Vida e Obra de Bernardo Guimarães
  poeta e romancista brasileiro [1825-1884 - biografia]

 
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BG se destaca mais como
poeta ou como romancista?
Armelim Guimarães

O romancista Bernardo Guimarães vale muito mais do que o poeta Bernardo Guimarães, opina Agrippino Grieco e Clóvis Bevilaqua. O prosador Coelho Neto também não tem dúvida e dá o seu parecer: "Poeta de um lirismo ora amoroso, ora naturalista, ora filósofo, ora humorístico, é, entretanto, como romancista que o seu nome fulgura." (Compêndio da Literatura Brasileira, página 113)

Ronald Carvalho, na sua Pequena História da Literatura Brasileira, qualifica BG como "colorista agradável e descritor elegante". Ele coloca Bernardo Guimarães entre os poetas menores e salienta o romancista no seu sertão, "nas caatingas do planalto central, no meio da caipirada rude, dos vaqueiros e dos senhores da fazendo do interior". Na sua opinião, o mineiro não conseguiu fixar "um só tipo verdadeiro", mas, como descritor, "não poderíamos apanhá-lo em falso".

Para José Veríssimo, no entanto, o Bernardo poeta é superior ao romancista (Estudo da Literatura Brasileira, 2º tomo, página 254). O mesmo julgamento faz Manuel Bandeira nas Noções de História das Literaturas (1942, página 300): "Mais conhecido pelos seus romances, nele entretanto o poeta é superior ao romancista. O seu poema em verso branco, O devanear de um céptico, é certamente a produção mais características do estado de espírito de sua geração". Para esse crítico, o romancista "não trouxe nenhum elemento novo ao gênero. Todos os seus romances pecam pelos mesmos defeitos dos de Teixeira e Sousa e Macedo: sentimentalismo exagerado, forma pobre e vulgar". 

Também Manuel Bandeira aprecia mais BG como poeta. Tanto que na Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase Romântica (Instituto Nacional do Livro, 1949, páginas 112/133) ele inclui sete trabalhos do autor das Folhas de Outono.

"Mais conhecido por seus romances -- agora é Edgard Cavalheiros quem fala -- Bernardo Joaquim da Silva Guimarães é, contudo, um poeta bem superior ao ficcionista" (Obras Primas da Lírica Brasileira, São Paulo, página 48). José Osório de Oliveira é da mesma opinião (História Breve da Literatura Brasileira, página 76).

Para Augusto de Lima, no entanto, o poeta e o romancista se equilibram. Nota-se na prosa bernadiana, ao seu ver, a "mesma intensidade de sentir, a mesma dramaticidade, o mesmo esmero em ser fiel à natureza e à verdade, ainda que através da lenda, em cuja roupagem se envolvem às vezes os seus dramas".

Frederico dos Reys Coutinho acentua a disparidade de conceito entre o público e a crítica. Diz ele: "Foi como ficcionista -- pintor de costumes do interior e paisagista agradável -- que Bernardo Guimarães adquiriu a popularidade que cercou o seu nome no passado, e que ainda persiste, em parte. Isso, porém, deveu-se à decisão dos leitores, e não da crítica. Esta, principalmente a moderna, antepõe nele o poeta ao ficcionista, apontando no primeiro uma riqueza e espontaneidade de inspiração que o colocam logo após as grandes figuras do romantismo". (As Mais Belas Poesias Brasileiras de Amor, página 285).

João Alphonsus, na "Revista do Brasil" (maio de 1941), depois de lembrar que as obras do escritor das Alterosas até hoje estão na admiração do povo, e que as edições de seus romances se esgotam logo,  mostra-se preocupado em descobrir a razão dessa sobrevivência, e alvitra, afinal, um motivo, dizendo: "O fundador da nossa literatura sertanista possui, a seu favor, a espontaneidade e a despreocupação do narrador oral, ao gosto dos ouvintes. E desejando apenas isso, duradoura repercussão na sensibilidade do leitor comum". E isso -- diz ainda -- "mesmo diante da superioridade intelectual do poeta sobre o romancista".

"Como poeta tende a ser revalorizado pela crítica moderna; como romancista, depois de certa popularidade, encontra hoje pouco ressonância." Assim registra Celso Pedro Luft o seu Dicionário da Literatura Portuguesa e Brasileira (Editora Globo, 1967, Porto Alegre).

Se Luft interpreta "ressonância" como popularidade, desmentem-no as sucessivas edições, principalmente de O Seminarista, O Garimpeiro e de A Escrava Isaura, fato que ocorre com bem poucas obras de nossas letras. 

Mas -- a conclusão é de Milton Pedrosa -- "é merecedor de atenção pelo caráter nacional de suas narrações, pela simplicidade dos enredos, pela facilidade do estilo".

Basílio de Magalhães situo-o entre Alencar e Macedo, superior a este e inferior àquele.

Artur Motta ressalta o colorido das poesias de BG: "A nota predominante do seu estro é a lírica, como a de quase todos os poetas brasileiros. O seu lirismo é simples e espontâneo, subordinado a um estilo singela, quase descritivo. Caracteriza-se o poeta como pintor de cenas do sertão, buscando um fio de tradição na tela de um colorido fresco em que as imagens têm vida. Mas a sua feição poética é flexível, maleável, amolda-se a vários gêneros, desde o épico ao humorismo. É por vezes terno e lânguido, outras, voluptuoso e sensual, em certas passagens é sarcástico e em outra, contemplativo".

Sílvio Romero, depois de longamente louvar a poesia de Bernardo Guimarães, confessa o seguinte, a propósito da coleção Evocações: "A forma é de uma doçura e sonoridade de encantar. Não se se o diga, não se se deva deixar aqui a manifestação de uma circunstância puramente pessoal: nunca pude ler esses versos do poeta mineiro -- e eu os tenho lido tantas vezes!... -- sem sentir sincera emoção.

"Para mim, aquilo é a poesia verdadeira, feita com as lágrimas da realidade, com as desilusões da vida. Não transcrevo para não correr o risco de transcrever quase tudo. Recomendo tão belas páginas aos amantes da boa poesia".

E sobre a Invocação, assim, ajuíza o consagrado crítico sergipano: "É de um dos hinos mais objetivos e aos mesmo tempo mais entusiastas que já uma vez foram escritos em toda a América. Alenta essa poesia notável um idealismo, um dinamismo que de tudo transpira e se comunica ao leitor. O universo inteiro palpita animado e exala-se em perenes hinos. É a poesia que de tudo transuda".

Alguns autores, entre os quais Felício Buarque e Artur Motta, dão preferência, entre os livros de poesias de BG, aos Cantos da Solidão, produzidos na primavera de sua existência, quando ainda acadêmico na Paulicéia. Até uma enciclopédia alemã, a Crosses Konversations Lexicon, de Meyer, acentua essa predileção.

Corrige acertadamente Basílio de Magalhães a Veríssimo: Em certo passo de sua História da Literatura Brasileira, faz José Veríssimo transparecer que Bernardo Guimarães somente poetou de 1858 a 1864. Isso é que não é verdade. Ele versejou desde os bancos da Academia (quando dali saiu, em 1852, lá deixou os Cantos da Solidão, que foram publicados pelos seus colegas, messe mesmo ano), senão desde antes, até às vésperas de morrer."

É correta a observação de Basílio, mas esse historiador e biógrafo foi infeliz ao transcrever, como prova dessa sua asserção, a poesia A uns quinze anos, escrita em 1884. Infeliz lembrança, pois esse poema não é da lavra de Bernardo Guimarães!...

Basílio de Magalhães e Nelson de Senna (este no Anuário de Minas Gerais, de 1906, página 258) se enganaram ao apresentarem esse delicado trabalho como composição do vate vila-riquense. Também eu, aceitando a informação desses dois autores, ambos idôneos pesquisadores, transcrevi esses primorosos versos na primeira edição desta biografia, que ora estou consertando em alguma coisa. 

Quem está com a verdade a propósito da autoria de A um quinze anos é Manuel Bandeira, que inseriu esse poema na Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase Romântica (3ª edição, 1949), indicado Luís Guimarães Júnior como seu verdadeiro autor. "Extraiu-o o ilustre antologista de Corimbos, Tip. do Correio Pernambucano, Recife, 1869, páginas 138-140, dados que confirmamos aos consultar a citada edição de Corimbos" (Alphonsus de Guimaraens Filho, Poesia Completas de Bernardo Guimarães, anexo à página 441).

Basílio poderia ter citado o poema À memória do Monsenhor Felicíssimo, escrito em 1884, o "o canto do cisne" de Bernardo Guimarães, escrito poucos dias antes de sua morte.

O jornal "A Reforma", do Rio de Janeiro, ao alvorecer do terceiro quartel do século 19, assim assegurava:

"As poesias de Bernardo Guimarães respiram um tal perfume, têm tanta beleza, tanto imagem pomposa, um tal entusiasmo por tudo quanto fala ao coração, e o bom gosto artístico, a harmonia a mais perfeita, dominando constantemente a rima, suavidade e melodia as mais agradáveis, soando sempre aos ouvidos, que dão aos versos do bardo mineiro um cunho e relevo tais, que com certeza o elevam à altura maior a que jamais tenha atingindo poeta algum nacional". (Do Prólogo de Novas Poesias, 1876)

Realmente é assim. Se Bernardo, como prosador, apesar de sua rica  cultura literária, tem sido detraído por alguma vulgaridade de estilo -- embora tenha sido o de sua época -- o mesmo não ocorre como poeta. 

Vejamos a opinião de José Veríssimo: "O que, acho eu, distingue, exteriormente, se assim posso dizer, Bernardo Guimarães como poeta é que, seja qual foi o seu mérito, ele tem como tal uma personalidade à parte dos poetas do seu tempo. Nem a sua inspiração nem o seu pensamento, nem a sua maneira, nem a sua forma é a deles. Eles preferiam o verso rimado, as estrofes de quatro versos octossílabos, decassílabos e hendecassílabos, rimados o segundo com o quarto, ou a redondilha de oito sílabas, ou ainda a estrofe de quatro ou de seis versos, com hemistíquios simetricamente quebrados. O que mais talvez neles se encontra é a estrofe de quatro versos de dez e onze sílabas, rimados o segundo e o quarto. Bernardo Guimarães usa pouco dessa estrofe e verdadeiramente abusa do verso branco e solto, que maneja aliás perfeitamente, e cuja monotonia rompe em muitos dos seus poemas, quebrando-os com hemistíquios. A sua metrificação é em geral mais rica, mais simples, mais calma e mais fria, por assim dizer". (Estudos da Literatura Brasileira, página 260).

Como bem observou Artur Motta, a veia poética de Bernardo Guimarães amoldava-se a vários gêneros, "desde o épico ao humorístico". Como humorista, inaugurou o bestialógico. E foi o criador de formas as quais alguns poetas já tentaram imitar sem êxito. Entre inovações estão os versos com ecos em monossílabos, como a balada Gentil Sofia.  E um outro exemplo com todos os dissílabos com a mesma rima é Cantiga.

Como humorista, saliento as seguintes produções incluídas nos diversos volumes e algumas avulsas, todas engenhosíssimas: O nariz perante os poetas, Dilúvio de papel, Hino à preguiça, Lembrança do nosso amor (paródia de uma valsa de mesmo título, com letra de seu amigo Aureliano Lessa, que o Constitucional de Ouro Preto havia publicado em 20 de julho de 1867), Parecer da Comissão de Estatísticas a respeito da Freguesia de Madre de Deus. 

Sobre a Parecer, escreveu Basílio de Magalhães: "Houve em 1883 acalorado debate na Assembléia Provincial de Minas a propósito da mudança da denominação da freguesia de Madre de Deus do Angu. Não se conteve Bernardo Guimarães ante a esquisitice de tal topônimo e o pinturesco da discussão, e a sua irreverente musa imediatamente lhe fez fluir dos bicos da pena uma das suas melhores composições, senão a melhor, do gênero jogralesco. Ao "Colombo", de Campanha, que a obtivera de um amigo do poeta ouro-pretano, coube publicá-la em sua edição de 30 de setembro de 1883".

J.M. Vaz Pinto Coelho dizia possuir os originais desse poema, informando ter sido ele escrito em 1865. É para estranhar, pois a mudança do topônimo da referida freguesia ocorreu exatamente em 1883, tal como informa Basílio. Madre de Deus de Angu é a denominação antiga de um distrito que já pertenceu ao município de Leopoldina, agora anexado ao de Além Paraíba, da Zona da Mata, de Minas Gerais. 

Em 18 de outubro de 1883 teve a sua denominação mudada para Madre de Deus de Angustura, reduzida depois para Angustura. 

O novo topônimo é uma referência histórica. Foi dali, do antigo arraial do Angu, que partiu o maior contingente de voluntários para a guerra do Paraguai, e forma esses homens, sob o comando de Mena Barreto, conseguiram a memorável rendição de Angustura, no cerco decisivo de 30 de dezembro de 1868. 

Também galhofeiro foi este acróstico, que Nelson de Senna publicou no seu Anuário de Minas Gerais, de 1906, página 370, atribuindo a autoria a Bernardo Guimarães:

Asneiras cantemos, gente,
Famosas deste sandeu.
Façamos um choro ingente,
Ó rapazes do Liceu!
No besunto deste lente,
Se ponha a marca de Anteu;
O pau mulato rebente,
Dando bem neste judeu.
Ele é safado em Latim,
Besta grande em Filosofia,
Reles mesmo em Geografia,
Imoral biltre por fim.
Todos tomamos neste bode
O nosso imenso pagode.

É um pesado acróstico, satírico e ofensivo contra o jovem professor do Liceu Mineiro, Afonso Luís Maria de Brito. Não se sabe se são versos realmente feitos por mal barato ao molo, ou se por brincadeira. Só muito mais tarde, quando já mortos eram a vítima e o autor, é que um periódico publicaria essas rimas ferinas. Basílio de Magalhães, que preferiu não transcrever o acróstico, assim observa: "Essa autoria foi imediatamente contestada pelos filhos do poeta, com o apoio da palavra escrita do venerando Dr. Camilo de Brito e do testemunho oral do Dr. Aurélio Pires. A detração pessoal não se compatibilizava com o coração e a índole do grande escritor mineiro".

Basílio de Magalhães, em seu livro Bernardo Guimarães, estuda o Bernardo humorista e alegre, acentuando ter sido o vila-riquense o único de nossos grandes poetas que se deixou levar pela vis comica.  

Lembra que, "dos que mais profundamente o estudaram com abalizada competência e largueza de vistas", somente José Veríssimo foi quem pôs em evidência essa faceta da produção poética do bardo de Ouro Preto, assim acentuando: "É em todo o nosso romantismo o único poeta alegre, o que versejou de coisas alegres e com inspiração jovial". "Ele é, porventura, o mais espirituoso, o mais engraçado e, não sei não, o único humorístico dos poetas brasileiros, sem exclusão talvez do mesmo Gregório de Mattos".

Continua Basílio: "Bernardo Guimarães foi, na poesia, o melhor humorista, genuinamente brasileiro, do seu tempo, pois deixou a perder de vista o próprio brasileiríssimo autor das Primeiras Trovas Burlescas. Gregório de Mattos não passou de expoente da chalaça lusitana, condimentada com algumas chulices baianas."

Bernardo era um inveterado fumante. Amava os cigarros de palha de milho, alisadas com o dorso da faca sobre a perna, com fumo picado e esmagado entre as palmas das mãos, enrolado depois cuidadosamente na palha, cuja beira era colada a poder de saliva, passada com a ponta da língua. Eram acendidos na cozinha, no fogão, ou junto ao moqueador ou poiá do rancho do tropeiro, na brasa viva de ponta do tição. Cigarro que merece uma poesia sua, incluída nas Poesias Diversas. 

Cigarro é uma composição de 14 estrofes uniformes, escrita no Rio de Janeiro, em 1864. Aqui, o poeta repudia o charuto e o cachimbo, mas antes, em 1857, em Ouro Preto, havia dedicado ao primeiro uma ode. É a poesia intitulado Charuto, com 18 estrofes regulares, incluída no volume Poesias Diversas. E também, com fino humorismo, foi que ele produziu o Hino ao prazer, À moda, Hino à Preguiça, À saia-balão, Minha Rede e outra poemas alegres.   

Se havia esse Bernardo brincalhão e divertido, outro era, no entanto, o Bernardo reverente e encomiasta, panegirista de afetuosidade aberta para com os amigos, não faltando -- é claro -- os cupinchas mais chegados, Ovídio João Paulo de Andrade, Flávio Farnese, Aureliano José Lessa, Francisco de Paulo Pereira Lagoa, Bernardo Horta de Araújo, Monsenhor José Felicíssimo do Nascimento, Gabriel Caetano Guimarães Alvim e outros mais chegados aos quais dedicou poesias. A nênia que ele compôs em memória de Álvares de Azevedo, enviada de Catalão para o Rio de Janeiro para publicação, perdeu-se talvez antes de chegar à redação do Jornal do Comércio.

Guerra do Paraguai

Durante a guerra do Paraguai, nenhum outro poeta brasileiro vibrou tanto de civismo; nenhum outro teve sua lira tão inflamada de patriotismo e repúdio aos invasores, e nenhum outro vate tanto enalteceu os defensores da pátria e os feitos heróicos dos soldados brasileiros como Bernardo Guimarães. 

A cada notícia que a Ouro Preto chegava de novas vitórias do soldados do Brasil, BG se sentia inspirado para compor poemas que parte deles faz parte de uma coleção de título Heróides Brasileiras, a qual, em 1876, foi incluída no volume Novas Poesias.

Nessas Heróides enfeixou oito composições Invocação, Lopez e Humaitá, Osório e a passagem de Passo da Pátria, Riachelo e Barroso, Urugaiana e Canavarro, Tuitui e 24 de maio, Porto Alegre (Manuel Marques de Sousa, Barão e Conde de Porto Alegre, vencedor da segunda batalha de Tuitui), Assalto a Curuzu. 

Além dessas composições, escreveu O Adeus do Voluntário, O Brigadeiro Andrade Neves, Nênia (oferecida à viúva do Capitão Soares Ferreira, morto em Lomas Valentinas), Hino (do 3º Batalhão de Voluntários, que, em 1866, partiu de Ouro Preto para guerra), entre outras composições inspiradas na guerra contra Solano Lopes.

Versos alexandrinos e sonetos

Bernardo Guimarães detestava os versos alexandrinos. No prólogo das Folhas de Outono, ele explica essa sua ojeriza. Em resumo, ele entende que o "metro alexandrino é o mais monótono, pesado e inflexível, de que pode dispor a língua portuguesa, e que, não é sem razão, que os antigos bem raras vezes o empregavam". Acrescenta: "Não devemos de todo abandoná-lo; há ocasiões, em que tem ele todo o cabimento; mas parece-me que só de ser empregado com muita parcimônia, ou intercalado com outros ritmos; manejado por mãos habilíssimas pode produzir bom efeito."

Ele compôs poucos sonetos. Conhecem-se apenas três. Ela amava a independência, e é precisamente nessa faceta de seu temperamento que estava a sua famosa boêmia -- independência no seu modo de viver, de pensar, de agir. 

Como poeta, era um independente em estilo, e escola literária -- essa coisa a que nunca deu atenção -- e na forma de suas composições. O soneto impor-lhe-ia forma e dimensão, e aí está a sua repulsa. Além de seu célebre soneto bestialógico Eu vi dos pólos o gigante alado, compôs Trabalho e Luz. Neste, o poeta, para fugir ao vulgar, em vez de rimas, repetiu as palavras "trabalho" e "luz", o que é estranho em um soneto. Transcrevo:

À força do trabalho obtém-se a luz
Mas a luz não resplande sem trabalho
Glória ao trabalho e luz, luz e trabalho.

Observa Basílio de Magalhães: Intitulam-se Trabalho e Luz e trazem tantas vezes essas duas palavras, que mais parece uma paródia de iguais produção do cultismo ou culteranismo luso".

O Diário de Minas, edição de 13 de agosto de 1925, publicou esses dois sonetos até então inéditos (se é que não foram estampadas em algumas folhas ouro-pretana da época do poeta).

Não foram poucas as poesias de BG que se perderam ou forma apenas publicadas em modestas folhas interioranas. Muita coisa do que produziu ficou esquecida em gavetas e armários e virou ninhos de ratos. 

O jornal A Verdade, de Itajubá (sul de Minas), edição de 30 de agosto de 1888, nº 25, ano III), estampou esta Rosa do Prado com a seguinte nota: "Escrita na capa de um caderno, encontramos a seguinte poesia inédita de Bernardo Guimarães:

Viu um pastor uma rosa,
Era uma rosa do prado
Que se ostentava viçosa...
Ei-lo que corre apressado:
-- Ó Rosa, rosa tão linda,
Rosa nascida no prado!

Diz ele à rosa: eu te quebro,
Ó linda rosa do prado!
-- E eu te pico, diz-lhe a flor,
Pensarás em mim com a dor!
-- Resistir-te é meu cuidado,
Ó Rosa, rosa tão linda,
Rosa nascida no prado!

E quebra então o pastor
A linda rosa do prado,
Que o duro espinho lhe crava...
Mas a dor que lhe causava
Não mudou seu triste fado...
Ó Rosa, rosa tão linda,
Rosa nascido no prado!

As poesias que os jornais itajubenses do final do século19 publicaram, tanto de Bernardo como dos filhos dele, e de seu sobrinho-neto Alphonsus de Guimarães, foram oferecidos por Albino Alves Filho, advogado, residente em Itajubá, genro do poeta. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(Este capítulo do livro continua em digitação)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Índice do livro "Bernardo Guimarães, o romancista da abolição", de Armelim Guimarães

O ano do nascimento
xxxxxxxxxxxxxxx
x

Em São Paulo (1)

Em São Paulo (2)

Em São Paulo (3)

No sertão goiano

De volta a Ouro Preto

No "Atualidades" (Rio)

De volta ao sertão goiano

A profecia de Brasília

Nos saraus de Otaviano

A vida nômade

Um anjo à espera do poeta

No reino da felicidade

Professor em Congonhas do Campo e em Andaluz

E assim nasceu "A Escrava Isaura"

O caipira e o índio Irabuçu

Egresso das cátedras

Barão sem baronato

Últimas produções

"Pollice verso"

A morte de BG; e Teresa, a companheira de sempre

O sucesso da telenovela "A Escrava Isaura"

Descendência e colaterais


A cabeça de Tiradentes

O precursor do sertanismo no romance

Bernardo, precursor do naturalismo?

E o indianismo de Bernardo Guimarães?

Qual foi o maior: o romancista ou o poeta?

Lobato e o estilo de BG

Bernardo esteta

As pedradas dos puristas

O independente

A lira fescenina

BG e o romance moderno

Escritor brasileiríssimo

Obras

Bibliografia

 

 

 
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