha 140 anos de idade, ordenou a um de seus servos que fosse buscar à sua terra, uma esposa para seu filho Isaque, mulher que fosse de sua própria linhagem. Foi trazida Rebeca, e Isaque a foi encontrar no caminho - Do-que-vive-e-do-que-vê -  (Beer-Laai-Roi).

            Abraão tomou outra mulher, chamada Quetura, e morreu aos 175 anos de idade, sendo sepultado na caverna dos dois côvados, Gn 24: 67; 25: 20; 25: 1-9.

g) Desenvolvimento de sua casa. Abraão partiu de Harã com sua mulher, seu sobrinho e as almas que lhe acresceram.

            Em Canaã aumentou a sua casa com os servos que comprou, com os que lhe deram e provavelmente, com os que lhe nasceram. Era rico em ovelhas, bois, jumentos e camelos, servos e servas. Quando correu para libertar Ló, levou consigo 318 homens da sua casa. Os reis com quem vizinhava reconheceram-no como príncipe poderoso, com quem eles se prezavam de ter aliança. Porém, quando se viu privado do auxílio de seus aliados, ao dirigir-se para o Egito, para abrigar-se da fome, mostrou-se fraco, escondendo a verdade a respeito de sua mulher. Desejava a paz e era homem de paz, todavia, em tempos de perigo e de guerra, era corajoso e forte para combater pelos seus parentes e amigos, Gn 12: 5; 16: 1; 17: 27; 18: 7; 20: 14; 12: 16; 13: 2; 7; 24:32, 35, 59; 26: 15; 14: 14; 14: 13; 21: 22, etc.

h) Crenças religiosas de Abraão. Seus parentes mais chegados serviram a outros deuses, Js 24: 2. A sua adoração era, pelo menos, corrompida pelo animismo, prevalecente em Babilônia, que emprestava um espírito a cada objeto da natureza, dirigia o pensamento para os onze grandes deuses, além de inumeráveis deuses menores. Os grandes deuses eram os objetos da natureza, que pela sua majestade e grandeza, impressionavam os sentidos, tais como: o firmamento, a superfície da terra, a lua, o sol, a tempestade, os cinco planetas visíveis a olho nu. Os deuses eram ativos por sua natureza, aos quais se atribuíam cuidados especiais a favor de indivíduos e coletividades, que ouviam e respondiam às orações. A fé de Abraão distinguia-se da grande maioria dos seus contemporâneos: cria em Deus Todo-poderoso, Gn 17: 1; eterno, Gn 31: 33; altíssimo, Gn 14: 22; criador dos céus e da terra, governador moral de toda a terra, Gn 18: 25; e, de acordo com as crenças de seus contemporâneos, cria em Deus, como regulador de todos os acontecimentos do mundo, que vê e toma conhecimento de tudo que acontece e que faz tudo conforme sua vontade soberana. Nesta crença, Abraão obedecia a Deus e o adorava, honrando o seu nome. Como conseguiu esta crença? 1. A razão veio em seu auxílio, como vem em auxílio de muitos cristãos inteligentes. Os politeístas têm chegado a ser henoteístas e, há traços de henoteísmo entre os compatriotas de Abraão, em Babilônia. Espírito lúcido e lógico, como o de Abraão, facilmente chegaria do henoteísmo para o monoteísmo.

Melquisedeque adorava o Deus Altíssimo, criador dos céus e da terra; as suas concepções religiosas conduziram-no a um profundo reconhecimento para com Abraão. Há evidências monumentais que parecem provar que um indivíduo entre os assírios e babilônios chegava a conhecer a unidade de Deus. Não é de estranhar que Abraão chegasse a crer em um Deus, Senhor de todas as cousas, como Oséias e Amós creram. 2. A herança religiosa de seus antepassados, devia tê-lo auxiliado. Em favor desta fonte de informação religiosa temos: (a ) a crença em uma revelação primitiva; ( b ) a existência de uma linha que principia em Adão, e que continha os nomes de verdadeiros adoradores, como Sete, Enoque e Noé; e ( c ) o fato histórico das tradições sobre a criação e o dilúvio, legadas ao povo hebreu. 3. Abraão teve revelações especiais por meio de sonhos, visões e teofanias, Gn 12: 7; 15: 1, 2, 17; 17: 1; 18: 1, 2; 22: 1, 2. As teofanias no tempo de Abraão, são como as manifestações de Jesus Cristo nos tempos posteriores.

i) Harmonia entre a história dos hebreus e a história contemporânea.

            1) A linguagem de Canaã. Antes da conquista do país pelos israelitas, sob a chefia de Josué, não poucos lugares e pessoas tinham nomes semíticos. Abimeleque e Urusalim, i.é. Jerusalém, eram nomes em voga.

            2) A narrativa histórica da vida de Abraão, combina perfeitamente com a história do Egito. As datas cronológicas da Bíblia dão a entrada de Abraão em Canaã, 645 anos antes do Êxodo. Esta data explica perfeitamente a presteza com que Abraão se dispôs a ir para o Egito, quando a fome flagelava Canaã, e nos dá a razão por que Faraó lhe deu tão cordial acolhimento. Este Faraó reinava no período em que o trono do Egito era ocupado pelos reis pastores que tinham vindo da Ásia.

A cronologia bíblica dá a visita de Abraão às terras do Nilo e a descida de Jacó e seus filhos à terra do Egito, dentro do período dos reis pastores: prova bem evidente do rigor das datas, como da autenticidade da narrativa.

            3) A mesma narrativa mostra-se de acordo com a história de Babilônia. (a ) Diz ela que a população da planície, estabelecida na foz do Tigre, era governada por uma dinastia de elamitas, isto no tempo em que a história dos hebreus se refere à vida de Abraão e à invasão ocidental. ( b ) Sob a soberania dos elamitas, os reis vassalos exerciam influências como as descreve o livro de Gênesis. ( c ) Os reis de Babilônia, nos séculos precedentes e durante este período histórico, fizeram incursões no extremo ocidente e não poucas vezes dominaram sobre Canaã, Cp. Lugalzaggisi, Sargom, Gudea, Kudurmabug Hamurabi e Amimisatana. ( d ) O nome de Quedorlaomer, pertencente ao rei de Elão, é nome genuinamente elamita. Quedor ou Kudur entra constantemente na composição dos nomes da realeza elamita, bem como o nome Laomer ou Lagamar, pertencente a uma divindade elamita. Vê-se, pois, que a narrativa dos hebreus, descreve minuciosamente as condições políticas do império babilônico, tanto como da terra de Canaã. Sob a teoria geralmente aceita de que Anrafel, rei de Senaar, é o mesmo Hamurabi que foi rei de Betel desde 1975 a 1921 A. C., descobre-se valioso sincronismo com a vida de Abraão, Gn 14: 1, 13, e a data de seu estabelecimento em época muito aproximada.

 

ISAQUE = Ele riu-se.

            Nome do filho de Abraão e Sara, nascido ao sul do país talvez em Berseba, Gn 21: 14-31, quando Abraão tinha 100 anos e Sara 90, Gn 17: 17; 21: 5. Deus lhe havia prometido este filho, e ele se riu duvidando, 17: 17-19. Logo depois, quando a mesma promessa foi  anunciada a Sara, ela também se riu, em sinal de incredulidade, 18: 9-15. Quando, porém, deu à luz o filho, confessou jubilosamente que Deus  fez uma cousa  de riso; todo aquele que o souber rirá juntamente comigo, 21: 1-12. Para manifestar a fé de Abraão, Deus ordenou-lhe o sacrifício de seu filho Isaque que na ocasião andava pelos 25 anos, como diz o historiador Josefo. Isaque obedientemente aquiesceu aos desejos de seu pai. Quando Abraão o estendeu sobre o altar, pronto a lhe lançar o golpe de morte, oferecendo a Deus tudo quanto possuía, o anjo do Senhor impediu o sacrifício, cuja vítima foi substituída por um cordeiro em sinal de protesto contra os sacrifícios de crianças, praticados pelos cananeus e por outros povos idólatras, ensinando a todos os homens que o Senhor abomina os sacrifícios humanos, Gn 22: 1-18. Isaque habitou ao sul do país no lugar Beer-laai-Roi, que quer dizer: Do que Vive e do que Vê, 24: 62. Tinha disposições contemplativas e afetuosas que o levaram a sentir profundamente a morte de sua mãe, 24: 63-67. Casou-se aos 40 anos; os primeiros dois filhos nasceram-lhe daí a vinte anos, 25: 20, 26. Por causa de uma grande fome, mudou-se para Gerara, isto é, cerca de 92 quilômetros para o norte, 26: 1, 6. Ali apareceu-lhe Jeová para dizer-lhe que não fosse para o Egito, e reafirmando-lhe o pacto com seu pai Abraão, 26: 2-5. A política de seu pai, quando se achou em terra estrangeira, fazendo passar sua mulher por sua irmã, 20: 13, foi imitada  por Isaque em  Gerara, no que foi mal sucedido, 26: 6-11. Partindo de Gerara, levantou as suas tendas na torrente  de Gerara, 26: 17, e abriu segunda vez outros poços, os quais tinham aberto os servos de seu pai Abraão. Daqui partiu para Bersebe, onde habitou por largo tempo, 26: 23; 28: 10. Jeová apareceu-lhe durante a noite e  animou-o. Neste lugar erigiu um altar, como seu pai havia feito, 26: 24, 25. Abimeleque, rei de Gerara, visitou-o e fez com ele um tratado de paz, 26: 26-31. Este juramento mútuo de paz, sheba, deu lugar a se perpetuar a memória de um juramento com o nome do lugar, Berseba ou Beer-seba, 26: 33; comp. 21: 31.

Esaú, o mais velho dos dois filhos de Isaque, era o seu favorito, não obstante o Senhor ter dito que o mais velho serviria o mais moço, e Jacó era o predileto de sua mãe Rebeca, 25: 28. Quando Isaque já passava dos cem anos, 21: 1; comp. 25: 26; 26: 34. Rebeca e Jacó, prevalecendo-se da idade da fraqueza de  seus sentidos, enganaram-no fazendo com que Jacó se fingisse de Esaú, e deste modo usurpasse a benção destinada ao filho mais velho. Feito isto,  à instigações de Rebeca, que desejava salvar a vida de Jacó  contra a  ira assassina de Esaú, Jacó fugiu para Labão em Padã-Harã, a pretexto  de  buscar mulher, 27: 46 até cap. 28: 5. Uns vinte anos mais, Isaque residiu em Hebrom, onde tinha passado os últimos anos da  vida de seu pai, 35: 27; comp. 23: 2. Aqui ele morreu na idade de 180 anos, 35: 28, sendo enterrado por ambos os filhos, Esaú e Jacó, ao lado de seus pais e de sua mulher, na cova dos dois repartimentos, 49: 30, 31. O Novo Testamento alude a Isaque como filho da promessa, Gl 4: 22, 23, e cita o exemplo de sua habitação em cabanas e as bençãos sobre Esaú e  Jacó, como evidência de sua fé, Hb 11: 9, 20.

 

JACÓ = Suplantador.

            Nome de um dos filhos de Isaque e de Rebeca, e irmão gêmeo de Esaú, porém nascido depois deste, e por isso mais novo do que ele, Gn 25: 21-26. Nasceu quando seu pai tinha 60 anos de idade, v. 26. Depois de crescido, tornou-se varão simples e habitava em tendas, 27. Era o predileto de sua mãe Rebeca, ao passo que Esaú o era de seu pai Isaque, 28. Voltando Esáu de uma caçada, muito fatigado e faminto, pediu a seu irmão Jacó que lhe desse de um cozinhado de lentilhas que havia feito. Em troca dá-me, disse este, o teu direito de primogenitura, 29-34. Quando Isaque já havia atingido a idade de 137 anos, e quase cego, Rebeca induziu Jacó a disfarçar-se com as roupas de Esaú, e a cobrir as mãos e os braços com peles, e deste modo alcançou a benção destinada a Esaú, como filho primogênito. Irritado por se ver expoliado pela segunda vez, resolveu matar a seu irmão logo após o falecimento do velho pai, Gn 27: 1-41. Rebeca, conhecedora das intenções criminosas de Esaú, aconselhou a Jacó a procurar refúgio em Harã, onde havia membros da família, a pretexto de arranjar casamento.

Em viagem, teve uma visão de noite. Uma escada posta sobre a terra, cuja sumidade tocava o céu, com os anjos de Deus subindo e descendo por ela. O Senhor firmado no topo  da escada, renovou a promessa das bençãos do pacto feito com Abraão, Gn 27: 42-46; 28: 1-22. Jacó esteve em Padã-Harã pelo menos vinte anos, em casa de Labão, sendo catorze em câmbio de suas filhas Lia e Raquel e mais seis em troca de rebanhos. Durante a estada em Harã, nasceram-lhe onze filhos, seis de Lia, a saber: Rúben, Simeão, Levi, Judá, Issacar e Zebulom, e uma filha, chamada Dina; e Bala serva de Raquel, teve mais dois filhos, Dã e Naftali; de Zelfa, escrava de Lia, teve mais dois, Gade e Aser; finalmente, Raquel deu à luz a José, Gn caps. 29 e 30. Este último nasceu quando Jacó, tinha noventa ou noventa e um anos de idade, cp. 47:9 com 41: 46, 47, 54; 45: 11. Seis anos depois, percebendo que Labão e seus filhos invejavam-lhe a prosperidade, e se tornavam seus adversários, temendo, mandou buscar as suas mulheres, atravessou o Eufrates, fugiu com a sua família levando tudo que possuía, em direção a Canaã, Gn 30: 36; 31: 22. Três dias depois, Labão teve notícia da fuga do genro; estava fazendo a tosquia das ovelhas; reuniu os servos e saiu em perseguição de Jacó. Após seis dias de jornada, a marchas forçadas, alcançou-o no monte Gileade, entre o Iarmuque e o Jaboque, uns 550 quilômetros aquém do Eufrates, no que deveria ter gasto, pelo menos, dez dias de viagem, ou mais, depois da partida de Jacó; porque Labão estava ocupado na tosquia, quando soube da saída de Jacó, e não estava preparado para a viagem. Deus protegeu a Jacó. Do encontro resultou a reconciliação entre as partes adversas. Em testemunho desta aliança, tomou Jacó uma pedra, e a levantou por padrão. E disse a seus irmãos: Trazei pedras. E como tivessem ajuntado muitas, fizeram delas um cabeço e comeram em cima dele, cap. 31. Jacó teve manifestações do favor divino em Maanaim e no Jaboque, onde um varão lutou com ele de noite até ao romper do dia, o qual se mostrou superior a Jacó, tocando-lhe o nervo de sua coxa, mas o abençoou antes de partir, dizendo: "De nenhuma sorte te chamarás Jacó, mas Israel; porquanto, se contra Deus fosse forte, quanto mais  o serás contra os homens. E Jacó perguntou-lhe: Como te chamas? A que  respondeu o varão; por que me perguntas o meu nome? E abençoou-o no mesmo lugar. E pôs Jacó por nome àquele lugar Fanuel, dizendo: "Eu vi a Deus face a face e a minha alma foi salva" Gn 32: 22-32; cp. 33: 20; Os 12: 4. Este acontecimento ministrou bela lição ao patriarca. Até então confiava na sua própria força e sagacidade para o bom êxito de seus negócios. Agora ficou sabendo que a sua força de nada valia para lutar com Deus, e que ele deve recorrer à oração para alcançar as bençãos divinas, sem as quais nada poderia conseguir. Daqui em diante recorre sempre à oração. Antes de atravessar o Jordão, encontra-se com Esaú e alcança o perdão dos males que lhe havia causado e que determinaram o seu longo exílio. Os dois irmãos reconciliados partem; Esaú regressa ao monte Seir, e Jacó segue para Canaã, Gn 33: 1-18. Habitou em Salém, cidade dos siquimitas, e comprou parte do campo, onde armara as tendas, aos filhos de Hemor, pai de Siquém, e erigiu aí um altar, e invocou sobre ele o Deus fortíssimo de Israel, Gn 33: 18-20. Dina, filha de Lia saiu para ver as mulheres daquele país, vendo-a Siquém, filho de Hemor, príncipe daquela terra, enamorou-se dela e furtou-a. Dois dos filhos de Jacó, Simeão e Levi, exerceram cruel vingança sobre a cidade, matando seus habitantes e despojando-a. Jacó temeu as conseqüências deste ato imprudente; porém, uma vez que seus filhos haviam  capturado a cidade, matado os varões, apoderando-se de suas riquezas e cativando mulheres e crianças, deu como conquistada a cidade e dela se apoderou, Gn 48: 22; cp. 37: 12. De Siquém, Jacó partiu para Betel, onde morreu Débora, ama de Rebeca, e onde a sepultaram, Gn 35: 6-8. Apareceu, pela segunda vez, Deus a Jacó, depois que voltou da Mesopotâmia da Síria (35: 9; 28: 10-22), dizendo-lhe: "Já não te chamarás Jacó, mas teu nome será Israel!" e confirmou as bênçãos prometidas a Abraão. Ao aproximar-se de Belém, indo para Hebrom, nasceu-lhe o último filho, Benjamim, morrendo em seguida sua amada Raquel e sendo sepultada na estrada que vai para Belém, 35: 9-20. Afinal, chegou à casa de seu pai Isaque em Mambre, 27.

Isaque morreu 23 anos depois e foi sepultado por seus  filhos, Esaú e Jacó, 28, 29. Parece que Jacó habitou em Mambre durante os trinta e três anos seguintes, porque  esteve em Hebrom cerca de dez anos depois  de seu regresso, 37: 14; cp. 2, e ali permaneceu até o tempo de ir para o Egito, 46: 1. Tinha 130 anos quando desceu para a terra de Faraó, 47: 9, e ali esteve 17 anos. Antes de morrer, pronunciou as bençãos especiais, primeiro aos filhos de José, depois, a seus próprios filhos; tinha 147 anos, 47: 28 e caps. 48 e 49. Embalsamaram-lhe o corpo e o levaram para Canaã, acompanhado de grande pompa, sendo sepultado na cova de dois compartimentos, que Abraão tinha comprado a Efrom, heteu com o campo que olha para Mambre, 50: 1-14. Jacó manifestou evidente falta de caráter, que o fizeram sofrer bastante. No final de sua existência, sentiu profundamente a falta do filho José, e tacitamente reconheceu-se grato a Deus pelas bençãos recebidas, 48: 15, 16, e crente na fidelidade das promessas divinas, 21; Hb 11: 21.

A nação hebraica, descendente de Jacó, é designada na Escritura pela frase Filhos de Israel, Ex 14: 16, 29; 15: 1, etc. Os profetas empregam os nomes de Jacó e Israel em paralelo  em  suas composições poéticas, Dt 33: 10; Is 43: 1, 22; 44: 1. Vide Israel.

 O poço de Jacó a cuja borda Jesus se encostou, quando dialogava com a mulher samaritana, estava em Sicar, junto à herdade que Jacó havia dado a seu  filho José. A samaritana disse a Jesus: "Foi Jacó que nos deu este poço, do qual ele mesmo bebeu, e seus filhos e seu gado" Jo 4: 5, 6, 12; cp. Gn 33: 18-20; 37: 12. Uma tradição corrente entre os peregrinos de Bordeaux, ano 333 de Cristo, aceita pelos judeus, pelos samaritanos, pelos cristãos e pelos maometanos, identifica o poço de Jacó com o Bir Yakub, situado à entrada oriental do vale, entre o monte Ebal, ao norte, e o monte Gerizim ao sul, a três quilômetros e meio a sudeste do Nablus, que é a moderna Siquém, e cerca de 900 metros a sudoeste de Ascar, que muitos acreditam ser a antiga Sicar.  Maundrell, que é muito exato em suas investigações, diz que o poço, tem 2 metros e 97 centímetros de diâmetro e 34m 65cm de profundidade. O Dr. John Wilson, medindo uma linha de sonda lançada, dentro do poço, com uma lanterna, em 1843, achou que a profundidade é de 24 metros e 75 cm. Conder relata que a profundidade do poço, medida em 1875, é exatamente de 24 metros e 75cm. Atualmente deve ter diminuído em virtude da queda de terra de suas paredes. A água é boa, mas difícil de a tirar, Jo 4: 11. A parte superior é revestida de alvenaria de pedra, e daí, para baixo, é cortada em rocha calcárea muito mole. Sobre a boca do poço, construíram uma abóbora baixa e subterrânea de 6 metros e 60 cm. de comprimento na direção leste, oeste, e 3 metros e 30 cm. de largura que serviu de cripta a uma antiga igreja cristã, e cuja entrada se acha reduzida e vedada por uma ou mais grandes pedras. Um pouco a oeste, existe uma linda fonte, e muitas outras espalhadas pelo vale. O poço foi aberto, talvez, porque as fontes eram de propriedade particular. Desde o quarto século se julga que nas vizinhanças deste poço deve existir o túmulo de José.

 

 

JOSÉ, Possa ele acrescentar.

            1. Nome do undécimo filho de Jacó e o mais velho de Raquel, a qual, quando o deu à luz, disse: "O Senhor me de ainda outro filho", e por isso lhe pôs o nome de José, Gn 30:22-24. Nasceu em Padã-Harã, seis anos antes de Jacó voltar para Canaã, 25; cp 31:41, quando Jacó tinha 90 ou 91 anos de idade. Era o favorito de seu pai, por ser o filho de sua velhice e por ser filho de Raquel; fez-lhe uma túnica de várias cores, semelhante à que usavam os jovens da boa sociedade, 37:3. Por ser o filho predileto de Jacó, suscitou a inveja de seus irmãos, sentimento este que se tornou mais intenso por causa dos dois sonhos que ele teve, nos quais previa o tempo em que seu pai e sua mãe e seus irmãos se curvariam na sua presença. Chegando à idade de dezessete anos, 37:2, foi a Siquém, onde seus irmãos apascentavam os rebanhos, para saber como passavam. Chegando ali, soube que haviam partido para Dotaim, e para lá se dirigiu.

Quando os irmãos o viram, resolveram tirar-lhe a vida e dizer ao velho Jacó que uma fera o devorou. Rúben opôs-se a isso, propondo que o lançassem vivo em uma cisterna, pensando em depois tirá-lo de lá e levá-lo ao pai. Na ausência de Rúben, passava uma caravana de ismaelitas que descia para o Egito. Uns negociantes midianitas que iam junto à caravana, o compraram. Tomaram então os irmãos a sua túnica e a tingiram no sangue de um cabrito que mataram, enviando homens que a levassem a Jacó e lhe dissessem: "Nós achamos esta túnica, vê se acaso é a túnica de teu filho, ou não." Jacó concluiu que José havia sido devorado por alguma fera e desatou a chorar, Gn 37:1-35. No entanto os midianitas levaram José para o Egito e o venderam a Potifar, oficial de Faraó e general de seus exércitos. Os grandes dotes morais do jovem escravo não podiam por muito tempo ficar escondidos. Potifar o pôs no governo de sua casa. Por causa de falsas acusações de sua senhora, foi metido na prisão, onde esteve por alguns anos. Ali mesmo ganhou a confiança do carcereiro que lhe confiou a guarda dos presos. Deus lhe concedeu a graça de interpretar os sonhos proféticos do padeiro-mor e do copeiro-mor de Faraó, que estavam com ele na prisão. A interpretação realizou-se em todos os seus pormenores. Dois anos depois, Faraó também teve dois sonhos proféticos que ninguém era capaz de interpretar. O padeiro-mor, que havia reassumido as suas funções, lembrou-se de José, e contou o que se tinha passado com ele na prisão. Faraó mandou buscar logo a José que interpretou ambos os sonhos de Faraó que tinham o mesmo sentido. Haveria sete anos de grande abundância que seriam seguidos por outros sete anos de grande fome. José aconselhou o rei a que nomeasse pessoa competente para armazenar os excessos produzidos nos sete anos para servirem aos sete anos de penúria. Faraó aprovou o plano, e convencido da sabedoria de José, 41:9-13; 25-36, nomeou-o superintendente de todo o Egito, o segundo abaixo de Faraó, 41:39-44, José tinha 30 anos de idade, 41:46, de sofrimentos e provações. Faraó deu-lhe Asenete, filha do sacerdote de Om por esposa. Antes de começarem os sete anos de fome, nasceram-lhe dois filhos, Manassés e Efraim, 41:50-52. A fome chegou como havia sido profetizada, estendendo-se a todo o mundo conhecido, especialmente na parte ocidental em torno do Mediterrâneo, 41:54, 56, 57. No Egito havia provisões armazenadas. Os irmãos de José foram lá comprar trigo. Não reconheceram a seu irmão José, mas foram reconhecidos por ele. À proporção que eles o veneravam e lhe obedeciam conheceu ter chegado o tempo em que se realizariam os sonhos que tanto o haviam feito sofrer. Tendo experimentado o seu  caráter por várias maneiras, quando fizeram a segunda viagem ao Egito, descobriu-se a eles e perdoou-lhes o mal que lhe haviam feito, e convidou-os a virem habitar no Egito juntamente com seu velho pai. Faraó recebeu-os muito cordialmente. Segundo o historiador Euzébio, este Faraó devia ser Apepi II, ou Apofis. Qualquer que fosse, pertencia a dinastia do Hicsos ou reis pastores, oriundos da raça semítica, o que naturalmente contribuiu para a boa recepção da família de Jacó. José morreu com 110 anos. Embalsamaram o corpo e o sepultaram no Egito, sob promessa de ser transportado para Canaã logo que se desse o êxodo, Gn caps. 42 a 50; Hb 11:21. A sua vontade foi religiosamente cumprida. Os restos de José descansam em Siquém, bem no centro da terra prometida, Êx 13:19, Js 24:32.

Os particulares da vida de José, que se relacionam com os costumes dos egípcios, são conhecidos pelos monumentos e pelos papiros. Sabe-se, pelo que se contém na Pedra de Roseta, que os reis costumavam dar liberdade aos prisioneiros por ocasião de seu natalício ou grandes festas nacionais. Dava-se muita importância às artes mágicas e de adivinhação e principalmente aos sonhos, como mensagens divinas. Quando mandaram buscar a José na prisão, apesar da urgência, gastou o tempo necessário para se barbear e vestir roupas limpas, Gn 41:14. A tosquia era particularmente feita entre os sacerdotes como ato religioso. O termo "Senhor de Toda a terra", encontra-se só uma vez em um monumento depositado no museu de Turim, mas a investidura de um oficial de alta patente, encontra-se sempre descrita, combinando com a narração do Gênesis, como seja o anel, a opa de linho fino e o colar de ouro à roda do pescoço. A frase "Sem o teu mando (boca) não moverá ninguém, mão ou pé em toda a terra do Egito", representada na escritura hierográfica por uma boca, símbolo do mando. A situação econômica do país transformou-se inteiramente. Em conseqüência das medidas de salvação pública postas em prática por José, a terra passou a ser propriedade do rei e dos sacerdotes até pouco antes do estabelecimento do novo império. Veja Egito, II, 5.

O Gênesis refere-se à distinção de classe estabelecida pela pragmática dos egípcios. José foi servido à parte e seus irmãos também à parte, e bem assim os egípcios que comiam com ele, porque não era permitido entre os egípcios, comer com os hebreus, Gn 43:32. José comia sozinho por ser pessoa de alta categoria social e membro da classe sacerdotal, que se apartava do povo leigo. Os egípcios comiam à parte para não se misturarem com os estrangeiros, e os sacerdotes não comiam nem bebiam cousas que viessem de fora do país, Porfírio 4. 7. O povo considerava abominável fazer uso de objetos gregos no serviço de copa, Heródoto 2. 41. Os egípcios detestavam todos os pastores de ovelhas, criadores de porcos e possuidores de gado, porque tais ocupações eram consideradas incompatíveis com a civilização e com a pureza de costumes exigida pelos padrões de bom tom social,  Gn 46:34; Heród. 2. 47; cp. 164. Foi este o motivo por que o filho de Jacó localizou a seu povo na terra de Gósen, onde podia evitar o contacto com os naturais do país. Existiam na Palestina alguns lugares com os nomes de Joseph-el e Jacob-el, dados pelo conquistador Totmés II, muito depois da entrada de Jacó e de seus filhos no Egito e um século antes do êxodo. Não há certeza se estes nomes tinham alguma relação com o patriarca Jacó e seu filho José. São denominações semelhantes a Jiphthah-el, ou Iphtah-el nome de um vale no território de Zebulom, Js 19:14. Estes nomes têm a significação de "Deus suplanta e Deus tira", e era costume em Babilônia usá-los como nomes próprios individuais.

Uma lenda egípcia, conhecida pela História dos Dois Irmãos, narra as tentações sofridas por um jovem, em casa de seu irmão mais velho, muito parecida com a de José em casa de Potifar, Gn 39. O pobre moço escapou às iras de seu irmão, graças à intervenção do deus sol que lançou entre ambos, um rio cheio de crocodilos como barreira defensiva. Posteriores aventuras dos dois irmãos, finalmente, operaram a reconciliação recíproca. Este final da lenda é igualmente fabuloso, e foi copiado no reinado de Seti II, da décima nona dinastia, séculos depois da vida de José. Ignora-se quando e por quem foi elaborada. Cousas como estas encontram-se com freqüência nos contos da antiguidade, Homero, Ilíada 6:155 e seguintes.

As duas tribos de Manassés e Efraim descendem dos dois filhos de José. As bênçãos que Jacó pronunciou sobre José no leito de morte, estenderam-se às duas tribos, Gn 48:8-22; 49:22-26. No Salmo 80:1-3, existe uma designação poética referente às tribos de Manassés e Efraim, representando a pessoa de José.

 

MOISÉS

MOISÉS= Derivado do egípcio mes, ou mesu, filho.

            Nome de um grande legislador hebreu, pertencente à tribo de Levi, da família de Coate e da casa de Anrão, Ex 6: 18-20, filho de Jacobede, sua mãe, 20. Esta expressão deve ser entendida no sentido de antecessora. Anrão a Jacobede, foram os fundadores da casa tribal em que Moisés nasceu. Veja Egito.

            O edito que mandava matar todos os meninos que nascessem das mulheres hebréias, pôs em grande risco a vida do infante Moisés. Sua mãe, vendo-o tão perfeito, escondeu-o durante três meses em sua casa. Não podendo ocultar por mais tempo, tomou um cestinho de junco, barrou-o com betume e pez, meteu dentro o menino e o expôs num canavial que estava na ribanceira do rio. Ao longe ficou Miriã, a observar o que sucederia. Ao mesmo tempo, eis que descia a filha de Faraó para se banhar no rio. Segundo Josefo, chamava-se Termútis, a princesa egípcia, Antig. 2: 9, 5. Euzébio diz que o nome dela era Merris, que soa como Meri, uma das filhas mais novas de Ramsés II. Os rabinos identificam-na com Bitia, filha de Faraó, 1 Cr 4: 17. Vendo ela o cestinho no canavial, mandou uma das suas criadas a trazer-lho. Abrindo-o, e vendo nele um menino que chorava, compadecida dele, disse: Este é algum dos meninos dos hebreus. Miriã adiantou-se e disse à filha de Faraó: Queres que vá e que te chame uma mulher hebréia que possa criar este menino? A princesa consentiu e o menino foi criado pela própria mãe. Sendo já adulto, entregou-o à filha de Faraó que o adotou por seu filho e lhe pôs o nome de Moisés, dizendo: Porque eu o tirei da água, Ex 2: 1-10.

O filho adotivo de uma princesa deveria ter educação principesca e, por isso, foi ele instruído em toda a literatura dos egípcios, At 7: 22, que nesse tempo excediam em civilização a qualquer outro povo do mundo. Deste modo se preparou para exercer missão mais elevada do que a de ser herdeiro do trono dos Faraós. Deus o estava preparando para servir de condutor dos hebreus. Moisés possuía grandes dotes naturais, aperfeiçoados por uma cultura especial, que o preparavam para exercer a grande missão destinada para ele. Familiarizou-se com a vida na corte, privou com os príncipes, contemplou a grandeza, as pompas e os rituais do culto; entrou no conhecimento do simbolismo convencional, fez-se tal quanto o permitiam as idéias do tempo. Presidiu à administração da Justiça e familiarizou-se com as artes em uso na vida civilizada daquela época. Contudo, não perdeu de vista a sua origem, acreditava nas promessas reservadas ao povo hebreu. Antes mesmo de terminar a sua estada no Egito, já tinha descoberto que Deus o chamara para ser juiz e libertador dos israelitas, seus irmãos. Viu um dos egípcios lutando com um dos hebreus, e matou-o, escondendo o cadáver na areia. Tendo saído ao outro dia, viu a dois hebreus rixando, e disse ao que fazia a injúria: "Por que maltratas tu o teu próximo?" o qual respondeu: "Quem te constituiu a ti príncipe, e nosso juiz? Acaso queres matar-me como mataste ontem ao egiptano?." Faraó tendo notícia do caso, procura matar a Moisés; mas este, fugindo da sua vista, retirou-se para a terra de Midiã. Não quis ser chamado filho da filha de Faraó e lançou a sua sorte com o povo de Deus, assumindo as funções de salvador e juiz sobre ele, Ex 2: 11-15; At 7: 24-28; Hb 11: 24, 25. Tinha ele a idade de quarenta anos, At 7: 23. Chegado que foi a Midiã ajudou as filhas de Jetro a dar água aos rebanhos. Por este ato, foi ele apresentado ao pai das moças que era sacerdote e o casou com uma das filhas. Deste casamento teve dois filhos, Gérson e Eliezer, Ex 2: 22; 4: 20; 18: 3, 4. Demorou-se em Midiã, cerca de quarenta anos, At 7: 30, associado intimamente com o povo que era descendente de Abraão e que talvez adorasse ao Deus de Abraão, cp. Ex 18: 10-12. Este lapso de tempo serviu-lhe de escola preparatória, convivendo com homem que exercia funções entre os midianitas, homem de bom senso e sacerdote, Ex cap. 18. Neste meio, Moisés alargou seus conhecimentos religiosos e familiarizou-se com as formas de culto, ficou conhecendo os caminhos do deserto, os recursos que ali havia, estudou o clima e os costumes do povo. No meio da grandeza solene do deserto e de sua profunda solidão, teve tempo para meditar e refletir. Ao terminar este período, foi ele surpreendido com o incêndio de uma sarça, que ardia sem se consumir. Aproximando-se para observar o fenômeno, o Senhor o chamou no meio da sarça para ir libertar o seu povo. Moisés opôs a sua incapacidade para tal empresa, Ex 3: 11. Eis aqui eu irei, disse Moisés, aos filhos de Israel, e lhes direi: O Deus de vossos pais me enviou a vós outros. Mas se eles me disserem: Que nome é o seu? que lhes hei de respoder? 13. Não me darão crédito, nem ouvirão a minha voz, 4: 1. Alegou também Moisés a falta de eloqüência para persuadir, 10. Todas estas dificuldades foram removidas, e Moisés teve de ceder ainda que contrariado. Deus se desagradou e prometeu-lhe o auxílio de Arão, 14. Moisés tomou a sua mulher Zípora, com os dois filhos, e voltou para o Egito, 20. Um dos filhos, o mais moço, não havia sido circuncidado ainda,  porque Zípora considerava este rito muito bárbaro. Cedendo à resitência de sua mulher , Moisés revelou incapacidade, não só para governar a sua casa, como para desempenhar-se de tão elevada missão junto de seu povo. Deus desgostou-se de Moisés por haver negligenciado o sinal do pacto. E quando Moisés ia no caminho, o Senhor se lhe pôs diante na pousada e queria matá-lo. Zípora percebendo a causa, tomou logo uma pedra agudíssima e circuncidou o prepúcio de seu filho, e disse a Moisés: "Tu és para mim esposo sanguinário," Ex 4: 24-26. Chegando ao Egito, Moisés e Arão repetidamente compareceram à presença de Faraó, como enviados por Deus para conduzirem ao deserto o povo hebreu. A resistência de Faraó atraiu sobre si e sobre o povo egiptano sucessivos castigos com o nome de as dez pragas do Egito, caps. 5 a 13: 16. Quando chegou a hora da partida, Moisés tomou o comando do povo. No Sinai foi ele admitido a íntimas relações com Deus, cuja voz se fez ouvir no acampamento articuladamente, e Moisés viu a Deus que falava com ele, cara a cara, como um homem fala com o seu amigo, Ex 24:9-11; 23:11, 17-23; 34:5-29 que lhe revelou a sua vontade para instruir o povo, do modo por que o fez mais tarde por meio de seus profetas. Em comunhão com Deus, obteve dele os estatutos, baseados nos dez mandamentos. Logo depois de uma estada de quarenta dias sobre o monte, recebeu instruções para a construção do tabernáculo e o modo de ser adornado, e bem assim as tábuas de pedra. Durante a longa ausência de Moisés, o povo fez para si um bezerro de ouro. Sabedor deste grande pecado, Moisés indignado atirou ao chão as tábuas de pedra e as quebrou. Por este ato, significou ele que o pacto feito com Jeová, expresso nas dez palavras da lei, havia sido anulado pelo pecado do povo, que teve de sofrer pesados castigos. Todos quantos se achavam perto do lugar em que se adorou o bezerro e que não retiraram, quando Moisés os explorava pelo seu pecado, foram mortos às mãos dos levitas que voluntariamente se ofereceram para este fim. Tendo agido simbólica e judicialmente, Moisés passou a agir como mediador, intercedendo pelo seu povo. Depois do que, Deus promete enviar o seu anjo para servir-lhe de precursor. O Senhor chamou outra vez a Moisés ao monte, onde recebeu novas instruções sobre o culto e as ordenanças, tão grosseiramente violadas, e recebeu também outras duas tábulas de pedra iguais às primeiras que Moisés havia quebrado, caps. 19, 20, 32 até 34.

Em uma destas ocasiões jejuou quarenta dias e quarenta noites, Ex 24: 18; Dt 9: 9-18, como Elias fez mais tarde, 1 Rs 19: 8, ambos prefigurando o jejum de Nosso Senhor, Mt 4: 2. O nome de Moisés acha-se para sempre associado às leis promulgadas no Sinai e à peregrinação pelo deserto. Veja Levítico e Números.

            Quando Moisés desceu do Sinai, depois de lá estar quarenta dias pela segunda vez, trazendo consigo as tábuas da lei, do seu rosto saíram uns raios que lhe tinham ficado da conversação com  o Senhor, de que o povo se arreceou, evitando aproximar-se dele, Ex 34: 29. Chamados por ele, vieram os filhos de Israel aos quais expôs todas as ordens que tinha recebido do Senhor no Monte Sinai e cobria o rosto com um véu todas as vezes que lhes falava. Mas quando Moisés entrava à presença do Senhor, tirava o véu até sair, 33, 34. A nova versão inglesa, seguindo os Setenta e a Vulgata e traduzindo corretamente o texto hebreu, diz o contrário: "E quando Moisés tinha acabado de falar com eles, punha um véu sobre o rosto." Ele não usava o véu, nem quando falava com o povo, nem com o Senhor. Ele cobria o rosto, não para esconder o seu esplendor, e sim para ocultar a ação deslumbrante do seu brilho e só o retirava quando entrava de novo à presença do Senhor, e nessa ocasião o brilho se tornava mais intenso. Moisés punha um véu sobre o rosto para que os filhos de Israel não fixassem a vista no seu semblante, cuja glória havia de perecer, 2 Co 3: 13.

No segundo ano da viagem pelo deserto, desposou uma mulher cusita, Nm 12: 1. É quase certo que Zípora havia falecido no ano anterior, apesar do silêncio da história, cp. Ex 18: 2. Corria entre os judeus, em tempos posteriores, que a segunda esposa de Moisés era uma princesa etíope, chamada Tarbis, que se havia enamorado dele por ocasião de comandar um exército egípcio para a Etiópia, quando ainda fazia parte da casa de Faraó, Ant. 2: 10, 2. Evidentemente não passa de uma lenda. O segundo casamento deu-se no deserto, quando Miriã e Arão se mostraram invejosos da superioridade de Moisés na direção dos negócios públicos. Ambos dirigiram as hostes, tomavam parte nos negócios públicos e ambos eram profetas como Moisés, e por este motivo se julgavam com direito a fazer oposição ao casamento de Moisés com mulher estrangeira, que talvez fizesse parte da multidão mista que acompanhou os israelitas, quando saíram do Egito, Ex 12: 38.

Logo depois de largarem de Cádes, Coré e outros príncipes revoltaram-se contra a autoridade de Moisés e Arão, pelo que foram severamente punidos por Deus, Nm 16. Veja Coré. No segundo acampamento, em Cades, Moisés e Arão pecaram contra Deus, Nm 20. Quando Deus ordenou a Moisés que ferisse a rocha, congregou o povo diante da pedra e disse: "Ouvi, rebeldes e incrédulos, acaso poderemos nós fazer sair desta pedra água para vós outros?" Os dois irmãos perderam de vista a sua posição dependente e subordinada a Deus. Julgaram-se únicos guias do povo, de quem dependia tudo o que lhe era necessário; esqueceram-se de que foi Deus quem tirou o povo do cativeiro do Egito e que o sustentou durante quarenta anos no deserto. Tomaram para si a honra que só a Deus pertencia. Deus os chamou para seus delegados e eles empregaram a sua autoridade para se engrandecerem, por isso Deus os privou de entrar na terra prometida. Este duro castigo não alterou a fidelidade de Moisés ao seu Deus. Depois da sentença condenatória, continuou a ser fiel como dantes. Recomeçando a sua marcha para Canaã, levou Arão ao cimo do monte Hor, despojou-o suas vestes oficiais e transferiu as suas funções a Eliezer. Deste modo, ele próprio auxiliou a executar a sentença. Quando o povo era mordido pelas serpentes venenosas, ele intercedeu com Deus que lhe ordenou levantar a serpente de metal que servia para curar todos que fossem mordidos e que para ela olhassem. Conduziu as tropas de Israel ao território de Seom e de Ogue e o conquistou para Israel. Quando acamparam em um vale entre as montanhas de Abarim e avistaram a terra prometida a Abraão, a Isaque e a Jacó, as emoções da alma de Moisés contidas até então, irromperam como em outras ocasiões desde que havia pecado, encontraram alívio na oração: "Senhor Deus, tu começaste a mostrar ao teu servo a tua grandeza, e a tua mão poderosa... passarei pois, e verei essa excelente terra além do Jordão, e esse notável monte e o Líbano." A isto o Senhor respondeu: "Basta, não me fales mais nisto, porque tu não passarás este Jordão", Dt 3: 24-27. Levantou-se o acampamento para o vale de Sitim, e Moisés pôs em ordem a sua casa e, preparando-se para morrer, fez as despedidas a seu povo. Veja Deuteronômio. Levou a Josué destinado pelo Senhor para seu sucessor e apresentou-o ao sumo sacerdote na presença da congregação, e lhe impôs as mãos e o investiu no cargo que ele havia exercido durante quarenta anos, com tanta distinção e eficiência, Dt 34. Depois levou-o à porta do tabernáculo para receber de Deus a investidura de seu cargo. Ensinou ao povo um cântico para que ele conservasse na memória palavras de sabedoria religiosa e as tivesse prontas na língua; era o cântico de despedida em que ele registrava as bênçãos para cada uma das tribos. E subindo ao monte Nebo, ali morreu na idade de 120 anos. Nunca a vista se lhe diminuiu, nem os dentes se lhe abalaram. O Senhor o sepultou no vale da terra de Moabe, defronte de Bete-Peor, Dt 34. Durante os quarenta anos, que passou no deserto é que ele produziu as suas obras literárias. Registrou  o nome dos vários acampamentos, Nm 33, a batalha com Amaleque, Ex 17: 14, mandou escrever as leis baseadas no pacto, 24: 4-7, conservou uma cópia de sua última despedida, Dt 31: 24. Possuía também imaginação fértil, pensamentos profundos, idéias claras, para escrever naquele idioma hebraico de estrutura tão simples, e ao mesmo tempo tão apropriado a servir de veículo a ardente impressões. O mais espontâneo de seus poemas, escrito sob emoção do momento, foi o cântico que serviu para celebrar a derrota de Faraó no Mar Vermelho, Ex 15: 1-18, no qual atribui a Jeová, a glória do feito, 1-3, descreve o espantoso acontecimento, 4-12, antecipa os seus efeitos sobre os inimigos de Israel, 13-15, e prevê as garantias asseguradas para Israel na terra prometida, 16-18. Este cântico foi composto em alguns momentos, ao passo que o Sl 90, representa o produto de reflexão e tranqüilidade de espírito, em que se acham incorporadas as lições dos quarenta anos que o precederam; é um poema didático destinado a ser retido na memória do povo de Deus, Dt 32, cp. 31: 19-22. As bênçãos por ele pronunciadas por ocasião de seu último adeus, assemelham-se às palavras de Jacó ao despedir-se de seus filhos, e tem a forma poética, Dt 33. Moisés possuía cabedal literário; nas suas várias produções descobrem-se os traços de seus predecessores egípcios. Descobre-se que ele possuía as mesmas idéias literárias operando nele, de parceria com os exemplos da história daquele povo extraordinário, aliadas ao despertamento da vida nacional dos hebreus e os acontecimentos emocionantes que se desenrolaram a seus olhos, para guiá-lo na organização da história de seu povo, tão bem concatenada como se vê no Pentateuco.

Como organizador de um povo, Moisés, guiado por Deus, dotou a Israel com instituições civís e religiosas de primeira ordem. Estas instituições tinham oportunidade, visto como eram consideradas pelos povos daquele tempo, como essenciais a qualquer povo normalmente constituído, cujos caracteres correspondiam aos ideais da época, expressões da mais elevada moral e das verdades religiosas que a humanidade jamais possuiu. As leis, no seu todo não eram novas. O pacto fundamental eram os dez mandamentos. Havia muito que os israelitas sabiam que a idolatria condenada pelo segundo mandamento, era ofensiva a Jeová, Gn 35: 2. É evidente que a observância do sábado já existia muito antes que o quarto mandamento fosse promulgado no Sinal. Desde muito, que o povo de Israel sabia que o assassínio, o adultério, o roubo e o falso testemunho, constituíam crimes condenados e punidos pelos homens. O valor da constituição judaica consistia no reconhecimento das obrigações morais que serviam de lei fundamental do reino, e que a ação dos dez mandamentos que caracterizavam os atos externos, penetrava no interior do homem, apontando o coração como o centro de todos os maus desejos que dão origem ao pecado. A parte principal do Livro do Pacto consiste de leis oriundas do Decálogo, Ex 21: 1 até cap. 23: 19. Em certos casos pelo menos, as antigas leis eram reafirmadas e os costumes velhos convertiam-se em leis do reino. O código de Hammurabi (Veja Anrafel) habilita-nos a traçar grande parte das ordenanças a um período mais remoto, do que Moisés seria capaz de fazer, e prova que a idéia de codificação, tão saliente no Livro de Pacto, século antes de Moisés, já havia tido execução. A legislação eclesiástica de Moisés tinha sua oportunidade; preparando um santuário, subordinado a um plano fundamental, semelhante ao tipo predominante dos templos do Egito, edifício permanente, simétrico em suas proporções, empregando um simbolismo de acordo com o estilo da época, conforme os fins a que se destinavam, e organizando um ritual com uma corporação sacerdotal, cujas funções se assemelhavam em geral, às que se usavam nos povos contemporâneos. Era uma casa santa, um culto que representava o bem, segundo o pensamento e a prática do mundo civilizado, acessível à inteligência, tanto dos israelitas como dos gentios, que professavam o monoteísmo e o espiritualismo, patenteando o modo por que o pecador se podia aproximar de Deus. Moisés era homem inspirado, mas um código de leis e uma forma de culto inteiramente ignorados desde a criação do mundo, não lhe foram revelados. Moisés era profeta e recebeu inspirações como os outros profetas. Sob as influências do Espírito Santo constituiu-se veículo da mente e da vontade divina para com as suas criaturas. Despendeu soma de dias em comunhão com Deus, que lhe iluminou o entendimento para conhecê-lo e a natureza de seu reino, que o guiou no modo de discernir as leis apropriadas às condições do povo e adaptadas a discipliná-lo no espírito das instituições divinas. Em comunhão com Deus, habilitou a organizar leis e a fundar instituições com elementos antigos e velhos modelos, porém muito diferentes das analogias que eles tinham nos povos contemporâneos. Distinguiam-se deles pelo modo de exibir a natureza espiritual e a santidade de Deus, pelo modo de desembaraçar o proceder do homem das relações civís e trazê-las também em contacto com Deus, e pelo poder de adaptar a vida secular ao serviço de Deus.

Moisés possuía dotes de estadista, facilmente descobriu a oposição que lhe faziam os membros de sua própria família, Nm 12; notou o ciúme de outras tribos e mesmo da sua, por causa da posição elevada que ele e Arão tinham, cap. 24; as considerações mundanas que influíam sobre a vida do povo, cap. 32, a sua falta de fé em Jeová nos momentos críticos e a facilidade com que se fazia idólatra. Meditou muito sobre estas fraquezas, que ameaçavam a existência nacional. Por isso, ao preparar o seu discurso de despedida, insistiu muito sobre a existência de um só altar e sobre a espiritualidade da religião como sendo os grandes meios de eliminar esses defeitos, impregnando a vida moral, por um lado, e por outro, conservando a pureza do culto e da doutrina, unificando o povo em um só corpo, e fazendo com que a religião sirva para manifestar a grandeza de suas instituições em confronto com os altares do paganismo. Veja Altar e Deuteronômio. Depois de sua morte, a estatura grandiosa de Moisés veio a ser reconhecida universalmente e a sua reputação cresceu século após século. Teve ainda a distinta honra de lhe ser permitido reaparecer como representante do Antigo Testamento juntamente com Elias, para conversar com Jesus a sua saída deste mundo, no Monte da Transfiguração, Mt 17: 3, 4.

 

DAVI  = Amado.

            Nome de um dos filhos de Jessé e segundo rei de Israel. A sua vida divide-se em diversos períodos distintos:

            1. A sua mocidade passada em Belém de Judá. Era o mais moço dos oitos filhos de Jessé, 1 Sm 16:10, 11; 17:12-14. No registro da tribo de Judá, 1 Cr 2:13-15, somente consta o nome de sete destes filhos por ter morrido um deles, antes de ser registrado. A mãe de Davi notabilizou-se pela sua ternura e piedade, Sl 86:16; 116:16. A história de seus antepassados é colorida de cenas pitorescas dignas de imitação e merecedoras de louvor, ainda que às vezes manchada pelo pecado, Gn 37:26, 27; 38:13-29; 43:8, 9; 44:18-34; Nm 1:7; Js 2:1-21; Rt 4:17-22. Pessoalmente era ele ruivo e formoso de rosto e de gentil presença, 1 Sm 16:12. Na idade juvenil e como o mais moço de seus irmãos, tomava conta das ovelhas de seu pai; mostrava a sua fidelidade e coragem na defesa dos rebanhos, matando um leão e um urso, 1 Sm 16:11; 17:34,36. Era grandemente dotado de gosto pela música, tocando maravilhosamente a harpa, seu instrumento predileto; e mais adiante, compondo salmos. Quando o rei Saul foi rejeitado, Deus enviou o profeta Samuel a Belém para ungir a Davi, rei em lugar de Saul, para ser o seu sucessor. O ato não foi publicamente conhecido para não provocar as hostilidades de Saul. Quando muito, foi presenciado pelos anciãos da cidade, e quanto parece, ninguém soube para que fim havia ele sido ungido, 16:4, 5, 13, a não ser o próprio Davi e seu pai. O Espírito do Senhor veio sobre ele, todavia continuou no seu posto humilde de pastor.

2. Davi em presença de Saul. Este rei, abandonado por Deus, foi atormentado por um espírito maligno, sofrendo de melancolia e de insanidade; aconselhado por seus servidores, mandou vir um músico harpista para lhe amenizar os sofrimentos. Alguém indicou-lhe o jovem Davi, como hábil músico, moço de valor, pronto para a guerra em razão de sua idade, corajoso, apesar de ainda não ser experimentado na guerra; discreto, airoso e cheio de piedade, 16:14-18. Saul reteve-o em seu palácio, agradou-se da sua música e do seu caráter; pediu a Jessé que o deixasse em sua companhia e nomeou-o o seu escudeiro, 19:23; comp. 2 Sm 18:15. A nova posição serviu de boa escola para o jovem Davi; aprendeu a arte da guerra e do governo; cultivou relações com altas personagens e conheceu a vida palaciana em todos os seus aspectos. Davi não esteve continuamente com Saul. As condições do rei melhoraram, e de quando em quando, Davi ia a Belém para olhar as ovelhas de seu pai, 1 Sm 17:5. Numa destas visitas, os filisteus invadiram a tribo de Judá e se acamparam a 28 quilômetros a oeste de Belém. Saul mobilizou as forças militares para encontrar com as do inimigo. Três dos irmãos de Davi estavam na linha do exército já há seis semanas. O pai mandou Davi para saber do estado de seus irmãos. O desafio de Golias às forças de Israel, produziu em Davi profunda indignação. Sentiu em si que Deus, por meio dele, havia de desafrontar o seu povo, e perguntou quem era aquele incircunciso que assim afrontava o exército do Deus vivo. As palavras de Davi foram levadas ao ouvido do rei. Aproveitando-se das disposições ardorosas do jovem pastor que se dispunha a um combate singular com Golias, cobriu-o com a sua armadura de guerra, que não Ihe casava bem em razão do excessivo peso.  Golias dificilmente se movia sob a carga de sua armadura e o peso da grande espada. Todo ele era uma fortaleza, tendo apenas a face descoberta, que pela altura estava fora do alcance das armas de Davi. Este, livre da armadura do rei, que Ihe embaraçava os movimentos, armado de uma funda que muito bem sabia manejar, e com cinco pedras no seu boldrié, não temeu o encontro com o poderoso inimigo, certo como estava de combater por uma causa justa, e de ter o auxílio de Deus. Os doestos trocados entre contendores, era nota característica dos combates singulares dos tempos antigos. Golias, caiu abatido por uma pedra que Ihe entrou na fronte, impelida pela funda de Davi. Após o combate, seguiu para a côrte de Saul, levando consigo a cabeça de Golias que foi exposta à vista dos inimigos juntamente com a sua armadura, 1 Sm 17:54. A espada foi posta no tabernáculo, 21:19.

Ao tempo que Saul viu partir Davi contra os filisteus, disse para Abner, general de seu exército: "De quem é filho este rapaz?" E quando Davi voltou triunfante, fez-lhe a mesma pergunta, a que ele respondeu: "Eu sou filho de teu servo Jessé, o belemita. A resposta encerra a substância da entrevista, 17:55, e 18:1. Os pais do  pequeno herói não possuíam tradições guerreiras. A pergunta do rei visava descobrir a procedência e as condições materiais da família, daquele a quem ia dar a mão de sua filha, 17:25; 18:18. Conheceu logo que não havia incompatibilidade que estorvassem o consórcio. A vitória alcançada sobre os filisteus criou nova situação para Davi. O valor, a modéstia e a piedade que havia revelado, ganharam-lhe o amor desinteressado e constante de Jônatas, 18:1. Não pode mais repetir as visitas aos rebanhos de seu pai; teve de permanecer na corte de Saul, 2. As ovações que recebeu após a sua vitória, produziram em Saul um sentimento de tão profunda inveja, que doravante, se tornou rancoroso inimigo do jovem guerreiro, 6-9. Sabendo  que Samuel havia profetizado a transferência de sua coroa para um melhor do que ele, 15:17-29, e que Davi seria o escolhido, empregou todos os meios para que tal vaticínio não se realizasse. Uma vez tentou atravessar a Davi com a sua lança, 18:10, 11. Falhando esta tentativa, mandou-o para frente do exército comandando mil homens, 13. A mulher que havia prometido a Davi, deu-a a outro 17-19, e pretendeu servir-se de sua filha Mical para ruína de Davi, 20-27. A proporção que ele crescia no conceito e que seu nome se tornava célebre, mais cresciam os temores do rei  e mais disposto ele se mostrava a tirar-lhe a vida, 19:1. Os planos de Saul nunca surtiram efeito, e sempre foram contrariados por uma parte dos seus cortesãos, 19:9; Sl 8. Acalmado por um pouco em breve, reviveu o seu ódio e mais uma vez tentou atravessar a Davi com a sua lança, 1 Sm 19:4, 9. Outra vez mandou prende-lô para ser morto na sua presença, o que foi evitado mediante o artifício de sua esposa, Mical, 10-17. Por esta ocasião, Davi fugiu para Samuel, em Ramata, onde Saul o mandou prender, 18-24, e de lá procurou auxílio junto de Jônatas, cap. 20.

3 O herói fugitivo. Faltando-lhe a confiança de Deus e acabrunhado pelas constantes perseguições, Davi fugiu de perto de Saul para Nobe. Desamparado de fé, recorreu à mentira, 21:1-9, saindo para Gate a  refugiar-se na corte do rei Aquis inimigo de Saul. Os oficiais filistinos se opuseram à sua estada entre eles, alegando a  humilhação lançada sobre eles pela morte de Golias, v 14; Sl 56. Fingindo-se louco, o rei Aquis o mandou sair de sua presença, Sl 34. Readquirindo a fé em Jeová, voltou para Judá e foi acolher-se à cova de Adulão, 1 Sm 22:1, deixando seus pais aos cuidados do rei Moabe, 3:4. Uma companhia de homens desocupados e oprimidos de dívidas em número de 400, que em breve se elevou a 600 se ajuntou a ele. Entre estes estava o pontífice Abiatar, o sobrevivente de Nobe, que trouxe consigo o Êfode, juntamente veio também o profeta Gade, que Davi havia encontrado em Ramá, 5:20; 23:6. Com estes elementos melhorou grandemente a sua situação. Da cova de Adulão saiu ele para socorrer a cidade de Ceila que os filisteus estavam desponjando, 23:1-5.

Saul dispunha-se a ir a Ceila em busca de Davi que se retirou para o deserto de Judá, 14; Sl 63. Ali o foi perseguir o rei a instância do povo de Zife. Noticiada nova incursão dos filisteus, deixou Saul de perseguir a Davi, 1 Sm 23:14-29. Conjurado o perigo, voltou a perseguí-lo pelo deserto de En-Gedi, e neste lugar foi ele conquistado pela bondade de Davi, que tendo-o em suas mãos, lhe poupou a vida, cap. 24; Sl 5 e 14. Davi com seu bando armado defendeu as propriedades dos israelitas ameaçadas pelos filisteus, 1 Sm 23:1; 25:16, 21; 27:8, e fazia presa nas cidades dos amalequitas, não lançava impostos, nem exigia contribuições regulares. Chegado que foi ao Carmelo, mandou seus criados à casa de Nabal à procura  de provisões, que lhe foram negadas em termos desabridos. Tomado de grande indignação, dispunha-se a tomar tremenda desforra, quando Abigail, mulher de Nabal, lhe saiu ao  encontro, evitando assim os intentos sanguinários de Davi. Depois da  morte de Nabal, Davi a desposou, cap. 25. Davi voltou às vizinhanças de  Zife, onde novamente foi perseguido por Saul. Ainda desta vez foi-lhe poupada a vida. Passando ao acampamento de Saul, encontrou-o dormindo na sua tenda, levando de perto da cama a lança e o copo cap. 26. Não julgando possível escapar a tão tenaz perseguição, pediu acolhimento ao rei Aquis para residir na cidade de Ziclague, fronteira ao deserto pelo lado do sul. Ali esteve um ano e quatro meses, protegendo os filisteus contra as tribos do deserto, cap. 27. Quando os filisteus vieram a Gilboa para guerrear contra Saul, os príncipes dos filisteus não consentiram que Davi os acompanhasse na guerra, cap. 28:1, 2 e cap. 29. Retrocedendo, encontrou Davi e a cidade de Ziclague devastada; perseguiu os invasores em retirada e recobrou todos os despojos, cap. 30. Na batalha de Gilboa pereceram Saul e Jônatas, cuja morte foi celebrada em belíssima elegia, 2 Sm 1.

4. Davi rei de  Judá. Pela morte de Saul a tribo de Judá a que pertencia Davi, elegeu-o rei, e fixou residência oficial  em Hebrom, 2 Sm 2:1-10, tendo 30 anos de idade, 5:4. As outras tribos dirigidas por Abner elegeram rei a Isbosete, filho de Saul, resultando dali  uma guerra civil que durou dois anos, terminando pelo assassinato de Abner e de Isbosete, 2:12, até cap. 4:12. O reinado  de Davi em Hebrom continuou durante sete  anos e meio, e ali nasceram das diversas mulheres entre outros filhos, Amom, Absalão e Adonias, 2:11; 3:1-5; 5:5.

5. Davi, rei de todo o Israel. Morto Isbosete, foi eleito Davi rei de todo o Israel. Imediatamente procurou consolidar o reino, 5:1-5. Várias cidades dos território de Israel estavam ainda guarnecidas por forças dos filisteus e outras em poder dos cananeus. Davi começou a sitiar Jerusalém que era o grande baluarte dos jebuseus, e fez dela a capital do reino, onde edificou um palácio auxiliado por artífices vindos de Tiro. A nova capital ficava na linha divisória de Judá e Israel, ponto estratégico, que ligava os pontos extremos do país. A expulsão dos cananeus abria o caminho entre Judá e o Norte, facilitando as comunicações e preparando a futura consolidação do reino. Os filisteus por duas vezes invadiram o país e em ambas foram repelidos perto de Jerusalém, cap. 5:17-25; 1 Cr 14:8-17. Rebentou de novo a guerra com os filisteus, que foram de tal modo derrotados, que cessaram de perturbar a Israel por alguns séculos, 2 Sm 21:15-22. Estabelecido o reino, Davi voltou suas vistas para os negócios do culto; trouxe a arca com grande cerimonial desde Quiriate Jearim, Js 15:9; 2 Cr 1:4, e colocou-a no tabernáculo que havia erigido na cidade de Davi, 2 Sm 6:1-23; 1 Cr 13:1-14; 15:1-3. Em seguida organizou o serviço cultural  com grande magnificência, 1 Cr 15 e 16, e planejou a construção de um templo majestoso, 2 Sm 7:1-29; 1 Cr 17:1-27; 22:7-10. Com o favor  divino, o reino progredia. Para prevenir a contaminação pela idolatria e vingar as afrontas cometidas pelas nações vizinhas, entrou em guerra contra elas e subjugou os moabitas, os aramitas de Zobá e Damasco, os amonitas, os edomitas e os amalequitas, 2 Sm 8:1-18; 10:1-19; 12:26-31, estendendo o reino até aos limites antes prometidos a Abraão, Gn 15:18. Foi durante a guerra com os amonitas que Davi cometeu o grande pecado com a mulher de Urias, o heteu, pelo qual foi repreendido pelo profeta Natã, por cuja causa nunca mais a espada se apartaria de sua casa, 2 Sm 11:1 até cap. 12:23. Davi sinceramente se arrependeu, Sl 51, mas não escapou às conseqüências naturais do seu pecado. O filho, fruto de seu amor impuro, morreu, 2 Sm 12:19. Os mesmos atos de luxúria  e de vingança aparecem em sua própria casa, cap. 13, acompanhado da ambição de um filho perverso que disputava a posse do reino, lançando em todo o país a guerra civil, caps. 14 a 19. O espírito de revolta fomentado por Absalão irrompeu mais uma vez com a sedição de Seba, cap. 20. Davi solenemente satisfez à justiça, segundo as idéias do tempo, vingando as violações sanguinárias de Saul e contra os gabaonitas, cap. 21. Cometeu o pecado de ordenar a contagem do povo de Israel, sendo punido  com a peste que assolou o povo, cap. 24; 1 Cr 21. Preocupou-se muito com a organização dos negócios internos e com os preparativos para a construção do templo. Terminou o seu governo assegurando a Salomão a posse do trono, 1 Rs 1, e providenciando para que não escapassem ao castigo devido, todos quantos estavam sob a ação da justiça, 2:1-11. Morreu aos 71 anos de idade, tendo reinado 40 anos e meio, sendo sete e meio em Hebrom e trinta e três em Jerusalém, 2 Sm 2:11; 5:4, 5; 1 Cr 29:27.

Davi recebeu a distinta classificação de excelente cantor de Israel, 2 Sm 23:1. A antiga tradição hebraica corrente em seu tempo e confirmada depois, atribui-lhe a composição dos salmos direta ou indiretamente.O seu gosto pela música é mencionado nos livros históricos, tocava harpa com maestria, 1 Sm 16:19-23; 2 Sm 6:5, organizou o serviço de canto para o Santuário, 1 Cr 6:31; 16:7, 41, 42; 25:1, compôs uma elegia sobre  a morte de Saul e de Jônatas e sobre Abner e bem assim as suas últimas palavras, 2 Sm 1:17-27; 3:33, 34; 23:1-7. À sua atividade musical, referem-se vários escritores sagrados como, Am 6:5, Ed 3:10, Ne 12:24, 36, 45, 46, e o filho de Siraque, Ecclus, 47:8, 9. Esta qualidade artística do grande rei, desenvolveu-se sob as influências da época; a poesia e a música eram muito cultivadas pelos hebreus, pelos egípcios e babilônios, Nm 21:14; Jz 5. Setenta e três salmos tem o nome de Davi no  texto hebraico e em muitos casos, onde o nome dele não aparece, nem por isso perdem o colorido de sua  imaginação privilegiada (comp. salmos 3, 7, 34:51, etc.). O salmo 59 e o 7 pertencem ao mesmo tempo em que ele demorava no palácio de Saul; os salmos 35, 52, 54, 56, 57, 63 e 142, pertencem ao período angustioso de sua vida sob a perseguição de Saul, e os salmos 3, 17, 30, 51 e 60 pertencem ao período de suas várias experiências como rei.

Apesar dos lamentáveis desvios, conseqüências inevitáveis  àquele período escuro da história da Igreja em que ele viveu, e de que legou eloqüentes provas de arrependimento, constitui brilhante defesa à sua fidelidade a Jeová, que lhe granjeou o título  de "homem segundo o meu coração", 1 Sm 13:14. Geralmente falando, ele fez o que era reto aos olhos do Senhor, exceto no caso de Urias heteu, 1 Rs 15:5. Serviu no seu tempo, conforme a vontade de Deus e morreu, At 13:36. Os efeitos de sua influência na humanidade são incalculáveis. Ele mais que Saul, foi o fundador da monarquia judaica. Os salmos que ele compôs são cantados por toda a cristandade, séculos após séculos, alimentando e revivendo a sua espiritualidade; e  formou um dos elos da cadeia dos ascendentes daquele que se chama o Filho de Davi, Mt 22:41-45.

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Bíbliologia
Como é constituida a Bíblia quais os canons
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Nivaldo Maia de Brito Email: [email protected]                                 
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