OS
APÓSTOLOS
Simão Pedro e André (irmãos), Tiago e João (irmãos), Filipe,
Natanael, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelador,
Judas, filho de Tiago e Judas Iscariotes. (Matias, que substituiu
Judas Iscariotes e Paulo de Tarso o apóstolo dos Gentios).
COMO MORRERAM OS
APÓSTOLOS DE JESUS?
Todos os apóstolos que andavam com Jesus morreram como
mártires, com exceção de dois: Judas Iscariotes, que traiu
Jesus e acabou se enforcando, e João, que após ser exilado
na ilha de Patmos, obteve a liberdade e morreu de morte
natural. Com os demais apóstolos ocorreu o seguinte:
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Apóstolo
|
Destino
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Paulo
|
Não era apóstolo oficialmente, foi considerado apóstolo do
gentios por causa da sua grande obra missionária nos países
gentílicos. Foi decapitado em Roma por ordem de Nero.
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Matias
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Ficou no lugar de Judas Iscariotes, foi martirizado na
Etiópia.
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Simão
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O zelote, foi crucificado.
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Judas Tadeu
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Morreu como mártir pregando o evangelho na Síria e na
Pérsia.
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Tiago (O mais Jovem)
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Pregou na Palestina e no Egito, sendo ali crucificado.
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Tiago (O mais Velho)
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Pregou em Jerusalém e na Judéia. Foi decapitado por Herodes.
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Mateus
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Morreu como mártir na Etiópia.
|
Tomé
|
Pregou na Pérsia e na Índia, sendo martirizado perto de
Madras no monte de São Tomé.
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Bartolomeu
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Serviu como missionário na Armênia, sendo golpeado até a
morte.
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Filipe
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Pregou na Frígia e morreu como mártir em Hierápolis.
|
André
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Pregou na Grécia e Ásia Menor. Foi crucificado.
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Simão Pedro
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Pregou entre os judeus chegando até a Babilônia, esteve em
Roma, onde foi crucificado com a cabeça para baixo.
|
OS APÓSTOLOS E A IGREJA
i. a igreja em jerusalém
1.
A comissão dos Apóstolos
2.
A Fundação da Igreja de
Jerusalém
3.
A Descida do Espírito Santo (1:12-2.13)
4.
A conversão de Saulo de Tarso.
5.
A Chamada de Paulo
ii – as missões do apóstolo
paulo
1.
A Primeira Viagem Missionária
2.
A segunda viagem missionária
3. A terceira viagem missionária
iii – as prisões do apóstolo
paulo
1.
O Resumo dos últimos capítulos de “Atos dos Apóstolos”
2.
A Prisão de Paulo em Jerusalém (Atos 21, 22 e 23)
3.
A Prisão de Paulo em Cesaréia (Atos 24, 25 e 26)
4.
A prisão de Paulo em Roma
1.
Título do livro:
O título do livro de “Atos dos
Apóstolos” tal como o conhecemos não fazia parte do livro
original mas sim foi lhe dado depois do ano 200 da era cristã.
O Evangelho de Lucas e
Os Atos são dois volumes de uma só obra. Isso fica claro
comparando Lc 1.1-4 com At 1.1-4.
2.
Tema do livro:
O livro dos Atos contém a história do estabelecimento e
desenvolvimento da igreja cristã, e da proclamação do evangelho ao
mundo então conhecido na época (At 1.8).
3.
Palavras chaves de Atos:
“Ascensão”, “descida” e
“expansão”.
4.
Escritor do livro:
a)
Pistas para descobrir o escritor:
Considerando a dedicatória do livro a Teófilo (At 1:1; comparemos
com Lc 1:3), a referência a um tratado anterior (1:1), o seu estilo,
o fato de o autor ter sido companheiro de Paulo, o que fica muito
claro por estarem certas partes do livro escritas na primeira pessoa
do plural (“nós”), e ter acompanhado Paulo à Roma (At 27:1;
comparemos com Cl 4:14; Fm 24; 2 Tm 4:11), chegamos a conclusão que
o livro de
Atos foi escrito por
Lucas. A impressão que se dá é que ele teria usado o diário de
viagem como fonte de material.
b)
Quem foi Lucas?
Pouco se sabe dele. Seu nome é mencionado só três vezes no NT .
Paulo chama-o de “médico amado”. O único escritor da Bíblia que não
era judeu. A tradição e os estudiosos dizem que Lucas era homem de
cultura e erudição científica, versado nos clássicos hebraicos e
gregos. É possível que tivesse estudado medicina na Universidade de
Atenas.
c)
Relação de Lucas com Paulo:
Ficou em Filipos até à volta de Paulo, seis ou sete anos depois, At
16:40 (“dirigiram-se”), quando tornou a se juntar a ele, 20:6
(“navegamos”) e com ele ficou até o fim, possivelmente até a morte
de Paulo em Roma.
5. Para quem Atos foi escrito:
Foi escrito particularmente a Teófilo, um nobre cristão, mas de um
modo geral a toda a igreja.
6. Propósitos do livro de Atos:
a)
Propósito Informativo/ Evangelístico:
Lucas queria informar ao excelentíssimo Teófilo sobre como o
evangelho se propagou desde de Jerusalém a Roma. Teófilo já havia
recebido alguma informação a respeito da fé cristã, e foi para lhe
fornecer uma explicação mais precisa de sua fidedignidade que Lucas,
em primeiro lugar, escreveu a história inicial do Cristianismo,
começando do nascimento de João Batista e de Jesus até o fim dos
dois anos de prisão de prisão de Paulo em Roma (cerca de 61 a. D.).
Atos trata principalmente dos atos de Pedro e de Paulo, mais
deste último.
b)
Propósito Apologético:
O livro mostra principalmente como o evangelho se estendeu aos não
judeus (os gentios). O A. T. é a história das relações de Deus,
desde os tempos antigos, com a nação judaica, que tinha a função de
abençoar as outras nações. É no livro de
Atos
que a família de Deus deixa de ser uma questão nacional e passa
a ter um sentido universal (intenção divina em At 2:7-11). Assim, o
escritor defende veementemente que o Cristianismo não é um
ramo herético do judaísmo, mas antes, uma elevação e melhoria do
judaísmo, com raízes profundas no mesmo, mas retendo apenas os
elementos nobres e úteis, ficando rejeitados todos os seus males,
especialmente a apostasia para a qual havia decaído, como também o
seu escopo provincial.
c)
Propósito Político:
Mostrar aos líderes romanos que o cristianismo não deveria ser
temido e perseguido, como ameaça ou movimento traiçoeiro ao estado
romano; pelo contrário, que era digno da proteção romana, com
permissão de funcionar livremente, tal como o judaísmo havia obtido
de seus conquistadores militares. Por este motivo é que o livro de
Atos apresenta os oficiais romanos como ordinariamente favoráveis
aos movimentos dos missionários cristãos. Embora Lucas houvesse
escrito após Paulo haver sido martirizado, e a perseguição de Roma
contra os cristãos já houvesse começado, ele não ignora e nem põe em
perigo o seu propósito apologético encerrando o seu livro numa
atitude negativa, a saber, narrando a execução do maior advogado do
cristianismo às mãos das autoridades romanas. (Ver Atos 18:12-17,
onde se expõe a idéia da proteção do cristianismo, pelas autoridades
romanas, tal como o judaísmo já vinha sendo protegido pelas leis do
império). Lucas, portanto, quis mostrar que os levantes e as
perturbações de ordem pública que seguiam na cauda do movimento dos
missionários cristãos resultavam das perseguições efetuadas pelos
judeus, e não de qualquer espírito malicioso dos próprios cristãos.
Lucas endereçou a sua dupla obra (Lucas-Atos) a um oficial romano,
de nome Teófilo. Por
conseguinte, dirigiu seu trabalho à aristocracia romana, esperando
que se os argumentos ali contidos fossem recebidos e digeridos, o
novel movimento cristão viesse a ser protegido, e não perseguido.
Todavia, o seu grande alvo, do ponto de vista humano, fracassou,
porque sobrevieram severas e prolongadas perseguições, desde muito
tempo antes o evangelho de Lucas e do livro de Atos terem sido
escritos e postos em circulação.
d)
Propósito Jurídico:
Alguns estudiosos supõem que um objetivo do Médico amado seria o de
usar o relato de Atos dos Apóstolos para ser lido como sumário de argumento para a
defesa, no julgamento de seu amigo, o Apóstolo Paulo.
i. A igreja em Jerusalém
1.
A comissão dos Apóstolos
Entende-se por comissão o ato de cometer; encarregar; também
significa encargo, incumbência. Os
missiólogos chamam a missão dada por Jesus aos seus primeiros
discípulos de “Grande Comissão”. Ele ordenou aos onze homens, com os
quais mais dividira seu ministério terreno, que fossem ao mundo
inteiro e fizessem discípulos em todas as nações, Ele lhes disse que
ensinassem a esses novos discípulos tudo que haviam aprendido d’Ele
(Mateus 28:18-20). Mais tarde, o apóstolo Paulo deu as mesmas
instruções a Timóteo: "E o que de minha parte ouviste, através de
muitas testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e também
idôneos para instruir a outros" (2 Timóteo 2:2). Mas, somente em
nossas próprias forças não poderemos cumprir nossa comissão. Por
isso, o Senhor nos deus uma capacitação além da natural: “Mas
recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e ser-me-eis
testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e
até os confins da terra”.
Ma podemos questionar: Qual o coração da
Grande Comissão? Infelizmente, não aparece na Versão Corrigida, que
traduz assim o começo do versículo 19: “Portanto, ide e ensinai”. Na
Atualizada, podemos descobrir o coração da Grande Comissão,
identificando os imperativos (tempos verbais que expressam ordem,
determinação) nela: “Ide” e “fazei discípulos”. Assim como nas
traduções inglesas e espanholas, a Versão Atualizada em português
traz dois imperativos. Mas não é assim na linguagem original. No
grego, matheteusate ou “fazei discípulos” é o único imperativo nesse texto.
Os outros três verbos nos versículos 19 e 20 são gerúndios, ou seja,
traduzindo literalmente, teríamos, por exemplo, indo, em lugar de ide. Os
três gerúndios - “indo”, “batizando” e “ensinando” - são as três
funções indispensáveis de como fazer discípulos.
Assim, uma vez que esses versículos não são a Grande
Sugestão, mas, sim, a Grande
Comissão, o discipulado é imprescindível na vida da igreja e na
vida de cada cristão. Para David Kornfield, hoje, infelizmente, a
Grande Comissão muitas vezes passa a ser a Grande
Omissão. E teremos de prestar contas a Jesus a esse respeito.
Essa Comissão de Mateus 28.18-20
e paralelamente em Atos 1:8 é grande por, pelo menos, por
cinco razões:
a)
É Grande em sua Autoridade.
Das dezenas ou centenas de mandamentos de Jesus, este é o único em
que Jesus se veste de toda a autoridade do Universo. Ele se coloca
como Rei dos reis e Senhor dos senhores. Na época bíblica, um súdito
que ignorasse ou negligenciasse um mandato declarado com toda a
autoridade real arriscava a própria vida. É com essa autoridade que
fazemos a obra do Senhor (At 1:8).
b)
É Grande em seu Efeito Multiplicador.
É assim que o reino de Deus pode explodir! Até então, havia só um
discipulador multiplicando-se em outros - Jesus Cristo. Agora vem a
Comissão para começar um movimento multiplicador, contra o qual nem
as portas do inferno prevalecerão. Pouco depois, os discipuladores
não eram só 11, mas 120. Um pouco mais depois não eram só 120, mas
milhares. De pouco em pouco!
c) É Grande por sua Extensão Geográfica.
Estende-se a todas as nações. Várias vezes o próprio Jesus limitou
seu ministério e ordenou que os apóstolos também limitassem seus
ministérios aos judeus. Aqui, ele abre o leque e abraça todo o
mundo. na Comissão de fazer discípulos em todas as nações,
encontramos o coração de missões mundiais.
Deus não admitiu que Sua igreja entrasse em um ostracismo, vivendo
só para si, e encapsulada em um único ponto geográfico. Ele quer, na
verdade, que Seu povo se expanda territorialmente e anuncie o
evangelho a toda criatura,
tanto é que esse foi o objetivo
da
perseguição de
Atos 8: 1-4. A ordem que aparece em Atos 1:8 não é
cronológica, ou seja, Cristo não falou para evangelizar primeiro
Jerusalém,
segundo Judéia, terceiro Samaria e por último os confins da
Terra. Essa interpretação é errada, perigosa, e fora da vontade do
Senhor. O próprio texto de Atos 1:8 deixa claro que Jesus determinou
que a obra da Sua igreja na Terra deveria ser desenvolvida
simultaneamente nas três dimensões que Ele deseja que o Evangelho
seja pregado. Isso fica claro nas expressões: “tanto em”; “como em”;
e “até os”.
d) É Grande por sua Extensão a todos os aspectos da vida.
Jesus nos chama a ensinar outros a guardarem tudo o que Ele ensinou.
Esse mandato inclui toda a humanidade e, mais do que isso, implica
não apenas o ensino, mas a prática desses mandamentos. No
discipulado, o ensino sempre tem por fim a prática. Ou seja, o
ensino que não leva à pratica não é discipulado.
e) É Grande por sua Extensão no Tempo.
Estende-se até a consumação do século, até a volta de Cristo. Cada
pastor e igreja que se envolve no discipulado conforme o exemplo de
Jesus constrói os alicerces para um movimento que fluirá de sua
igreja a todas as nações, até a consumação dos séculos.
2.
A Fundação da Igreja de Jerusalém:
a) Na festa de Pentecostes, em 30 ou 33 d.C, deu-se o aniversário da
Igreja. 50 dias depois da crucifixão de Jesus.
10 dias após sua Ascensão. Pensa-se que esse Pentecostes caiu no
primeiro dia da semana. A festa de Pentecostes era também chamada
festa das Primícias da colheita eram por essa ocasião apresentadas a
Deus. Outrossim, comemorava a promulgação da Lei no Sinai.
Apropriava-se, pois, para ser o dia da promulgação do Evangelho e da
recepção das primícias da colheita mundial do mesmo Evangelho.
Jesus, em Jo 16:17-24, tinha falado da inauguração da época do
Espírito Santo. E agora, está sendo de fato inaugurada, numa
poderosa manifestação milagrosa do Espírito Santo, com o som como de
um vento impetuoso, e com línguas como de fogo pousando sobre cada
um dos Apóstolos, esta feita para representantes do mundo inteiro, a
judeus e a prosélitos ao judaísmo reunidos em Jerusalém para
celebrar o Pentecostes, vindo de todas as terras do mundo que então
se conheciam (mencionando-se 15 nações, 2:9-11) – e os Apóstolos da
Galiléia falavam para eles nas suas próprias línguas.
b) O Sermão de Pedro (2:14-16).
O espetáculo espantoso de Apóstolos falando, sob a influência das
línguas de fogo, nas línguas de todas as nações ali representadas.
Isto, segundo a explicação de Pedro, vv. 15-21, era o cumprimento da
Profecia registrada em Jl 2:28-32. Pode ser o que aconteceu naquele
dia não foi o cumprimento total e final daquela profecia, e que
aquilo seria o começo apenas, de uma era grandiosa e notável que foi
iniciada; a profecia pode se aplicada também, ao fim desta era.
c) O Cumprimento das Profecias.
Nota-se as declarações repetidas que o que acontecia
já tinha sido predito: A traição de Judas, 1:16-20; a Crucifixão,
3:18; a Ressurreição, 2:25-28; a Ascensão de Jesus, 2:33-35; a vinda
do Espírito Santo, 2:17. "Todos os profetas", 3:18-24.
3. A
Descida do Espírito Santo (1:12-2.13)
O rei Davi planejou a edificação do templo e reuniu os materiais
necessários. Mas foi Salomão, seu sucessor, quem o erigiu (1 Cr 29:
1,2). Jesus igualmente planejou a Igreja durante seu ministério
terreno (Mt 16:18; 18:17). Preparou os materiais humanos, porém
deixou ao seu sucessor e representante, o Espírito Santo, o trabalho
de erigi-la. Foi no dia de Pentecoste que esse templo espiritual foi
construído e cheio da glória do Senhor (cf. Êx 40:34,35; 1 Rs
8:10,11; Ef 2:20). O dia de Pentecoste era a inauguração da Igreja,
e o cenáculo, o local dessa comemoração.
a) O Dia de Pentecostes
"E, cumprindo-se o dia de Pentecostes…" O nome "Pentecoste"
(derivado da palavra grega "cinqüenta") era dado a uma festa
religiosa do Antigo Testamento. A festa era assim denominada por ser
realizada 50 dias após a Páscoa (ver Lv 23:15-21). Observe sua
posição no calendário das festas. Em primeiro lugar festejava-se a
Páscoa. Nela se comemorava a libertação de Israel no Egito.
Celebravam a noite em que o anjo da morte alcançou os primogênitos
egípcios, enquanto o povo de Deus comia o cordeiro em casas marcadas
com sangue. Esta festa tipifica a morte de Cristo, o Cordeiro de
Deus, cujo sangue nos protege do juízo divino. No sábado, após a
noite de Páscoa, os sacerdotes colhiam o molho da cevada,
previamente selecionado. Eram as primícias da colheita, que deviam
ser oferecidas ao Senhor. Cumprido isto, o restante da colheita
podia ser ceifado. A festa tipifica Cristo, "as primícias dos que
dormem" (1 Co 15:20). O Senhor foi o primeiro ceifado dos campos da
morte para subir ao Pai e nunca mais morrer. Sendo as primícias, é a
garantia de que todos quantos nele crêem seguí-lo-ão pela
ressurreição, entrando na vida eterna.
Quarenta e nove dias eram contados após o oferecimento do molho
movido diante do Senhor. E no qüinquagésimo dia – o Pentecoste –
eram movidos diante de Deus dos pães. Os primeiros feitos da ceifa
de trigo. Não se podia preparar e comer nenhum pão antes de oferecer
os dois primeiros a Deus. Isto mostrava que se aceitava sua
soberania sobre O mundo. Depois, outros pães podiam ser assados e
comidos. O significado típico é que os 120 discípulos no cenáculo
eram as primícias da igreja cristã, oferecidas diante do Senhor por
meio do Espírito santo, 50 dias após a ressurreição de Cristo. Era a
primeira das inúmeras igrejas estabelecidas durante os últimos 19
séculos.
O Pentecoste foi a evidência da glorificação de Cristo. Para Myer
Pearlman, a descida do Espírito era como um "telegrama"
sobrenatural, informando a chegada de Cristo à mão direita de Deus.
Também testemunhava que o sacrifício de Cristo fora aceito no Céu.
Havia chegado a hora de proclamar sua obra consumada. O Pentecoste
era a habilitação do Espírito no meio da Igreja. Após a organização
de Israel, no Sinai, o Senhor veio morar no seu meio, sendo sua
presença localizada no Tabernáculo. No dia de Pentecoste, o Espírito
Santo veio habitar na Igreja, a fim de administrar, dali, os
assuntos de Cristo.
b) O Falar em Línguas
Apareceu em seguida a realidade da qual o vento é símbolo: "E todos
foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas,
conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem". O que produz
esta manifestação? O impacto do Espírito de Deus sobre a alma
humana. É tão direto e com tanto poder, que a pessoa fica extasiada,
falando de modo sobrenatural. Isto pelo fato de a mente ficar
totalmente controlada pelo Espírito. Para os discípulos, era
evidência de estarem completamente controlados pelo poder do
Espírito prometido por Cristo. Quando a pessoa fala uma língua que
nunca aprendeu, pode ter a certeza de que algum poder sobrenatural
assumiu o controle sobre ela. Alguns argumentaram que a manifestação
do falar em línguas limitou-se à época dos apóstolos. Aconteceu para
ajudá-los a estabelecer o Cristianismo, uma novidade naquela época.
Não existe, no entanto, limites à continuidade dessa manifestação no
Novo Testamento.
Mesmo no quarto século depois de Cristo, Agostinho, o notável
teólogo do Cristianismo, escreveu: "Ainda fazemos como fizeram os
apóstolos, quando impuseram as mãos sobre os samaritanos, invocando
sobre eles o Espírito mediante a imposição das mãos. Espera-se por
parte dos convertidos que falem em novas línguas". Ireneu (115-202
d.C.), notável líder da Igreja, era discípulo de Policarpo, que por
sua vez foi discípulo do apóstolo João. Ireneu escreveu: "Temos em
nossas igrejas muitos irmãos que possuem dons espirituais e que, por
meio do Espírito, falam toda sorte de línguas".
A
Enciclopédia Britânica declara que a glossalália (o falar em
línguas) "ocorreu em reavivamentos cristãos durante todas as eras:
por exemplo, entre os frades mendicantes do século XIII, entre os
jansenistas e os primeiros
quaquers, entre os convertidos de Wesley e Whitefield, entre os
protestantes perseguidos de Cevennes, e entre os irvingistas".
Podemos multiplicar as referências, demonstrando que o falar em
línguas, por meios sobrenaturais, tem ocorrido em toda a história da
Igreja. (Nota: O falar em línguas nem sempre é em língua
conhecida. Ver 1 Co 14.2).
4. A conversão de Saulo de Tarso
Conquanto a tivesse precedido um longo período de "incubação"
inconsciente, sem dúvida alguma a conversão de Paulo foi repentina.
Ele não conseguira banir da mente o rosto do mártir moribundo –
"como se fosse rosto de anjo". Nem podia ele esquecer-se da última
oração pungente de Estevão: "Senhor, não lhes imputes este pecado"
(Atos 7:6).
O Espírito Santo, sempre ativo, havia preparado o palco, no decorrer
dos anos, para este grandioso confronto e capitulação. O raio
luminoso cegante encontrou uma vasta quantidade de material
inflamável no coração do jovem perseguidor. O milagre aconteceu em
pleno meio-dia. Paulo viu a Jesus em toda a sua glória e majestade
messiânicas. Não se tratava de mera visão, pois ele classifica o
fato como a última aparição do Salvador a seus discípulos, e o
coloca no mesmo nível de suas aparições aos outros apóstolos. Sua
declaração é clara e inequívoca.
E apareceu a Cefas, e, depois, aos doze. Depois foi visto por mais
de quinhentos irmãos de uma só vez, dos quais a maioria sobrevive
até agora, porém alguns já dormem. Depois foi visto por Tiago, mais
tarde por todos os apóstolos, e, afinal, depois de todos, foi visto
também por mim, como por um nascido fora de tempo (I Coríntios
15:5-8).
Não foi um êxtase, mas uma aparição real e objetiva do Cristo
ressurreto e exaltado, vestido de sua humanidade glorificada. Paulo
convenceu-se de imediato de que Cristo não era um impostor. Quão
diferente foi a entrada em Damasco daquela que o inquisidor havia
imaginado! "E, caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia… mas,
levanta-te, e entra na cidade, onde te dirão o que te convém fazer…
Então se levantou Saulo da terra e, abrindo os olhos, nada podia
ver. E, guiando-o pela mão, levaram-no para Damasco" (Atos 9:4-8).
Paulo entrou cativo em Damasco, acorrentado à roda da carruagem de
seu Senhor vencedor. Fora tudo estava escuro, mas dentro tudo era
luz.
A rendição de Paulo ao Senhorio de Cristo foi imediata e absoluta.
Desde o momento em que ele reconheceu que Jesus não era um impostor,
mas o Messias dos judeus, ele ficou sabendo que só poderia haver uma
resposta. Toda a história se resume nas suas duas primeiras
perguntas: "Quem és tu, Senhor?" "Que farei, Senhor?" (Atos
22:8,10). A verdadeira conversão sempre resulta em rendição à
vontade de Deus, pois a fé salvadora implica obediência (Romanos
1:5).
Quão surpreendente foi a estratégia vitoriosa de Deus! C.E.
Macartney escreve: "O mais amargo inimigo tornou-se o maior amigo. A
mão que escrevia a acusação dos discípulos de Cristo, levando-os à
presença dos magistrados e para a prisão, agora escrevia epístolas
do amor redentor de Deus. O coração que bateu de júbilo quando
Estêvão caiu sobre as pedras sangrentas, agora se regozijava em
açoites e apedrejamentos por amor de Cristo. Do outrora inimigo,
perseguidor, blasfemador proveio a maior parte do Novo Testamento,
as mais nobres declarações de teologia, os mais doces poemas de amor
cristão" (J.O. Sanders, p.28).
5.
A Chamada de Paulo
O chamado de Deus veio a Paulo de forma tão clara e específica que
não lhe foi possível confundi-lo, enquanto jazia deitado no chão
cego pela luz celestial. Ananias também comunicou-lhe a mensagem que
havia recebido de Deus: "O Deus de nossos pais de antemão te
escolheu para conheceres a sua vontade, ver o Justo e ouvir uma voz
da sua própria boca, porque terás de ser sua testemunha diante de
todos os homens, das coisas que tens visto e ouvido" (Atos
22:14-15).
Mais tarde, quando Paulo voltava para Jerusalém, sobreveio-lhe um
êxtase, e viu aquele que lhe falava e que lhe disse: "vai, porque eu
te enviarei para longe aos gentios" (Atos 22:17,18,21). A Ananias,
cujo temor bem podemos compreender, comissionado por
Deus
para dar as boas-vindas ao notório perseguidor da Igreja
cristã, Deus também indicou a esfera de testemunho para a qual ele
havia chamado Paulo: "Mas o Senhor lhe disse [a Ananias]: Vai,
porque este é para mim um instrumento escolhido para levar o meu
nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de
Israel; pois eu lhe mostrarei quanto importa sofrer pelo meu nome"
(Atos 9:15-16).
Paulo revelou outra faceta de seu chamado ao se defender perante
Agripa: "Ouvi uma voz que me falava… Levanta-te e firma-te sobre
teus pés, porque por isto te apareci para te constituir ministro e
testemunha, tanto das coisas em que me viste como daquelas pelas
quais te aparecerei ainda; livrando-te do povo e dos gentios, para
os quais eu te envio, para lhes abrir os olhos e convertê-los das
trevas para a luz e da potestade de Satanás para Deus" (Atos
26:14-18).
Assim, desde os primeiros dias de sua vida cristã, Paulo não somente
sabia que era um veículo escolhido por meio de quem Deus comunicaria
sua revelação, mas tinha uma idéia geral do que Deus havia planejado
para seu futuro: (a) Seu ministério o levaria para longe do lar; (b)
Ele teria um ministério especial entre os gentios; (c) Esse
ministério lhe traria grande sofrimento. Só aos poucos ele chegou a
compreender que este chamado não era tanto um novo propósito de deus
para sua vida, quanto a culminação do processo preparatório iniciado
antes de seu nascimento.
Assim é hoje. O chamado do dirigente cristão não é tanto um novo
propósito para sua vida quanto a descoberta do propósito para o qual
Deus o trouxe ao mundo. O Senhor havia dito aos seus discípulos que
os postos de liderança no seu Reino dependiam da soberana nomeação
de seu Pai. "Quanto, porém, ao assentar-se à minha direita ou à
minha esquerda… é para aqueles a quem está preparado" (Marcos
10:40). Paulo reconhecia esta verdade, mas só aos poucos ele chegou
a um claro entendimento do trabalho que Deus tinha para ele.
Só depois que os judeus rejeitaram de forma consistente sua mensagem
é que Paulo se devotou quase que exclusivamente aos gentios. Sua
experiência em Corinto chegou a uma fase decisiva. "Paulo se
entregou totalmente à palavra, testemunhando aos judeus que o Cristo
é Jesus. Opondo-se eles e blasfemando, sacudiu Paulo as vestes e
disse-lhes. Sobre a vossa cabeça o vosso sangue! eu dele estou
limpo, e desde agora vou para os gentios" (Atos 18:5-6).
Alguns anos após a sua conversão, este chamado inicial foi renovado
e confirmado pela igreja de Antioquia onde ele havia trabalhado por
um ano. "E, servindo ele [os dirigentes] ao Senhor, e jejuando,
disse o Espírito Santo: Separai-me agora a Barnabé e a Saulo para a
obra a que os tenho chamado" (Atos 13:2). De modo que o chamado
geral se tornou específico, e eles alegremente partiram, "enviados
pelo Espírito Santo". O primeiro passo no cumprimento da grande
comissão do Senhor e o começo do importante empreendimento
missionário de amplitude mundial havia sido realizado com segurança.
ii – As missões do apóstolo Paulo
Sabemos que o conceito teológico de Missões é tríplice: a igreja tem
uma missão de adorar a Deus em espírito em verdade; tem uma
incumbência de edificar a si própria; e tem a grande comissão de
evangelizar o mundo. Como referencial de obreiro que Paulo foi,
atuou nessas três obras. Entretanto, vamos delimitar a prática
missiológica paulina somente às suas heróicas viagens missionárias.
O ambiente de trabalho missionário do apóstolo Paulo foi o Império
Romano.
Inserir mapa do I R
Antes propriamente de entrarmos em suas viagens, é interessante ter
em mente a cronologia da vida do Apóstolo aos gentios. Vejamos:
5 d.C. Nascimento em
Tarso, da Cilícia
20-26
Estudos em Jerusalém
26-32
Estudos em Tarso
32-37
Conversão na estrada de Damasco, Atos 9
37-39
Viagem pela Arábia. Gl. 1
35-43
Prega em Tarso e noutros lugares da Cilícia, Atos 9 e Gálatas 1.
43-44
Prega com Barnabé em
Antioquia, Atos 11
44-45
Viagem a Jerusalém, durante
a fome, Atos 11
45-47
Primeira viagem missionária,
Atos 13-14
47-49
Reside em Antioquia da
Síria, Atos 11
49 Faz-se presente
ao concílio de Jerusalém. Atos 15
49-51
Segunda viagem missionária, Atos 15-18
51-56
Terceira viagem missionária, Atos 18-21
56
Aprisionamento em Jerusalém, Atos 21
56-58
Paulo na Prisão em Cesaréia, Atos 23
58-59
Viagem a Roma, Atos 27
59-61
Confinamento em Roma, Atos 26
61-64 (?) Viagens à Espanha, Creta, Macedônia, Grécia, não
mencionadas em Atos, embora indicadas em outros documentos como no
cânon muratoriano e nas epístolas de Clemente. Algumas indicações
destas viagens existem nas epístolas pastorais.
64-67
Execução em Roma, durante as perseguições movidas por Nero.
1.
A Primeira Viagem Missionária
Em geral, Os Atos relatam
três viagens missionárias de Paulo. Essa narrativa às vezes é mui
detalhada, às vezes resumida demais. O principal é o seguinte: todas
as três viagens começam e terminam na comunidade gentio-cristã de
Antioquia e não na comunidade judeu-cristã de Jerusalém (as
epístolas confirmam isso); geralmente Paulo dirigia-se primeiro a
seus patrícios mas bem depressa era obrigado a procurar os pagãos.
a)
Resumo e itinerário
Primeira viagem missionária:
Barnabé e Paulo vão aos gentios, Atos 13:1-14:29. Missão a Chipre,
13:4-12. Missão à Galácia, 13:13-14:28. Missão de Pafos a Perge,
13:13. Missão a Antioquia da Psidia, 13:14-52. Missão a Icônio e
Listra, 14:1-18. Missão a Icônio, 14:1-7, Missão a Listra, 14:8-18.
Retorno a Antioquia da Síria, 14:19-28.
b)
A Missão da Primeira Viagem
Lucas conservou-nos uma preciosa notícia sobre a organização da
comunidade de Antioquia e a liturgia (Atos 13: 1-3).
A primeira etapa da missão foi a ilha de Chipre, de onde
Barnabé era originário. O que interessa a Lucas é o primeiro contato
do apóstolo Paulo com um magistrado romano, Sérgio Paulo, senador,
antigo pretor, muito conhecido por inscrições. Sua família vinha de
Antioquia da Pisídia.
Na narração de Lucas, o nome Paulo toma dali em diante o
lugar de Saulo: não se pode deduzir daí que Saulo tenha adotado o
nome do seu ilustre convertido. Ter um duplo nome era então corrente
nos meios bilíngües, como o da família de Paulo. Junto ao
governador, Paulo teve de enfrentar um mágico de origem judaica,
Elimas (At. 13,8). O sucesso das ciências ocultas era grande na
época; o que pode surpreender é que um judeu
as pratique. Segundo os Atos, Paulo terá outras ocasiões de
se confrontar com mágicos. Na sua carta aos Gálatas, ele classifica
as práticas de feitiçaria (pharmakeia)
na categoria das obras da carne, próximas da idolatria (Gl.
5,20).
Nas suas cartas, Paulo não faz alusão à missão de Chipre,
para onde ele não terá ocasião de voltar. Por que ele abandona a
ilha sem a ter visitado toda? Paulo que toma a frente da expedição
em direção à Anatólia através dos desfiladeiros do Tauro, covil de
bandidos. Mais tarde Paulo fará alusão aos perigos corridos na
estrada (2Cor 11,26). Primo de Barnabé, o jovem João Marco teve medo
da aventura e abandonou o grupo. Paulo não o perdoou, a princípio.
a) O discurso de antioquia da pisídia
Quando Paulo chegava numa cidade qualquer, ele começava indo
à sinagoga. Lá, ele podia entrar em
contato com os judeus do lugar e os “ tementes a Deus ” , pagãos
atraídos para o judaísmo (At 13,26). Como amostra da pregação de
Paulo, Lucas nos conservou o discurso de Antioquia da Pisídia (At
13,14-41). Esta era uma colônia romana, fundada por Augusto para
instalar aí os veteranos da
legio V Gallica.
O Sérgio Paulo que se instalou aí devia ser um dos oficiais
superiores desta legião.
O discurso de Paulo não tem equivalentes nas Cartas, mas é
fácil encontrar um certo número de temas pertencendo à apologética
cristã primitiva. Ele se coloca no contexto litúrgico tradicional:
depois da leitura de uma passagem da Lei e de uma outra, tirada da
coletânea dos profetas, os chefes da sinagoga convidam os visitantes
a pronunciar algumas palavras de exortação. Paulo não se fazia de
rogado!
O texto de Lucas tem a marca da
retórica da época. Do ponto de vista das idéias, o discurso
contém uma retrospectiva da história de Israel até Davi.
Ainda que dirigido em prioridade aos judeus, o discurso
continha uma ponta universalista: a palavra da salvação vale para os
filhos de Abraão como para todos os que temem a Deus (v.26).
Sobretudo, ele esboçava uma crítica contra a Lei de Moisés, incapaz
de trazer a salvação (v.38). O sucesso junto aos não-judeus apenas
aumentou a irritação dos filhos de Abraão. Para se justificar, Paulo
declara: “ É a vós por primeiro que devia ser dirigida a palavra de Deus ”(v.46).
Paulo será fiel a este por
primeiro, como se vê pela declaração de princípio de Rm 1,16: “ O Evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo
aquele que crê, do judeu
primeiro,
e depois do grego”.
Para legitimar a sua passagem para as nações, Paulo cita
então uma passagem dos cantos do Servo, que tem uma grande
importância na apologética cristã primitiva: “Destinei-te a seres
luz das nações, a fim de que a minha salvação esteja presente até a
extremidade da terra” (Is 49.6). Este
texto vale em primeiro lugar para Cristo, mas Paulo o aplicou a si
mesmo, como mostra Gl 1.15. Assim,
portanto, Paulo, servo de Cristo, descobre a sua missão ao reler a
Escritura.
b) Pregação aos pagãos de Listra e
retorno
Nas
cidades que Paulo e Barnabé vão atravessar, o mesmo cenário se
reproduz. Como Por exemplo em Icônio (At 14,1-7),
a pátria de santa Tecla
segundo os Atos de Paulo (acima, p.16s).
Em 2Tm 3.13 também se fala dos
sofrimentos suportados por Paulo em Antioquia, Icônio e Listra.
Nesta última cidade, um incidente tragicômico manifesta bem a
credulidade do povo e a dificuldade para os Apóstolos de fazerem-se
compreender por uma população pouco helenizada. Uma cura provoca o
entusiasmo e o povo logo quer oferecer um sacrifício, como se
Barnabé e Paulo fossem Zeus e Hermes em visita.
No caminho de volta, os apóstolos confirmam os discípulos lembrando-os
do sentido cristão da provação:
“É necessário que passemos por muitas tribulações para entrar no
Reino de Deus” (At 14,22). Para dirigir as comunidades, Paulo e
Barnabé designaram-lhe anciãos (presbyteroi).
Este termo era tradicional nas comunidades judaicas para
designar os responsáveis. Não surpreende que tenha sido retomado
pelos judeu-cristãos: em Jerusalém, a primeira menção aparece já em
At 11,30. Por outro lado, não o encontramos nas cartas de Paulo,
exceto nas epístolas pastorais, redigidas provavelmente por um
discípulo: os anciãos são instituídos por imposição das mãos (1Tm
5,22). Enquanto Paulo pudesse seguir por si mesmo a vida das
congregações, a instituição dos ministérios podia permanecer na
sombra. Isto não impede que Paulo tivesse a preocupação de apoiar
aqueles que haviam aceitado tomar a direção das comunidades, como em
Tessalônica ou em Corinto.
Tendo partido de Antioquia com o apoio dos fiéis, os
missionários voltam para contar “tudo o que Deus realizara com eles, e, sobretudo como tinha aberto aos
pagãos a porta da fé” (At 14,27). Atmosfera de alegria e de ação
de graças, bem à maneira de Lucas! Mas os obstáculos foram todos
afastados?
2. A segunda viagem missionária
a)
Resumo e itinerário
Segunda viagem missionária: Paulo
vai à Europa, 16:1-18:17: Galácia e A. Menor, 16:1-10. Timóteo e
Paulo, 16:1-5 Missão a Trôade, 16:6-10. Trabalho na Macedônia,
16:11-17:15. Em Filipos, 16:11-50. Em Tessalônica, 17:1-9. Em Beréia,
17:10-15. Na Acaia, 17:16-18:17. Esta última fase inclui Atenas e
Corinto.
b)
A missão da segunda viagem
Segunda viagem (49-52; At
15,36-18,22). P. não demorou muito em
Antioquia, mas visitou com Silas as comunidades cristãs da Síria, da
Cilicia, de Derbe, Listra e Antioquia da Pisídia. Em Listra conheceu
Timóteo, que se tornou um dos colaboradores mais fiéis do apóstolo
(15,35-16,5). Daí surgiu com Silas para a Frígia, a terra dos
gálatas, onde foi detido por uma doença e recebido “como um anjo de
Deus”, como o próprio Cristo (Gl 4,13-15).
Depois de atravessar a Míssil
chegou em Tróade (16,6-8), onde se encontrou com um médico, Lucas,
que se juntou à sua companhia. No mesmo lugar teve a visão noturna
do Macedônia, clamando por socorro. Seguiu imediatamente para a
Macedônia e via Neápolis para Filipos, onde foi fundada uma
comunidade muito florescente, composta quase exclusivamente de
gentios (16,11-40;1 Ts 2,2), que mostrou grande afeição para com P.
(Flp 1,3-8.10-16). Os magistrados da cidade mandaram prender P. e
Silas; mas, durante a noite, foram soltos por serem cidadãos
romanos.
Pela Via Egnatia os missionários
continuaram sua viagem, por Anfípolis e Apolônia, até Tessalônica.
Aí P. pregou durante três semanas na sinagoga e converteu numerosos
“tementes a Deus” e alguns judeus, teve também muitas conversas nas
casas particulares (1 Ts 2,11s), sobretudo à noite, porque de dia
exercia a sua profissão (2,7-10). Apesar da oposição de alguns
(2,14), Paulo fundou uma comunidade florescente, composta sobretudo
de gentio-cristãos.
De Tessalônica P. e Silas partiram
para Beréia, onde numerosos judeus e gentios da elite foram
conquistados para o cristianismo, até que P., pelas ameaças dos
judeus, foi obrigado a abandonar a cidade. Deixou Silas e Timóteo em
Beréia e viajou sozinho a Atenas (17,1-5); aí Timóteo se ajuntou a
P., mas foi mandado de volta a Macedônia (1 Ts 3,1-6).
Em Atenas Paulo pregou na sinagoga
e no mercado. Alguns ouvintes, entre os quais havia filósofos
epicuristas e estóicos, pensaram que estivesse anunciado novos
deuses; foi convidado para apresentar a sua doutrina no Areópago; aí
Paulo pregou o Deus único. Mas, quando começou a falar sobre o juízo
e a ressurreição, interromperam-no. Alguns gentios apenas deixaram
se convencer Dâmaris e Dionísio.
O Apóstolo aos gentios
entristeceu-se profundamente por esse fracasso (1 Ts 3,3s) e
desanimou (cf. 1Cor 2,3). Nesse estado chegou a Corinto, com o firme
propósito de renunciar doravante à eloqüência e sabedoria humanas, e
de só conhecer e pregar o Cristo crucificado (1 Cor 2,2). Em Corinto
esteve durante 18 meses hospedado com Áquilas e Priscila. Nos dias
de semana exercia a sua profissão; nos sábados pregava na sinagoga.
Quando Silas e Timóteo, porém, lhe trouxeram ajuda financeira dos
filipenses (2 Cor 11,9; Fp 4,16), dedicou-se ele inteiramente à
pregação. Converteu alguns judeus (18,8; 1 Cor 1,14) e muitos
pagãos, principalmente das classes mais baixas, sem cultura (1 Cor
1,26).
Em Corinto, Paulo escreveu 1Tes e
2Tes. Invejosos do seu sucesso, os judeus o acusaram diante de
Galião, provavelmente no princípio de seu consulado (meados de 52),
como propagandista de um “religião ilícita”. Galião, porém, rejeitou
a acusação dos judeus. Em Corinto o apóstolo embarcou-se para a
Síria, junto com Áquilas e Priscila. Deixou seus companheiros em
Éfeso, aterrou em Cesaréia, visitou talvez Jerusalém, e voltou para
Antioquia (At 18,18-22).
3. A terceira viagem missionária
a)
Resumo e itinerário
Terceira viagem missionária: Paulo vai à Ásia Menor, 18:18-19:41.
Viagem de confirmação das igrejas, 18:18-23, Apolo, 18:24-28. Paulo
em Éfeso, 19:1-41. Retorno à A. Menor, 19:1=12. Paulo e os
exorcistas, 19:13-20. Planos de Paulo sobre o futuro, 19:21-22. O
levante em Éfeso, 19:23-41.
b)
A missão da terceira viagem
Terceira viagem (53-58; At 18,23-21,14). Pouco depois partiu
novamente para a Galácia (cf. Gl 4,13), onde reinavam a piedade e a
paz nas comunidades cristãs (1,6; 5,7), atravessou a Frígia, as
montanhas do centro da Ásia Menor e o vale do Meandro, e chegou a
Éfeso (At 18,23; 19,1.8.10; 20,31). Aí Priscila e Áquilas já haviam
completado a instrução cristã de Apolo, judeu alexandrino douto e
eloqüente que com zelo e sucesso pregara o cristianismo na sinagoga,
e já partira para Corinto (18,24-28; 19,1).
Em Éfeso Paulo conheceu também uma dúzia de discípulos de João
Batista, que ele ganhou para o cristianismo (19,2-7), e pregou
durante três meses na sinagoga. Como a maior parte dos judeus
continuava incrédula, dirigiu-se aos pagãos, pregando no auditório
de um tal de Tirano, provavelmente um retor grego.
Lucas narra detalhadamente alguns episódios das atividades de P. em
Éfeso; curas e expulsão de demônios, a destruição de um grande
número de livros de magia (19,11-19) e o tumulto que, depois de três
anos, ocasionou o fim da estadia de P. naquela cidade (19,23-20,1).
At 19,20.26 refere-se em termos vagos à propagação do cristianismo
“por toda a Ásia”. De fato, abrira-se para P. em Éfeso “uma porta
larga e poderosa” (1Cor 16,9); quem a abriu foi ele mesmo e os seus
colaboradores (Timóteo, Tito, Erasto, Gaio, Aristarco e Epafras: At
19,22,29; 2Cor 12,18; Cl 1,7); e fundaram-se comunidades cristãs em
Colossos, Laodicéia, Hierápolis (Cl 1,7; 2.1; 4,12s), Tróade (At
20,5-12; 2Cor 2.12) e mui provavelmente também em Esmirna, Tiatira,
Sardes e Filadélfia (Ap 1:11).
Em
éfeso Paulo sofreu muitas e duras provações: perseguições da
parte dos judeus (20:19; cf. 21:27), uma determinada tribulação que
“acima de suas forças” o oprimiu, a ponto de ele “perder a esperança
de conservar a vida” (2Cor 1:8), uma doença ou perigo mortal (cf.
2Cor 1:9s; 11:23), uma luta contra as feras (1Cor 15:32), seja em
sentido literal, seja em sentido metafórico, de uma luta contra
homens maus e violentos; afinal, em Rm 16:4 Paulo fala num perigo
mortal, do qual foi salvo por Priscila e Áquilas; esse acontecimento
desconhecido deve-se localizar provavelmente em Éfeso.
Além disso Paulo andava muito preocupado com algumas comunidades
cristãs. Os gálatas quase deixaram afastar-se dele pelos
judaizantes; escreveu-lhes Gálatas. Na comunidade de Corinto
infiltraram-se graves abusos morais. Paulo reagiu numa carta que se
perdeu (1Cor 5:9), e mandou Timóteo e Erasto a Corinto (At 19:22;
1Cor 4:17).
Depois, vieram de Corinto alguns cristãos com uma carta da
comunidade, na qual se propunham a P. diversas perguntas. A essa
carta P. respondeu com 1 Cor, provavelmente em 55. Entretanto,
chegaram a Corinto alguns judeu-cristãos que minaram a autoridade de
Paulo. Esse resolveu então ir pessoalmente a Corinto (2Cor 2:1;
12:14; 13:1s). Esta “visita intermediária” efetuou-se em tristeza,
pois Paulo não conseguiu quebrar a desconfiança dos coríntios, e foi
até ofendido por um cristão (2Cor 2:1.5; 7:12; cf. 12:21).
Demorou pouco, e voltou a Éfeso, de onde dirigiu “com muitas
lágrimas” uma terceira carta aos coríntios (2Cor 2:4,9; 7:8,12).
Tito foi portador dessa carta, que não foi guardada. Nela Paulo
exigia desagravo e a submissão da comunidade (2Cor 2:9).
Enquanto aguardava o resultado da carta e da missão de Tito, Paulo
foi obrigado a deixar Éfeso. Viajou para Tróade (20:1; 2Cor 2:13),
onde esperava encontrar-se com Tito. Quando esse demorava, embarcou
para Macedônia. Aí encontrou-se com Tito (provavelmente em Filipos)
e ouviu, com muita alegria, que os coríntios se submetiam.
Da Macedônia escreveu-lhes 2Cor (em 57). Depois de uma visita às
comunidades da Macedônia e, talvez, depois de uma viagem pela Ilíria
(Rm 15:19), Paulo cumpriu a promessa já antiga de visitar Corinto
(1Cor 16:5), onde ficou três meses (At 20:3). Em Corinto P. escreveu
Rm (fins de 57 ou princípios de 58), para preparar uma visita há
muito planejada (At 29:21).
Para terminar essa viagem, Paulo queria viajar por mar a Síria,
junto com os representantes das comunidades que haviam arrecadado
dinheiro para os cristãos, mas, por causa de um atentado contra a
sua vida, tramado pelos judeus, viajou por terra. Em Filipos, Lucas
ajuntou-se a ele; em Tróade esperavam-no os companheiros de viagem.
Em Tróade tomaram o navio para Mileto, onde P. mandou chamar os
anciãos de Éfeso, para se despedir; pressentia que nunca mais os
veria (20:1-38). Depois navegaram até Tiro, onde profetas tentaram
convencer P. que não fosse a Jerusalém. P., porém, continuou sua
viagem até Ptolemaide e daí por terra até Cesaréia, onde durante
vários dias foi hóspede de Filipe, um dos Sete (At 6:5). Um profeta
da Judéia, Ágabo, predisse que em Jerusalém esperavam-no algemas e
prisão, mas P. não se deixou reter (21:1-16).
iii – As prisões do apóstolo Paulo
5.
O Resumo dos últimos capítulos de “Atos dos Apóstolos”
·
Visita final de Paulo à Macedônia e à Acaia, 20:1-4.
·
Paulo vai a Jerusalém, 20:1-6. De Filipos a Mileto, 20:5-16. Defesa
de Paulo ante os anciãos de Éfeso, 20:17-38. De Mileto ante a Cesaréia,
27:1-14.
Paulo com a igreja em Jerusalém, 21:15-26.
·
Paulo, prisioneiro em Roma, 21:27-28:31.
a.
Detenção e defesa, 21:27-22:29.
b.
Perante o sinédrio, 22:30-23:11.
c.
Transferência para Cesaréia, 23:12-35.
d.
Em Cesaréia, 24:1-26:32. Paulo e Félix, 24:1-27. Paulo e Festo,
25:1-27. Defesa de Paulo perante Agripa, 26:1-32.
e.
Viagem a Roma, 27:1-28:16.
f.
Paulo em Roma, 28:17-31.
6.
A Prisão de Paulo em Jerusalém (Atos 21, 22 e 23)
a)
O objetivo da viagem a Jerusalém (21:1-16)
Entregar a oferta
proveniente das igrejas gentílicas para os crentes pobres de
Jerusalém. Foi uma grande oferta. Paulo levou um ano a arrecadá-la,
2 Co 8:10. Todavia, foi avisado muitas vezes, ao passar pelas
cidades da Ásia, que essa viagem resultaria em prisão, 20:23. Em
Tiro, 21:4, e em Cesaréia, 21:11, o aviso foi repetido com ênfase
especial. De cada vez é o Espírito quem adverte. Até Lucas fez coro
na rogativa, 21:12; Mas estava arraigado, definitivamente, no
espírito de Paulo que aquela era a vontade de Deus, mesmo que
significasse sua morte, 13:14. Por que esses avisos da parte de
Deus? Podia dar-se o caso de Paulo estar enganado e de Deus estar
procurando fazê-lo ciente disso? Ou seria que Deus o estava
provando? Ou o preparando? De qualquer modo, Paulo estava
determinado a fazer a viagem. Uma coisa é que ele a prometera anos
antes, Gl 2:10. Considerava aquilo o meio mais prático de demonstrar
a unidade da igreja. Levara sua vida a ensinar aos gentios de que
podiam ser cristãos sem se tornarem prosélitos dos judeus, razão por
que muitos dos seus irmãos judeus o odiavam rancorosamente. Agora,
desejava coroar esse trabalho com uma demonstração genuína e
proveitosa de fraternidade cristã da parte dos seus convertidos
gentios, como último e duradouro sinal de amor fraternal entre
judeus e gentios. Vista sob este aspecto, esta visita de Paulo a
Jerusalém é um dos eventos históricos mais importantes do N.T.
Possivelmente, também, ele nunca podia esquecer a agonia dos crentes
judeus, homens e mulheres, quando os lançava em prisão, anos antes,
At 8:3, e estava há muito tempo resolvido, tanto quanto estivesse em
suas forças, a compensar a Igreja Judaica pelos sofrimentos pelos
quais a fizera passar.
b)
Paulo em Jerusalém
Chegou ali mais ou menos em
junho, 59 d.C., 20:16. Foi a quinta visita que se registra, depois
da sua conversão. No decurso deste período, tinha ganho vastas
multidões de gentios para a fé cristã, e por causa disto era odiado
pelos judeus descrentes.
Depois de ter passado quase
uma semana em Jerusalém, cumprindo seus votos no Templo, certos
judeus o reconheceram. Começaram a gritar, e dentro de um instante,
a turba estava por cima de Paulo como uma matilha de cães. Os
soldados romanos apareceram em cena em tempo para salvá-lo de ser
morto às pancadas.
Na escada do castelo romano,
o mesmo onde Pilatos condenara Jesus à morte 28 anos antes dele,
Paulo, com permissão do comandante, fez um discurso à turba,
contanto como Cristo lhe aparecera no caminho para Damasco.
Escutaram até que mencionou a palavra “gentios”, e então a turba se
enfureceu contra ele.
No dia seguinte, os oficiais
romanos trouxeram Paulo perante o Sinédrio, para descobrir o que os
judeus tinham contra ele. Foi o mesmo concílio que entregou Cristo
para ser crucificado; o mesmo Concílio do qual Paulo fora membro; o
mesmo Concílio que apedrejara Estêvão, e que repetidos esforços
fizera para esmagar a Igreja. Paulo correu perigo de ser espedaçado
ali, e os soldados o retiraram dali, levando-o de volta ao castelo.
Na noite seguinte, lá no
castelo, o Senhor Se revelou a Paulo, assegurando-lhe que protegeria
seu caminho até Roma, 1:13. Em Éfeso, foi combinado que Paulo iria a
Roma depois desta visita a Jerusalém, 19:21, mas depois, Paulo nem
teria certeza de sair vivo de Jerusalém, Rm 15:31,32. Mas agora,
Paulo estava com absoluta certeza, pois o próprio Deus prometera que faria a viagem.
No dia seguinte, os judeus enredaram outra cilada
contra Paulo. Fervia a fúria popular. Tornou-se necessário preparar
uma escolha excepcional, de 70 cavaleiros, 200 soldados, e 200
lanceiros para tirar Paulo de Jerusalém, e mesmo assim, na escuridão
da noite.
7.
A Prisão de Paulo em Cesaréia (Atos 24, 25 e 26)
Essa prisão ocorreu no verão
de 59 ao outono de 61 d.C.
Cesaréia fora o lugar onde
20 anos antes Pedro recebera na igreja o primeiro gentio, Cornélio,
oficial do exército romano. Possivelmente, foi esta a razão pela
qual Félix conhecia alguma coisa a respeito do “caminho”, 24:22.
Lucas
esteve com Paulo em Cesaréia. Pensa-se que foi por esse tempo que
ele escreveu seu Evangelho. Esta é a única visita de Lucas a
Jerusalém de que se tem notícia. Sem dúvida, aproveitou
oportunidades de visitar Jerusalém muitas vezes, talvez também a
Galiléia, para conversar com todos os apóstolos e primeiros
companheiros de Jesus que pôde encontrar. Maria, mãe de Jesus, podia
ainda estar viva, de cujos lábios ele pode ter ouvido, diretamente,
a história com que inicia o seu Evangelho.
Israel moderno, cônscio da
sua história como nação, toma grande cuidado dos monumentos
históricos antigos, e há alguns anos Cesaréia recebeu a atenção dos
arqueólogos. As obras do porto antigo têm sido examinadas por
escafandristas, que obtiveram informações interessantes. O teatro
está sendo escavado, e um achado surpreendente tem sido uma
inscrição fragmentária com o nome de Pôncio Pilatos. A cidade era
seu quartel-general como Procurador romano, e cenário de um debate
famoso entre ele e uma deputação de judeus de Jerusalém. Obstinado e
arrogante, Pilatos tinha pendurado escudos votivos no palácio de
Herodes, consagrado ao Imperador. Os judeus, enviando representantes
ao Imperador Tibério, venceram na sua objeção contra símbolos pagãos
na Cidade Santa, e Pilatos tinha que levar ao santuário de Roma, em
Cesaréia, estes símbolos de sua lealdade desajeitada ao Império.
a) Paulo perante Félix,
24:1-27. As acusações, v. 5: era “uma peste”, acusação muito vaga;
“promotor de sedições entre os judeus”, absolutamente falso, porque
Paulo invariavelmente ensinava obediência ao governo; “tentara
profanar o templo”, v. 6, levando lá Trófimo, 21:29, o que não fez;
“principal agitador dos nazarenos”, o que ele reconheceu e que não
era contra nenhuma lei, judaica ou romana. Paulo nunca deixou de
mencionar a ressurreição, v. 15.
Félix casara-se com uma
judia, estava familiarizado com as praxes judaicas e conhecia algo a
respeito de Cristo. Estava profundamente impressionado e mandou
chamar Paulo para que lhe explicasse mais o Evangelho, com o que
ficou aterrorizado. Sua cupidez, porém, v. 26, impediu que ele
aceitasse Cristo ou soltasse Paulo.
Festo foi nomeado sucessor
de Félix em 60 d.C. Foi no intervalo entre a partida de Félix e a
chegada de Festo que as autoridades de Jerusalém se aproveitaram da
ausência de um oficial romano do executivo e assassinaram Tiago,
irmão de Jesus.
b) Paulo perante Festo,
25:1-12. Os judeus ainda armavam emboscada a Paulo, v. 3, porque
parece que tinham pouca esperança de convencer um governador romano
de ter Paulo feito alguma coisa digna de morte. Sendo acusado
perante Festo e vendo que este se propunha a agradar aos judeus, e
que não havia esperança de que lhe fizessem justiça. Paulo anunciou,
ousadamente, a Festo, que estava pronto a morrer se merecesse a
morte, e apelou para César o que como cidadão romano tinha o direito
de fazer. Diante disto, Festo nada pôde fazer senão anuir à
apelação. Naquele tempo o César era Nero, bruto e desumano. Paulo,
porém, sabia que, se deixasse o seu caso com Festo, seria devolvido
ao sinédrio judaico, o que significaria condenação certa. Sendo
assim, escolheu Nero. Além disso, queria ir a Roma.
c) Paulo perante Agripa,
25:13-26:32. O discurso de Paulo perante Agripa e o outro em Atenas
são, geralmente, considerados dois dos mais soberbos exemplos de
oratória da literatura. São ambos muito breves, simples resumo do
que ele deve ter dito, porque é dificilmente crível que, num e
noutro caso, ele falasse menos de uma hora.
Esse Agripa
era Herodes Agripa II, filho de Herodes Agripa I, que, 16 anos
antes, matara Tiago, o irmão de João, 12:2; era neto de Herodes
Antipas que matara João Batista e escarnecera Jesus, e bisneto de
Herodes, o Grande, que trucidara os meninos de Belém, ao tempo de
nascimento de Cristo. Sua capital era Cesaréia de Filipe, próxima do
cenário da transfiguração de Jesus, 30 anos antes.
Berenice era sua irmã,
vivendo com ele como esposa. Fora casada com dois reis, voltara para
ser esposa do próprio irmãos, e mais tarde veio a ser amante de
Vespasiano e Tito. Imagine-se Paulo a defender-se diante de um par
de pessoas desse quilate.
Agripa, cuja família
estivera tão intimamente relacionada com toda a história de Cristo,
naturalmente estava curioso por ouvir um homem do calibre de Paulo,
que tanta excitação causara entre as nações a respeito de uma Pessoa
que sua própria família houvera condenado.
A única discordância que
Festo pôde ver entre Paulo e seus acusadores era que aquele pensava
ainda estar vivo Jesus, ao passo que os acusadores O julgavam morto,
25:19.
A grande pompa, v. 23, que
Festo arranjou para a ocasião era testemunho da personalidade
dominante de Paulo, porque certamente um preso comum não provocaria
tal exibição de esplendor real.
Notar a cortesia uniforme de
Paulo, do princípio ao fim, se bem que conhecesse o caráter
dissoluto do rei.
Notar, outrossim, que ele reconheceu ser a
ressurreição de Jesus a única causa da questão. (H. H. Halley).
d) Previdência Divina.
A história revela que a maldade humana é controlada pela soberania
divina. Os judeus desejavam que Paulo fosse transferido de Cesaréia
para Jerusalém. Tivesse Festo atendido às exigências deles, talvez o
Novo Testamento não contasse com Efésios, Filipenses, Colossenses e
Filemom. (Sanders). Além disso, estava a salvo de todos os judeus.
Chegou a ser manifesto a todos (Filipenses 1:12, 13).
Teve oportunidade para testificar aos soldados que o guardavam. Foi
visitado por amigos das diferentes igrejas (Filipenses 2:25; 4:10).
8.
A prisão de Paulo em Roma
Roma era chamada de “Cidade
rainha da terra”. O Grande centro de interesse histórico. Durante
dois milênios (2.º séculos a.C. ao 18.º d.C.) foi a potência
dominadora do mundo. É ainda chamada “Cidade Eterna”. A população,
na época de Paulo, era de 1 milhão e meio de seres humanos, metade
de escravos. Capital de um império que se estendia 4.800 km de leste
a oeste, 3.200 km de norte a sul. A população total do Império era
de 120 milhões de almas. Por
apelar a César, o Apóstolo aos
gentios teve que ir para Roma.
a)
A viagem de Paulo a Roma (At 27:1-28:15)
Essa viagem começou no outono de 61 d.C. e terminou na primavera de
62 d.C.
Foi feita em
três navios: Um de Cesaréia a Mirra; outro de Mirra a Malta; o
terceiro de Malta a Potéoli.
“O jejum”, v. 9, foi dia da
expiação, mais ou menos no meado de setembro. Daquele tempo ao meado
de novembro a navegação no Mediterrâneo era perigosa. Do meado de
novembro ao primeiro de março esteve suspensa.
Pouco depois de ter deixado
Mirra, caíram em ventos contrários, e depois de se abrigarem um
pouco em Bons Portos, se arriscaram outra vez, e foram acometidos
por um tufão que os levou longe da sua rota; depois de muitos dias,
não havendo mais esperança, Deus, que dois anos antes, em Jerusalém,
prometera a Paulo que o levaria a Roma, 23:11, mais uma vez aparece
a Paulo para lhe assegurar que Sua promessa seria cumprida, 27:24. E
foi. (H.H. Halley).
Paulo foi levado a Roma com mais uns presos. Foi
confiado a um centurião e alguns soldados da corte imperial.
Aristarco e Lucas o acompanharam. Embarcaram, navegaram ao longo da
costa de Creta, de onde uma tempestade veemente de vários dias os
levou para a costa de Malta. O navio encalhou num escolho e os
náufragos passaram o inverno na ilha. Depois navegaram via Sicília
até Potéoli, onde P. e seus companheiros durante oito dias foram
hóspedes da comunidade cristã. Pela Via Ápia chegaram a Roma
(Dicionário).
b)
Paulo em Roma
A primeira coisa que Paulo
fez ao chegar a Roma foi convocar os líderes judeus para poder
justificar-se das acusações contra ele, e para obter uma audiência
amigável. É este o último registro de sua tentativa da ganhar os
judeus. Observemos o resultado da sua pregação (28:24-28; compare
com Mateus 13:13-15; João 12:40; Mateus 21:43).
Paulo passou dois anos ali, no
mínimo, 28:30. Apesar de ser prisioneiro, tinha licença de morar
numa casa própria alugada, com seu guarda, 28:16. Tinha licença de
receber visitas, e de ensinar sobre Cristo. Já havia um bom número
de cristãos ali (ver as saudações que enviou três anos antes, Rm
16). Os dois anos que Paulo passou ali foram muito frutíferos,
atingindo o próprio Palácio, Fp 1:13; 4:22. Enquanto estava em Roma,
escreveu as Epístolas aos Efésios, Filipenses, Colossenses, Filemom
e possivelmente, Hebreus.
c)
O consolo de Paulo em Roma
Em Roma P. obteve licença
de, embora guardado sempre por um soldado, morar em casa própria,
junto com os companheiros de viagem, e podia receber livremente
qualquer pessoa (Cl 4,10). Logo apareceram diversos de seus
colaboradores, bem como representantes da maioria das comunidades
cristãs: Timóteo (Cl 1,1), Marcos (4,10), Epafras de Colossos
(1,6s), Tíquico da Ásia Menos (provavelmente Éfeso; 4,7) Demas Justo
(Cl 4,11), Lucas (4,14), Marcos (Fm 24), Onésimo (Fm; Cl 4,9). Dois
deles, Aristarco e Épafras (At 27,1; Cl 4,10; Fm 23), compartilharam
voluntariamente sua prisão. P. aproveitou-se de sua relativa
liberdade para pregar o evangelho: primeiro, novamente, aos judeus
(At 28,17-28), mas também aos soldados que o guardavam e a outros
romanos (Fp. 1,12s). Em Roma P. escreveu as chamadas “Epístolas do
cativeiro” (Ef, Cl, Flp, Fm). Nas duas últimas transparece a sua
esperança de ser libertado em breve (Fm 22; Flp 1,26; 2,24). At
28,30 parece sugerir a mesma coisa, pois Lucas, embora comunique que
P. morou dois anos naquela casa, não diz nada sobre o resultado do
processo.
d)
Especulações sobre os últimos dias de Paulo
Os últimos anos de Paulo só
conhecemos (fazendo-se abstração das informações de Clemente romano)
por uma combinação de dados avulsos das epístolas pastorais. Alguns
opinam que o apóstolo foi executado durante a perseguição de Nero,
em 64.
Conforme os outros Paulo
teria visitado a Espanha (Rm 15,24.28) e ainda teria trabalhado em
Creta (Ti 1,5), Éfeso (1Tim 1,3), de onde visitou talvez Colossos
(Fm 22), Hierápolis, Laodicéia e Mileto (2 Tim4,20), e na Macedônia.
Em Nicópolis, no Epiro (Tt 3,12),
teria escrito Ti e 1Tim.
Alguns pensam que P.
penetrou até na Ilíria (2Tim 4,10), voltando depois por Tróade (2
Tim 4,13) para Éfeso (1 Tim 3,14). Em todo caso, 2 Tim supõe que P.
foi preso novamente, e está em Roma (2 Tim 1,8. 16s; 2,9), onde só
Lucas ficou com ele (4,10s).
Paulo queixa-se de que na
sua primeira defesa os cristãos da Ásia Menor o abandonaram (1,15).
Não há nenhum indício de contato com o apóstolo Pedro. Paulo
menciona, entretanto, o apoio de alguns discípulos fiéis: Onésimo,
Tito, Crescente, Tíquico, que havia mandado respectivamente à
Dalmácia, à Galácia (ou à Gália?) e a Éfeso (4,10.12), e prepara-se
para o martírio (4,7s).
e)
A execução de Paulo
Deduz-se da tradição e de
algumas referências, que Paulo foi posto em liberdade por mais ou
menos 2 anos (veja Filipenses 1:24-26;2:24; Filemom 24; 2 Timóteo
4:17). Nesse período de liberdade provavelmente escreveu as
epístolas a Timóteo e a Tito.
Acredita-se que depois
desses dois anos, Paulo foi novamente preso e finalmente executado
durante a perseguição que Nero promoveu contra os cristãos.
Diz-se a tradição que, como
resultado de haver apelado para César, após dois julgamentos no ano
68 d.C., Paulo foi executado, fora da cidade.
Relata-se que Nero saiu de
viagem enquanto Paulo estava em Roma. Entretanto, uma de suas
concubinas foi ganha para o Senhor por intermédio do apóstolo.
Quando Nero voltou para casa, ela havia juntado a um grupo cristão,
abandonando o imperador. Nero ficou tão furioso que descarregou sua
ira sobre Paulo, que foi levado para a Via Óstia onde o executaram.
conclusão
A maneira pela qual Paulo
usou seus infortúnios deveria estimular os que estão “presos” em
virtude de má saúde ou de outros motivos, a serem engenhosos na
busca de meios pelos quais possam usar as circunstâncias limitadoras
com vantagem. Paulo está agora prestes a passar a tocha ao jovem
Timóteo. “Tu, porém, sê sóbrio em todas as coisas”, escreve ele;
“suporta as aflições, faze o trabalho de evangelista, cumpre
cabalmente o teu ministério. Quanto a mim, estou sendo já oferecido
por libação, e o tempo da minha partida é chegado. Combati o bom
combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da
justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará
naquele dia” (2 Timóteo 4;5-8).
Visto que o seu próprio
ministério chegava ao fim, Paulo exortava Timóteo a cumprir
cabalmente o dele, a qualquer custo. A palavra grega “partida” é a
mesma usada com referência a soltar as amarras de um navio. O
apóstolo estava zarpando da praia celestial, porém fazia-o com um
senso de “missão cumprida”. Que modelo para Timóteo – e para nós
também! A tocha está agora em nossas mãos!
bibliografia
BRITO, Robson J. Apostila. O que a igreja atual deve aprender
com Atos dos Apóstolos. Edição Própria. Maringá-PR, 1996.
COTHENET, Édouard.
Petie vie de Saint Paul.
Desclée de Brower, Paris, 1995.
HALLEY, Henry H.
Manual Bíblico. Edições Vida Nova, 24.ª edição, São Paulo,
1970.
HORTON, Stanley M.
El libro de los Hechos. Editorial Vida, 2.ª edição, Miami-FL, 1987.
PEARLMAN, Myer.
Atos: E as igreja se fez missões. CPAD, 1ª edição, Rio de
Janeiro, 1995.
SANDERS, J. Oswald. Paulo, o líder.
Editora Vida, 2.ª edição, São Paulo, 1988.
BRITO, Nivaldo Maia. Introdu. e Mapas Nov.2002.
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