Porque             para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não             podem ser comparadas com a glória que ha de ser revelada em nós.     Romanos 8:18

Estas moedas de prata são idênticas as moedas recebidas por Judas Escariotes pela sua traição.

 

 

 

 

O Estudo a seguir é um breve relato dos fatos ocorridos por ocasião do governo de Constantino imperador Romano em Constantinopla e responsável pelo Edito de Milão e o Concílio de Nicéia de onde saiu o credo religioso Cristão como veremos a seguir:

VENHA A NÓS

O VOSSO REINO

O ímpensável aconteceu: Constantino, o novo co-imperador

de Roma, apoiava o cristianismo! Em breve, a Igreja,

com o seu apoio, criaria um credo duradouro.

Os pagãos reagiriam, mas em vão.  No entanto,

uma nova Roma se ergueria no Oriente.

 

  Com a paz de Constantino, muitos cristãos, como aconteceu com o seu imperial paladino, esperaram encontrar-se às vésperas de uma idade de ouro. Com essas esperanças, Constantino achou por bem, na segunda década do seu governo, que o novo Império cristão devia ter uma nova capital, escolhendo para isso o pequeno porto grego de Bizâncio (atual Istambul, na Turquia). Foi um dos mais ambiciosos projetos de renovação urbana da História. No espaço de aproximadamente seis anos, de 324 a 330, a pequena Bizâncio sofreu enormes alterações ao ser transformada de modesto porto em metrópole. Sob a direção de Constantino, um exército de operários invadiu a cidade para trabalhar em dezenas de projetos, desde a basílica ao palácio imperial e à ampliação do hipódromo. No triângulo de terra que servia de ponto de passagem entre a Europa e a Ásia, a Nova Roma tomava forma. As gerações futuras passaram a referir-se a ela com frequência como Constantinopla (Cidade de Constantino), e essa jóia cintilante do Bósforo suplantou Roma como centro do Império. A história da mudança do poder para o Oriente data dos tempos em que Constantino tornou-se imperador.

Após a vitória na Ponte Mílvio, Constantino dirigiu-se em triunfo para Roma em 29 de outubro de 312. O cortejo serpenteou certamente pela cidade, oferecendo às multidões a oportunidade rara de observarem o seu novo governante. Diz uma fonte que o seu apelido entre o povo era o Pescoço de Touro.

Os retratos que existem confirmam isto: Constantino tinha a constituição de um lutador. Como em outros desfiles oficiais, marcharia flanqueado por uma guarda de honra armada de ouro ou prata e acompanhado por bandeiras de seda que flutuavam como balões na atmosfera outonal. Nesse dia, após ultrapassar a Porta Triumphalis, ao longo da Via Sacra e até o Fórum Romanum, Constantino encontrou-se com o Senado, que o confirmou na categoria de augusto, ou supremo imperador.

 Ainda que tivesse reconhecido o auxílio de Deus na batalha contra Maxêncio, Constantino aparentemente não teve, a princípio, qualquer compromisso exclusivo para com o cristianismo. Parecia escolher as suas crenças tanto entre as pagãs quanto as cristãs.

 Embora sem duvida tenha concordado quando o Senado encomendou uma estátua sua empunhando um símbolo cristão, autorizou igualmente um medalhão que atribuía a sua libertação de Roma ao deus-Sol lnvictus. E conservou o título de pontifex maximus, sumo sacerdote da religião do Estado. (Os papas adotaram posteriormente o mesmo título.) Por que Constantino foi paladino do cristianismo: A visão que afirmou ter tido antes da Batalha da Ponte Mílvio deixou provavelmente uma impressão que se ia aprofundando à medida que era narrada. Talvez sua mãe, Helena, convertida ao cristianismo, o tenha influenciado. E ainda mais provável que Constantino tenha encarado o cristianismo de um ponto de vista pragmático. Tinha visto, no seu tempo, os cristãos desafiarem as probabilidades e sobreviverem as perseguições. Embora fossem uma fração numericamente fraca, os cristãos tinham-se tornado em todo o Império uma facção cheia de força.

Constantino percebeu certamente que a extensa rede da Igreja poderia revelar-se uma ajuda preciosa na unificação e no conseqüente domínio de tão vasto Império.

 

O E dito de Milão

Fm fevereiro de 313, Constantino encontrou-se em Milão com o seu co-imperador, Licínio. Parece que grande parte da reunião foi ocupada pela questão do cristianismo, marcando um ponto de mudança nas relações Igreja-Estado.Os dois imperadores enviaram uma carta, que veio a ser conhecida por Edito de Milão aos governadores de todo o Império. Ordenava a carta que o Estado desse completa tolerância a quem quer que ‘‘tivesse entregue o seu espírito ao culto dos cristãos’’ ou a qualquer culto “que pessoalmente achasse o melhor para si”. Com um traço da pena, todos os decretos anticristãos tinham sido revogados e chegara ao fim a era das perseguições. Não só os cristãos eram agora livres para orar, como deveriam ser-lhes devolvidos os seus lugares de culto e todos os outros bens da Igreja.

Nem todo o povo acolheu bem o Edito de Milão. Maximino Daia, inimigo do cristianismo que partilhava o governo do Oriente com Licínio, dizia que os cristãos ‘tinham de ser suportados com um espírito moderado e paciente” e que ele próprio colocava o culto dos pagãos muito acima da “superstição” dos cristãos.

Irritado com a promoção de Constantino a augusto e abalado com a aliança entre Constantino e Licínio, Maximino Daia agiu contra este último. Segundo a lenda, na véspera de uma importante batalha, Licínio sonhou que um anjo lhe ditara uma prece para a vitória. Foram devidamente distribuídas cópias da prece, que tanto se podia considerar pagã como cristã. Os soldados recitaram aquela oração antes da batalha e, embora em desvantagem numérica, saíram vitoriosos.

 

A controvérsia donatista

Desde a grande perseguição de Diocleciano, a Igreja africana fora minada por correntes de dissensão.

Discutia-se a situação legal dos cristãos que tinham sido fracos durante as perseguições- e, no âmago desta questão, a idéia de que só as pessoas que levassem vidas irrepreensíveis tinham o direito de pertencer a Igreja. Uma poderosa facção de cristãos do Norte da África, alguns deles efetivamente ansiosos pelo martírio, classificavam de “traidores” os membros da Igreja que, cedendo à força, tinham entregado as Escrituras as autoridades estatais para serem destruídas. Os membros mais moderados, freqüentemente os que viviam melhor, declaravam-se satisfeitos com os clérigos, que se esconderam em vez de desafiarem abertamente a autoridade do Estado. Voavam de um lado para o outro denúncias e recriminações mútuas, até que os ânimos serenaram em 311, com a eleição do clérigo moderado Ceciliano para bispo de Cartago. Os opositores de Ceciliano, conhecidos como donatistas, afirmaram que a eleição havia sido inválida, uma vez que o bispo fora consagrado por “traidores”.

Os donatistas, a maioria proveniente da Numídia (na atual Argélia), convocaram um sínodo de setenta bispos e anunciaram que Ceciliano tinha sido deposto. Ordenaram em seu lugar Maiorino, que morreu pouco depois e foi substituído por Donato, que acabou dando nome ao movimento. Ceciliano e Os seus partidários não reconheceram a autoridade do sínodo. Cartago ficou assim com dois bispos, e a Igreja foi ameaçada de um autêntico cisma.

Alarmados por Constantino aparentemente ter reconhecido Ceciliano (em carta oficial que então circulou, o imperador referia-se à “Igreja católica presidida por Ceciliano”), os donatistas levaram o seu caso ao próprio imperador em 15 de abril de 313.

Constantino interveio, de fato. “Nas províncias que a Divina Providência voluntariamente me confiou” declarava o imperador, qualquer divisão era inaceitável. Ordenou a Ceciliano que se dirigisse a Roma com dez bispos que o apoiassem e dez bispos donatistas. Apresentariam todos o caso ao bispo Milcíades, de Roma, ele próprio natural da África romana, e a três bispos da província da Gália. Milcíades acrescentou quinze bispos italianos, compondo um sínodo com jurisdição sobre matéria de doutrina. Após vários dias de testemunhos, o sínodo reconheceu Ceciliano e deliberou contra Donato. Os donatistas não aceitaram a decisão, pedindo a Constantino um novo julgamento. Este ficou desolado com o crescimento das contendas, mas concordou com nova audiência. Desta vez, reuniu-se em Arles um sínodo de 33 bispos, que novamente se pronunciou contra os donatistas.

A controvérsia continuou mais intensa, pois os donatistas não aceitaram o veredicto. Irromperam tumultos no Norte da África; e os donatistas que foram mortos pela repressão do governo foram classificados de mártires pelos seus confrades. ‘Irei à África” anunciou Constantino, “e demonstrarei cabalmente..., tanto a Ceciliano quanto àqueles que estão contra ele, como deve ser adorada a Divindade Suprema.” Como estas palavras indicam, o imperador sentia-se agora mais que um governante secular: era também o emissário de Deus, com poderes para unificar a Sua Igreja.

Constantino não foi à África, continuando a vacilar entre as insistências para tolerar o donatismo e as que pediam para sufocá-lo. Mas em 316 decidiu a favor de Ceciliano; no ano seguinte, não ordenou que fossem confiscados os bens da Igreja donatista, como exílou os dirigentes da seita.

Três anos depois do Edito de Milão, o Estado romano via-se novamente na posição de perseguidor, mas desta vez em nome da ortodoxia cristã. Sempre porta-voz das classes mais humildes, o movimento donatista manteve-se firme. Cartago continuou a ser cenário de violentas lutas, com os donatistas numa resistência tenaz, muitos deles preferindo a tortura, a prisão e até a morte a submeterem-se aos ‘‘traidores’’.

Constantino, aborrecido, acabou por desistir, revogando a sua lei anti-donatista em 321. Tinha aprendido uma lição. Abjurar o seu próprio Edito de Milão fora uma bobagem. Nunca mais tentaria esmagar qualquer movimento no seio da Igreja, embora, como o conflito ariano em breve demonstraria, sempre mantivesse a tendência pata subestimar o alcance das desavenças sectárias. Constantino falhara na sua primeira tentativa de unificar a Igreja, mas estabelecera o seu direito de, como imperador, ser mediador de questões eclesiásticas.

 

A controvérsia ariana

Enquanto a controvérsia donatista fervilhava no Ocidente, outra tempestade se formava em Alexandria e em outros lugares do Oriente, ameaçando, como o donatismo, dividir a Igreja e envolvendo, ao contrario dele, uma questão teológica fundamental- a divindade de Cristo.

No centro desse debate encontrava-se Ário, presbítero em Alexandria, inteligente, independente e popular. Tal como o seu predecessor, Orígenes, e outros teólogos cristãos, ´´Ário discordava de muitos crentes no que diz respeito à natureza do Filho de Deus e sua relação com o Deus Pai. Dizia existir “um Deus que e o único não-gerado, o único eterno e o único sem princípio”. O Filho de Deus, dizia Ário, foi criado e, portanto, tem de estar subordinado ao Pai. (“Houve um tempo em que Ele [o Filho] não era” é como muitos resumiam a doutrina ariana.) Com efeito, Ário negava, se não a divindade, pelo menos a co-eternidade do Filho de Deus, Jesus Cristo, com o fim de manter um monoteísmo básico.

Outros teólogos afirmavam que o Filho de Deus vinha do “próprio Deus”, não “do não-existente”, como proclamava Ário. O Filho de Deus é divino, e não apenas eterno, mas gerado na eternidade, explicavam. Alexandre, bispo de Alexandria, intimou Ário a deixar de pregar as suas opiniões. Mas era tarde.

Ário, alto e ascético, cuja capacidade de debate filosófico era enorme, adquirira fortes partidários entre os cristãos de Alexandria, incluindo o clero. Em 318, ou um pouco depois, um sínodo de aproximadamente cem bispos Egípcios e Líbios examinou as doutrinas de Ário, condenou-o como herege e excomungou-o.

Ário não se deixou abater. Conseguiu apoio para as suas opiniões da parte de Eusébio, bispo de Cesaréia, de Eusébio, bispo de Nicomédia, e de outros. Tal como o donatismo dividira a Igreja do Ocidente, o arianismo ameaçava separar o Oriente em dois campos teológicos.

  Constantino revela-se a Licínio

As divisões no seio da Igreja não eram a única preocupação de Constantino. A sua aliança com Licínío vinha sendo manchada por desconfiança mútua e mesmo por guerra aberta. Já em 314 os dois se tinham defrontado por causa do domínio sobre a Itália.

Decidida a desavença pelas armas, seguiram-se cinco ou seis anos de relações amistosas. Mas o fato de Licínio maltratar cada vez mais os cristãos abalou a aliança. Em 320, Licínio retirou a sua proteção aos cristãos, que, suspeitava ele, eram mais leais a Constantino que a si próprio. Proibiu os sínodos da Igreja em todos os territórios orientais do Império (só nestas reuniões se podiam consagrar bispos), proibiu que homens e mulheres praticassem atos de culto simultaneamente, e, segundo afirmou, por razões de saúde pública, decretou que os cristãos não podiam reunir-se em igrejas dentro da cidade, sendo obrigados a fazê-lo fora das muralhas. Foram presos bispos; igrejas foram fechadas e até destruídas. Licínio ordenou ainda que um sacrifício pagão fosse condição de admissão nos serviços públicos, excluindo assim os cristãos.

A perseguição dos cristãos por Licínio deu a Constantino o pretexto para se declarar contra o seu co-imperador e realizar uma ambição antiga o domínio total do Império. Quando Constantino marchou sobre a Trácia para atacar bandos de piratas gôdos, em janeiro de 323, Licínio acusou-o de violar o seu território. Os dados estavam lançados: a guerra civil havia sido declarada. Constantino tratou-a mais como uma guerra santa que uma guerra civil. Recrutou o auxílio de bispos cristãos e levou com ele uma capela particular para utilizar em campanha. Confiou o seu estandarte militar cristão, o lábaro, a uma guarda de elite de cinqüenta soldados, instruídos para levarem-no aonde quer que o perigo se manifestasse. Segundo Eusébio, nenhum soldado que o tenha transportado em batalha foi morto.

Constantino organizou 130 mil soldados; Licínio,165 mil. A guerra começou em 324, quando os dois exércitos se defrontaram em Adrianópolis (atual Edirne, na Turquia). Embora em menor número, as tropas de Constantino lutaram com bravura e derrotaram os adversários. Bizâncio caiu em poder de Constantino, e a guerra foi decidida em 18 de setembro em Crisópolis, depois de dizimadas as tropas de Licínio. A principio, Constantino poupou o cunhado, mas depois mandou que fosse executado.

 

O  caminho para Nicéia

    Constantino ganhara a sua guerra civil, mas a união religiosa revelou-se um objetivo mais fugidio. O problema maior era a controvérsia ariana, na qual Constantino estava decidido a pôr fim o mais rápido possível. No início, acusou Ário e Alexandre de discutirem simplesmente por discutir. Numa carta que lhes mandou, declarou a controvérsia “perfeitamente irrelevante e completamente inútil”. Obviamente, Constantino não se dava conta da complexidade da questão teológica. Mas desejava que ela fosse rapidamente resolvida.

Constantino despachou a sua carta para Alexandre e para Ário ao encargo do seu conselheiro eclesiástico, Ósio, bispo de Córdova. Em 312, depois de sofrer com as perseguições de Maximiano, Ósio entrara na corte de Constantino, onde parece ter representado papel importante na conversão deste ao cristianismo.

Depois de entregar a carta do imperador e de investigar o assunto em primeira mão, Ósio decidiu aliar-se ao bispo Alexandre contra Ário. Assistiu, e talvez tenha presidido, a um sínodo em Antioquia que emitiu uma declaração de condenação contra Ário e seus discípulos. Na mesma reunião, Eusébio de Cesaréia foi excomungado pelo seu apoio aberto a Ário; a rixa não dava sinais de tornar-se branda. Propagara-se de Alexandria até a Palestina, Síria e Ásia Menor. Constantino já não podia dizer que era “irrelevante”.

A fim de acabar com a controvérsia, Constantino, em 325 convocou bispos e seus representantes para juntarem-se à ele naquele que seria o primeiro — e mais famoso -concílio geral na história da Igreja cristã, o Concílio de Nicéia. Foram enviados mensageiros de Roma para todos os cantos do Império com a convocatória de Constantino para “se reunirem... sem qualquer demora” numa pequena cidade da Bitínia com um clima agradável (atual Jznik, no Noroeste da Turquia). Esta escolha de local permitiria a Constantino “estar perto para observar e tomar parte no andamento”, como escreveu na convocatória. A mensagem era de urgência, e os enviados foram autorizados a servirem-se livremente dos meios oficiais de transporte para se dirigirem ao concílio (privilégio que rapidamente se tornou prática comum).

Mais de duzentos participantes responderam à chamada. Só alguns representantes dispersos vieram do Ocidente. (Durante várias centenas de anos subseqüentes, as controvérsias envolvendo a natureza de Cristo mostraram tratar-se de uma preocupação particularmente oriental, ou seja, grega.) Alegando falta de saúde, o bispo Silvestre, de Roma, mandou dois enviados representá-lo. Além de Ósio de Córdova e Ceciliano de Cartago, os dois ou três outros ocidentais que compareceram foram ultrapassados em número pela delegação do Egito, pelos aproximadamente cem da Ásia Menor e pelos vinte da Palestina; mas estes foram suficientes para fazer do Concílio de Nicéia o primeiro concilio verdadeiramente ecumênico da Igreja cristã.

Vieram todos os principais mestres e teólogos do Império oriental, incluindo Eusébio de Cesaréia (o futuro historiador eclesiástico), Eusébio de Nicomédia (o poderoso bispo ariano que por vezes serviu de conselheiro de Constantino), Alexandre de Alexandria e Marcelo de Ancira (atual Ankara). Alguns, como Eusébio de Nicomédia, eram, e continuariam a ser apesar da maneira como votaram em Nicéia, simpatizantes das idéias de Ário. Na maioria, os delega­dos eram, contudo, simples servidores da Igreja, conservadores e talvez anti-intelectuais, ou pelo menos desconfiados das mudanças. Alguns tinham o título de “confessor”, que lhes fora conferido por causa do que tinham sofrido nas perseguições.

 

O Concílio de Nicéia

Numa manhã em fins da primavera de 325, os bispos lotaram a grande sala da residência imperial de Nicéia. Aguardando o imperador, tomaram os seus lugares, distribuídos segundo as categorias, em bancos colocados de ambos os lados da sala. A um sinal todos se levantaram, e Constantino, então com 45 anos de idade, entrou envolto nas túnicas imperiais. Deve ter constituído uma imagem imponente, com os seus ombros largos, queixo firme e porte masculino. Sem guardas, caminhou para uma pequena cadeira dourada no meio da sala e convidou os bispos a sentarem-se. Com igual deferência, os bispos indicaram que a precedência pertencia ao imperador. E, para solucionar a questão, todos se sentaram ao mesmo tempo. 

      Não se conservaram descrições contemporâneas das sessões do Concílio de Nicéia. Segundo, porém, relatos posteriores, os sentimentos quanto à questão ariana eram muito marcados, e o debate foi acrimonioso. Alguns bispos tapavam os ouvidos com as mãos quando Ário falava, O próprio Constantino, segundo consta, chamou depois a Ário “esse desavergonhado servo do Demônio” e à teologia do seu conselheiro e simpatizante do arianismo, Eusébio de Nicomédia, “invectivas de bêbado”. Terá o imperador perdido a compostura durante as sessões em Nicéia? E fácil imaginá-lo perdendo a calma, mas as crônicas dizem que ele permaneceu firme durante os dois meses de reuniões.

       A essa distância no tempo, a questão teológica da controvérsia ariana pode nos parecer uma mera questão de semântica. Mas, na realidade, ela tocou fundo no coração do cristianismo, numa época em que a Igreja lutava por satisfazer duas necessidades distintas. Por um lado, a Igreja dera ao mundo uma religião monoteísta acessível a todos; por outro, essa religião distinguia-se claramente do judaísmo pela sua fé na divindade de Cristo. Em que medida ele era divino? Se era inteiramente divino, não existiriam então dois Deuses? Ou três, com o Espírito Santo?

Ário era de tal forma monoteísta que, na sua ânsia preservar a singularidade de Deus Pai

sentia que tinha de negar alguma coisa — não exatamente a divindade, mas a co-eternidade

— de Cristo, o Filho. fórmula ariana clássica era: “Se o Pai gerou o Filho, Aquele que foi

gerado teve um começo de existência; é, portanto, evidente que houve um tempo em que o

Filho não existia. Segue-se necessariamente que Ele recebeu a existência a partir do não

existente.” Isto é,Cristo, ao contrário de Deus, veio do nada; o Filho era portanto,

subordinado ao Pai. A muitos membros da  Igreja que, como o próprio Ário, abraçavam a

idéia de Jesus nascido da Virgem Maria, ressuscitado dos mortos e subido ao Céu para estar sentado à direita do Pai, esta noção parecia razoável e coerente com a Escritura, enquanto para outros ela era não só uma teimosia como uma idéia puramente herética.

Numa tentativa de arranjar uma linha intermédia entre as duas facções opostas, Eusébio de Cesaréia propôs um credo batismal que há muito era tradicional na Palestina e na Síria e que, em parte, era como se segue:

 

Cremos em um só Deus, Pai, todo-poderoso, criador de todas as coisas visíveis e invisíveis. E num só Senhor, Jesus Cristo, Verbo de Deus, Deus de Deus, Luz da Luz, Vida da Vida. Filho unigênito, primogênito de todas as coisas, gerado do Pai antes de todos os tempos; por ele foram também criadas todas as coisas; ele que para nossa salvação encarnou e viveu entre os homens, e padeceu, e ressurgiu de novo ao terceiro dia, e subiu ao Pai, e voltará em sua glória para julgar os vivos e os mortos. E cremos também num Espírito Santo único.

 

Enquanto Constantino aprovava esta profissão de fé, muitos bispos que tinham vindo a Nicéia com o fim expresso de condenar o arianismo queixavam-se de que ela parecia incorporar simultaneamente as idéias ortodoxas e as arianas. Na verdade, os bispos arianos nada encontravam nela que não pudessem subscrever; por isso, a facção conservadora exigiu um credo que excluísse claramente as idéias de Ário.

 

A intervenção decisiva de Constantino

Não poderia o credo ser aumentado a fim de incluir a palavra homoousios (“consubstancial”, ou “da mesma substância”), sugeriu Constantino, descrevendo a relação entre o Pai e o Filho? Era uma palavra forte (e já muito debatida) que fora usada por certos cristãos do século III condenados por negarem a Trindade. Havia também oposição popular generalizada ao termo por não figurar nas Escrituras. Propondo-o assim claramente, Constantino não só foi audacioso como desferiu um hábil golpe político: por muito que os arianos estivessem prontos a tolerar no credo conciliar, este termo, em particular, fora rejeitado pelo próprio Ario na sua recente declaração de fé. A grande vantagem do vocábulo para os antiarianos, que eram a maioria em Nicéia, era portanto a sua total inaceitabilidade para os arianos.

No fim, sem dúvida graças ao prestígio e poder de persuasão do imperador, bem como à ameaça de excomunhão, todos, com exceção de Ario e dois dos bispos, concordaram com a sugestão de Constantino. A versão final foi a seguinte:

 

Cremos em um só Deus, Pai, todo-poderoso, criador de todas as coisas visíveis e invisíveis;

E em um só Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, unigênito do Pai, isto é, da substância do Pai, Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial [homoousios] ao Pai, por quem todas as coisas vieram à existência, tanto no Céu como na Terra, o qual por nós homens e para nossa salvação desceu do Céu e encarnou, fez-se homem, padeceu e ressurgiu de novo ao terceiro dia, subiu ao Céu e virá para julgar os vivos e os mortos;

E no Espírito Santo. Mas aqueles que dizem “Houve um tempo em que Ele não existia”, e “Antes de nascer, Ele não existia ‘, e que Ele veio a existir a partir do nada, ou que afirmam que o Filho de Deus é urna realidade ou substância diferente, ou que está sujeito a alteração ou mudança  esses são anatematizados pela Igreja católica e apostólica.

 

Esta última frase contém quatro anátemas, ou condenações eclesiásticas, contra quatro dos principais dogmas arianos. Fora por este tipo de afirmações que os bispos antiarianos se tinham mantido firmes. Ainda que tivessem dúvidas sobre o homoousios de Constantino, devem ter ficado satisfeitos com os anátemas.

Embora a controvérsia ariana continuasse a se manifestar, o Concílio de Nicéia estabeleceu o precedente histórico de ter sido o primeiro concílio cristão ecumênico. As suas decisões tornaram-se a autêntica ortodoxia da Igreja, e sobre elas as gerações futuras assentariam o seu culto. Na luta Vitoriosa contra o paganismo, o cristianismo tinha encontrado a sua voz, e Constantino, seu porta-voz oficial, estava agora mais do que nunca empenhado em cristianizar o Império.

 

Como evoluiu o atual Credo de Nicéia

A versão atual do Credo Niceno, único credo cristão aceito pelas Igrejas católica romana, ortodoxa oriental, anglicana e as principais protestantes, é genericamente semelhante à original; sofreu, porém, várias alterações após a reunião de Nicéia.

Dois outros concílios foram aparentemente vitais para o desenvolvimento do Credo de Nicéia até a forma com que hoje o conhecemos, mas os pormenores diluíram-se com o passar dos anos. Em 451, os autos oficiais de um concílio em Calcedônia mencionam não só os padres que se reuniram em Nicéia, mas também os “150 que se reuniram em data posterior”. Os estudiosos acreditam que esta e uma referência a um concílio reunido em Constantinopla em 381 para tratar de novas questões surgidas nos 56 anos depois de Nicéia. Ninguém sabe se, em Constantinopla, o credo foi simplesmente confirmado ou significativamente revisto, mas sabe-se que em 451 , ao ser promulgado em Calcedônia, ele era basicamente o que conhecemos hoje. (Essa versão, chamada por quase todos de Credo Niceno, é designada por alguns historiadores como Credo Niceno-Constantinopolitano).

Os anátemas antiarianos foram excluídos da nova versão, ficando assim o Credo sem qualquer ponto de discórdia. Este fora reformulado de modo a começar com a Criação e terminar com a vida do mundo que há de vir. Havia também agora um parágrafo sobre o Espírito Santo, O único elemento acrescentado ao Credo depois de Calcedônia foi a chamada cláusula Fílioque (“e do Filho”, em latim), para afirmar que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho”. Esta cláusula representou mais um esforço para afirmar a divindade total de Cristo; cláusula que nunca se implantou nas Igrejas orientais, onde era considerada teológicamente incorreta. Em síntese, a versão posterior a Calcedônia é idêntica à que hoje é conhecida como Credo Niceno.

 

Cremos em um só Deus, Pai, todo-poderoso, criador do Céu e da Terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis; E em um só Senhor Jesus Cristo, Filho único de Deus, gerado do Pai antes de todos os tempos, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial [homoousios] ao Pai, por quem todas as coisas foram feitas, o qual por nós homens e para nossa salvação desceu do Céu, e encarnou  pelo Espírito Santo e da Virgem Maria e se fez homem, e por nossa causa foi crucificado sob’ Pôncio Pilatos, e padeceu e foi sepultado, e ressurgiu de novo ao terceiro dia segundo as Escrituras, e subiu ao Céu e está sentado à mão direita do Pai, e virá de novo em sua glória para julgar os vivos e’ os mortos, e cujo Reino não terá fim; E no Espírito Santo, Senhor que dá a vida, que procede do Pai [e do Fillio (Filioque) ], e que’ com o Pai e o Filho é adorado e glorificado, e que falou pelos profetas, e numa {igreja una, santa, e apostólica. Confessamos um só batismo para a remissão dos pecados; e  esperamos na ressurreição dos mortos e na vida do mundo que há vir.

Amém.

 

  O Credo é orado nas Igrejas ocidentais na liturgia eucarística e nas orientais, no batismo e na Eucaristia. As suas frases concisas e bem delineadas têm traduzido ao longo dos tempos a fé dos cristãos.

  Depois de Nicéia

“Pois a decisão de trezentos bispos não pode ser considerada senão o juízo de Deus”, foi a forma grandiosa como Constantino descreveu as resoluções do Concílio de Nicéia. Em breve, porém, percebeu que nem todo o povo concordava com a sua apreciação do concílio recém-concluído. Cerca de um mês após o concílio, Constantino soube que Eusébio, bispo de Nicomédia, dera a comunhão ao excomungado Ário e conspirava em conjunto com Teógnis de Nicéia e outros arianos. Enfurecido, exilou ambos os bispos; mas depois, por razões desconhecidas, reconsiderou e decidiu fazer as pazes com os homens que se tinham oposto a ele em Nicéia.

Alguns historiadores acreditam que o imperador tenha sido influenciado por sua mãe, sua meia-irmã e sua cunhada, todas elas pró-arianas. Fosse qual fosse a razão, Constantino, na tentativa de fazer regressar Ário ao rebanho, deu-lhe a oportunidade de se arrepender. Numa carta ao bispo de Alexandria, Constantino explicava como Ário concordara. Satisfeito pela sinceridade de Ário, que parecia genuína, Constantino voltou a reunir o Concílio de Nicéia em 327, readmitiu-o, e restabeleceu devidamente Eusébio e Teógnis nos seus bispados.

 

Eusébio de Nicomédia

Eusébio de Nicomédia, que não deve ser confundido com Eusébio de Cesaréia, desempenhou papel determinante nos acontecimentos que envolveram o Concílio de Nicéia. A influência sobre a família de Constantino fez dele uma força por detrás do trono. Foi ele que, quase sozinho, transformou o que fora uma discussão egípcia a respeito de Ário numa controvérsia mundial, e também quem pôs em movimento a máquina política que levou Constantino a convocar os bispos para Nicéia.

Nascido na Síria de uma família da classe alta, Eusébio estudara em Antioquia, onde fora companheiro de Ário. Os dois jovens eram discípulos notáveis de Luciano, fundador da escola e estudioso da Bíblia, cuja extensa atividade de edição do Novo Testamento constituiu uma base importante do texto que chegou até nós. Teologicamente, Luciano era um seguidor de Orígenes e, como este, afirmava que o Filho era subordinado ao Pai. Luciano foi martirizado em Nicomédia em 312.

Seis anos após a sua morte, Eusébio foi nomeado bispo de Nicomédia (atual Izmit, na Turquia). Desfrutou, nesse período, grande favoritismo na corte de Licínio. Constância, mulher deste e meia-irmã de Constantino, era sua amiga particular e protetora. Quando Licínio foi derrotado por Constantino em 324, Eusébio deveu a sua sobrevivência à proteção de Constância. Em breve, ganhava a confiança de Constantino, e um dos primeiros assuntos de que cuidou foi a situação do seu amigo Ário. O Concílio de Nicéia, no ano seguinte, resultou em parte das conversas de Eusébio com o imperador.

Em Nicéia, Eusébio fez unia intensa campanha em favor de Ário e assinou a declaração de fé unicamente sob coerção do próprio Constantino. Em menos de três meses, repudiava a sua assinatura e foi exilado na Gália. Três anos depois, retratava-se e era readmitido na sua sé em Nicomédia e na sua posição de influência na corte imperial.

Quando, em 337, Constantino sentiu que estava próximo de morrer, foi Eusébio de Nicomédia que o batizou. Em 339, Eusébio foi nomeado bispo de Constantinopla, promoção relevante que fez dele, ariano confesso, um dos mais poderosos chefes de Igreja existentes. Eusébio sobreviveu apenas quatro anos ao seu imperador. Em 341, ano em que morreu, Eusébio sagrou Wulfila, de trinta anos, missionário junto aos godos da Dácia, ao norte do Danúbio, primeiro bispo dos godos. Este ato teve conseqüências de grande alcance, pois quando, passadas três gerações, os discípulos de Wulfila invadiram o Ocidente, levaram consigo o arianismo de Wulfila, e essa doutrina constituiu um importante obstáculo à unidade cristã até a época de Carlos Magno.

 

Atanásio, pilar da ortodoxia Nicena

Embora Constantino acreditasse ter finalmente unificado a Igreja oriental e apagado a controvérsia sobre o arianismo, nada havia que confirmasse isto. Na verdade, apesar dos acordos obtidos nos dois Concílios de Nicéia, a Igreja era torturada por contendas, recriminações e puras traições. O arianismo dividiu a Igreja oriental, com os bispos em oposição uns aos outros, construindo por vezes complicadas intrigas a fim de promoverem as suas opiniões teológicas. Para poderem simplesmente sobreviver, os homens da Igreja necessitavam da sabedoria de um teólogo e da esperteza de um político. Um homem que possuía estas duas qualidades era Atanásio, apaixonado filho de Alexandria e anti-ariano sólido. Atanásio entrou para o clero aos dezessete anos, foi ordenado diácono cerca de seis anos depois e foi secretário do bispo Alexandre. Tal como este, criticava os arianos pelo ataque que faziam à divindade total de Cristo e apoiava com firmeza o Credo de Nicéia. Pouco depois da morte de Alexandre, Atanásio foi nomeado bispo de Alexandria. Enquanto os arianos se opunham a esta nomeação, os partidários de Atanásio aclamavam-no como “um homem digno, virtuoso, bom cristão e ascético”.

Durante os muitos anos do seu episcopado, Atanásio demonstrou uma retidão de espírito que lhe trouxe muitos opositores. Na sua luta permanente contra o arianismo, nunca se intimidou diante dos partidários de Ário, incluindo o próprio imperador. Constantino escreveu-lhe, ameaçando destituí-lo, se não concordasse com a readmissão de Ário na Igreja. Mas Atanásio, inabalável, nunca abrandou a sua defesa da divindade total de Cristo. A Humanidade, dizia, não teria hipótese de redenção se Cristo fosse menos que perfeitamente divino.

A posição de Atanásio e seus seguidores quanto à natureza de Cristo não permitia soluções de compromisso: eles defendiam inflexivelmente a “fé de Nicéia”. Mas as idéias dos adversários não se afirmavam com tanta simplicidade. Fora do Egito, muitos bispos da Igreja oriental acreditavam na divindade do Filho, mas rejeitavam o conceito “da mesma substância”, ou “consubstancial” (homoousios), afirmando que este termo apagava toda a distinção entre o Pai e o Filho. Outros, como Eusébio de Nicomédia, rejeitavam-no em favor do termo “de substância igual” (homoiousios), defendendo existir uma separação definida entre Deus e Cristo.

Numa tentativa de derrubar Atanásio, Eusébio e os seus seguidores aliaram-se com os adeptos de Melécio de Licópolis (minoria alexandrina que achava ter sido vítima de Atanásio) e chegaram mesmo a acusá-lo de assassinar um bispo meleciano e usar o cadáver para fazer magia negra. Mesmo quando Atanásio apresentou a “vítima” no tribunal, viva e sã, os melecianos disseram que ele “usara as suas artes mágicas para ludíbriar os olhos das pessoas”. Imperturbáveis, produziram outras acusações: que ele tentara instituir um imposto sobre os egípcios para comprar vestes de linho para os seus sacerdotes; que ultrajara uma igreja meleciana esmagando o cálice eucarístico; até o acusavam de ter violentado uma mulher. A mulher não foi capaz de reconhece-lo no tribunal, e portanto o seu testemunho foi desprezado. Sem dúvida, as acusações deviam-se ao fato de Atanásio se ter empenhado pessoalmente na luta contra os dissidentes da sua Igreja. Em 335, Constantino convocou um concílio eclesiástico plenário em Tiro, onde a facção pró-ariana conseguiu depor Atanásio. A sorte deste mudou no decorrer das décadas seguintes — sofreu, por exemplo, cinco períodos de exílio —, mas, pela sua coragem em manter-se contra o arianismo, é considerado um dos padres da Igreja.

 

Eusébio de Cesaréia

Eusébio de Cesaréia, que assinou em 325 o Credo do Concílio de Nicéia, mas depois escreveu à sua Igreja pedindo desculpa de tê-lo feito, é mais lembrado como “o pai da história da Igreja” do que pelo seu papel na controvérsia ariana. A sua História Eclesiástica é uma das nossas mais importantes fontes de informação sobre a Igreja.

Nascido por volta de 260 na Palestina, Eusébio foi batizado em Cesaréia, onde estudou com Pânfilo, sacerdote e mestre que o educou segundo a tradição de Orígenes. Durante as perseguições iniciadas em 303, Eusébio assistiu ao martírio do seu amado professor, à destruição de igrejas, à queima de livros sagrados. A violência das perseguições levou-o a dar início ao seu primeiro livro, a Crônica, sumário da história universal, iniciada com a Criação.

Grande parte do que Eusébio escrevia destinava-se a defender o cristianismo. Em Preparação Evangélica explicava a natureza do cristianismo “àqueles que não sabem o que ele significa”, em outras palavras, aos pagãos. Um dos objetivos principais do livro era mostrar por que os cristãos aceitavam a tradição religiosa hebraica, rejeitando ao mesmo tempo a grega.

Por volta de 315, Eusébio foi sagrado bispo de Cesaréia. Ao longo da década que, precedeu o Concílio de Nicéia, ele tinha apoiado Ário, e acabou sendo chamado a Antioquia sob a acusação de arianismo. Talvez para limpar o seu nome, aceitou mais tarde, embora com relutância, a inserção, pelo imperador, do termo homoousios, ou “consubstancial”, na revisão de um credo formulado em Nicéia. (A razão da relutância de Eusébio em subscrever o termo era a de que este não aparece na Bíblia.)

Nos doze anos que se seguiram ao Concílio de Nicéia, Eusébio aparentemente desfrutou o favor de Constantino. Em 331, foi-lhe oferecido o bispado de Antioquia, onde seis anos antes tinha sido chamado sob acusações de heresia, mas recusou a nomeação. Em 335, assistiu ao Concílio de Tiro. Pouco depois, era convocado por Constantino para participar no julgamento das acusações contra Atanásio. Em diversos dos seus escritos, Eusébio nos dá uma espécie de perfil do Estado de Constantino, especialmente no que se refere às relações entre esse Estado e a Igreja. O imperador, declara Eusébio, pode afirmar que Deus é a fonte do seu poder e pode governar na Terra como representante de Deus.

Nenhuma das outras obras de Eusébio compara-se em importância à sua História Eclesiástica, O alcance do livro é muito ambicioso. Como ele próprio frisou:

“Sou o primeiro a aventurar-me num projeto destes... Nunca encontrei pegadas claras, unicamente traços apagados, daqueles que seguiram este caminho antes de mim.” A história do cristianismo, por Eusébio, é uma crônica não-crítica do triunfo da Igreja sobre o conflito. Como todos os seus escritos, a História Eclesiástica é densa, O autor mostra um estilo rebuscado, fazendo uso exagerado de citações de autores anteriores. Mas este defeito tornou a obra ainda mais importante para os historiadores modernos, pois essas citações são a única fonte de muitos escritores, de todo desaparecidos. Em termos gerais, a obra de Eusébio perdura como panorama precioso sobre os primeiros passos do cristianismo.

 

Separação entre o Oriente e o Ocidente

A decisão de Constantino de mudar a capital de Roma para Bizâncio (Constantinopla) baseou-se numa série de fatores. Primeiro, Roma não era mais a capital administrativa do Império; a administração deslocava-se com o imperador. Nicomédia, por exemplo, servira de sede a Diocleciano, Galério e Licínio. Constantino tinha-se estabelecido por um tempo em Sérdica (hoje Sófia, na Bulgária), e consta que teria afirmado: “Sérdica é a minha Roma”. Além disso, o papel de Roma como pólo econômico do Império estava sendo usurpado por cidades orientais, como Sírmio, Aquiléia, Nicomédia e Tessalônica, que haviam prosperado graças a ativas rotas comerciais.

Também a religião influenciou a sua decisão. Constantino sentira repugnância pelos sacrifícios pagãos que os romanos tinham feito nas comemorações do 20º aniversário do seu reinado, em 326. Ao construir uma nova cidade imperial, poderia criar uma capital predominantemente cristã, algo que a Roma pagã parecia nunca vir a ser. Depois de considerar e rejeitar diversas cidades orientais, incluindo Jerusalém e Nicomédia, o imperador foi a Tróia, a antiga cidade imortalizada por Homero. Segundo a lenda, depois de Constantino ter projetado os limites da cidade e as obras iniciadas, Deus falou-lhe, ordenando que escolhesse outro lugar para a Nova Roma. Constantino justificava então ter escolhido Bizâncio para sua nova capital “por ordem de Deus”.

A localização de Bizâncio fazia também dela uma escolha natural. Assentada sobre um promontório na saída sudoeste do Mar Negro, este triângulo de terra dominava a rota marítima para o Mediterrâneo, servindo também de ponto de passagem para as rotas terrestres entre a Ásia e o Império do Oriente. Marfim, seda, algodão, jóias, especiarias e outras mercadorias enriqueciam os mercadores da cidade. Era, além disso, uma fortaleza natural, protegida por água por três lados e acessível por mar só depois de se ter passado pelas defesas exteriores nos estreitos do Bósforo e do Helesponto. O porto protegido, o Corno de Ouro (em razão do seu feitio e das riquezas que habitualmente permaneciam nas suas docas), proporcionava abrigo seguro às esquadras de guerra e aos navios mercantes e podia ser facilmente defendido em caso de ataque. Ao contrário de Roma, a cidade era ainda conveniente em relação a duas das principais frentes do Império a fronteira persa, a leste, e o Danúbio, ao norte.

Pode ter sido pouco depois da vitória sobre Licínio, em fins de 324, que Constantino e os seus engenheiros visitaram Bizâncio e projetaram os limites da nova capital. Ele deslocou as muralhas da cidade 2,5km para oeste, mais do que quadruplicando a área urbana. Arquitetos, serralheiros, marceneiros, trabalhadores em mármore e mosaico, pedreiros, douradores, vidraceiros e outros foram aliciados e em alguns casos intimados a concretizar o projeto do imperador em Bizâncio. Não se pouparam despesas na construção. Por ordem de Constantino, estátuas e outras obras de arte, portas de bronze e colunas de mármore foram retiradas dos templos pagãos em todo o Império e enviadas para Constantinopla. As ruas foram decoradas com fontes e pórticos; o enorme balneário público foi adornado com dezenas de estátuas de mármore e bronze. Quase todos os templos de Bizâncio foram destruídos, e as estátuas dos deuses aproveitadas para ornamentar novos edifícios e praças.

Um templo de Afrodite foi derrubado e substituído pela Igreja dos Santos Apóstolos, basílica que continha imagens dos doze apóstolos e um sarcófago para Constantino, representado como “o 13º apóstolo”.

Outras igrejas se ergueram por toda a cidade. Símbolos e relíquias associados à história bíblica e da Igreja multiplicavam-se por todos os lados. No Fórum de Constantino, na base da coluna que sustentava uma estatua sua representando o deus-Sol, Constantino enterrou um objeto que supostamente era o machado usado por Noé para construir a arca e o frasco que se dizia ter contido o óleo com que Maria Madalena ungiu os pés de Cristo. A seguir, para conferir à Nova Roma algo da santidade apostólica que a Antiga Roma obtinha dos túmulos de Pedro e Paulo, Constantino ordenou que trouxessem para Constantinopla relíquias de André (apóstolo lendário da região do Mar Negro que incluía Bizâncio), de Timóteo e de Lucas.

Para povoar a sua nova cidade imperial, Constantino ofereceu vários atrativos. Os senadores que trocassem Roma por Bizâncio eram premiados com mansões fornecidas pelo Estado. Cidadãos de categoria inferior que construíssem casas para si próprios na

nova capital recebiam alimentos gratuitos. A lei exigiu que aqueles que detivessem terras da coroa na Ásia Menor construíssem uma segunda casa na cidade. Milhares de outros não precisaram ser aliciados: a cidade ficou logo repleta de burocratas, soldados, lojistas, mercadores e multidões atraídas à nova sede do Império. Em 337, cerca de 50 mil pessoas viviam em Constantinopla; em 400, a população duplicaria e, um século depois, quase atingiria a marca de um milhão. Constantinopla foi consagrada em 11 de maio de 330. Quarenta dias de festejos assinalaram a passagem de Bizâncio a ponto central de um novo Império cristão.

Com o centro do Império agora a cerca de 1.500 km a leste de Roma, a parte ocidental viu-se privada de muitos dos rendimentos e mão-de-obra que anteriormente exigira do Oriente. Em breve, ficaria vulnerável aos ataques dos seus inimigos do Alto Danúbio e do Reno. Se o deslocamento proporcionou maior domínio imperial sobre a Igreja oriental, aumentou, por outro lado, a proeminência do bispo de Roma, e a Igreja de Roma acabou se tornando a instituição mais poderosa do Ocidente. Ao mesmo tempo, Constantinopla preservava os frutos da civilização greco-romana; durante centenas de anos, a cidade suportou os ataques de quase todas as frentes. Muito depois de Roma ser vencida pelos bárbaros, Constantinopla ainda estava próspera como centro do Império Bizantino.

Enquanto trabalhava arduamente na promoção do cristianismo, Constantino nunca perdeu de vista o seu papel de governante de todos os seus súditos. Certa vez, disse a um grupo de clérigos: “Vós sois os bispos dos membros da Igreja, mas eu serei o bispo, nomeado por Deus, daqueles que estão fora dela.” A aliança com o cristianismo e a construção de Constantinopla se destacam muito em meio a outras realizações, mas Constantino também reorganizou o exército, alterou a difícil burocracia do Império, estabilizou a moeda. Dada a medida destas realizações, não há dúvida de que ele merece o título, com que a posteridade o agraciou, de Constantino, o Grande. Teve, contudo, os seus defeitos. Era extravagante, vulnerável à lisonja, e em geral cruel. Mostrou o lado negro do seu caráter quando, em 326, mandou matar a mulher, Fausta, e o filho primogênito, Crispo, por razões ainda hoje obscuras. O maior erro político envolveu também a família: em 335, em vez de nomear um único herdeiro, legou o Império aos três filhos restantes, abrindo assim as portas a ciúmes e intrigas.

Pouco depois da Páscoa de 337, Constantino adoeceu gravemente. Convencido de que a doença era fatal, recebeu o batismo de Eusébio de Nicomédia, conselheiro espiritual de longa data com o qual tivera alguns conflitos no que diz respeito a doutrina e política. (Tal como muitos cristãos da época, Constantino adiara o batismo até o fim, pois temia não ser capaz de evitar pecados mortais durante a vida, e esses pecados depois do batismo eram considerados imperdoáveis.)

O imperador, agora com 57 anos, trocou as túnicas de púrpura pelas austeras vestes brancas de um neófito cristão. Morreu em 22 de maio de 337, durante a festa de Pentecostes. A princípio foi exposto em câmara-ardente no palácio imperial, por onde os cidadãos de Constantinopla passaram, desfilando junto dele para lhe prestar homenagem. Depois, conforme pedira, o seu corpo foi posto num túmulo na Igreja dos Santos Apóstolos, em Constantinopla. Em Roma, verificou-se também intensa reação. Até o céu pareceu comover-se com a sua morte; diz-se que um cometa anunciara a sua morte ou aparecera no momento dela.

Ainda que, de fato, Constantino tivesse sido o primeiro governante cristão, ele continuou a ser venerado pelos seus súditos pagãos. Cunharam-se moedas com a divisa Constantino, o Deificado, e Eutrópio, historiador do século IV, observou: “Foi merecidamente incluído entre os imperadores divinos [isto é, pagãos deificados].”

 

A divisão do Império em três

Constantino II, filho mais velho do imperador, ficou com a Britânia, a Gália e a Espanha. Constâncio II recebeu o Oriente, enquanto Constante, o mais novo, herdou a região intermédia, incluindo a Ilíria (antiga Iugoslávia), a Itália e o Norte da África. Entre as questões que teriam de se defrontar, estava a famosa controvérsia ariana.

Constantino II e Constante apoiavam o Credo de Nicéia, enquanto Constâncio seguia as idéias arianas de Eusébio de Nicomédia. Um dos primeiros atos oficiais de Constantino ii foi autorizar os bispos antiarianos exilados, incluindo Atanásio, a regressarem às suas sés. Essa decisão, se, por um lado, agradou às Igrejas ocidentais, que apoiavam o Credo Niceno, por outro enfureceu os bispos orientais, descontentes com a fórmula do concílio. A facção oriental, chefiada por Eusébio de Nicomédia, afirmava que Atanásio perdera o direito à sua sé e obrigou-o a fugir de Alexandria. Atanásio pediu auxílio ao bispo Júlio, de Roma, que, em 340, convocou um sínodo e determinou que Atanásio e os outros antiarianos exilados estavam inocentes de todas as acusações que lhes tinham sido feitas. Os bispos orientais reuniram-se em 341 e, desprezando o sínodo ocidental, negaram ao bispo romano o direito de mediar a favor das Igrejas orientais. Parecia iminente uma grande separação entre as Igrejas latina e grega.

Para contornar a situação, convocou-se novo sínodo no outono de 343. Foi um fiasco. Ambos os lados mantiveram a recusa em alterar as suas opiniões. Atanásio foi reposto no seu bispado de Alexandria, mas, depois de Constante ter sido assassinado e Constâncio se tornar imperador único em 353 (Constantino II morrera na invasão do Norte da Itália, em 340), Atanásio foi novamente deposto e exilado. Tal como o pai, Constâncio lutou pela formulação de um credo aceitável por ambas as partes tarefa aparentemente impossível, pois os dois lados divergiam em suas crenças no que diz respeito a assuntos de vida e morte eternas.

Os bispos ocidentais criticaram Constâncio por apoiar a facção ocidental antinicena. Foi o caso de Hilário de Poitiers, neoplatônico até se converter ao cristianismo, lembrado como autor de um tratado sobre a Trindade e como o primeiro autor conhecido de hinos cristãos. Até Ósio, outrora conselheiro de Constantino 1 e agora de volta à política da Igreja na surpreendente idade de 101 anos, atacou Constâncio pela sua ingerência.

A controvérsia, que Constantino I qualificara uma vez de “perfeitamente irrelevante”, continuaria a confundir igualmente bispos e imperadores. As partes em conflito concordavam, porém, num ponto: que o paganismo era uma afronta ao cristianismo. Os cultos pagãos começaram a ser atacados na época de Constantino, que ordenara a pilhagem dos templos a fim de ornamentar a sua nova cidade imperial. Alguns foram mesmo destruídos e substituídos por igrejas. Os filhos foram mais além: em 341, emitiram-se importantes leis contra o paganismo.

  A Igreja como instituição oficial

Com o fechamento dos templos pagãos, tornou-se evidente que algo teria de ser feito pelos pobres, que dependiam da grande generosidade dos templos ricos. A Igreja apresentou-se para preencher essa lacuna. Libertada da opressão e enriquecida com donativos dos convertidos abastados, ela podia agora auxiliar o grande público. O próprio Constantino patrocinara a fundação da primeira rede de hospitais por todo o Império. No Concílio de Nicéia, foi decidido que cada cidade devia possuir instalações apropriadas para os doentes, os pobres e os peregrinos. O clero foi autorizado a distribuir alimentos aos órfãos e viúvas. Quando, em 368, a fome se abateu sobre a Ásia Menor, o bispo Basílio de Cesaréia alimentou os famintos da região durante um ano inteiro. Esta caridade generosa atraiu muita gente à Igreja e proporcionou um bem-vindo impulso à sua reputação, manchada pelas recentes querelas internas. Nem mesmo os críticos do cristianismo podiam negar os seus bons atos.

A caridade desempenhou também um papel no desenvolvimento da vida monástica cristã. Pelos meados do século IV, os mosteiros tinham-se transformado, de grupos de eremitas vivendo no deserto e frouxamente interligados, em comunidades organizadas, como as iniciadas por Pacômio perto do Nilo. Basílio de Cesaréia (ver p. 247) achava que as comunidades monásticas deviam ser menos isoladas, mais intima— mente ligadas à Igreja e à comunidade em geral. Incentivou os mosteiros para que, além de promoverem uma vida ascética rigorosa, dessem auxílio aos pobres e oferecessem tratamento médico aos doentes. Como bispo e asceta, aconselhou os outros a localizarem os seus mosteiros nos arredores das cidades, onde poderiam prestar esses serviços a uma grande população. Expôs as suas idéias em dois conjuntos de instruções monásticas, que se conservaram e são até o dia de hoje utilizadas em mosteiros gregos e russos.

 

Juliano, o Apóstata

Os seus críticos cognominaram-no de o Apóstata. Para os seus seguidores, era um “santo”, um “rei-filósofo”, um “verdadeiro deus sob a aparência de homem”. Os historiadores têm mostrado maior equilíbrio ao apreciarem Flavius Claudius Julianus, ou Juliano, sucessor de Constâncio, lembrado como o imperador que tentou derrubar o cristianismo e restabelecer o paganismo como religião oficial do Império Romano.

Sobrinho de Constantino, Juliano tinha apenas cinco anos em 337 quando assistiu à morte do pai pelos soldados para abrirem caminho ao reinado dos filhos de Constantino. Após o crime, Juliano foi mandado para Nicomédia, onde ficou aos cuidados de Eusébio, bispo da cidade, até este ser nomeado bispo de Constantinopla. Em 342, foi para uma propriedade longínqua na Capadócia, onde, sob o olhar atento dos eunucos da casa, passou seis anos estudando teologia cristã. Mas o seu verdadeiro amor eram os clássicos, e durante aproximadamente os dez anos seguintes primeiro na capital, depois em Pérgamo e Éfeso explorou o universo da poesia, filosofia e mitologia gregas.

Viu a morte de perto em 354: ele e seu irmão Galo foram chamados a Milão, onde Constâncio, irado por Galo ter abusado do seu cargo de césar, mandou que ele fosse julgado e executado. Juliano conseguiu convencer o imperador de que ele, Juliano, não tinha interesse na política e não constituía ameaça.

Influenciado pelos professores, especialmente pelo filósofo neoplatônico Máximo de Éfeso, tornara-se pagão ardoroso, mas em segredo. Pôs de lado a Bíblia

e procurou inspiração em Homero. Juliano estava convicto de que Constantino destruíra os valores religiosos tradicionais do Império. Até herdar as vestes imperiais, em 361, ocultou o seu paganismo, a não ser de um pequeno círculo de amigos e mestres. Chamou helenismo à sua forma de paganismo e foi beber das várias correntes filosóficas na tentativa de estabelecer uma nova religião organizada. De Platão adotou o conceito de um “Ser Supremo” não-cognoscível, do qual emanava um deus criador. Através de vários estágios, ou degraus, a alma humana conseguia ascender à felicidade.

Havia paralelismos notórios entre o neoplatonismo do século IV e a teologia cristã do mesmo período.

O venerável Agostinho, padre da Igreja, descobriu, uni quarto de século depois, que o neoplatonismo podia servir de ponte para os que, como ele, estavam a caminho do cristianismo. O neoplatonismo teve efeito diferente em Juliano. Como escreveu um historiador, “Juliano atravessou a ponte, mas na direção contrária”.

 

Tentativa para restabelecer o paganismo

Em 335, Constâncio nomeou Juliano como César e mandou-o para a Gália, a fim de governar essa prefeitura, que fora recentemente invadida por tribos germânicas. Depois de atravessar os Alpes com 360 homens, Juliano passou o inverno em Vienne, no Ródano, onde estudou a arte da guerra. Na primavera, organizou um exército que conseguiu derrotar os invasores. Permaneceu na Gália mais cinco anos, incrementando a economia, as defesas e a administração da região. Todos se surpreendiam que ele tivesse se transformado com tanto êxito de um aluno de escola num comandante militar e hábil administrador.

Com a guerra indo mal na frente persa, Constâncio ordenou a Juliano, em 360, que enviasse as suas melhores tropas para ajudar a defender a fronteira oriental do Império. O exército recusou-se a partir, aclamando depois Juliano como augusto. Este aceitou o apelo das tropas e conduziu-as até a cidade de Constantinopla. A guerra civil foi evitada quando Constâncio morreu de uma febre, em novembro de 361.

O novo imperador não perdeu tempo em declarar o seu paganismo. Depois de limpar a corte dos cristãos remanescentes, organizou uma Igreja pagã com uma hierarquia segundo o modelo da Igreja cristã, ele próprio à frente no cargo de pontfex maximus. Mandou reabrir os templos e remover dos estandartes das legiões o emblema cristão de seu tio Constantino. Foram restituídas as terras dos templos e o culto público dos deuses renasceu. Instituíram-se de novo as escolas pagãs nas povoações por todo o Império.

Juliano não declarou o cristianismo ilegal, mas retirou da Igreja muitos dos privilégios que esta recebera durante o reinado de Constâncio. O clero cristão deixou de estar isento de impostos e de poder servir-se dos transportes públicos e dos correios sem pagar. Os cristãos foram banidos dos cargos governamentais, e os professores cristãos proibidos de ensinar os clássicos. De todas as medidas anticristãs de Juliano, esta foi a que provocou mais veemente e duradouro protesto.

Apesar de todo o seu entusiasmo e fé apaixonada no paganismo, Juliano jamais conseguiu restaurar o culto dos antigos deuses como religião dominante do Império. Alguns converteram-se ao paganismo, mas para outros esse oferecia poucos atrativos. Para muitos, os ritos pagãos pareciam anacrônicos. Mesmo antes de o Apóstata, como lhe chamavam os cristãos, ter morrido na frente persa em 26 de junho de 363, era óbvio que o seu plano para ressuscitar o paganismo tinha falhado. Atanásio foi quem melhor o exprimiu. Depois de Juliano mandá-lo para o exílio, no verão de 362, ele disse à sua congregação: “E só uma nuvenzinha que em breve passará.”

  Dia para o descanso

 

Quando Constantino subiu ao poder, o culto cristão estava ainda bastante pouco estruturado, embora sujeito a algumas orientações gerais. Talvez a única coisa que todas as Igrejas cristãs tinham mantido em comum desde o século I era a reunião aos domingos para o culto; nesse dia (chamado o primeiro da semana), os cristãos comemoravam a Ressurreição.

Em 321, Constantino oficializou o domingo como dia santo e pôs em vigor aquilo que poderia chamar-se as primeiras leis do mundo sobre moral pública. Proclamava o edito: “Todos os juizes, pessoas da cidade e artesãos devem descansar no dia venerável ao Sol. Mas as pessoas do campo podem sem objeções dedicar-se à agricultura, pois muitas vezes acontece ser este o dia mais favorável para semear cereais ou plantar vinhas.” Apesar do edito, muitos cristãos mantiveram a antiqüíssima prática de observarem também o sabbat (sábado) judaico até a década de 360, quando a Igreja o proibiu.

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