ACUPUNCTURA
A acupunctura tem sido usada na
China, há mais de 4000 anos, para aliviar dores e curar doenças. A medicina tradicional
chinesa não se baseia em nenhum conhecimento da moderna fisiologia,
bioquímica, nutrição, anatomia ou qualquer mecanismo de tratamento conhecido
ou compreensível para a medicina “científica” moderna. Nem tem nada a ver com
os conhecimentos actuais de química da célula, circulação sanguínea, funções
nervosas, hormonas ou outras substâncias bioquímicas. Não há correlação entre
os meridianos e o desenho dos órgãos e nervos do corpo humano. Não há
qualquer compatibilidade ou ponto de contacto com a medicina do ocidente.
Existem textos (da dinastia Han) que
referem o calor, o vento, o frio húmido, as alterações na dieta, os excessos
sexuais, as emoções violentas e os traumatismos, como causas externas da
enfermidade. Também falam de enfermidades causadas por espíritos malignos.
Ensinam que a alimentação, e a harmonia dos cinco sabores (dos alimentos) com
as cinco vísceras, são factores fundamentais para a prevenção da enfermidade
e para o restabelecimento da saúde.
Como
recomendações profilácticas indicam a actividade sexual, tanto para o
crescimento da família como para satisfação espiritual dos sentidos, e como
exercício físico (e fisiológico) com capacidade para prolongar a vida. Os
estados de meditação e de repouso, assim como o exercício ao ar livre (em
parte satisfeito no desempenho de uma actividade laboral) são também preconizados.
Falam ainda do exercício rítmico, inspirado nos movimentos dos animais, como
forma de interacção com o meio envolvente.
De
todas as recomendações, salientam-se as técnicas acupuncturais e o rigor
“cirúrgico” da ciência da massagem.
A antiga cosmologia chinesa considerava o universo como o
resultado do equilíbrio de duas forças opostas: o Yin e o Yang. Tudo o que
existe, consequentemente, dependia da forma como essas duas forças se
equilibravam e distribuíam nos cinco elementos que compunham todos os corpos,
coisas, estados da matéria, tempo e pensamento: a madeira, o fogo, a terra, o
metal e a água. Estes elementos tinham correspondência com os principais
órgãos: fígado, coração, baço, pulmões e rins, e com cinco órgãos secundários
que se associavam energeticamente aos primeiros, pela mesma ordem: vesícula,
intestino delgado, estômago, intestino grosso e bexiga. Esta correspondência
com os cinco elementos estendia-se aos planetas, às estações do ano, etc. A
enfermidade era devida ao desequilíbrio entre o Yin e o Yang, através da
perturbação que esta desarmonia causava nos cinco elementos formadores do
corpo. Para este desequilíbrio Yin–Yang poderiam concorrer o clima, a alimentação,
as relações afectivas, a exposição à chuva, ao frio, a substâncias tóxicas, e
a entidades ou influências espirituais.
Os principais meios de avaliação do estado de saúde eram o
diagnóstico dos cinco elementos e o diagnóstico dos pulsos. Os principais
meios terapêuticos eram os acupuncturais (acupunctura e moxibustão), ainda
hoje utilizados.
EVOLUÇÃO HISTÓRICA
DA ACUPUNCTURA
A Acupunctura tem a sua origem na China, e, segundo a documentação antiga,
já era praticada no Neolítico há mais de 4000 anos. Utilizavam-se pedras
afiadas em forma de espada, navalha ou agulhas, para estimular as zonas
corporais humanas. Posteriormente as agulhas foram fabricadas em bambu, osso
e cerâmica, sendo apenas mais tarde que se confeccionaram em metais,
utilizando-se o cobre, ferro, prata e ouro. Na actualidade, a sua maior
produção costuma ser em aço inoxidável, porque são mais económicas e
suficientemente eficientes.
A obra clássica mais antiga que se conhece é o “Huang Ti Nei Ching Su
Wên”, o cânone de Medicina do Imperador Amarelo (475-221 a.C.). Citamos dela a
seguinte passagem, em que o Imperador diz: “Amo o meu povo, educo-o e
recebo os seus impostos. Lamento que às vezes não sejam capazes de produzir
trabalho por causa das enfermidades. Desejo que não se lhes dê mais
medicamentos tóxicos. Desejo que se utilizem somente as finas agulhas de
metal, destinadas a harmonizar o sangue e a energia”.
Ao longo das diferentes dinastias, o desenvolvimento e a aplicação da
Acupunctura foi acompanhando intimamente as diferentes escolas filosóficas,
ligando-se especialmente ao Taoísmo e ao Confucionismo.
Durante a Dinastia Sung (960-1279), a Acupunctura desenvolveu-se plenamente.
O homem de Bronze – de que se fizeram dois exemplares – teve a sua origem
nesta época. Tratam-se de estátuas de bronze de tamanho natural, ocas,
perfuradas no local dos pontos de Acupunctura. Eram utilizadas para examinar
os alunos: tapavam-se os pontos com cera e enchiam-se de água as estátuas,
por forma a que os alunos tivessem que acertar rigorosamente nos pontos
indicados pelo mestre, e com tal precisão que a água do interior das estátuas
devia brotar ao serem retiradas as agulhas de Acupunctura; se não saía água,
o aluno ficava reprovado.
A Acupunctura passou por períodos de maior e menor desenvolvimento.
Durante a Dinastia Ching (1600-1900), coincidindo com a pressão económica e
crescente política no sentido da aproximação à industrialização ocidental, a
Acupunctura e toda a Medicina Tradicional Chinesa caíram numa profunda
estagnação.
Nos finais da Dinastia Ching, a Acupunctura foi excluída do ensino
Oficial e foram abertas Faculdades de Medicina Ocidental. Chegou mesmo a
proibir-se (o que felizmente não passou de teoria) o exercício da Medicina
Tradicional. Mas a Acupunctura nunca deixou de ser praticada nem o seu ensino
a difundir-se. Deveu-se este fenómeno, por um lado, à escassez de médicos com
formação ocidental, perante um tão vasto e populoso território; por outro
lado, estava muito arraigada no povo das extensas zonas rurais, onde afinal era
a única medicina a que se podia ter acesso.
Desde a Fundação da República Popular Chinesa, em 1947, o governo reconhece
oficialmente a Medicina Tradicional, equiparando-a à Medicina Ocidental.
Conjuga, em colaboração e complementação, os médicos tradicionais e o
trabalho de investigação clínica e experimental dos médicos com formação
ocidental. Desde então verificou-se um rápido desenvolvimento. Em 1959 foi
realizada com êxito a primeira operação com anestesia mediante a Acupunctura.
Em 1979 a
Organização Mundial de Saúde (OMS), reconheceu Oficialmente a Acupunctura
como meio Terapêutico para a cura de 43 enfermidades diferentes.
A Europa teve conhecimento da Acupunctura em meados do século XVII,
sendo os Missionários Jesuítas quem trouxe informações e conhecimentos deste
método Terapêutico para o ocidente.
Mais tarde foi o Cônsul de França na China, o Sr. Soulié de Morant
(1878-1955) que se interessou pela Acupunctura e a aprendeu, guiado por
vários médicos chineses. Morant traduziu obras e reuniu grande quantidade de
material informativo, o qual trouxe para França. Por este motivo foi em França
onde no ocidente se começou a praticar e a utilizar a Acupunctura e onde se
criaram as primeiras Associações de Acupunctura. Posteriormente foi difundida
por toda a Europa.
Nos USA a Acupunctura não suscitou interesse até 1972, coincidindo esta
data com a visita do Presidente Nixon à China, onde um jornalista que viajava
com ele recolheu, e mais tarde publicou, relatos de intervenções cirúrgicas
realizadas com anestesia exclusivamente acupunctural. A situação actual da
Acupunctura varia, nos diferentes países, segundo o Sistema Sanitário vigente
em cada um deles. Em Portugal, assim como em muitos outros países ocidentais,
o ensino da Acupunctura não está oficialmente estabelecido, mas, felizmente,
existem boas escolas e bons profissionais a praticá-la e a difundi-la.
Em Barcelona (Espanha) foi criado em 1980, dentro do Colégio Oficial de
Médicos, a Secção Colegial de Médicos Acupunctores, e posteriormente têm sido
criadas noutros Colégios de Médicos de outras Cidades Espanholas secções
idênticas. Desde a sua fundação, aquele primeiro Centro deu início à
compilação e anual edição de todas as publicações mundiais sobre Acupunctura,
realiza seminários de formação continua, e, desde há vários anos, organiza os
cursos de pós–graduação em Acupunctura para Médicos, dentro do âmbito da
Universidade. Mas isto não deixa de constituir um grave problema: - como é
que uma medicina energética, que não se apoia nem se compatibiliza com os
princípios aceites pela ciência materialista ocidental, pode harmonizar-se
com uma “ciência médica” emanada de “razões” absolutamente contrárias?
BREVE HISTÓRIA DA
AURICULOPUNCTURA
O papel teórico e
prático do pavilhão auricular já é referido no
Nei Ching: “Os vasos da zona
auricular regulam as dores”. No mesmo Su Wên (Huang Ti Nei Ching Su Wên)
pode ler-se: Em caso de coma, pegar um
tubo e soprar na orelha do paciente.
Na Dinastia Tsin (265-419), Ge Hong fala
de pessoas salvas da morte por meio de enérgicos beliscões no pavilhão
auricular.
Huang Fu Mi
escreve: “Não esquecer os vasos da zona auricular, nas crianças, no caso
de cólicas abdominais, prisão de ventre ou diarreias”.
Na Dinastia Tang
(618-907), Tcheng Tchang Qi, nas suas prescrições anti–palúdicas, dizia para:
“durante a crise, tapar as orelhas com a cauda de uma serpente”.
Sun Gzu Miao
propunha: “cauterizar a zona do conduto auditivo externo para o tratamento
da icterícia” (Bílis no sangue).
Na Dinastia Ming
(1368-1644), Yang Ki Tcheon aplicava moxibustão no cimo do pavilhão para
curar as cataratas.
Na Idade Média
Chinesa, foram utilizadas diferentes técnicas: Picadas com pedras, na parte
interna, para curar as pústulas. Incisões retroauriculares, deixando brotar o
sangue, para curar as erupções húmidas. O beliscar enérgico do pavilhão
auricular, utilizava-se para os temores e as convulsiones infantis. Um
violento puxão de orelhas, para tratar as cefaleias.
Não foi só na
China que se utilizou a orelha como meio de tratamento, pois já Hipócrates,
depois da sua estadia no Egipto, falava da cura de alguns transtornos da
ejaculação mediante a incisão das veias situadas no dorso do pavilhão
auditivo.
No século XVII,
Lazare Rivière aconselhava a aplicação de aceite por detrás do conduto
auditivo, para tratar as odontalgias. No século XVIII, Valsalva realizou um
estudo das zonas auriculares para cauterizar no tratamento das odontalgias.
A partir de esta
época, numerosos médicos consideraram que o conduto auditivo externo tinha
uma acção reflexológica com o corpo, e que a sua estimulação podia curar o
aliviar doenças, sendo uma zona reflexa de todo o organismo.
Em França, até ao
ano de 1850, um bom número de médicos curava as ciáticas mediante a
cauterização do pavilhão auricular. Esta técnica, segundo parece foi bastante
conhecida em toda a França e mesmo fora deste país. Em Portugal, por exemplo,
no século XXI, ainda há quem pratique a cauterização retroauricular para
curar a ciática.
Alguns médicos
afirmavam ter conseguido parar a crise asmática, mediante a aplicação de um
jorro de cloreto de etilo no conduto auditivo externo.
Mas sem dúvida
que foi um francês – o Dr. Paul Nogier –, o primeiro a desenvolver uma
verdadeira Auriculoterapia e criar uma cartografia detalhada do pavilhão
auricular (1951), aos seus 43 anos, e em 1966 apresenta a Auriculomedicina –
técnica de diagnóstico que se baseia na análise do pulso e no exame do
pavilhão auditivo, sendo em 1969 que verdadeiramente a deu a conhecer, com a
publicação do seu livro “Traité d'auriculothérapie”. Reconhece no pavilhão
auricular a imagem de um feto humano em posição invertida.
Os Chineses, com
base nas primeiras descrições do Dr. Paul Nogier e seguindo os conceitos da
sua Medicina Tradicional, descrevem a sua própria cartografia. Esta apresenta
inúmeros pontos de contacto, mas também divergências, em relação aos estudos
do Dr. Paul Nogier.
Paul Nogier – pai
da Auriculoterapia e da Auriculomedicina – foi o primeiro a descobrir
cientificamente que cada órgão e função específica do corpo humano, tem um
ponto específico e reflexo na orelha.
Na
Auriculopunctura Tradicional Chinesa também existem conhecimentos muito
similares, não exactamente iguais à Auriculoterapia, ainda que os pontos mais
importantes em ambas as técnicas, sejam coincidentes. Por isto, podemos dizer
que a Auriculopunctura é confirmada por investigações antigas e modernas.
CONCEITOS
DE SAÚDE E ENFERMIDADE
A Concepção Chinesa da vida está
intimamente ligada à sua filosofia, fundamentalmente energética. Para os
chineses, o Homem é uma parte inseparável da Natureza, existindo uma acção
recíproca entre ambos. O homem é considerado como um microcosmos dentro do
macrocosmos Universal, regendo-se pelas mesmas leis.
A Medicina Tradicional Chinesa baseia o seu
estudo em três grandes teorias, que permitem entender melhor a realidade do
Homem, da Natureza e do Cosmos: O Tao e os seus dois componentes Yin – Yang;
O Qi ou energia fundamental; A teoria dos cinco elementos.
Tao, Yin e Yang
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O conjunto de ambas as zonas – com forma final circular – corresponde
à representação do TAO.
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Tudo quanto
existe está imerso num fluir natural que evolui constantemente. O Universo,
os seres e os fenómenos nascem desse fluir que tudo abarca, e ao qual Lao Tsé
(século VI a. C.) denominou Tao. O Tao manifesta-se através de dois
princípios complementares – o Yin e o Yang, presentes em todo quanto existe.
Nada é absoluto, tudo possui natureza dual. Na montanha, o Yin seria a
ladeira escura, húmida e fria, e o Yang seria a vertente brilhante, seca e
quente.
Yin e Yang são
dois princípios opostos e complementares de uma mesma coisa que os inclui e
transcende: O Tao. Representa-se por um acoplado de duas figuras idênticas,
mas opostas na sua color e localização, limitadas por uma linha ondulada.
Cada uma tem no seu interior um pequeno círculo da cor oposta à sua. As zonas
escuras representam o Yin e as zonas claras indicam o Yang.
Parte-se da noção dual para classificar
qualquer fenómeno ou qualidade: Yin associa-se a negro, escuro, noite,
repouso, relaxação, etc.; Yang associa-se a branco, claridade, dia,
actividade, tensão, etc..
Em todos os
processos vitais, existe uma interacção entre o Yin e o Yang: à actividade
segue-se o repouso, à tensão a relaxação, à noite sucede o dia, ao sol
segue-se a lua, etc. A complementaridade constante entre os dos princípios,
tem especial importância no terreno da medicina, pois a saúde pode definir-se
como um estado de equilíbrio entre o Yin e o Yang, nas diferentes funções
vitais. A perda deste equilíbrio, seria a enfermidade.
O Qi
ou Energia Fundamental
Para os antigos Chineses, o Universo e toda a sua
diversidade, era animado por uma mesma energia denominada Qi, a qual adopta
formas diferentes nos distintos fenómenos ou seres.
O Qi que circula
pelo corpo é a "Força curativa natural" (como a Vis naturæ
medicatrix de Hipócrates) a que se referem os ocidentais para nomear a
energia vital. Esta energia vital, no homem, é o que o mantém com vida, o que
permite a realização das funções fisiológicas e lhe dá a capacidade para
levar a cabo as suas actividades. O Qi tem origem e constitui-se a partir de:
energia ancestral ou genética, energia respiratória, e energia nutritiva.
Segundo a
Medicina Tradicional Chinesa, o Qi circula no corpo humano segundo caminhos
ou canais bem definidos – os meridianos –, que percorrem o corpo
longitudinalmente, e cuja existência foi demonstrada cientificamente na
Alemanha. A Acupunctura é uma medicina energética, e tem a finalidade de
regular a circulação da energia no interior do corpo humano.
Os Cinco Elementos
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1. Madeira (Fígado/ Vesícula Biliar);
2. Fogo (Coração / Intestino Delgado);
3. Terra (Baço–Pâncreas / Estômago);
4. Metal (Pulmões / Intestino Grosso);
5. Água (Rins / Bexiga).
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Segundo os antigos
Chineses, existem cinco elementos básicos, combinados em diferentes
proporções, com os quais é constituído o mundo material, incluindo o
organismo humano. Os Cinco Elementos são: a Madeira, o Fogo, a Terra, o
Metal e a Água. Cada um deles governa determinados aspectos do corpo
humano e da natureza.
As correspondências que existem para cada
elemento dão lugar a numerosas relações entre a saúde, a enfermidade e a
natureza. Os Cinco Elementos guardam estreitas relações entre si, expressas
pelo Ciclo Sheng ou gerador e o Ciclo Ko ou de dominância. Estes dois Ciclos
aplicam-se na prática clínica para identificar o desequilíbrio energético que
o paciente apresenta, e para assim o corrigir com a Acupunctura. A
importância destes dois Ciclos, consiste no facto de corresponderem à base
racional da aplicação da Acupunctura como tratamento.
ORIGENS
DA MEDICINA ORIENTAL
Se pretendêssemos escrever uma história da medicina oriental teríamos
que recuar no tempo cerca de 4700 anos. Os aspectos mais relevantes seriam
talvez encontrados durante a liderança do Imperador chinês Huang Ti (2696 a 2598 a.C.), que ficou
conhecido como o “Imperador Amarelo” – o provável autor do Nei Ching Su Wen (o livro de medicina
mais antigo da história da humanidade).
Segundo os relatos tradicionais, Huang Ti
estabeleceu uma gestão territorial feudal, legando terras, exércitos e
poderes de tributação aos nobres, pela incapacidade de governar uma tão
grande extensão territorial a partir de um governo centralizado.
Estes senhores feudais tinham o domínio
absoluto do território a si confiado, dos exércitos pessoais, e de tudo o que
nele existisse, incluindo os seus habitantes. Lançavam impostos sobre a
produção alimentar, o artesanato, os minérios, etc., destinando metade da
colecta ao cofre imperial, e dividindo a outra metade em duas partes: uma
para o seu cofre pessoal e a outra para fazer frente às suas despesas, à
mordomia e à segurança, ou seja, os criados e o exército.
A quantidade de soldados e de exércitos
determinava o poder e a riqueza do respectivo senhor feudal.
Alguns dos mais ricos, donos de poderosos
exércitos, tornaram-se conspiradores contra o poder imperial e lembraram-se
de unir esforços para tentar conquistar a grande fortaleza. Corria o ano de 2674 a. C. quando se deu o
confronto destes exércitos com o exército do imperador, ocorrendo uma das
mais terríveis batalhas de toda a China.
Apesar da quantidade de combatentes dos
exércitos rebeldes ultrapassar várias vezes o número dos soldados imperiais,
estes levaram a melhor pelo recurso a uma técnica de combate até então
desconhecida fora das fortalezas do Imperador, e mantida em segredo: o Wu Shu
(Kung Fu).
Chegada a hora de tratar os feridos, o
Imperador efectua visitas de cortesia aos seus combatentes mais notáveis,
entre eles um soldado seu amigo pessoal e companheiro de muitas batalhas,
agora ferido por uma flecha. Na troca de palavras efectuada, Huang Ti não
pôde deixar de ficar surpreendido com a firmeza com que o soldado lhe
assegurou sentir-se curado da doença artrítica que o vinha atormentando há
algum tempo, e para a qual os médicos lhe asseguraram não existir cura.
Não podendo ficar indiferente a este
incidente, Huang Ti mandou efectuar experiências noutros enfermos,
especialmente nos presos, os quais durante vários anos foram objecto de
experiências com pontas de flecha e pedras acutilantes (mais tarde agulhas de
pedra). As anotações e os rudimentares esboços resultantes destas
experiências constituíram os primeiros passos para a descoberta dos
meridianos. E a evolução destes conhecimentos, através da prática, veio criar
bases para estruturar várias ciências médicas integrantes do vasto complexo
actualmente conhecido por Medicina Oriental.
Os primeiros praticantes destas técnicas foram
os mestres de Kung Fu, que passaram a actuar como curadores as mesmo tempo
que ensinavam gratuitamente as técnicas de defesa e de combate (como forma de
recrutar elementos que viriam a integrar os exércitos imperiais). O seu
sustento era respeitosamente assegurado pelos habitantes, como reconhecimento
pelos seus valiosos serviço que prestavam. Os alunos destes mestres acompanhavam-no
e auxiliavam-no em todo o seu trabalho. Mesmo que nunca chegassem a mestres
nas artes de defesa e combate, sê-lo-iam certamente nas técnicas
terapêuticas: acupunctura, moxa, digitopunctura, massagem e herbologia (por
vezes associada a outros ingredientes da farmacopeia chinesa antiga), e
teriam oportunidade de instruir os seus próprios discípulos.
Durante a Dinastia Tsin (256-420)
efectuaram-se compilações de diagramas e identificaram-se 349 pontos
energéticos.
Quando Bodhidharma chegou à China, em 525,
o Kung Fu começava a ser ensinado nos templos budistas – um dos quais, o de
Shaolin, ainda existe – paralelamente às ciências médicas, e estas foram
enriquecidas com os conceitos da medicina Ayurvédica trazidos pelo patriarca
hindu.
Por volta de 1026, em plena Dinastia Sung
(960-1279), efectuaram-se dois moldes do corpo humano em bronze, do tamanho
natural, para que os estudantes de medicina soubessem localizar os pontos com
a mais rigorosa precisão, além da elaboração de manuais minuciosos onde os
médicos podiam obter as mais detalhadas informações sobre as faculdades de
cada ponto.
Na Dinastia Ming (1368-1644), na consequência
da movimentação política originada pela invasão dos Manchus, foi encetada uma
perseguição aos budistas, com destruições de templos e chacinas de monges.
Muitos monges conseguiram sobreviver desempenhando funções como médicos e professores.
Como os havia em todos os pontos da China, esta acção constituiu um benéfico
impulso para o enriquecimento cultural do povo.
Nas referências que o Lin Chi Ching faz às
classes de médicos não refere a digitopunctura, mas sabe-se que os progressos
nesta área se deveram aos monges, e por uma razão simples: os que
permaneceram fiéis às regras fixadas por Buda, estavam presos ao juramento de
nada mais poderem possuir do que uma tigela, um bordão e o seu próprio manto.
Até as simples Pien (agulhas de pedra) usadas na acupunctura ultrapassavam os
limites do que lhes era permitido possuir. Por este motivo tornaram-se
peritos na utilização dos dedos, que colocavam em determinadas condições
sobre alguns pontos, conseguindo curas satisfatórias.
Antes
da Revolução Cultural (cujos méritos e inconvenientes não interessam aos fins
a que se destina o nosso trabalho), a Medicina Chinesa Tradicional
encontrava-se numa fase decadente e apenas era utilizada pelos indivíduos
muito pobres. A Dinastia Ching (1644 - 1911) permitira a total intrusão da
medicina do ocidente, ao ponto da maioria das famílias não quererem sequer
ouvir falar nas técnicas médicas tradicionais do seu país.
As
correntes nacionalistas de 1911/49 e a criação da República Popular (1949),
levaram a uma nova orientação na política da saúde e à procura de meios
terapêuticos que permitissem acudir às zonas rurais menos acessíveis e mais
subdesenvolvidas do país. Só a medicina antiga correspondia aos requisitos
ideais: 1º. Não implicava grandes gastos, numa altura em que o país atravessava
uma grave crise económica; 2º. As técnicas eram relativamente fáceis de
aprender e permitiam uma imediata e rápida formação de médicos.
O que talvez nunca tenha ocorrido ao
pensamento de Mao Tsé Tung foi que este passo implicaria uma revolução mundial
no campo da saúde, e que uma ciência tão antiga (antes desprezada no seu
próprio país) se colocaria ao nível das mais acarinhadas aquisições das
modernas ciências médicas do ocidente.
CONCEITOS
DO NEI CHING
“Todas as manifestações do Universo se dividem
em positivas (Yang) e negativas (Yin)”.
A saúde é um estado de harmonia entre as
duas energias Yin e Yang. O desequilíbrio ou interrupção do fluxo normal
destas energias, pela maior manifestação de uma energia em detrimento de
outra, origina estados patológicos (doenças), e o reequilibro permite o
pronto restabelecimento do paciente. O papel da medicina consiste em
restabelecer este equilíbrio.
O nosso corpo é percorrido por meridianos
de energia vital (Ching) e as afecções, como já referimos, surgem a partir da
interrupção do fluxo dessa energia. Com base neste princípio, a acupunctura,
a moxa, a digitopunctura e a farmacopeia tradicionais curam as enfermidades
restaurando o fluxo vital.
Os médicos da antiga China eram em primeiro
lugar exímios filósofos e a sua razão de viver prendia-se a conceitos de
harmonia e de equilíbrio. O seu trabalho consistia, antes de mais, em
restabelecer a harmonia entre o homem e a Ordem do Universo - as leis
naturais que regem todas as coisas.
As pesquisas efectuadas por ordem de Huang
Ti permitiram descobrir de que modo a energia cósmica se distribui nos
organismos vivos, na forma de energia vital; os caminhos energéticos que
forma em tal percurso, e os pontos sensíveis onde pode ser estimulada ou
retardada.
Foi apurado que o corpo humano é percorrido
por inúmeros Ching Lo (canais ou meridianos) de Chi (energia) e que esse
energia flui sem cessar, redundando qualquer alteração desta fluência na
ocorrência das enfermidades.
Perante um qualquer distúrbio patológico, o
terapeuta tentará apurar qual foi o meridiano que sofreu alteração ou
interrupção, e determinará a forma ou formas terapêuticas mais convenientes
para o caso: acupunctura, digitopunctura, moxa ou farmacopeia (aplicadas
isoladamente ou conjugadas). O objectivo será sempre desimpedir o canal
energético (ou reduzi-lo, conforme os casos), para restabelecer a saúde.
Existem dois tipos de energia: a positiva
ou Yang e a negativa ou Yin, as quais são simbolizadas pelo Tao, onde o lado branco representa o princípio
masculino (positivo) e o negro, o princípio feminino (negativo), respectivamente
Yang e Yin. Este símbolo representa a dualidade, presente em todas as coisas
manifestadas no universo.
Contudo, não existe nisto uma concepção
absolutista, pois cada um dos lados do símbolo contém uma pequena porção de
seu oposto. Essa pequena porção de oposto representada no Tao funciona como uma espécie de gérmen,
o qual vai permitir transmutar o excedente de uma energia na sua forma
oposta. É aspecto característico da filosofia oriental e demonstra a
flexibilidade e relatividade do princípio dualista. Exemplos: Positivo
(yang): Branco; Masculino; Luz; Forte; Dia; Calor; etc. Negativo (yin):
Preto; Feminino; Trevas; Fraco; Noite; Frio; etc.
Pode-se afirmar que o equilíbrio entre as
duas energias, de natureza oposta, caracteriza a saúde, sendo de igual modo
verdade que a maior manifestação de uma delas, em detrimento da outra,
ocasiona a doença. Cabe à terapia reequilibrar o fluxo energético, única
forma de restituir a saúde ao doente. Para tal, é necessário transmutar os
excedentes de um dos tipos de energia em energia oposta: com excesso de Yang
podemos gerar Yin e com excesso de Yin podemos gerar Yang.
ESTUDO
DOS PONTOS
Foram identificados mais de 1.000 pontos terapêuticos no corpo
humano, dos quais se destacam 52 ao longo da linha média do corpo; 309 em
cada lateral, de acordo com os 12 meridianos bilaterais (portanto 618); mais
ou menos 35 em cada mão; 60 em cada orelha e 13 em cada lado da cabeça.
Essa enorme quantidade de pontos
disponíveis levou a que se efectuassem algumas subdivisões, para facilitar a
compreensão das diferentes possibilidades terapêuticas atribuídas a cada um
deles.
Também no ocidente, sem qualquer relação
com a medicina oriental, foram descobertos pontos patogénicos. É o caso, por
exemplo, dos pontos hepáticos, dos pontos renais, e do ponto Mac Burney. Mas o mais
interessante destas descobertas é o facto destes pontos coincidirem, do ponto
de vista das possibilidades terapêuticas e da localização, com a descrição
que a Medicina Oriental faz deles há milhares de anos.
Dentre as subdivisões existentes,
mencionaremos:
1º. Os Pontos de Tonificação, cujo estímulo tem por objectivo
provocar o aumento da corrente energética, com o fim de incentivar as funções
dos órgãos correspondentes. Cada meridiano tem seu ponto de tonificação, como
se indica: P9 - IG11 - E41 - BP2 - C9
- ID3 - B67 - R7 - CS9 - TA3 - VB43 - F8.
2º. Os Pontos de Sedação, através dos quais (também por estímulo)
podemos provocar a dispersão da corrente de energia e atenuar desse modo as
funções dos órgãos correspondentes. Cada meridiano tem o(s) seguinte(s)
ponto(s) de sedação: P5 - IG2 e IG3 -
E45 - BP5 - C7 - ID8 - B65 - R1 e R2 - CS7 - TA10 - VB38 - F2.
3º. Os Pontos de Origem, também
conhecidos por pontos–fonte, cujo estímulo visa regular a corrente
energética, normalizando as funções dos órgãos correspondentes. Cada
meridiano tem um ponto–fonte, como se indica: P9 - IG4 - E42 - BP3 - C7 - ID8 - B64 - R5 - CS7 - TA4 - VB40 - F3.
4º. Os Pontos de Alarme, cujo estímulo permite: a) diagnosticar as
afecções dos órgãos internos, porque o ponto se torna sensível no caso do
órgão relacionado se encontrar doente; b) tonificar o órgão, eliminando os
sintomas (e consequentes enfermidades) com características Yin, tais como o
frio, a depressão, etc.. Ao contrário dos pontos anteriores, os pontos de
alarme raramente se localizam nos meridianos a que se referem. São os
seguintes: Pulmão: P1; Intestino Grosso: E25; Estômago:
VC12; Baço–Pâncreas: F13; Coração: VC14; Intestino Delgado:
VC4; Bexiga: VC3; Rins: VB24; Circulação–Sexo: VC15; Triplo
Aquecedor: VC5, 7, 12, 17; Vesícula Biliar: VB23 e 24; Fígado: F14.
5º. Os Pontos de Assentimento, que,
em 1º. lugar permitem o diagnóstico de
algumas enfermidades, especialmente as “algias”, tendendo a tornar-se sensíveis
quando os órgãos a que se relacionam não estão bem, e em 2º. lugar o seu
estímulo permite sedar o respectivo órgão e anular os males com
características Yang. Tal como acontece com os pontos de alarme, estes pontos
não se localizam sobre os seus meridianos. Outra particularidade é o facto de
se encontrarem todos no meridiano da Bexiga. São os seguintes: Pulmão: B13; Intestino Grosso: B26; Estômago: B21; Baço–Pâncreas:
B20; Coração: B15; Intestino Delgado: B27; Bexiga: B28; Rins:
B23; Circulação–Sexo: B14; Triplo Aquecedor: B22; Vesícula
Biliar: B19; Fígado: B18; Sistema Nervoso: B16.
6º.
Os Pontos de Passagem (pontos
Lo), de cujo estímulo se pretende transferir o excesso de energia de um
meridiano para o meridiano com que se conjuga. Ao mudar as energias de um
meridiano para outro, é possível normalizar as funções dos órgãos que lhes
correspondem. Chegam a curar-se males crónicos resistentes. Cada meridiano
tem um ponto de passagem, como se indica: P7 - IG6 - E40 - BP4 - C5 - ID7 - B58 - R6 - CS6 - TA5 - VB37 - F5.
Legenda: B =
Bexiga; BP = Baço/Pâncreas; C = Coração; CS = Circulação/Sexo; E = Estômago;
F = Fígado; ID = Intestino Delgado; IG = Intestino Grosso; P = Pulmão; R =
Rim; TA = Triplo Aquecedor; VB = Vesícula Biliar.
TÉCNICAS
DA MEDICINA ORIENTAL
A mais importante
das ciências médicas do oriente é sem dúvida a Tchén Tziu, latinizada no
ocidente com a designação de Acupunctura (acus+punctu); que consiste na
inserção de agulhas nalguns pontos energéticos dos meridianos. Em seguida,
temos a Moxibustão, simplificada por “Moxa”, que corresponde à utilização de
uma espécie de “charuto” feito com artemísia seca e esmagada, que se acende e
coloca nas proximidades dos pontos, com o fim de os estimular (ou sedar) pelo
calor. Depois, vem a Tou Yang (ou Tui Ah), primeiramente ocidentalizada pelo
nome de Do-In e, e mais tarde designada por Digitopunctura – termo que melhor
a caracteriza, pois trata-se efectivamente da colocação dos dedos, com a
necessária pressão, nos pontos de acupunctura. Na sequência desta técnica
existem diversos processos de massagem médica orientais. Por fim, a Medicina
oriental dispõe ainda de uma farmacopeia própria, estruturada não apenas em
função da teoria energética dos meridianos, mas subordinando-se a uma antiga
regra semelhante à hierarquia imperial: há uma ingrediente principal – o Imperador;
outro que lhe garante o mecanismo de acção – o Ministro, e assim
sucessivamente.
As terapias orientais oferecem muitas
vantagens:
·
Constituem os
mais económicos métodos terapêuticos existentes;
·
Não exigem
equipamentos complicados;
·
Os
instrumentos clínicos necessários podem andar sempre connosco: um pacote de
agulhas cabe numa carteira de documentos; uma moxa cabe na algibeira do
casaco; para a digitopunctura usamos os dedos;
·
A
aprendizagem, se bem que exija muita dedicação, pode fazer-se em casa, com o
auxílio de bons manuais. Para a prática bastará um pequeno estágio;
·
Não são
necessários outros graus académicos;
·
O campo de
aplicação é muito vasto;
·
Os métodos
são seguros e não apresentam efeitos iatrogénicos de qualquer natureza
durante e após o tratamento.
Mesmo que a Ciência insista em que não são exactas as bases
científicas em que se apoiam os mecanismos que regem a Medicina oriental,
esta incapacidade de definição não anula a sua eficácia. Não nos esqueçamos
de que a medicina ocidental também não é uma ciência exacta. Saindo do radicalismo
– que é sempre inimigo da sabedoria – admitamos que, por vezes, poderá ser
útil conjugar a Medicina oriental com outros recursos médicos (excluindo
evidentemente a medicina dos tóxicos e perigosos produtos sintéticos – a
alopatia.).
Passemos à descrição
das técnicas propriamente ditas:
Acupunctura (já descrita).
Moxibustão
Designa-se vulgarmente por “moxa”. Consiste na utilização de
um “charuto”, feito com folhas secas de artemísia, o qual se acende e
aproxima do ponto a tratar, ou queimando sobre os pontos uns cones que se
fazem também com as folhas secas de artemísia, em pó. Deve haver o
cuidado de retirar estes cones antes que queimem a pele.
Muitas experiências foram feitas com outras substâncias, mas
nunca se encontrou alguma que igualasse as propriedades da artemísia,
explicadas como “impulsos energéticos” que se libertam da sua combustão.
Tal como na
antiguidade, muitos terapeutas preferem tratar com a moxa, em vez da agulha.
De facto, há casos em que ela é preferível, assim como outros casos e
circunstâncias em que deve ser evitada. Também há situações em que não deve
usar-se nem a agulha nem a moxa, como, por exemplo, nas crianças de colo,
onde a digitopunctura (com as devidas precauções) dará extraordinários
resultados.
Digitopunctura
As Leis que se aplicam
à digitopunctura são as 3 que descrevemos quando nos referimos ao
diagnóstico. A aplicação da Digitopunctura, como o próprio nome indica,
efectua-se mediante a colocação dos dedos, em determinadas condições, sobre
os pontos dos meridianos a tratar.
Marco Natali, um categorizado professor brasileiro desta
técnica, afirma ter presenciado um médico coreano a dar assistência a um dos
seus pacientes, acometido de uma súbita síncope. “No início – segundo relata – o
médico pressionou vigorosamente com as unhas determinados pontos, sem obter
resultado. Depois, sem qualquer hesitação, agarrou uma caneta esferográfica e
fincou a sua ponta no paciente, o que o fez recuperar de imediato”. Este
relato não deixa margem para dúvidas quanto à eficiência e potencialidade que
os pontos meridionais apresentam.
Algumas regras básicas:
·
A parte do
dedo que exerce contacto com ponto (do meridiano) é a junta das falanges do
polegar (ou de ambos os polegares), e não a polpa do dedo, como é frequente
as pessoas suporem. Experimente apertar um dos dedos entre o polegar e o
indicador, primeiro com a polpa do polegar e depois com a junta das falanges,
e notará a diferença. Verificará que a polpa apenas permite metade da pressão
que é conseguida com a aplicação das juntas. A maior parte das pessoas que
dizem ter utilizado a digitopunctura sem êxito, apenas a utilizaram mal. É
preferível, no entanto, aplicar da polpa do dedo quando o paciente é uma
criança de colo. Nesse caso, a aplicação das juntas das falanges poderia ser
prejudicial. Nos bebés, muitas vezes conseguem obter-se bons resultados com
um simples e suave tamborilamento dos dedos sobre os pontos a tratar.
·
Não aplique a
unha no tratamento de enfermidades correntes. Proporcionará um tratamento
incómodo, com dor exagerada e desnecessária, sem que produza um efeito
melhor. É permissível nos casos de primeiros socorros, e em estados agudos
alarmantes. Aí sim, pode e deve-se utilizá-la como um recurso válido.
·
Quando o
ponto a tratar se localiza sobre uma zona de espessa camada muscular, devemos
aumentar a pressão do contacto digitopunctural, colocando um polegar sobre o
outro e carregando com força; quando a área a tratar é extensa, como no caso
das costas, podemos aumentar a pressão utilizando parte do peso do nosso
corpo.
·
Sempre que o
ponto a tratar pertença a algum dos meridianos bilaterais, actuaremos
preferencialmente sobre os dois pontos simétricos, ao mesmo tempo. Se isto
não for possível, trataremos em primeiro lugar o lado oposto ao lugar onde se
manifesta a afecção, e só depois o outro. Se, por exemplo, o paciente está
com dor de cabeça no lado direito, iremos primeiramente tratar os pontos
situados no lado esquerdo e vice-versa.
·
Quanto ao
tempo de pressão, é discutível e varia conforme o que se pretenda do
tratamento, assim como do método que estejamos a seguir, No entanto, uma
referência soberana é-nos proporcionada pela Nippon Shiatsu School, de
Tóquio, segundo a qual é suficiente pressionar cada ponto três vezes, durando
5 a 10
segundos a pressão em cada um deles. Jacques de Langre – especialista
conceituado –, sugere-nos dois métodos, um para tonificar e outro para sedar.
Para tonificar, aconselha a que se pressione o ponto de segundo a segundo,
durante um a cinco minutos; para sedar, recomenda pressionar sem interrupção
durante um a cinco minutos. Na antiguidade era uso pressionar e mover o dedo
em pequenos círculos, durante 3
a 5 minutos.
Não deixa de ser
interessante referir que a digitopunctura surgiu da experiências de monges
guerreiros (de Kung Fu) e que foram os mestres de todas as artes marciais que
a preservaram até hoje. Os tratamentos que se seguem às próprias lutas
japonesas, servem-se de modalidades de massagem muito semelhantes à
digitopunctura.
Técnicas de Massagem
Além da digitopunctura são praticadas no oriente outras
modalidades de massagem terapêutica, todas com métodos que incluem pressão em
pontos patogénicos dos meridianos. Na impossibilidade de as detalhar, ou
mesmo referir todas, indicam-se o Kuatsu e o Shonishin, por nos parecerem
dignas de destaque.
§
Kuatsu –
método japonês utilizado para reanimação dos lutadores de artes marciais,
quando ficam inconscientes por sofrerem golpes e traumatismos graves ou pela
dureza dos treinos.
§
Shonishin –
técnica usada para tratar bebés, muito popular na região de Osaka, que
consiste em utilizar colheres metálicas especiais ou uma espécie de pincéis
de arame (finíssimos), com os quais se esfregam os pontos.
Farmacopeia
Diz respeito
ao uso de plantas medicinais e preparados artesanais.
TEORIAS
ACERCA DA MEDICINA ORIENTAL
Afirmar que a Medicina Oriental não é
eficaz, por carecer de bases teóricas que a justifiquem, não é mais do que
colocar o problema incorrectamente, pois só alguém muito ignorante poderá
ainda ter dúvidas de que os seus métodos funcionam. Na maior parte das vezes,
a dificuldade de compreensão e aceitação reside na nossa tendência Ocidental
de pretendermos justificar factos com uma única teoria, fixa e imutável.
Têm surgido no ocidente algumas teorias que
pretendem justificar os efeitos da Medicina Oriental. Vamos apreciar as
principais, começando pela mais ingénua de todas, quando não maldosa:
Teoria da
Auto-Sugestão
“Os
efeitos obtidos através da aplicação dos métodos preconizados pela Medicina
Oriental são apenas psicológicos”.
Feita de um modo tão peremptório, esta
afirmação revela desinformação e ignorância acerca destas matérias, pois
qualquer pesquisa séria, ainda que superficial, consegue refutar este grave
erro destituído de base palpável. Sabemos que a Medicina convencional do
ocidente está a utilizar placebos, os quais podem substituir medicamentos no
tratamento de diversas afecções. Mas aqui o que acontece é outra coisa: o
paciente está a fazer um tratamento que já conhece, ou do qual pretende
conhecer os resultados, e em que confia. Isto faz com que uma boa percentagem
de pacientes reajam ao tratamento e revelem curas "psicológicas".
Na medicina oriental as coisas não se passam assim, porque a atitude normal
de qualquer novo paciente (ocidental) é a de desconfiança, e só os resultados
poderão demovê-lo do negativismo (consequente da nossa cultura materialista –
basicamente errada).
É verdade que toda e qualquer enfermidade
se reveste não apenas do aspecto somático, havendo uma componente psíquica.
Isto levou a que os mais entusiastas da teoria tenham chegado a afirmar que toda a enfermidade é psicossomática.
Pela nossa parte, não duvidamos de que toda a cura, para ser completa,
implique uma terapêutica que atenda a esses dois aspectos.
Não pretendendo ser dogmáticos, levaremos
em conta uma parte das considerações atrás apresentadas em relação aos
placebos e admitimos que a Medicina Oriental também pode apresentar um
percentual de pacientes receptivos a um efeito de ordem exclusivamente
psicológica. Mas isto não nos dá o direito de afirmar, ou sequer admitir, que
todas as curas obtidas através da Medicina Oriental sejam apenas de origem
psicológica. Tal suposição obrigar-nos-ia a admitir também que todas as curas
obtidas através da Medicina Convencional são de origem psicológica.
Para os mais cépticos, resta o irredutível
argumento de que a Medicina oriental se tem revelado eficaz tanto no
tratamento de animais como no de crianças de tenra idade. Se teimarem em
argumentar que se trata de “cura psicológica”, não vale a pena dizermos mais
nada...
Teoria
Médica de Speransky (uma teoria melhor fundamentada)
“A
irritação do sistema nervoso, por meios químicos ou mecânicos, provoca o
aparecimento de sintomas similares aos da patologia humana, e se produzirmos
uma contra-irritação em paralelo, desviaremos o organismo de seu estado
patológico, restabelecendo a homeostase”.
De acordo com o este cientista russo
(Speransky), que efectuou experiências com animais, as causas das doenças
devem-se a irritações do sistema nervoso e a contra-irritação restabelece a
saúde. Neste caso, a acupunctura, a digitopunctura ou a moxa, aplicada nos
pontos dos meridianos funcionaria por contra-irritação do sistema nervoso,
desencadeando uma reacção homeostática que redundaria no restabelecimento do
paciente.
Teoria da
Interrupção da Percepção da Dor
“A
estimulação dos pontos envia mensagens ao sistema de controlo, as quais, de
alguma forma, inibem a interacção entre esse sistema e o cérebro”.
É do conhecimento geral que possuímos,
espalhados por todo o corpo, uma infinidade de receptores, que enviam a um determinado centro cerebral
as nossas mais diversas sensações. Tais sinais, antes de chegarem ao cérebro
passam por uma espécie de sistema de controlo que os remete ao seu centro
cerebral específico. No caso da dor, o sinal é enviado pelo receptor até o
sistema de controlo, onde é feita uma espécie de triagem, e de lá é remetido
a determinado centro cerebral onde vai haver percepção da dor e a resposta
necessária.
Esta teoria pressupõe-se que a estimulação
dos pontos envia mensagens ao sistema de controlo, as quais inibem a
interacção entre esse sistema e o cérebro. Isto impediria a mensagem (da dor)
de atingir o cérebro, e sendo lá que ela é percebida e provocada a sensação,
passaríamos a não a sentir. No entanto, é absurdo aplicar este ponto de vista
à medicina oriental, tendo em conta que uma grande parte das perturbações
tratadas não implicam dor: asma,
neuroses, vício de fumar, insónias, fobias, falta de apetite, tontura, etc.,
etc., etc..
Teoria da
Reacção Energética
“O
estímulo do potencial eléctrico característico dos pontos, influencia o
comportamento fisiológico dos órgãos internos”.
Muitas pesquisas efectuadas com a
finalidade de determinar a resistência da pele, descobriram que os pontos dos
meridianos reagem como resistências eléctricas, com valores entre os 20.000 e
os 80.000 ohms, e que o estímulo eléctrico destes pontos provoca uma violenta
reacção energética no organismo. Foi também descoberto que o potencial
eléctrico dos pontos está em permanente variação, o que não ocorre noutras
zonas da pele.
Outra observação fundamental desta teoria é
que a estimulação eléctrica de um ponto de determinado meridiano faz aumentar
as actividades eléctricas dos outros pontos desse meridiano.
Apurou-se ainda que
quando um meridiano é seccionado por uma intervenção cirúrgica, os pontos
situados acima do corte não reagem aos estímulos de pressão ou punção e
deixam de actuar sobre o órgão interno correspondente.
Isto permite demonstrar que o estímulo do
potencial eléctrico característico dos pontos influencia o comportamento
fisiológico dos órgãos internos.
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