BÍBLIOLOGIA: DOUTRINA DA BÍBLIA
I. REVELAÇÃO:
É a operação divina que comunica ao homem fatos que a razão
humana é insuficiente para conhecer. É portanto, a operação
divina que comunica a verdade de Deus ao homem (ICo.2:10).
A) Provas
da Revelação:
O diabo foi o primeiro ser a pôr em dúvida a existência da revelação:
"É assim que Deus disse?" (Gn.3:1). Mas a Bíblia é a
Palavra de Deus. Vejamos alguns argumentos:
1)
A Indestrutibilidade da Bíblia:
Uma porcentagem muito pequena de livros sobrevive além de um
quarto de século, e uma porcentagem ainda menor dura um século, e
uma porção quase insignificante dura mil anos. A Bíblia, porém,
tem sobrevivido em circunstâncias adversas. Em 303 A.D. o imperador
Dioclécio decretou que todos os exemplares da Bíblia fossem
queimados. A Bíblia é hoje encontrada em mais de mil línguas e
ainda é o livro mais lido do mundo.
2) A
Natureza da Bíblia:
a) Ela é
superior:
Ela
é superior a qualquer
outro livro do mundo. O mundo, com sua sabedoria e vasto acúmulo de
conhecimento nunca foi capaz de produzir um livro que chegue perto
de se comparar a Bíblia.
b) É um
livro honesto:
Pois revela fatos sobre a corrupção humana, fatos que a natureza
humana teria interesse em acobertar.
c) É um
livro harmonioso:
Pois
embora tenha sido escrito por uns quarenta autores diferentes, por
um período de 1.600 anos, ela revela ser um livro único que
expressa um só sistema doutrinário e um só padrão moral,
coerentes e sem contradições.
3) A
Influência da Bíblia:
O
Alcorão, o Livro dos Mórmons, o Zenda Avesta, os Clássicos de
Confúncio, todos tiveram influência no mundo. Estes, porém,
conduziram a uma idéia apagada
de Deus e do pecado, ao ponto de ignorá-los. A Bíblia, porém, tem
produzido altos resultados em todas as esferas da vida: na arte, na
arquitetura, na literatura, na música, na política, na ciência
etc.
4)
Argumento da Analogia:
Os animais inferiores expressam com suas vozes seus diferentes
sentimentos. Entre os racionais existe uma presença correspondente,
existe comunicação direta de um para o outro, uma revelação de
pensamentos e sentimentos. Consequentemente é de se esperar que
exista, por analogia da natureza, uma revelação direta de Deus
para com o homem. Sendo o homem criado à Sua imagem, é natural
supor que o Criador sustente relação pessoal com Suas criaturas
racionais.
5)
Argumento da Experiência:
O homem é incapaz por sua própria força descobrir que:
a)
Precisa
ser salvo.
b) Pode
ser
salvo.
c) Como
pode ser salvo.
d)
Se
há salvação.
Somente
a revelação pode desvendar estes mistérios eternos. A experiência
do homem tem demonstrado que a tendência da natureza humana é
degenerar-se e seu caminho ascendente se sustêm unicamente quando
é voltado para cima em comunicação direta com a revelação de
Deus.
6)
Argumento da Profecia Cumprida:
Muitas
profecias a respeito de Cristo se cumpriram integralmente, sendo que
a mais próxima do primeiro advento, foi pronunciada 165 anos antes
de seu cumprimento. As profecias a respeito da dispersão de Israel
também, se cumpriram (Dt.28; Jr.15:4;l6:13; Os.3:4 etc); da
conquista de Samaria e preservação de Judá (Is.7:6-8; Os.1:6,7;
IRs.14:15); do cativeiro babilônico sobre Judá e Jerusalém
(Is.39:6; Jr.25:9-12); sobre a destruição final de Samaria (Mq.1:6-9);
sobre a restauração de Jerusalém (Jr.29:10-14), etc.
7)
Reivindicações da Própria Escritura:
A
própria Bíblia expressa sua infalibilidade, reivindicando
autoridade. Nenhum outro livro ousa fazê-lo. Encontramos essa
reivindicação na seguintes expressões: "Disse o Senhor a
Moisés" (Ex.14:1,15,26;16:4;25:1; Lv.1:1;4:1;11:1; Nm.4:1;13:1;
Dt.32:48) "O Senhor é quem fala" (Is.1:2); "Disse o
Senhor a Isaías" (Is.7:3); "Assim diz o Senhor"
(Is.43:1). Outras expressões semelhantes são encontradas:
"Palavra que veio a Jeremias da parte do Senhor"
(Jr.11:1); "Veio expressamente a Palavra do Senhor a
Ezequiel" (Ez.1:3); "Palavra do Senhor que foi dirigida a
Oséias" (Os.1:1); "Palavra do Senhor que foi dirigida a
Joel" (Jl.1:1), etc. Expressões como estas são encontradas
mais de 3.800 vezes no Velho Testamento. Portanto o A.T. afirma ser
a revelação de Deus, e essa mesma reivindicação faz o Novo
Testamento (ICo.14:37; ITs.2:13; IJo.5:10; IIPe.3:2).
B)
Natureza da Revelação:
Deus se revelou de sete modos:
1) Através
da Natureza:
(Sl.19:1-6;
Rm.l:19-23).
2) Através
da Providência:
A
providência é a execução do programa de Deus das dispensações
em todos os seus detalhes (Gn.48:15;50:20; Rm.8:28; Sm.57:2;
Jr.30:11; Is.54:17).
3) Através
da Preservação:
(Cl.1:17;
Hb.1:3; At.17:25,28).
4) Através
de Milagres:
(Ex.4:1-9).
5) Através
da Comunicação Direta:
(Nm.12:8;
Dt.34:10).
6) Através
da Encarnação:
(Hb.1:1;
Jo.8:26;15:15).
7) Através
das Escrituras:
A
Bíblia é a revelação escrita de Deus e, como tal, abrange
importantes aspectos:
a)
Ela
é variada: Variada em seus temas, pois abrange aquilo que é
doutrinário , devocional, histórico, profético e prático.
b)
Ela
é parcial: (Dt.29:29).
c)
Ela
é completa: Naquilo que já foi revelado (Cl.2:9,10);
d)
Ela
é progressiva: (Mc.4:28).
e)
Ela
é definitiva: (Jd.3).
II.
INSPIRAÇÃO: É a operação divina que influenciou os escritores bíblicos,
capacitando-os a receber a mensagem divina, e que os moveu a
transcrevê-la com exatidão, impedindo-os de cometerem erros e
omissões, de modo que ela recebeu autoridade divina e infalível,
garantindo a exata transferência da verdade revelada de Deus para a
linguagem humana inteligível (ICo.10:13; IITm.3:16; IIPe.1:20,21).
A)
Autoria Dual:
Com este termo indicamos dois fatos:
1)
Autoria Divina:
Do
lado divino as Escrituras são a Palavra de Deus no sentido de que
se originaram nEle e são a expressão de Sua mente. Em IITm.3:16
encontramos a referência a Deus: "Toda Escritura é
divinamente inspirada"
(theopneustos = soprada ou
expirada por Deus) . A referência aqui é ao
escrito.
2)
Autoria Humana:
Do
lado humano certos homens foram escolhidos por Deus para a
responsabilidade de receber a Palavra e passá-la para a forma
escrita. Em IIPe.1:21 encontramos a referência aos homens:
"Homens santos de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo" (pherô = movidos ou conduzidos). A referência aqui é ao
escritor.
B)
Inspiração ou Expiração?
A palavra inspiração vem do latim, e significa respirar para dentro. Ela é usada pela ARC. (Almeida Revista e
Corrigida) somente duas vezes no N.T. (IITm.3:16; IIPe.1:21). Este
vocábulo, embora consagrado pelo uso, e, portanto, pela teologia, não
é um termo adequado, pois pode parecer que Deus tenha soprado
alguma espécie de vida divina em palavras humanas. Em IITm.3:16
encontramos o vocábulo grego
theopneustos que significa soprado
por Deus. Portanto podemos afirmar que toda a Escritura é soprada
ou expirada por Deus, e não
inspirada como expressa a
ARC. As Escrituras são o próprio sopro de Deus, é o próprio Deus
falando (IISm.23:2). Em IIPe.1:21 este vocábulo se torna mais
inadequado ainda, pois a tradução da ARC. transmite a idéia de
que os homens santos foram inspirados pelo Espírito Santo. O fato
é que o homem não é inspirado, mas a
Palavra de Deus é que é expirada (Compare Jó.32:8; 33:4;
com Ez.36:27; 37:9). A ARA. (Almeida Revista e Atualizada), porém,
apesar de utilizar o termo inspiração em IITm.3:16, usa, com
acerto, o verbo mover em IIPe.1:21, como tradução do vocábulo grego pherô,
que significa exatamente mover
ou conduzir.
Considerada
esta ressalva, não devemos pender para o extremo, excluindo a
autoria humana da compilação das Escrituras. Ela própria
reconhece a autoria dual no registro bíblico. Em Mt.15:4 está
escrito que Deus ordenou
enquanto que em Mc.7:10 diz que foi Moisés
quem ordenou. E muitas outras passagens há semelhantes a esta
(Compare Sl.110:1 com Mc.12:36; Ex.3:6,15 com Mt.22:31; Lc.20:37 com
Mc.12:26; Is.6:9,10; At.28:25 com Jo.12:39-41; Mt.1:22;2:15;
At.l:16;4:25; Hb.3:7-11; Hb.9:8;10:15) Deus opera de modo misterioso
usando e não anulando a
vontade humana, sem que o homem perceba que está sendo divinamente conduzido, sendo que neste fenômeno, o homem faz pleno
uso de sua liberdade (Pv.16:1;19:21; Sl.33:15;105:25; Ap.17:17).
Desse mesmo modo Deus também usa Satanás (Compare ICr.21:1 com
IISm.24:1; IRs.22:20-23), mas não retira a responsabilidade do
homem (At.5:3,4), como também o faz na obra da salvação (Dt.30:19;
Sl.65:4; Jo.6:44).
C) O
Termo Logos:
Este
termo grego foi utilizado no N.T. cerca de 200 vezes para indicar a
Palavra
de Deus Escrita, e 7 vezes para indicar o Filho
de Deus (Jo.1:1,14; IJo.1:1;5:7; Ap.19:13). Eles são para Deus
o que a expressão é para o pensamento e o que a fala é para a razão,
portanto o Logos de Deus
é a expressão de Deus, quer seja na forma escrita ou viva (Compare
Jo.14:6 com Jo.17:17).
1) Cristo
é a Palavra Viva:
Cristo
é o Logos, isto é, a fala, a expressão de Deus.
2) A Bíblia
é a Palavra Escrita:
A
Bíblia também é o Logos
de Deus, e assim como em Cristo há dois elementos (duas naturezas),
divino e humano, igualmente na Palavra de Deus estes dois elementos
aparecem unidos sobrenaturalmente.
D) Provas
da Inspiração:
Somos
acusados de provar a inspiração pela Bíblia e de provar a verdade
da Bíblia pela inspiração, e, assim, de argumentar num círculo
vicioso. Mas o processo parte de uma prova que todos aceitam: a evidência.
Esta, primeiro prova a veracidade ou credibilidade da testemunha, e
então aceita o seu testemunho. A veracidade das Escrituras é
estabelecida de vários modos, e, tendo constatado a sua veracidade,
ou a validade do seu testemunho, bem podemos aceitar o que elas
dizem de si mesmas. As Escrituras afirmam que são inspiradas, e
elas ou devem ser cridas neste particular ou rejeitadas em tudo
mais.
1) O A.T.
afirma sua Inspiração:
(Dt.4:2,5;
IISm.23:2; Is.1:10; Jr.1:2,9; Ez.3:1,4; Os.1:1; Jl.l:1; Am.1:3;3:1;
Ob.1:1; Mq.1:1).
2) O N.T.
afirma sua Inspiração:
(Mt.10:19;
Jo.14:26;15:26,27; Jo.16:13; At.2:33;15:28; ITs.1:5; ICo.2:13; IICo.13:3;
IIPe.3:16; ITs.2:13; ICo.14:37).
3) O N.T.
afirma a Inspiração do A.T.:
(Lc.1:70;
At.4:25; Hb.1:1, IItm.3:16; IPe.1:11; IIPe.1:21).
4) A Bíblia
faz declarações científicas descobertas posteriormente:
(Jó.26:7; Sl.135:7; Ec.1:7; Is.40:22).
E)
Teorias da Inspiração:
Podemos
ter revelação sem inspiração (Ap.10:3,4), e podemos ter inspiração
sem revelação, como quando os escritores registram o que viram com
seus próprios olhos e descobriram pela pesquisa (IJo.1:1-4; Lc.1:1-4).
Aqui nós temos a forma e o resultado
da
inspiração. A forma é o método
que Deus empregou na inspiração, enquanto que o resultado indica a
conseqüência da inspiração.
Portanto, as chamadas teorias da intuição, da iluminação, a dinâmica
e a do ditado, todas descrevem a forma de inspiração, enquanto que
a teoria verbal plenária indica o resultado.
1) Teoria
da Inspiração Dinâmica:
Afirma que Deus forneceu a capacidade necessária para a confiável
transmissão da verdade que os escritores das Escrituras receberam
ordem de comunicar. Isto os tornou infalíveis em questões de fé e
prática, mas não nas coisas que não são de natureza
imediatamente religiosa, isto é, a inspiração atinge apenas os
ensinamentos e preceitos doutrinários, as verdades desconhecidas
dos autores humanos. Esta teoria tem muitas falhas: Ela não explica
como os escritores bíblicos poderiam mesclar seus conhecimentos
sobrenaturais ao registrarem uma sentença, e serem rebaixados a um
nível inferior ao relatarem um fato de modo natural. Ela não
fornece a psicologia daquele estado de espírito que deveria
envolver os escritores bíblicos ao se pronunciarem infalivelmente
sobre matérias de doutrina, enquanto se desviam a respeito dos
fatos mais simples da história. Ela não analisa a relação
existente entre as mentes divina e humana, que produz tais
resultados. Ela não distingue entre coisas que são essenciais à fé
e à pratica e àquelas que não são. Erasmo, Grotius, Baxter,
Paley, Doellinger e Strong compartilham desta teoria.
2) Teoria
do Ditado ou Mecânica:
Afirma
que os escritores bíblicos foram meros instrumentos (amanuenses),
não seres cujas personalidades foram preservadas. Se Deus tivesse
ditado as Escrituras, o seu estilo seria uniforme. Teria a dicção
e o vocabulário do divino Autor, livre das idiossincrasias dos
homens (Rm.9:1-3; IIPe.3:15,16). Na verdade o autor humano recebeu
plena liberdade de ação para a sua autoria, escrevendo com seus próprios
sentimentos, estilo e vocabulário, mas garantiu a exatidão da
mensagem suprema com tanta perfeição como se ela tivesse sido
ditada por Deus. Não há nenhuma insinuação de que Deus tenha
ditado qualquer mensagem a um homem além daquela que Moisés
trasncreveu no monte santo, pois Deus usa
e não anula as suas vontades. Esta teoria, portanto, enfatiza sobremaneira
a autoria divina ao ponto de excluir a autoria humana.
3) Teoria
da Inspiração Natural ou Intuição:
Afirma
que a inspiração é simplesmente um discernimento superior das
verdades moral e religiosa por parte do homem natural. Assim como
tem havido artistas, músicos e poetas excepcionais, que produziram
obras de arte que nunca foram superadas, também em relação as
Escrituras houve homens excepcionais com visão espiritual que, por
causa de seus dons naturais, foram capazes de escrever as
Escrituras. Esta é a noção mais baixa de inspiração, pois
enfatiza a autoria humana a ponto de excluir a autoria divina. Esta
teoria foi defendida pelos pelagianos e unitarianos.
4) Teoria
da Inspiração Mística ou Iluminação:
Afirma
que inspiração é simplesmente uma intensificação e elevação
das percepções religiosas do crente. Cada crente tem sua iluminação
até certo ponto, mas alguns tem mais do que outros. Se esta teoria
fosse verdadeira, qualquer cristão em qualquer tempo, através da
energia divina especial, poderia escrever as Escrituras.
Schleiermacher foi quem disseminou esta teoria. Para ele inspiração
é "um despertamento e excitamento da consciência religiosa,
diferente em grau e não em espécie da inspiração piedosa ou
sentimentos intuitivos dos homens santos". Lutero, Neander,
Tholuck, Cremer, F.W.Robertson, J.F.Clarke e G.T.Ladd defendiam esta
teoria, segundo Strong.
5)
Inspiração dos Conceitos e não das Palavras:
Esta
teoria pressupõe pensamentos à parte das palavras, através da
qual Deus teria transmitido idéias mas deixou o autor humano livre
para expressá-las em sua própria linguagem. Mas idéias não são
transferíveis por nenhum outro modo além das palavras. Esta teoria
ignora a importância das palavras em qualquer mensagem. Muitas
passagens bíblicas dependem de uma das palavras usadas para a sua
força e valor. O estudo exegético das Escrituras nas línguas
originais é um estudo de palavras,
para que o conceito possa
ser alcançado através das palavras, e não para que palavras sem
importância representem um conceito. A Bíblia sempre enfatiza suas
palavras e não um simples conceito (ICo.2:13; Jo.6:63;17:8;
Ex.20:1; Gl.3:16).
6) Graus
de Inspiração:
Afirma
que há inspiração em três graus. Sugestão, direção, elevação,
superintendência, orientação e revelação direta, são palavras
usadas para classificar estes graus. Esta teoria alega que algumas
partes da Bíblia são mais inspiradas do que outras. Embora ela
reconheça as duas autorias, dá margem a especulação fantasiosa.
7)
Inspiração Verbal Plenária:
É o poder inexplicado do Espírito Santo agindo sobre os escritores
das Sagradas Escrituras, para orientá-los (conduzí-los) na
transcrição do registro bíblico, quer seja através de observações
pessoais, fontes orais ou verbais, ou através de revelação divina
direta, preservando-os de erros e omissões, abrangendo as palavras
em gênero, número, tempo, modo e voz, preservando, desse modo, a
inerrância das Escrituras, e dando à ela autoridade divina.
a)
Observação
Pessoal: (IJo.1:1-4).
b)
Fonte
Oral: (Lc.l:1-4).
c)
Fonte
Verbal: (At.17:18; Tt.1:12; Hb.1:1).
d)
Revelação
Divina Direta: ( Ap.1:1-ll; Gl.1:12).
e)
Gênero:
(Gn.3:15).
f)
Número:
(Gl.3:16).
g)
Tempo:
(Ef.4:30; Cl.3:13).
h)
Modo:
(Ef.4:30; Cl.3:13).
i)
Voz:
(Ef.5:18)
j)
Explicação
dos itens e,f,g,h,i: A
inspiração verbal plenária fica assim estabelecida. Em Gn.3:15 o
pronome hebraico está no gênero masculino, pois se refere
exclusivamente a Cristo (Ele
te ferirá a cabeça...). Em Gl.3:16 Paulo faz citação de um
substantivo hebraico que está no singular, fazendo, também, referência
exclusiva a Cristo. Em Ef.4:30 e Cl.3:13 o verbo perdoar
encontra-se, no grego, no modo particípio e no tempo presente, o
que significa que o perdão
judicial de Deus realizado no passado, quando aceitamos a
Cristo, estende-se por toda a nossa vida, abrangendo o perdão dos
pecados do passado, do presente, e do futuro (IJo.1:9 trata do perdão
do pecado doméstico e não
do judicial). Jesus Cristo reconheceu a inspiração verbal plenária
quando declarou que nem um til
(a menor letra do alfabeto hebraico) seria omitido da lei(Mt.5:18 e
Lc.16:l7).
III.
ILUMINAÇÃO: É a influência ou ministério do Espirito Santo que
capacita todos os que estão num relacionamento correto com Deus
para entender as Escrituras (I Cor.2:12; Lc.24:32,45; IJo.2:27).
A
iluminação não inclui a responsabilidade de acrescentar algo às
Escrituras (revelação) e nem inclui uma transmissão infalível na
linguagem (inspiração) daquele que o Espirito Santo ensina.
A
iluminação é diferenciada da revelação e da inspiração no
fato de ser prometida a todos os crentes, pois não depende de
escolha soberana, mas de ajustamento pessoal ao Espirito Santo. Além
disso a iluminação admite graus podendo aumentar ou diminuir (Ef.1:16-18;
4:23; Cl.1:9).
A
iluminação não se limita a questões comuns, mas pode atingir as
coisas profundas de Deus (ICo.2:10) porque o Mestre Divino está no
coração do crente e, portanto, ele não houve uma voz falando de
fora e em determinados momentos, mas a mente e o coração são
sobrenaturalmente despertados de dentro (ICo.2:16). Este
despertamento do Espírito pode ser prejudicado pelo pecado, pois é
dito que o cristão que é espiritual discerne todas as coisas (ICo.2:15),
ao passo que aquele que é carnal não pode receber as verdades mais
profundas de Deus que são comparadas ao alimento sólido (ICo.2:15;3:1-3;
Hb.5:12-14).
A
iluminação, a inspiração e a revelação estão estritamente
ligadas, porém podem ser independentes, pois há inspiração sem
revelação (Lc.1:1-3; IJo.1:1-4); inspiração com revelação
(Ap.1:1-11); inspiração sem iluminação (IPe.1:10-12); iluminação
sem inspiração (Ef.1:18) e sem revelação (ICo.2:12; Jd.3);
revelação sem iluminação (IPe.1:10-12) e sem inspiração
(Ap.10:3,4; Ex.20:1-22). E’ digno de nota que encontramos estes três
ministérios do Espirito Santo mencionados em uma só passagem (ICo.2:9-13);
a revelação no versículo 10; a iluminação no versículo 12 e a
inspiração no versículo 13.
IV.
AUTORIDADE: Dizemos que a bíblia é um livro que tem autoridade
porque ela tem influência, prestígio e credibilidade (quanto a
pureza na transcrição ou tradução), por isso deve ser obedecida
porque procede de fonte infalível e autorizada.
A
autoridade está vinculada a inspiração, canonicidade e
credibilidade, sem os quais a autoridade da Bíblia não se
estabeleceria. Assim, por ser inspirado, determinado trecho bíblico
possui autoridade; por ser canônico, determinado livro bíblico
possui autoridade, e por ter credibilidade, determinadas informações
bíblicas possuem autoridade, sejam históricas, geográficas ou
científicas.
Entretanto,
nem tudo aquilo que é inspirado é autorizado, pois a autoridade de
um livro trata de sua procedência,
de sua autoria, e, portanto, de sua veracidade. Deus é o Autor da Bíblia,
e como tal ela possui autoridade, mas nem tudo que está registrado
na Bíblia procedeu da boca de Deus. Por exemplo, o que Satanás
disse para Eva foi registrado por inspiração, mas não é a
verdade (Gn.3:4,5); o conselho que Pedro deu a Cristo (Mt.16:22); as
acusações que Elifaz fez contra Jó (Jó.22:5-11), etc. Nenhuma
dessas declarações representam o pensamento de Deus ou procedem
dEle (procedem apenas por inspiração), e por isso não têm
autoridade. Um texto também perde sua autoridade quando é retirado
de seu contexto e lhe é atribuído um significado totalmente
diferente daquele que tem quando inserido no contexto. As palavras
ainda são inspiradas, mas o novo significado não tem autoridade.
V.
CREDIBILIDADE OU VERACIDADE: Um livro tem credibilidade se relatou
veridicamente os assuntos como aconteceram ou como eles são; e
quando seu texto atual concorda com o escrito original.
Nesse
caso credibilidade relaciona-se ao conteúdo
do livro (original), e a pureza do texto atual (cópia ou tradução).
Por exemplo, as palavras de Satanás em Gn.3:4,5 são inspiradas,
mas não possuem autoridade, porque não é verdade, porém tem
credibilidade ou veracidade (quanto a sua transcrição) porque
foram registradas exatamente como Satanás disse. A veracidade das
palavras de Satanás não se relacionam ao o que ele pronunciou, mas sim como
ele as pronunciou.
A)
Credibilidade do A.T.:
Estabelecida por três fatos:
1)
Autenticado por Jesus Cristo:
Cristo
recebeu o A.T. como relato verídico. Ele endossou grande número de
ensinamentos do A.T., como, por exemplo: A criação do universo por
Deus (Mc.3:19), a criação do homem (Mt.19:4,5), a existência de
Satanás (Jo.8:44), o dilúvio (Lc.17:26,27), a destruição de
Sodoma e Gomorra (Lc.17:28-30), a revelação de Deus a Moisés na
sarça (Mc.12:26), a dádiva do maná (Jo.6:32), a experiência de
Jonas dentro do grande peixe (Mt.12:39,40). Como Jesus era Deus
manifesto em carne, Ele conhecia os fatos, e não podia se acomodar
a idéias errôneas, e, ao mesmo tempo ser honesto. Seu testemunho
deve, portanto, ser aceito como verdadeiro ou Ele deve ser rejeitado
como Mestre religioso.
2) Prova
Arqueológica e Histórica:
a)
Arqueológica: Através
da arqueologia, a batalha dos reis registrada em Gn.14 não pode
mais ser posta em dúvida, já que as inscrições no Vale do
Eufrates "mostram indiscutivelmente que os quatro reis
mencionados na Bíblia como tendo participado desta expedição não
são, como era dito displicentemente, ‘invenções etnológicas’,
mas sim personagens históricos reais. Anrafel é identificado como
o Hamurábi cujo maravilhoso código de leis foi tão recentemente
descoberto por De Morgan em Susa". (Geo. F. Wright, O
Testemunho dos Monumentos à Verdade das Escrituras).
As
tábuas Nuzi esclarecem a ação de Sara e Raquel ao darem suas servas aos
seus maridos (Jack Finegan, Ligth from the Ancient Past = Luz de um
Passado Antigo).
Os
hieróglifos egípcios indicam que a escrita já era conhecida mais
de 1.000 anos antes de Abraão (James Orr, The Problem of the Old
Testament = O Problema do Velho Testamento).
A
arqueologia também confirma o fato de Israel ter vivido no Egito,
como escravo, e ter sido liberto (Melvin G. Kyle, The Deciding Voice
of the Monuments = A Voz Decisória dos Monumentos).
Muitas
outras confirmações da veracidade dos relatos das Escrituras
poderiam ser apresentados, mas esses são suficientes e devem servir
como aviso aos descrentes com relação às coisas para as quais
ainda não temos confirmação; podemos encontrá-la a qualquer
hora.
b) Histórica:
A
história fornece muitas provas da exatidão das descrições bíblicas.
Sabe-se que Salmanezer IV sitiou a cidade de Samaria, mas o rei da
Assíria, que sabemos ter sido Sargom II, carregou o povo para a Síria
(IIRs.17:3-6). A história mostra que ele reinou de 722-705 a.C. Ele
é mencionado pelo nome apenas uma vez na Bíblia (Is.20:1). Nem
Beltsazar (Dn.5), nem Dario, o Medo (Dn.6) são mais considerados
como personagens fictícios.
3) As
Escrituras possuem Integridade:
a)
Integridade Topográfica e Geográfica:
As
descobertas arqueológicas provam que os povos, línguas, os lugares
e os eventos mencionados nas Escrituras são encontrados justamente
onde as Escrituras os localizam, no local exato e sob as circunstâncias
geográficas exatas descritas na Bíblia.
b)
Integridade Etnológica ou Racial:
Todas
as afirmações bíblicas sobre raças tem sido demonstrada como
corretas com os fatos etnológicos revelados pela arqueologia.
c)
Integridade Cronológica:
A
identificação bíblica de povos, lugares e acontecimentos com o
período de sua ocorrência é corroborada pela cronologia síria e
pelos fatos revelados pela arqueologia.
d)
Integridade Histórica:
O
registro dos nomes e títulos dos reis está em harmonia perfeita
com os registros seculares, conforme demonstrados por descobertas
arqueológicas.
e)
Integridade Canônica:
A
aceitação pela igreja em toda a era cristã, dos livros incluídos
nas Escrituras que hoje possuímos, representa o endosso de sua
integridade.
Exemplares
do A.T. e do N.T. impressos em 1.488 e 1.516 d.C., concordam com os
exemplares atuais. Portanto a Bíblia como a possuímos hoje, já
existia há 400 anos passados.
Quando
essas Bíblias foram impressas, certo erudito tinha em seu poder
mais de 2.000 manuscritos. Esse número é sem dúvida suficiente
para estabelecer a genuinidade e credibilidade do texto sagrado, e
tem servido para restaurar ao texto sua pureza
original, e fornecem proteção contra corrupções futuras
(Ap.22:18-19; Dt.4:2;12:32).
Enquanto
a integridade canônica da Bíblia se baseia em mais de 2.000
manuscritos, os escritos seculares, que geralmente são aceitos sem
contestação, baseiam-se em apenas uma ou duas dezenas de
exemplares.
As
quatro Bíblias mais antigas do mundo, datadas entre 300 e 400 d.C.,
correspondem exatamente a Bíblia como a possuímos atualmente.
B)
Credibilidade do N.T.:
Estabelecida
por cinco fatos:
1)
Escritores Competentes:
Possuíam
as qualificações necessárias, receberam investidura do Espirito
Santo e assim escreveram não somente guiados pela memória,
apresentações de testemunho oral e escrito, e discernimento
espiritual, mas como escritores qualificados pelo Espirito Santo.
2)
Escritores Honestos:
O
tom moral de seus escritos, sua preocupação com a verdade, e a
circunstância de seus registros indicam que não eram enganadores
intencionais mais sim homens honestos. O seu testemunho pôs em
perigo seus interesses materiais, posição social, e suas próprias
vidas. Por quê razão inventariam uma estória que condena a
hipocrisia e é contrária a suas crenças herdadas, pagando com
suas próprias vidas?
3)
Harmonia do N.T.:
Os
sinópticos não se contradizem mas suplementam um ao outro. Os
vinte e sete livros do N.T. apresentam um quadro harmonioso de Jesus
Cristo e Sua obra.
4) Prova
Histórica e Arqueológica:
a) Histórica:
O
recenseamento quando Quirino era Governador da Síria (Lc.2:2), os
atos de Herodes o Grande (Mt.2:16-18), de Herodes Antipas
(Mt.14:1-12), de Agripa I (At.12:1), de Gálio (At.18;12-17), de
Agripa II (At.25:13-26:32) etc.
b)
Arqueológica:
As
descobertas arqueológicas confirmam a veracidade do N.T. Quirino (Lc.2:2)
foi Governador da Síria duas vezes (16-12 e 6-4 a.C.), sendo que
Lucas se refere ao segundo período.
Lisânias,
o Tetrarca é mencionado em uma inscrição no local de Abilene na
época a que Lucas se refere.
Uma
inscrição em Listra registra a dedicação da estátua Zeus (Júpiter)
e Hermes (Mercúrio), o que mostra que esses deuses eram colocados
no mesmo nível, no culto local, conforme descrito em At.14:12.
Uma
inscrição de Pafos faz referência ao Proconsul Paulo,
identificado como Sergio Paulo (At.13:7).
VI. INERRÂNCIA
OU INFALIBILIDADE: Inerrância significa que a verdade é
transmitida em palavras que, entendidas no sentido em que foram
empregadas, entendidas no sentido que realmente se destinavam a ter,
não expressam erro algum.
A
inspiração garante a inerrância da Bíblia. Inerrância não
significa que os escritores não tinham faltas na vida, mas que
foram preservados de erros os seus ensinos. Eles podem ter tido
concepções errôneas acerca de muitas coisas, mas não as
ensinaram; por exemplo, quanto à terra, às estrelas, às leis
naturais, à geografia, à vida política e social etc.
Também
não significa que não se possa interpretar erroneamente o texto ou
que ele não possa ser mal compreendido.
A
inerrância não nega a flexibilidade da linguagem como veículo de
comunicação. É muitas vezes difícil transmitir com exatidão um
pensamento por causa desta flexibilidade de linguagem ou por causa
de possível variação no sentido das palavras.
A
Bíblia vem de Deus. Será que Deus nos deu um livro de instrução
religiosa repleto de erros? Se ele possui erros sob a forma de uma
pretensa revelação, perpetua os erros e as trevas que professa
remover. Pode-se admitir que um Deus Santo adicione a sanção do
seu nome a algo que não seja a expressão exata da verdade?.
Diz-se
que a Bíblia é parcialmente verdadeira e parcialmente falsa. Se é
parcialmente falsa, como se explica que Deus tenha posto o seu selo
sobre toda ela? Se ela é parcialmente verdadeira e parcialmente
falsa, então a vida e a morte estão a depender de um processo de
separação entre o certo e o errado, que o homem não pode
realizar.
Cristo
declara que a incredulidade é ofensa digna de castigo. Isto implica
na veracidade daquilo que tem de ser crido, porque Deus não pode
castigar o homem por descrer no que não é verdadeiro (Sl.119:140,142;
Mt.5:18; Jo.10:35; Jo.17:17). Aqueles que negam a infalibilidade da
Bíblia, geralmente estão prontos a confiar na falibilidade de suas
próprias opiniões. Como exemplo de opinião falível encontramos
aqueles que atribuem erro à passagem de IRs.7:23 onde lemos que o
mar de fundição tinha dez côvados de diâmetro de uma borda até
a outra, ao passo que um cordão de trinta côvados o cingia em
redor. Sendo assim, tem-se dito que a Bíblia faz o valor do Pi
ser 3 em vez de 3,1416.
Mas
uma vez que não sabemos se a linha em redor era na extremidade da
borda ou debaixo da mesma, como parece sugerir o versículo seguinte
(v.24) não podemos chegar a uma conclusão definitiva, e devemos
ser cautelosos ao atribuir erro ao escritor.
Outro
exemplo utilizado para contrariar a inerrância da Bíblia,
encontra-se em ICo.10:8 onde lemos que 23.000 homens morreram no
deserto, enquanto que Nm.25:9 diz que morreram 24.000. Acontece que
em Números nós temos o número total dos mortos, ao passo que em I
aos Coríntios nós temos o número parcial que somado ao restante
dos homens relacionados nos versículos 9 e 10, deverá contabilizar
o total de 24.000.
A
inerrância não abrange as cópias dos manuscritos, mas atinge
somente os autógrafos, isto é, os originais. Desse modo
encontramos os seguintes tipos de erros nos manuscritos:
A) Erros
Involuntários:
Cometidos
pelos escribas do N.T. devido a sua falta ou defeito de visão,
defeitos de audição ou falhas mentais.
1) Falhas
de Visão:
Em
Rm.6:5 muitos manuscritos (MSS) tem ama
(juntos), mas há alguns que trazem alla
(porém). Os dois lambdas
juntos deram ao copista a idéia de um mi.
Em At.15:40 onde há eplexamenoc
(tendo escolhido) aparece no Códice Beza epdexamenoc
(tendo recebido) onde o lambda maiúsculo é confundido com um
delta maiúsculo.
Há
também confusão de sílabas, como é o caso de ITm.3:16 onde o
manuscrito D traz homologoumen ôs (nós
confessamos que) em vez de
homologoumenôs
(sem dúvida).
O
erro visual chamado parablopse
(um olhar ao lado) é facilitado pelo homoioteleuton,
que é o final igual de duas linhas, levando o escriba a saltar uma
delas, ou pelo homoioarchon,
que
são duas linhas com o mesmo início.
O
Códice Vaticano, em Jo.17:15, não contém as palavras entre parênteses:
"Não rogo que os tires do (mundo, mas que os guardes do)
maligno". Consultando o N.T. grego veremos que as duas linhas
terminavam de maneira idêntica, em autos ek tou, no manuscrito
que
o escriba de B copiava.
Lc.18:39
não aparece nos manuscritos 33,
57, 103 e b, devido a um final de frase igual na sentença
anterior no manuscrito do qual eles se derivam.
O
Códice Laudiano tem um exemplo no versículo 4 do Capítulo 2 do
livro de Atos: "Et repleti sunt et repleti sunt omnes spiritu sancto",
sendo
este em caso de adição, chamado ditografia,
que é a repetição de uma letra, sílaba ou palavras.
2) Falhas
de Audição:
Era
costume muitos escribas se reunirem numa sala enquanto um leitor
lhes ditava o texto sagrado. Desse modo o ouvido traía o escriba até
mesmo quando o copista solitário ditava a si próprio. Em Rm.5:1
encontramos um destes casos, onde as variantes echômen
e echomen foram confundidas. IPe.2:3 também apresenta um caso
semelhante com as variantes cristos
(Cristo) e crestos
(gentil), esta última encontrada nos manuscritos K
e
L.
No
grego coinê as vogais e ditongos pronunciavam-se de modo igual dentro das
respectivas classes. É o caso de ICo.15:54 onde o termo nikos (vitória), foi confundido por neikos (conflito), sendo que aparece em P46 e B como
"tragada foi a morte no conflito".
Em
Ap.15:6 onde se lê "vestidos de linho
puro" a palavra grega linon
é substituída por lithon
nos manuscritos A
e C "vestidos de pedra pura". Desse modo uma só letra que o
ouvido menos apurado não entendeu direito e que produziu completa
mudança de sentido, torna-se erro grosseiro e hilariante.
3) Falhas
da Mente:
Quando
a mente do escriba o traía, chegava a cometer erros que variavam
desde a substituição de sinônimos, como o caso da preposição ek
por apo, até a
transposição de letras dentro de uma palavra, como o caso de Jo.5:39,
onde Jesus disse "porque elas dão testemunho de mim" (ai
marturousai) e o escriba do manuscrito D
escreveu "porque elas pecam a respeito de mim" (hamartanousai).
B) Erros
Intencionais:
Erros
que não se originaram de negligência ou distração dos escribas,
mas antes de suspeita de alteração, principalmente doutrinária.
1)
Harmonização:
Ao
copiar os sinópticos, o escriba era levado a harmonizar passagens
paralelas. E’ o caso de Mt.12:13 onde se lê "...estende a
tua mão. E ele estendeu; e ela foi restaurada como a outra".
Em alguns manuscritos de Marcos o texto pára em
"restaurada", sendo que em outros o escriba acrescentou as
palavras "como a outra" para harmonizá-lo com Mateus.
Outro
tipo de harmonização ocorre quando os escribas faziam o texto do
N.T. conformar-se com o A.T. Por exemplo, em Mc.1:1 os escribas do
W
e Bizantinos mudaram
"no profeta Isaias" para "nos profetas" porque
verificaram que a citação não é só de Isaias.
2) Correções
Doutrinárias:
Certo
escriba, copiando Mt.24:36 omitiu as palavras "nem o
Filho", pois o escriba sabia que Jesus era onisciente, e
deduziu que alguém havia cometido erro (Alefe, W, Bizantino).
Os
manuscritos da Velha Latina e da Versão Gótica apresentam como acréscimo,
em Lc.1:3, a frase "e ao Espírito Santo" como "empréstimo"
de At.15:28.
3) Correções
Exegéticas:
Passagens
de difícil interpretação eram alvo dos escribas que tentavam
completar o seu sentido através de interpolação e supressões.
Um
caso de interpolação encontra-se em Mt.26:15 onde as palavras
"trinta moedas de prata" foram alteradas para "trinta
estateres" nos MSS D, a e b, afim de definir
o tipo de moeda mencionada. Mais tarde outros escribas (dos
manuscritos 1, 209
e h) que conheciam os dois textos, juntaram-no produzindo a frase
"trinta estateres de prata".
4) Acréscimos
Naturais ou de Notas Marginais:
Determinado
leitor do Códice 1518
anotou
nas margens de Tg.1:5 a expressão êgeumatikês
kai ouk anthrôpines (espiritual e não humana). Quando este Códice
foi copiado, o escriba do manuscritos 603
incluiu esta expressão no texto: "Se alguém de vós tem falta
de sabedoria espiritual e não humana, peça-a a Deus...".
VII.
AUTENTICIDADE OU GENUINIDADE: Dizemos que um livro é genuíno ou
autêntico quando ele é escrito pela pessoa ou pessoas cujo nome
ele leva, ou, se anônimo, pela pessoa ou pessoas a quem a tradição
antiga o atribui, ou, se não for atribuído a algum autor ou
autores específicos, à época que a tradição lhe atribui.
O
Credo Apostólico não é genuíno porque não foi composto pelos apóstolos.
As Viagens de Gulliver
é
genuíno, tendo sido escrito por Dean Swift, embora seus relatos
sejam fictícios. Atos de
Paulo não é genuíno, pois foi escrito por um sacerdote
contemporâneo de Tertuliano. Desse modo a autenticidade
relaciona-se ao autor e
à época do livro, e
todos os livros da Bíblia possuem autenticidade comprovada pela
tradição histórica e pela arqueologia (Gl.6:11; Cl.4:18).
VIII.
CANONICIDADE: Por canonicidade das Escrituras queremos dizer que, de
acordo com "padrões" determinados e fixos, os livros
incluídos nelas são considerados partes integrantes de uma revelação
completa e divina, a qual, portanto, é autorizada e obrigatória em
relação à fé e à prática.
A
palavra grega kanon
derivou
do hebraico kaneh que
significa junco ou vara de
medir (Ap.21:15); daí tomou o sentido de norma,
padrão ou regra (Gl.6:16;
Fp.3:16).
A) A
fonte da Canonização:
A
Canonização de um livro da Bíblia não significa que a nação
judaica ou a igreja tenha dado a esse livro a sua autoridade canônica; antes significa que
sua autoridade, já tendo sido estabelecida em outras bases suficientes, foi consequentemente reconhecida como pertencente ao cânon e assim declarado pela nação judaica e pela igreja cristã.
B) O Critério
Canônico (do Novo Testamento):
Adotam-se
5 critérios canônicos.
1)
Apostolicidade:
O livro deveria ter sido escrito por um dos apóstolos ou por autor
que tivesse relacionamento com um dos apóstolos (imprimatur
apostólico).
2)
Universalidade:
Quando
era impossível demonstrar a autenticidade apostólica, o critério
de uso e circulação do livro na comunidade cristã universal era
considerado para sua aferição canônica. O livro deveria ser
aceito universalmente pela igreja para dela receber o seu
imprimatur.
3) Conteúdo
do Livro:
O
livro deveria possuir qualidades espirituais, e qualquer ficção
que nele fosse encontrada tornava o escrito inaceitável.
4)
Inspiração:
O livro deveria possuir evidências de inspiração.
5)
Leitura em Público:
Nenhum livro seria admitido para leitura pública na igreja se não
possuísse características próprias. Muitos livros eram bons e
agradáveis para leitura particular, mas não podiam ser lidos e
comentados publicamente, como se fazia com a lei e os profetas na
sinagoga. É a esta leitura que Paulo exorta Timóteo a praticar (ITm.4:13).
C)
Conclusão da Canonização (do Novo Testamento)
1) Concílio
Damasino de Roma em 382 d.C.
2) Concílio
de Cartago em 397 d.C.
IX. ANIMAÇÃO:
É o poder inerente à Palavra de Deus para transmitir vitalidade ou
vida ao ser humano.
O
Sl.19:7 diz que "a lei do Senhor é perfeita, e restaura
a alma..." e no versículo 8 diz que "os preceitos do
Senhor são retos, e alegram
o coração..."
Somente
algo que tem vida pode transmitir vida, e por isso mesmo somente a Bíblia,
e nenhum outro livro pode fazê-lo, pois a Bíblia sendo a Palavra
de Deus é viva: "A Palavra de Deus é viva
e eficaz, e mais cortante
do
que espada alguma de dois gumes, e penetra
até a divisão da alma e do espírito e das juntas e medulas, e é
apta para discernir os
pensamentos e intenções do coração"(Hb.4:12).
A) A
Palavra de Deus é Viva:
O elemento da vida que aqui se declara é mais do que aquilo que
agora tem autoridade em contraste com o que já se tornou letra
morta; é mais do que alguma coisa que fornece nutrição. Mas as
Escrituras são vivas porque é o hálito
(espírito) do Deus Vivo (Jo.6:63; Jó 33:4). Assim tanto a
Palavra Escrita (Logos)
como
a Palavra Falada (rêma)
são
possuidoras de vida. Não há diferença essencial entre elas, pois
são apenas duas formas diferentes dela existir.
O
trecho de Hb.4:12 diz que a Palavra de Deus é viva,
e eficaz, é cortante, penetra
e
discerne.
Em
IPe.1:23 lemos que a Palavra de Deus vive
e permanece para sempre. Assim a Palavra de Deus possui vida
eternamente (Sl.19:9;119:160).
B) A
Palavra de Deus é Eficaz:
A palavra grega usada neste trecho é energês
de onde temos a palavra energia.
Trata-se da energia que a vida vital fornece. Por isso a Palavra de
Deus é comparada a uma poderosa espada de dois gumes com poder para
cortar, penetrar e discernir. Quando o Espirito Santo empunha a Sua
espada(Ef.6:17) uma energia é liberada dela para animar e realizar
o seu propósito (Is.55:10,11). E’ com este poder inerente à
Palavra de Deus que o Espirito Santo convence os contradizentes (Jo.16:8;
ICo.2:4) porque a Palavra de Deus é como uma dinamite com poder (dinamos, Rm.1:16) para salvar e destruir (IICo.10:4,5;IICo.2:14,17;
IJo.2:14; Jr.23:24).
A
Palavra de Deus é como um nutriente alimento que fornece forças (IPe.2:2;
Mt.4:4). Paulo escrevendo aos tessalonicenses, revela sua gratidão
a Deus por haverem eles recebido a Palavra de Deus a qual estava operando
(energizando) eficazmente neles (ITs.2:13). Paulo conhecia o
poder da Palavra de Deus, por isso recomendou aos anciãos da igreja
que a observassem porque ela "tem poder para edificar e dar
herança entre todos os que são santificados" (At.20:32; Jo.5:39).
1) É
eficaz na regeneração:
Comparada
com a "água" (Jo.3:5; Ef.5:26), a Palavra de Deus tem
poder para regenerar, pois ela coopera com o E.S. na realização do
novo nascimento (IPe.1:23; Tt.3:5; Jo.15:3; Ez.36:25-27; Jo.6:63; Tg.1:18,21;
ICo.4:15; Rm.1:16).
2) É
eficaz na santificação:
A Palavra de Deus tem poder para santificar (Jo.17:17; Ef.5:26; Ez.36:25,27;
IIPe.1:4; Sl.37:31;119:11). Com efeito, a santificação é pela fé
(At.15:9 e 26:18) e a fé vem pelo ouvir a Palavra de Deus (Rm.10:17).
3) É
eficaz na edificação:
A
Palavra de Deus tem poder para edificar (IPe.2:2; At.20:32; IIPe.3:18).
X.
PRESERVAÇÃO: É a operação divina que garante a permanência da
Palavra Escrita, com base na aliança que Deus fez acerca de Sua
Palavra Eterna (Sl.119:89,152; Mt.24:35; IPe.1:23; Jo.10:35).
Os
céus e a terra passarão (Hb.12:26,27; IIPe.3:10) mas a Palavra de
Deus permanecerá (Mt.24:35; Hb.12:28; Is.40:8; IIPe.1:19).
A
preservação das Escrituras, como o cuidado divino para a sua criação
e formação do cânon, não foi acidental, nem incidental, mas sim
o cumprimento de uma promessa divina. A Bíblia é eterna, ela
permanece porque nenhuma Palavra que Jeová tenha dito pode ser
removida ou abalada; nem uma vírgula ou um ponto do testemunho
divino pode passar até que seja cumprido.
"Quando
pensamos no fato da Bíblia ter sido objeto especial de infindável
perseguição, a maravilha da sua sobrevivência se transforma em
milagre... Por dois mil anos, o ódio do homem pela Bíblia tem sido
persistente, determinado, incansável e assassino. Todo esforço
possível tem sido feito para corroer a fé na inspiração e
autoridade da Bíblia, e inúmeras operações têm sido levadas a
efeito para fazê-la desaparecer. Decretos imperiais têm sido
passados ordenando que todas as cópias existentes da Bíblia fossem
destruídas, e quando essa medida não conseguiu exterminar e
aniquilar a Palavra de Deus, ordens foram dadas para que qualquer
pessoa que fosse encontrada com uma cópia das Escrituras fosse
morta."
(Arthur
W. Pink. The Divine Inspiration of the Bible = A Inspiração Divina
da Bíblia).
A
Bíblia permanece até hoje porque o próprio Deus tem se empenhado
em preservá-la. Quando o rei Jeoiaquim queimou um rolo das
Escrituras, Deus mesmo determinou a Jeremias que rescrevesse as
palavras que haviam sido queimadas (Jr.36:27,28), e ainda determinou
maldições sobre o rei, por haver tentado destruir a Palavra de
Deus (Jr.36:29,31). Ademais Deus acrescentou ao segundo rolo outras
palavras que não se encontravam no primeiro (Jr.36:32), pois a
Palavra de Deus sempre há de prevalecer sobre a palavra do homem
(Jr.44:17,28; At.19:19,20).
Deve
ficar esclarecido que Deus tem preservado apenas a Sua Palavra
inspirada, aquilo que deve ser considerado como revelação de Deus,
e por isso mesmo não foi preservado e não faz parte do Cânon
Sagrado (ICr.29:29; IICr.9:29;12:15;13:22;20:34; IICr.24:27;26:22;33:19).
Em IICo.7:8 Paulo faz menção a uma segunda carta que não consta
do Novo Testamento, sendo que a segunda carta de Coríntios que
temos na nossa Bíblia, provavelmente deveria ser a terceira.
Hoje
a estratégia de Satanás sobre a Palavra de Deus é diferente, pois
já que ele não consegue destruí-la, procura desacreditá-la
(negando sua inspiração) e corrompê-la com interpretações
pervertidas da verdade (ITm.4:1,2; IITs.2:9-12). A nós pois, como
igreja, cabe a responsabilidade de defender e preservar a verdade (ITm.3:15)
com o mesmo anseio que caracterizava a vida de Paulo (Fp.1:7,16).
XI.
INTERPRETAÇÃO: É a elucidação ou explicação do sentido das
palavras ou frases de um texto, para torná-los compreensivos.
A
ciência da interpretação é designada hermenêutica, e, em razão
de sua abrangência, requer um estudo especial separado da
Bibliologia.
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