Porque         para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não         podem ser comparadas com a glória que ha de ser revelada em nós.         Romanos 8:18

Bem vindo a nossa página de estudos, o conteúdo desta página  tem como finalidade auxiliar no conhecimento e desenvolvimento espiritual do estudante da palavra de Deus.

 

MÁRTIRES

Cristãos perseguidos até a morte.

  “Apologia e Identidade”.

  Desde o 1º século a religião cristã tornou-se rapidamente conhecida em Roma e em todo o mundo, não só por sua originalidade e universalidade, mas pelo testemunho de amor fraterno e caridade demonstrada pelos cristãos para com todos. As autoridades civis e o povo antes indiferentes, demonstraram-se logo hostis à nova religião. Por recusarem culto ao imperador e adoração às divindades pagãs de Roma, os cristãos foram acusados de desleais para com à pátria, de ateísmo, de ódio pelo gênero humano, de delitos ocultos, como incesto, infanticídio e canibalismo ritual; de serem responsáveis pelas causas das calamidades naturais, como a peste, as inundações, a carestia etc..

Declarada estranha e ilícita (decreto senatorial de 35) a religião cristã foi também taxada de perniciosa (Tácito), malvada e desenfreada (Plínio), nova e maléfica (Suetônio), obscura e inimiga da luz (Octavius de Minucio), detestável (Tácito);  depois foi posta fora da lei e perseguida, sendo considerada como o mais perigoso inimigo do poder de Roma, que se baseava na antiga religião nacional e no culto do imperador, instrumento e símbolo da força e unidade do império.

Os três primeiros séculos são a época dos mártires, que terminou em 313 com o edito de Milão, os imperadores Constantino e Lícinio deram liberdade à igreja.

A perseguição nem sempre foi continua e geral, ou seja, estendida a todo o império e nem sempre igualmente cruel e sangrenta.Em meio a períodos de perseguições houve períodos de relativa tranqüilidade.

Os cristãos, na maioria dos casos, enfrentaram com convicção, coragem e grande heroísmo a

prova das perseguições, mas não sofreram passivamente. Defenderam-se com força, confutando tanto a falta de fundamento das acusações que lhes eram dirigidas de delitos ocultos ou públicos, apresentando o conteúdo da própria fé ( Aquilo em que acreditamos) e descrevendo a própria identidade ( Quem somos).

A defesa cristã, apresentada aos imperadores da época, em discursos (Apologias) pediam que não fossem condenados injustamente, sem serem conhecidos e sem provas.

O principio da lei senatorial (Non licet vos esse ); “ não é licito que existais” era julgado injusto e ilegal pelos apologistas, porque os cristãos eram cidadãos honestos, respeitosos das leis, devotos ao imperador, industriosos na vida privada e publica.

As catacumbas contém provas concretas da vida admirável dos cristãos, como é descrita pelos apologistas, apresentamos a seguir alguns trechos dessas apologias que são extremamente significativos e constituem uma carta de identidade dos cristãos dos primeiros séculos.

 

1. Da Carta a Diogneto apologia de um autor desconhecido, séc. 2º/3º.

São homens como os demais

"Os cristãos não se distinguem dos demais homens nem pelo território, nem pela língua que falam, nem pelo modo de vestir. Não se isolam em suas cidades, nem usam uma linguagem particular, nem levam um gênero de vida especial.

Sua doutrina não é conquista do gênio irrequieto de homens curiosos, nem professam, como fazem alguns, um sistema filosófico humano. Moram em cidades gregas ou bárbaras (estrangeiras), como cabe a cada um por sorte e, adaptando-se às tradições locais quanto às roupas, à alimentação e a tudo o mais da vida, dão exemplo de um estilo próprio de vida social maravilhosa, que, segundo a confissão de todos, tem algo de incrível"

"Moram em sua pátria, mas como estrangeiros. Como cidadãos, participam de todos os deveres, mas são tratados como estrangeiros. Qualquer terra estrangeira é uma pátria para eles e toda pátria é terra estrangeira. Mudam de lugar como todos e geram filhos, mas não expõe os recém-nascidos. Têm a mesa em comum, não o leito. Vivem na carne, mas não segundo a carne (2Cor 10,3, Rm 8,12-15). Passam sua vida na terra, mas são cidadãos do céu.

Obedecem às leis estabelecidas, mas superam-nas com o seu teor de vida. Amam a todos e por todos são perseguidos. Não são conhecidos e são condenados. Dá-se-lhes a morte, e eles dela recebem a vida. São pobres, mas a muitos tornam ricos (2Cor 6,9-10). Nada possuem, mas tudo têm em abundância. São desprezados, mas encontram no desprezo a glória diante de Deus. Ultraja-se a sua honra e acrescenta-se testemunho à sua inocência.

Insultados, abençoam (1Cor 4,12). Demonstram-se insolentes com eles, e eles tratam-nos com respeito. Fazem o bem e são punidos como malfeitores. E punidos, gozam, como se lhes dessem vida. Os judeus fazem-lhes guerra como raça estrangeira. Os Gregos perseguem-nos, mas aqueles que os odeiam não sabem dizer o motivo de seu ódio".

Estão no mundo como a alma no corpo

"Para dizer com uma só palavra, os cristãos estão no mundo como a alma está no corpo. Como a alma difunde-se por todas as partes do corpo, assim também os cristãos estão disseminados pelas várias cidades do mundo. A alma habita o corpo, mas não provém do corpo: também os cristãos habitam no mundo, mas não provém do mundo. A alma invisível está encerrada num corpo visível; também os cristãos, sabe-se que estão no mundo, mas a sua piedade permanece invisível.

Como a carne odeia a alma e faz-lhe guerra, sem ter recebido qualquer ofensa, mas só porque lhe proíbe gozar dos prazeres, também o mundo odeia os cristãos que não lhe fizeram qualquer coisa de errado, só porque se opõem ao sistema de vida fundado no prazer.

A alma ama à carne, que a odeia, e aos membros; os cristãos igualmente amam aqueles que os odeiam. A alma está encerrada no corpo, mas ela própria sustenta o corpo; também os cristãos são retidos no mundo como numa prisão, mas eles próprios sustentam o mundo. A alma imortal habita numa tenda mortal, também os cristãos moram como peregrinos entre as coisas que se corrompem, à espera da incorruptibilidade dos céus.

Mortificando-se nos alimentos e nas bebidas, a alma se faz melhor; igualmente os cristãos, punidos, multiplicam-se dia a dia. Deus deu-lhes um lugar tão sublime, que não devem absolutamente abandonar".

2. Dos "Livros a Autolico"  Teófilo de Antioquia (Séc. 2º)

Os cristãos honram o imperador e rezam por ele (livro I,2)

"Honrarei o imperador, mas não o adorarei; mas rezarei por ele. Eu adoro o Deus verdadeiro e único por quem eu sei que o soberano foi feito. Poderias, então, perguntar-me: porque, pois, não adoras o imperador? O imperador, pela sua natureza, deve ser honrado com obséquio legítimo, não deve ser adorado. Ele não é Deus, mas um homem que Deus colocou não para que seja adorado mas para que exerça a justiça sobre a terra.

O governo do estado foi-lhe confiado de alguma forma por Deus. E como o imperador não pode permitir que o seu título seja portado por quantos são-lhe subordinados - ninguém de fato pode ser chamado de imperador - assim também ninguém pode ser adorado, senão Deus. O soberano, então, deve ser honrado com sentimentos de devoção; é preciso prestar-lhe obediência e rezar por ele. Assim realiza-se a vontade de Deus".

A vida dos cristãos demonstra a grandeza e a beleza de sua religião (livro III, 15)

"Encontra-se nos cristãos um sábio domínio de si, exerce-se a continência, observa-se o matrimônio único, a castidade é conservada, a injustiça é excluída, o pecado extirpado em sua raiz, pratica-se a justiça, a lei é observada, a piedade é apreciada com fatos. Deus é reconhecido, a verdade, considerada norma suprema.

A graça conserva-os, a paz protege-os, a palavra sagrada guia-os, a sabedoria instrui-os, a vida (eterna) dirige-os, Deus é o seu rei".

3. De "A Apologia" de Aristides (séc. 2º)

Os cristãos observam as leis de Deus

"Os cristãos trazem gravadas em seu coração as leis de Deus e observam-nas na esperança do século futuro. Por isso não cometem adultério, nem fornicação; não dão falso testemunho; não se apossam dos depósitos que receberam; não desejam aquilo que não lhes diz respeito; honram o pai e a mãe, fazem o bem ao próximo; e, quando são juizes, julgam com justiça. Não adoram ídolos de forma humana; tudo aquilo que não querem que os outros lhes façam, eles não o fazem a ninguém. Não comem carnes oferecidas aos ídolos, porque são contaminadas. Suas filhas são puras e virgens e fogem da prostituição; os homens abstém-se de qualquer união ilegítima e de toda impureza; suas mulheres igualmente são castas, na esperança da grande recompensa no outro mundo..."

São bons e caridosos

"Socorrem aqueles que os ofendem, tornando-se seus amigos; fazem o bem aos inimigos. Não adoram deuses estrangeiros; são delicados, bons, pudicos, sinceros, amam-se entre si; não desprezam a viúva; salvam o órfão; quem possui dá, sem lamentos, àquele que não possui. Quando vêem os forasteiros, fazem-nos entrar em casa e alegram-se com eles, reconhecendo neles verdadeiros irmãos, porque chamam assim não aqueles que o são pela carne, mas aqueles que o são segundo a alma.

Quando um pobre morre, se ficam sabendo, contribuem segundo os seus meios para o funeral; se vêm a saber que alguns são perseguidos ou aprisionados ou condenados pelo nome de Cristo, colocam em comum as suas esmolas e enviam-lhes aquilo de quem precisam, e se podem, libertam-nos; se há um escravo ou um pobre a socorrer, jejuam dois ou três dias, e o alimento que tinham preparado para si lhe é enviado, julgando que também ele deve gozar, sendo como eles chamado à alegria".

"Observam exatamente os mandamentos de Deus, vivendo santa e justamente, assim como o Senhor Deus prescreveu-lhes; dão-lhe graças todas as manhãs e todas as noites pelo alimento ou bebida e por todos os outros bens...

São estas, ó Imperador, as suas leis. Os bens que devem receber de Deus, são pedidos a ele, e assim passam por este mundo até o final dos tempos: pois Deus sujeitou tudo a eles. São, pois, reconhecidos para com ele, porque para eles foi feito todo o universo e a criação. Certamente essa gente encontrou a verdade".

4. De "O Apologético" de Tertuliano (séc. 2º-3º).

Os cristãos não são inúteis e improdutivos

"Somos acusados de ser improdutivos nas várias formas de atividades. Mas, como pode-se falar assim de homens que vivem convosco, que comem como vós, que vestem as mesmas roupas, que seguem o mesmo gênero de vida e têm as mesmas necessidades de vida?

Lembramo-nos de dar graças a Deus, Senhor e criador, e não recusamos nenhum fruto de sua obra. É certo que usamos as coisas com moderação, não de forma exagerada ou errada. Coabitamos convosco e freqüentamos o foro, o mercado, os banhos, os negócios, as oficinas, as estalas, participando de todas as atividades.

Também navegamos convosco, combatemos no exército, cultivamos a terra, exercemos o comércio, trocamos as mercadorias e colocamos à venda, para o vosso uso, o fruto do nosso trabalho. Não entendo realmente como podemos parecer inúteis e improdutivos para os vossos negócios, quando vivemos convosco e de vós.

Sim, há quem tenha motivos para lamentar-se dos cristãos, porque não pode comerciar com eles: são eles os protetores de prostitutas, os rufiões e seus cúmplices; e também os criminosos, os que matam com veneno, os encantadores, os adivinhos, os feiticeiros, os astrólogos. Grande coisa ser improdutivos para essa gente!... E depois, nas prisões jamais encontrais um cristão, a não ser por motivos religiosos. Nós aprendemos de Deus a viver na honestidade".

 

 Os Atos dos Mártires

  Os Atos dos Mártires são documentos oficiais e os mais antigos da Igreja das perseguições. São textos contemporâneos aos acontecimentos narrados. São as atas dos processos dos Cristãos, chamados "Atos proconsulares" porque, em geral, o magistrado era um procônsul; são as narrações de testemunhas oculares; são as "paixões epistolares", isto é, cartas circulares sobre os mártires, enviadas por uma Igreja às demais comunidades cristãs, ditadas em parte pelos próprios mártires.
   Os Atos dos Mártires são reportados, na maior parte, por Eusébio de Cesaréia (3º-4º século) em "De mortibus persecutorum"; mas também nas Cartas e no tratado "De Lapsis" de  Cipriano (3º século); nas Apologias dos escritores gregos e nos panegíricos pronunciados pelos grandes oradores cristãos do Ocidente, como Ambrósio, Agostinho, Máximo de Turim, Pedro Crisólogo, e do Oriente, como Basílio, Gregório de Nissa e João Crisóstomo.

   

 Eusébio de Cesaréia é a principal fonte dos Atos dos Mártires

    Nascido em Cesaréia da Palestina pelo ano 265 e educado na escola do douto Pânfilo, Eusébio recebeu uma sólida formação intelectual, sobretudo histórica. Eleito bispo de sua cidade, foi o homem mais erudito do seu tempo. Escreveu muitas obras de teologia, exegese, apologética, mas a sua obra mais importante foi a "História eclesiástica", em 10 volumes, que são o fruto de 25 anos de pesquisa histórica, contínua e apaixonada.
   Ele narra, nos 7 primeiros livros, a história da Igreja das origens até 303. Os livros 8º e 9º referem-se à perseguição iniciada por Diocleciano em 303 e concluída, no ocidente em 308, tendo continuado no oriente com Galério, até o Edito de tolerância de 311 e à morte de Maximino (313). O livro 10º descreve a retomada da Igreja até à vitória de Constantino sobre Licínio e à unificação do império (323).
   Antes ainda dessa obra, Eusébio tinha recolhido e transcrito na "Coleção dos antigos Mártires", uma vasta documentação (atos dos processos de mártires, apologias, testemunhos de indivíduos e comunidades) sobre os mártires anteriores à perseguição de Diocleciano; o livro foi perdido, mas Eusébio tinha retomado o tema em parte na "História Eclesiástica".
   Poupado pela perseguição de Diocleciano (303-311), Eusébio foi dela uma testemunha de importância excepcional, porque viu pessoalmente a destruição de igrejas, as fogueiras de livros sagrados e muitas cenas selvagens de martírio na Palestina, na Fenícia e até na distante Tebaida do Egito, deixando-nos de tudo, uma comovente memória de grande valor histórico.
   Apesar de suas lacunas e erros, a "História Eclesiástica" continua "a obra histórica mais conhecida e digna de fé e, muitas vezes, a única fonte supérstite de informação".

  Apresentamos, em seguida, uma brevíssima coleção de fatos históricos, uma pequena antologia tirada dos textos originais dos autores indicados, traduzidos com fidelidade. Conheceremos assim como os nossos primeiros irmãos na fé sabiam sofrer e enfrentar por Cristo a tortura e a morte.

O martírio é uma constante de toda a Igreja
   Os mártires recordados nesta breve coleção pertencem a séculos diversos, a diferentes categorias de pessoas, extrato social e nacionalidade; representam a Igreja inteira. São homens e mulheres, ricos e pobres, velhos (Simeão tem 120 anos) e jovens (os 7 "filhos" de Sinforosa); eclesiásticos (os bispos Simeão, Policarpo, Acácio, Ságaris; o sacerdote Piônio; os diáconos Êuplio e Papilo) e leigos (o senador Apolônio, o comerciante Máximo, o jardineiro Conão, os legionários "quarenta mártires de Sebaste, o centurião Marino, as mães de família Sinforosa e Agotonice); nobres, como Apolônio, e gente comum do povo, como Conão; muitas vezes cristãos cujos nomes ficaram desconhecidos.
Todos testemunharam a própria fidelidade a Cristo com o sacrifício cruento da própria vida.  Os Atos dos mártires contam a história mais verdadeira da Igreja das origens.

 Os mártires de Alexandria (Egito)

"De uma carta de Filéias aos habitantes de Tmuis"
Filéias, bispo da Igreja de Tmuis, cidade a leste de Alexandria, era famoso pelos cargos civis que ocupou em sua pátria, pelos serviços prestados e também pela cultura filosófica. Jovem, nobre, riquíssimo, tinha mulher e filhos, e parece acertado que fossem pagãos. Da prisão, escreveu uma carta em que descreve os massacres de cristãos, que assistiu pessoalmente, e exalta a coragem e a fé dos mártires. Padeceu o martírio por decapitação em 306.  
"Fiéis a todos esses exemplos, sentenças e ensinamentos que Deus nos dirige nas divinas e sagradas Escrituras, os bem-aventurados mártires que viveram conosco, sem sombra de incertezas, fixaram o olhar da alma no Deus do universo com pureza de coração; aceitando no espírito a morte pela fé, responderam firmemente ao chamado divino, encontrando o Senhor nosso Jesus Cristo, que se fez homem por amor de nós, para cortar o pecado pela raiz e dar-nos o viático para a viagem à vida eterna. O Filho de Deus, com efeito, embora sendo de natureza divina, não quis valer-se da sua igualdade com Deus, preferindo aniquilar-se a si mesmo, tomando a natureza de escravo e tornando-se semelhante aos homens, como homem humilhou-se até à morte, à morte de cruz (Fl 2,6-8).
   Os mártires, portadores de Cristo, aspirando, pois, aos mais elevados carismas, enfrentaram todo sofrimento e todo gênero de torturas imaginados contra eles, e não só uma, mas até mesmo uma segunda vez; diante das ameaças, com que os soldados competiam entre si no lançar-se contra eles com palavras e atitudes, não retrataram a própria convicção, porque "a caridade perfeita afasta o terror" (1Jo 4,18). Que discurso seria suficiente para narrar suas virtudes e sua coragem diante de cada prova?
   Entre os pagãos, qualquer um podia insultar os mártires e, por isso, alguns batiam neles com bastões de madeira, outros com vergas, outros com chicotes, outros com cintos de couro, outros ainda com cordas. O espetáculo dos tormentos era muito variado e extremamente cruel.
   Alguns, com as mãos amarradas, eram pendurados numa trave, enquanto instrumentos mecânicos puxavam seus membros em todos os sentidos; os carnífices, seguindo a ordem do juiz aplicavam no corpo todos os instrumentos de tortura, não só nas costas, como era costume fazer com os assassinos, mas também no ventre, nas pernas, nas faces. Outros, pendurados fora do pórtico, por uma só mão, sofriam a mais atroz das dores pela tensão das articulações e dos membros.
   Outros eram amarrados às colunas, com o rosto voltado um para o outro, sem que os pés tocassem o chão, e pelo peso do corpo as juntas eram necessariamente esticadas pela tração.
   Suportavam tudo isso não só enquanto o governador se entretinha a falar com eles no interrogatório, mas por pouco menos de uma jornada. Enquanto o governador passava para examinar os demais, ordenava aos seus dependentes que olhassem atentamente se por acaso, alguém, vencido pelos tormentos, acenasse ao cedimento, e impunha que se lhes estivesse inexoravelmente por perto, também com as correntes e quando, depois disso, tivessem morrido, puxassem-nos para baixo e arrastassem-nos pela terra.
   Essa, de fato, era a segundo tortura, pensada contra nós pelos adversários: não ter nem sequer uma sombra de consideração por nós, mas pensar e agir como se já não existíssemos. Houve também aqueles que, depois de terem padecido outras violências, foram colocados no cepo com os pés separados até ao quarto furo, de modo que necessariamente ficavam de costas no cepo, pois não podiam ficar em pé por causa das profundas feridas recebidas em todo o corpo durante o espancamento.
   Outros, ainda, jogados por terra, jaziam subjugados pelo peso das torturas oferecendo, de modo bem mais cruel aos espectadores, a visão da violência feita contra eles, porque traziam as marcas das torturas no corpo todo.
   Alguns, nessa situação, morriam em meio aos tormentos, cobrindo de vergonha o adversário com a própria constância; outros, semi mortos, eram trancados na prisão onde expiravam poucos dias depois, sucumbindo às dores; os que sobravam com a saúde recuperada graças aos cuidados médicos, animavam-se de renovada coragem com o tempo e o contato com os companheiros de prisão.
   Dessa forma, então, quando o edito imperial concedeu a faculdade de escolher entre aproximar-se dos sacrifícios ímpios e não serem perturbados, obtendo uma liberdade criminosa das autoridades do mundo, ou não sacrificar, aceitando a condenação capital, os cristãos corriam alegres para a morte, sem nenhuma hesitação.
   Eles conheciam, de fato, o que fora predestinado e anunciado pelas sagradas Escrituras: "Quem sacrificar aos deuses estranhos - diz o Senhor - será exterminado" (Es 22,19) e "Não terás outro Deus além de mim" (Ex 20,3)".

   Conclui  Eusébio: "São essas as palavras que o mártir, realmente sábio e amigo de Deus, escrevia do cárcere aos fiéis da sua igreja, antes da sentença capital, descrevendo a situação em que se encontrava, e exortando-os a permanecer firmes na fé em Cristo, mesmo depois da sua morte, que estava próxima".

 

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